Passei o dia com a vassoura na mão, a pleno vapor na faxina: Juliene, minha
ajudante nos assuntos domésticos, andou com problemas pessoais. Mas o que achei
graça foi quando o rapaz que limpa os vidros de casa chegou e, ao me ver de
faxineira, questionou, surpreso:
-- A senhora consegue?!
Foi tiro e queda: meu pensamento se deteve no “consegue” e acabei divagando
sobre os “grandes” desafios da mulher. Para muitas, sei que é preferível pagar
o Tom Cruise para a “missão impossível” de limpar a casa ou fazer o almoço.
Mas com a proximidade do 7 de
setembro, uma coisa se juntou à outra e me lembrei de uma das minhas maiores
heroínas, a Dona Leopoldina, que conseguiu a liberdade do Brasil mas,
infelizmente, não foi valorizada dentro de casa. E, tempos depois, caiu no
esquecimento do próprio povo que ajudou a emancipar.
Quase 200 anos a separam de suas iguais de hoje, e vejo que os maiores
desafios da mulher pouco mudaram neste meio-tempo: reconhecimento e valorização.
Temos por “Rainha do Brasil” a dona Carlota Joaquina... a espanhola que
odiava este país e que, ao voltar para a Europa, deixou para trás até os
sapatos, porque “desta terra não queria nem a poeira”. Para mim, a verdadeira
rainha do Brasil foi a Imperatriz Leopoldina, que saiu da Áustria para
tornar-se brasileira de coração e fé.
Como é comum acontecer com esposas de homens importantes, Dona Leopoldina acabou relegada às sombras, ainda que tenha
sido ela a verdadeira responsável pela Independência __quando, na condição de
regente, assinou o decreto que separava o Brasil de Portugal e, então, avisou ao
marido com uma carta.
Cinco dias depois da tal assinatura, Dom Pedro recebeu sua mensagem, às
margens do Ipiranga e, diante disso, fazer o quê? Teve que proclamar.
Descrita como culta e ótima caçadora, Dona Leopoldina, pertencendo à uma
das mais tradicionais dinastias européias, a Casa de Habsburgo, foi preparada
para reinar: chegou a surpreender até mesmo o sogro, que, segundo consta, entre
uma e outra coxa de galinha reconheceu sua superioridade diante de Dom Pedro. Infelizmente
não era feliz no casamento: o marido, assumido mal-educado, tinha um coração
aventureiro e preferia um tipo bem diferente de mulher.
A figura quase mítica de Domitila de Castro __a Marquesa de Santos__
popularizada na novela por Maitê Proença, entrou para a história como
“verdadeiro amor de Dom Pedro”, esgarçando ainda mais a imagem de Dona
Leopoldina e colocando-a até como “empecilho” pelos mais românticos.
Como me espanta a invisibilidade de nossa Imperatriz! Eu mesma sou uma
prova disso: cresci achando Dom Pedro o máximo, com a idéia da gloriosa cena do
grito “Independência ou morte!” lançado ao Ipiranga pelo herói nacional... da
mesma maneira, muitíssimas pessoas nem desconfiam que, por trás do herói,
estava Dona Leopoldina.
Mergulhada na depressão, ela morreu cedo e grávida. A causa de sua morte
segue envolta em divergências, mas é bem conhecida a versão de que teria sido causada
por uma surra de pontapés dada pelo marido intempestivo justamente por causa da
amante, e na presença desta, inclusive. Qualquer que seja a verdade, o fato é
que morreu amada pelo povo e humilhada dentro de casa.
Enquanto faço minha faxina, penso em quantas mulheres sofrem este mesmo
destino: desvalorização, desrespeito, esquecimento... então me lembro que já amadurecemos a ponto de ter, no Brasil de hoje, mulheres ajudando a fazer leis e leis como a Maria da Penha, que as defendem de homens violentos... mulheres como delegadas e policiais, desembargadoras, chefes de família, cientistas, presidentes de empresas, mulheres até disputando e vencendo a presidência do República. Mulheres que estão aprendendo a consquistar o seu lugar no mundo. De onde estiver, Dona Leopoldina há de se sentir orgulhosa
do país que ajudou a construir, ainda que quase ninguém se lembre mais dela.
