quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"Trago a Cinderela do Lar em três dias"

E minhas aventuras em busca da empregada doméstica ideal seguem a todo vapor. Ando pensando até em lançar um concurso nacional no Youtube, com direito a vassoura de cristal, para ver se a Cinderela do Lar aparece.

Conto as últimas: dia desses apareceu uma muito bem indicada, tipo forno e fogão, o que para mim não quer dizer nada já que o rango aqui em casa é congelado e as panelas são só enfeite. Gabou-se de trabalhar para o “Seu” Pierre há quatro anos, como se eu lá soubesse quem é o tal, e como se ter patrão francês valesse um MBA em serviços domésticos.  Ia tudo muito bem até o momento em que perguntei se ela tinha mesmo espanado a estante do quarto, onde a poeira reinava, absoluta.
-- Espanei tudinho.
Fui gentil:
-- Tem certeza?
A moça, beirando os dois metros de altura e os 90 quilos, botou a mão na cintura e falou grosso:
-- Por quê, tá duvidando?!
Well, well... meu instinto de sobrevivência gritou bem alto, e me perguntei o que fazer diante daquilo. O primeiro dia de trabalho acabou ali mesmo.
Em nova ocasião, chega uma outra, de salto alto, brincos enormes e douradões pesando nas orelhas e esmalte vermelho nas unhas. E eu que não aparecia na manicure havia sééééculos, por conta dos serviços domésticos... fiquei até com inveja só de olhar pra ela, parada ali na porta com sua Louis Vuitton de Madureira, e vi que não ia dar certo.
Mesmo assim arrisquei, mas a moça falou o dia inteiro na minha cabeça e, pra piorar, recusava-se a fazer as coisas do jeito que eu pedia. Exemplo:
-- Olha, no chão da casa é varrer e passar um pano úmido sem produto nenhum, porque este piso só pede água e fica ótimo.
-- Não, aqui eu vou passar um “Veja”, que é pra ficar limpinho.
(Pergunto ao leitor: aguento isso?!).
Ao fim do dia, quando pedi que lavasse o banheiro, ela me sai com esta:
-- Ô dona Fernanda, se a senhora não vai ficar comigo, por que é que eu tenho que lavar o banheiro?
Eu não sou Sidney Magal, mas o meu sangue ferveu. Abri a porta e apontei o elevador.
-- Porque estou te pagando a diária, meu bem, mas se quiser ir embora, pode ir agorinha mesmo porque realmente não fico com você nem de graça.
Ela saiu porta afora e ainda disse, zombeteira:
-- Fica na paz...
E então eis que me aparece, pela primeira vez em quase um ano, aquela que pensei ser a salvação da lavoura. Ótima, silenciosa, eficiente, ágil e cuidadosa. Ofereci um bom salário e às três da tarde disse que ela podia ir embora.
-- E aí? Gostou? Vai voltar? Estamos acertadas?
-- Não... o serviço aqui é muito pesado. Tem muito livro pra espanar.
Aí foi a vez da Flávia: simpática, doida pra pegar o emprego, dedicada, sorridente. Eu logo vi que estava longe de ser o ideal, mas pensei que quem não tem Juliene vai com Flávia mesmo. Olha, eu me esforcei. Tentei até não me incomodar com o fato de ela tagarelar demais na minha cabeça e me encher o saco, mas foi aí que a porca torceu o rabo: eu estava ali, sentadinha tomando meu café da manhã, quando ela se encostou na pia e reclamou, cheia de intimidade:
-- Aaaaaaai... tô com uma dor na minha hemorróida...
Engasguei, e ela continuou:
-- A senhora tem hemorróida?
Não estou exagerando: foi nesta hora que eu pensei estar tendo uma experiência de “quase-morte”... juro que fiquei gelada e senti meu coração parar e depois pegar no tranco com meu acesso de tosse.
-- Cof, cof, cof, cooooooofffffff...
Bilhete azul para a Flávia.
E então foi a vez da Alessandra... tudo ia otimamente bem naquelas semanas em que, mais uma vez, pensei ter tirado a sorte grande e merecido o milagre de encontrar a agulha no palheiro, digo, a doméstica ideal neste Rio de Janeiro de meu Deus. Mas foi só eu fazer a primeira reclamação sobre uma camisa mal passada e um banheiro mal lavado, que ela começou a chorar. E olha que eu reclamei com a maior educação do mundo! Ela repassou a camisa e lavou de novo o banheiro, mas saiu daqui de casa com uma cara tão amarrada que não precisei ir à cartomante para saber que jamais voltaria.
Por falar em cartomante... lembrei da Juliene... e decidi procurar uma cigana poderosa que possa trazer de volta "a empregada amada em três dias". Será que rola?

