"Carol" é um dos filmes mais bonitos que já vi. Conta a história de um amor impossível, o marido louco de amor pela mulher que o ama e respeita como amigo... mas não o quer.
E vai desnudando aos poucos como se constrói a paixão em brasa entre duas mulheres na Nova Iorque dos anos 50, quando a homossexualidade era assunto a ser discutido por advogados, psiquiatras e juízes... e a vida privada poderia tornar-se um inferno da noite para o dia.
E então a paixão se transforma em amor. E ninguém melhor que Rooney Mara e Cate Blanchett para nos contar esta história, em cenas belíssimas, silêncios e falas muito certeiras, que nos fazem pensar, nós, as mulheres do século 21, a respeito da nossa liberdade... esta liberdade da qual hoje desfrutamos sem pensar, e que foi tão duramente conquistada por nossas ancestrais, irmãs cujo sangue talvez nem tenhamos nas veias, mas que, onde estiverem, são nossas irmãs de gênero e alma. E que sofreram na carne e no espírito limitações tremendas para conquistar este espaço psíquico e social que hoje habitamos.
Dias atrás vi "As sufragistas", filme sobre a luta das feministas do Reino Unido pela conquista do voto feminino no começo do século passado, no qual Meryl Streep faz uma pequena ponta, suficiente para um discurso e a frase "não desista!".
E ali estava a mulher subjugada, dominada, dobrada ao macho, seu senhor e proprietário. Algo bem parecido com o que hoje assistimos, queixo caído, em países do Oriente Médio: o patriarcado em essência.
De novo estavam elas, as marginais que lutavam por seu lugar ao sol, por seu direito à luz, à fala, por seu direito a ter direitos! Algo tão elementar... e no entanto, minhas amigas, foi ontem! Porque não faz muito tempo, não... Não faz muito tempo que nós tínhamos que nos esconder de tudo, tínhamos que dizer sim a tudo, tínhamos que obedecer a tudo!
E o pior... é que há muitos lugares no mundo onde milhões de mulheres ainda hoje permanecem subjugadas, escravizadas, estupradas por maridos, pais, irmãos e até filhos. Permanecem sem direitos a nada e tendo que obedecer a tudo, a dizer sim a tudo, a aceitar e a viver uma vida de sofrimento sem fim.
Para milhões de mulheres no mundo, o mundo continua sendo aquele, bem anterior à Nova Iorque dos anos 50 e ao Reino Unido das sufragistas: é o universo das sombras da Idade Média, quando o sol girava em torno da Terra e o homem (o macho!) era o centro de tudo...
No conforto da sala do cinema, comendo pipoquinha, esta constatação parece coisa de outro planeta... mas incrivelmente não é.
Fiquei muito tocado com o filme.Com o recorde de indicações ao Globo de Ouro (cinco), o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes (para Rooney Mara), se há uma destacada protagonista, ela não é , na minha desimportante avaliação, a personagem-título, e sim Therese, jovem vendedora de uma loja de departamentos , que se encanta por uma misteriosa cliente loira que esquece as luvas em seu balcão às vésperas do Natal. É pelos olhos de Therese que vemos a turbulência vivida por Carol, que ousa não amar mais o marido e lutar contra um casamento de conveniência. A história de amor poderosa, é situada na Nova York dos anos 1950, com todos os preconceitos e ignorâncias da época em relação ao universo homossexual. Um período onde sair do armário era considerado uma imoralidade absoluta, ainda mais se você tem uma filha, como é o caso de Carol. Em uma realidade tão difícil de ser quem você realmente é, o único meio de se proteger da fúria alheia é camuflar os sentimentos, as emoções duramente contidas, por medo do preconceito e de possíveis retaliações ,de forma que apenas os mais perspicazes possam realmente decifrá-los. É este o mundo em que Carol vive, é este o mundo para o qual Therese é atraída.
ResponderExcluirNão nos iludamos. O preconceito contra a homossexualidade ainda é intenso e não só as igrejas evangélicas não nos deixam mentir, além das cenas de homofobia explícita, mantendo-o, infelizmente, no posto do mais intolerado preconceito que existe, pois começa em casa, com a rejeição dos próprios pais. Qualquer preconceito é evidência de ignorância , de desconhecimento da questão. O pior é perceber que, apesar de boa parte da sociedade, atualmente, parecer aceitar melhor (ou sentir indiferença) o amor entre dois homens ou entre duas mulheres, aqueles inúmeros infelizes que ainda não aceitam parecem ter uma reação mais extrema do aqueles que não aceitavam há mais de 60 anos. O respectivos parceiros de ambas conseguem passar com as suas interpretações toda a surpresa, a raiva e a frustração de seus personagens em frente ao que, para estes, é uma afronta à suas masculinidades o que é um grande equívoco que, obviamente não tem fundamento na vida real.
Em entrevista, foi perguntado para Blanchett se este papel é sua primeira experiência lésbica. "No cinema ou na vida real?", rebateu ela. Questionada se já teve relacionamentos com outras mulheres, a atriz respondeu: "Sim, muitas vezes".Blanchett diz não acreditar em rótulos. "Nunca pensei nisso. E não acho que a Carol [sua personagem] pensaria". Realmente as mulheres adultas podem se relacionar emocional e sexualmente com outras mulheres sem, necessariamente, serem ou sentirem-se lésbicas. .
Chama a atenção das fashionistas o impecável figurino que recria, com precisão de detalhes, o visual das mulheres da época, concorrendo ao Oscar de Melhor Figurino.O ralentoso figurinista britânico, titular do filme, Sandy Powell, ganhador de 3 Oscar, disse em entrevistas de divulgação do filme que se inspirou nos looks de modelos de revistas Vogue dos anos 1950 para compor o estilo ladylike chique da protagonista interpretada por Kate, a maior diva do cinema hollywoodiano da atualidade, no melhor estilo Lauren Bacall, digamos assim.Com o fim da guerra (sempre uma absurdidade) a mulher dos anos 50 se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo "New Look", de Christian Dior, em 1947. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias, como usa a deslumbrante Carol da película.
Santé e axé!
Desculpe o deslise (pressa rs).O correto é: Cate Blanchett, obviamente.
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