Fernanda,
ResponderExcluirParabens! Sao poucas as pessoas que lembram dessa Mulher tao importante da nossa historia, uma homenagem justa e muito bem lembrada. Entre outras a escola de samba "Imperatriz Leopoldinense" tambem faz sua homenagem.
"Viva a Imperatriz Leopoldina"
Felicidades,
Gilda Bose
Obrigada, beijos, Gilda!
ResponderExcluirGostaria , se dispusesse de tempo maior, de tecer mais alguns comentários, mas a Vice-Presidenta do C>P>F>A>S> praticamente esgotou o assunto, sob este ponto de vista... e faço minhas as palavras dela.
ResponderExcluirPara fechar com chave de ouro, a Diretora ainda fez referência à Imperatriz Leopoldinense, posto que escola de samba com bons eneredos e belos desfiles, é comigo mesmo!
Valeu, bravas e estimadas meninas!!!
Abraço forte para ambas
O modesto Presidente
Marcos Lúcio
Perdoe-me.mas não resiti. Lemrei-me de um samba surreal e jocoso, cujo refrão è: D Leopoldina, virou trem. D. Pedro, é uma estação também. Falando sério, Viva D. Lepoldina, Leila Diniz e todas as mulheres do Brasil e do mundo, que estão resscrevendo sua História, Sendo nossas parceiras na consrução de um mundo melhor.
ResponderExcluirANTONIO CARLOS
Boa lembrança,a do Antonio Carlos.Mas Fernanda,para que nós mulheres,tenhamos o nosso verdadeiro valor reconhecido,vamos combinar que ainda falta muitas leis á serem cumpridas... Bjs.
ResponderExcluirMonica.
Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirConforme você muito bem escreveu, foi Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena ou simplismente, Dona Leopoldina, ou, Leopoldina de Habsburgo, quem assinou primeiramente a Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, a capital, já que D. Pedro I, estava em São Paulo, acampado nas margens do Rio Ipiranga, em inspeção e exercícios militares, quando recebeu mensagem de D. Leopoldina, informando a assinatura e consequente proclamação da independência brasileira por parte dela.
Portanto, continuando a corroborar o seu escrito, D. Pedro I, confirmou o ato de D. Leopoldina, já que ele era o consorte principal na relação de poder político e matrimonial, nos termos culturais varões de nossa sociedade latino-ibérica e que, até pouco tempo atrás, era juridicamente aceito em nossa sociedade contemporânea.
Apesar de que, mesmo nos dias atuais, em certos meios e relações sociais, em função dessa tradição cultural machista, varona, de origem latino-romana, as mulheres, ou mulieres em latim, ainda são vistas como inferiores, dependentes e os homens, considerados como cabeças, líderes.
Embora, mesmo no meio jurídico tradicional, onde o uso do latim se faz presente, chamem os cônjuges de varão e virago, em função da etimologia latina da palavra cônjuge, que segue o conceito de conjunto. Portanto, para fazer par e conjunto com um varão, um líder, é preciso uma virago, uma mulher decidida, de atitudes firmes, fortes, uma heroína.
Dessa forma, quer seja no 7 de setembro, assim como nos outros dias, nada mais nobre e amoroso, do que admirar o caráter e consciência das viragos.
Felicidades e boas energias.
Muito interessante.
ResponderExcluir"O amor e o casamento é uma construção social, em cada época é de um jeito."
Já evolui bastante e estamos em plena transição.
Na Grecia antiga, não existiu nada parecido com o casamento como o conhecemnos hoje.
No futuro, acho, que o amor e o casamento serão bem diferentes.
Acho que será comun amar e casar com mais de uma pessoa.