A gente é cientista, astronauta, bombeiro, Messi ou
Ronaldinho, herói de filme, médico, piloto de Fórmula 1... professor,
pai ou mãe, policial e até bandido, pra variar.
Então um dia a gente cresce. E esquece que pode ser
quem quiser: Clark Kent ou Superman? Se temos os dois dentro de nós, basta-nos escolher!
Mas aí a gente vira massa de manobra: vira o que a novela ensina, o que o marketing ordena, o que a mídia quer, o que o patrão manda, o que o sexo oposto espera, o que a religião dita, o que as nossas próprias neuroses fazem da gente... parece que o mundo nos empurra o Clark Kent goela abaixo, e o Superman vai ficando cada vez mais difícil de acessar. E então nos perdemos...
-- Não sei mais o que fazer...
-- Conheço um psicanalista ótimo, talvez possa ajudar.
-- Nããããão, não tem jeito. Eu sou assim e pronto; quem quiser que goste de mim como eu sou...
-- Conheço um psicanalista ótimo, talvez possa ajudar.
-- Nããããão, não tem jeito. Eu sou assim e pronto; quem quiser que goste de mim como eu sou...
Tá vendo? Alguns chegam a dizer besteiras como estas (como se
aquele que não virar fã vá mesmo perder grande coisa, e o pretensioso que
profere tais palavras não tenha nada a perder neste jogo de vaidade e preguiça). Se ele é “assim” ou ‘assado” isso quer dizer
que está cristalizado... virou um caso sem solução: pior pra quem tem que conviver com ele, então!
Caso mais duro que este, só mesmo o de apequenar a existência ao
construir em torno de si um cercadinho invisível; uma fronteira entre a vida
possível e a impossível: do lado de lá está tudo aquilo que tornou-se “sonho” e
veleidade... como se a vida não pudesse ter lances inesperados, incríveis,
mágicos, inimagináveis, e fosse apenas o dia a dia puro e concreto de um
horizonte só até onde a vista alcança.
Nosso personagem virou um frustrado com síndrome de pobre coitado, mas
em geral ele finge que sofre com boa-vontade todas as negativas que a vida lhe
impõe. (É bom ter cuidado com gente assim, que costuma ser invejosa).
Há caminhos ainda mais doentios, como atribuir a
alguém a responsabilidade pelos próprios desacertos. Então tudo o que poderia
ter acontecido vira amargor em forma de saliva: “hoje estou nesta situação e a
culpa é do Fulano, que não me estimulou, não me deixou fazer diferente, não me
apoiou etc, etc, etc...”. E onde é que você estava, ô Cara-Pálida, que deixou o
Fulano ter toda esta influência nefasta? O que é que você estava fazendo, que
abdicou do seu poder sobre si mesmo e foi parar aí no fundo do poço?
-- Você canta tão bem... por que guardou a voz na
gaveta e se esqueceu dela?
-- Porque Deus quis assim: não tive oportunidades...
Parece inacreditável, mas até Deus entra na dança e pode levar a
culpa... a tal que poderia cantar num disco, num palco ou num coral de igreja,
que fosse, jamais levantou um dedo para fazer alguma coisa com a voz que a
Natureza lhe deu, e mesmo assim prefere acreditar que a escolha de não cantar
foi feita lá no céu...
Salvo quem nasce escravizado por uma cultura onde a única liberdade é acreditar-se livre; salvo quem nasce um regiões inóspitas "de tudo" como em alguns lugares do planeta... salvo quem padece na mão de algozes como de vez em quando a gente a vê na TV, que mostra histórias de pais que acorrentam filhos dentro de casa... salvo tudo isso, podemos ser muitas coisas na vida, podemos mudar de papel e recomeçar a qualquer momento: dá pra ser feliz interpretando um personagem só a vida INTEIRA? Não cansa? Não enjoa? Não causa tédio? Não enlouquece ser igual durante 80 ou 30 anos?