Leia também:
O milagre da multiplicação das Julienes

16 comentários:

  1. Tente as empreguetes da novela das sete

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  2. Olá Fernanda, essa história me faz lembrar aquela que conta que um casal contratou uma empregada doméstica para dormir inclusive. Na entrevista, a empregada quis saber se teria folgas semanais, terminar cedo durante a semana para ir namorar, se teria TV colorida no quarto para ver a novela, décimo terceiro, comer a mesma comida dos patrões, disse que só fazia o "trivial", tinha alergia a água sanitária, não passava roupa, enfim, antes mesmo de começar ela procurou deixar claro suas condições.
    A senhora, então, perguntou: - Você toca piano? Ela, surpresa, retrucou: - Não senhora, eu não toco nada, nem sei como é.
    Então você não serve para trabalhar aqui, diz a senhora, porque o meu marido só almoça ao som de piano. É mais ou menos isto que a gente está passando. Sem contar quando elas vem com aquela conversa: - a senhora não quer que eu trabalhe na sua casa não? Eu estou precisando tanto... E nós??
    Um grande abraço,
    Raquel Edel

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    1. Cara Raquel... bem-vinda ao blog! Leia os outros posts sobre a "Saga Juliene", como disse a Alana, também leitora, e verá que eu fiz a mesmíssima coisa com uma das candidatas. E te digo: tá dureza... abraços e volte sempre!

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  3. Fernanda,eu já passei por esse problema,e confesso que é muito desgastante.
    Hoje agradeço a Deus por estar com a mesma pessoa á mais de oito anos,e espero que ela continue trabalhando na minha casa,por muito mais tempo.

    Bjs.

    Monica.

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    1. Monica, pergunta se ela não quer fazer um bico aqui em casa!!!

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    2. Tá Fernanda,vou pensar no seu caso.Quem sabe depois de uma reunião com nós três... E me rendendo alguma porcentagem,é claro.

      Monica.

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  4. Fui entender o titulo no final...

    Olha, nem macumba com Moet Chandon e caviar,na esquina da Joana Angelica com Viera Souto vai resolver o teu "pobrema" misanfilha!

    Voce vai acabar encontrando alguem mas uma boa empregada eh como o nosso primeiro amor: a gente nunca esquece!

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    1. É praga?! (A esperança é a última que morre!!!)

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    2. Falei com a Mae Joana, aquela que mora la longe...
      Ela mandou te avisar que vai te ajudar!!
      Disse para voce fazer um despacho com, alem da Moet (da Franca. Da Argentina nao serve). O caviar tem que ser beluga malossol e a lata de, no minimo 50 grs., e que tem que incluir alguns blinis, creme fresco, 1/2 kl. de Saint Andre, 1/2 de foie gras, 250 grs. de trufas (nao especificou qual), alem de salmon defumado da Caviar House e pumpernickel.
      Ela disse que depois de feito, voce senta e espera que ela vai bater na sua porta.

      Soh mais uma coisa: A Mae Joana pediu para voce avisar o local exato e o horario que voce vai por o despacho...

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  5. A questão de empregadas domésticas é tão complexa, que dentre milhares de análises, destaco a peça ícone do Gean Genet
    (1910-1986), AS CRIADAS ...e que não tem a ver com a sua questão, é somente para ilustrar e rechear o blog, queriDannemann.

    Escrito pelo autor francês em 1947, o drama traz duas mulheres que, na ausência da patroa, satirizam a sua condição humilde, liberando suas fantasias, debochando e imitando a patroa. O jogo de poder e submissão transforma-se em uma relação de amor e ódio estabelecida entre as serviçais.

    "As Criadas" é uma peça de teatro em que se pretende abordar as relações dominador e/dominados.Genet faz essa análise concretizando os pólos da contradição a um nível senhor/servo, pois não é outra coisa do que uma reminiscência feudal nas sociedades burguesas, a existências de seres que trabalham( não criando riqueza) para aliviar outros seres de uma parte do seu trabalho de manuntenção do mecanismo das células familiares.

    Sobre os aspectos especificos deste tipo de opressão, a escolha dele foi um exemplo da evidente contradição dominador/dominado ao nivel criada explorada/senhora exploradora (há boas e honrosas exceções, com relações mais humanizads entre as partes).

    No caso "As Criadas", a opção de Genet parece ser a demonstração(servindo-se de uma conjutura facilitante) da tese da impossibilidade da superação dialética das situações opressivas.Duas irmãs, criadas da mesma "senhora", odeiam a patroa.Odeiam nela as situações de servas, amando e invejando através da fantasia de tornarem-se patroas.

    Abraço forte
    Marcos Lúcio

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    1. A minha fantasia, hoje, é de ter alguém que me ajude aqui com a casa... mas já tô começando a achar que só quando eu encontrar a Lâmpada do Aladim...

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  6. Muito tempo sem entrar no seu blog.... Saudades! Me diverti como nunca! Mil bjs

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