Salvo quem nasce escravizado por uma cultura onde a única liberdade é acreditar-se livre; salvo quem nasce um regiões inóspitas "de tudo" como em alguns lugares do planeta... salvo quem padece na mão de algozes como de vez em quando a gente a vê na TV, que mostra histórias de pais que acorrentam filhos dentro de casa... salvo tudo isso, podemos ser muitas coisas na vida, podemos mudar de papel e recomeçar a qualquer momento: dá pra ser feliz interpretando um personagem só a vida INTEIRA? Não cansa? Não enjoa? Não causa tédio? Não enlouquece ser igual durante 80 ou 30 anos?
Desconfio das vítimas das circunstâncias e acredito que todos estamos no exato lugar onde nos colocamos, vestindo a fantasia
que costuramos sobre a pele, interpretando o papel que escrevemos
para nós mesmos. E o roteiro só muda se a gente escrever um novo. Se a gente
lembrar que pode ser quem quiser: o que vive ou o que vê a vida passar; o que se expande ou o que se encolhe; o que
experimenta ou o que fica na vontade; o que se aventura ou o que lamenta; o que
enfrenta o medo ou o que teme; o que é feliz agindo, improvisando e atuando... ou o que se dá por satisfeito com
o papel de espectador, sentadinho ali na plateia: e aí, todo cuidado é pouco pra não levar vaia de si próprio quando a novela acabar.
Estes aí já escolheram! Ao menos por enquanto.
Também desconfio muito das vítimas das circunstâncias. __AH! Meu filho era trabalhador, era isso era aquilo. O destino não faz curva. Somos nossos próprios autores.
ResponderExcluirDá-lhe Alfredo!
ExcluirMauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirTodos nós somos produto do meio, no caso, da cultura, do meio social que nos cerca e isso pode ser uma "prisão", uma "imposição" e até mesmo, uma escravização.
Lembro-me em comentário passado, ter contado acerca de minhas experiências domésticas de solteiro, lá pela metade da década de 1990, quando morava sozinho e realizava tarefas domésticas tranquilamente, na boa, sem estress, afinal, teriam que ser realizadas de qualquer forma e na dentro de minhas possibilidades, aquelas eram as minhas. Algo "perfeito" para mim. Portanto, penso que o "x" da questão venha a ser isso. O conceito de perfeição que reside em cada um de nós.
Nossa sociedade é muito invejosa, recalcada, fofoqueira, esteriotipadora. Tendo culturalmente a necessidade simplista e de forma quase monossilábica, de rotular, de adjetivar, de nomear, alcunhunar, apelidar as pessoas. Isso também é circunstância. A qustão, é como cada um de nós vai lidar com as circunstâncias, já que "perfeição" absoluta, não existe. Os "santos" ou "santas" de uns, certamente são os "demônios" ou "demônias" de outros. E isso, também é variável, vai depender da circunstância específica.
Mas o que aprendí vivendo é que, todos adoram rotular os outros(as), preferencialmente se for para falar mal, "malhar", pois dessa forma, escondem seus "defeitos" e retransmitem a cultura do rótulo, pois é mais cômodo ser imediatista, superficial, do que analisar mais profundamente. Mas fato incontestável é que, ninguém conhecerá tão bem a pessoa em questão, quanto ela mesma. E isso também é circunstãncia.
O que podemos fazer diante de tal complexidade, no meu entender, é perante nosso conceito e circunstância de "certo" e "errado", ou ainda, de "serve" ou "não serve", "presta" ou "não presta", simplismente decidirmos, se vamos ou ficamos.
Felicidades e boas energias.
Vamos!
ExcluirSER, definitivamente, não é tarefa fácil. Sabemos, desde Freud, que a civilizaçãopossibilita-se pela Repressão e Sublimação de nossos instintos. Sem isso, devoraríamo-nos. Por outro lado, embora não considere antinômico, os Existencialistas,principalmente, os franceses, aí, pontificando Sartre, enunciam que somos condenados á liberdade. Liberdade, implica em fazer escolhas, sempre. Ainda, segundo Sartre, sempre somos o melhor que conseguimos SER, mesmo que, eventualmente, ao olhar do outro, SEJAMOS NADA. Mas, o que é o NADA, se não a possibilidade de SER?
ResponderExcluirO que é, então, SER autêntico? Ese constructo é igual para todas as pessoas? Creio que não. E SER autêntico, significa necessariamente, SER bom e generoso? Psicopatas, são singularmente autênticos. Ou, não?
Então, sendo simplista, viver, é o que nos cabe. Ora, generosos(ao olhar do outro)ora, demoníacos( também, no espelho que o outro reflete). Maravilhoso, quando somos congruentes com os anjos e demõnios que nos EXISTEM( no espelho de nós mesmos) e conseguimos viver em sociedade, sem SERMOS predadores do outro, qualquer outro.
ANTONIO CARLOS
Fiquei sem palavras...
ExcluirNoves fora as escolhas que não podemos fazer, tais como: cor de pele, altura, beleza, sexo, sexualidade, nacionalidade, filiação, uma vez que tudo isto _na verdade são os imperativos biológicos_ é anterior à nossa vontade...existem, sim, mobilidades, possibilidades e tentativas, no mínimo. Quem fica parado é poste e ainda leva mijada de cachorro rs. Há quem diga que os tempos estão tão "ao contrário", que os postes já estão mijando nos cachorros, et la nave va! Para onde?!
ResponderExcluirÉ evidente que circusntâncias e oportunidades muito favorecem, tanto para o bem quanto para o mal, queriDanneman. Não podemos duvidar, também, dos segredos e sagrados existenciais, inacessíveis a nosotros, reles mortais. Há os crentes, inclusive, em carmas...reencarnaçoes e "taisequais".
Seu texto é incorrigível e faço minhas suas palavras. Mas fico matutando se o grande problema da humanidade é, primeiramente, a idiota mania insatisfatória e incauta, de se comparar e de querer imitar.
Sempre fico com a impressão de que as pessoas estão fazendo e querendo porque as outras também estão (com a ajuda perniciosa das propagandas americanizadas, de n tipos). Ainda está looonge o tempo do conheça-te a ti mesmo, infelizmente.
Parece que o povo não entende que a vida é constituída única e exclusivamente de diversidades e diferenças. É uma parvoíce querer ser ou parecer o que não é, ou, pior, imitar "ozotro" .
Deveria_ se ideal houvesse_ fazer-se valer um imperativo categórico do tipo: SINGULARIZE-SE, para toda gente.
"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos" é uma destas frases_ no caso, da genial Marguerite Yourcenar_, que dá conta do que aos trancos e barrancos tento digitar. Vale citar, também: "Julgamo-nos puros enquanto desprezamos o que não desejamos." "Todo prazer sentido com gosto parece-me casto."de sua fecunda autoria.
Sem o auto-conhecimento e por sermos desejantes, acima de tudo, fica impossível se saber , ao certo, o que se quer ser ou ter... a quem , como e quando amar... como trabalhar ou não... como descansar... de quais prazeres usufruir, etc. Como a maioria é desatenta e acredita que a satisfação material (compre! consuma!) propagandeada vai funcionar...dá com os burros n'água, posto que o consumo é o ópio do desejo. Assim que o objeto está nas mãos, pouco tempo depois o vazio se instala, novamente. Compras só adiam a insatisfação. Só existe satisfação de longo prazo...no ser, inclusive espiritualmente, jamais no ter.
Só quem possui a salutar coragem ou curiosidade_ ainda que com angústia_ de responder pessoal, intrínseca, intransferível , ontologicamente e com absoluta verdade ou auto-conhecimento à seminal pergunta freudiana: AFINAL, O QUE VOCÊ QUER?..., pode, deve e merece ser feliz, se não estou equivocado ou se não me falha a memória. Ótimo o comentário do A. Carlos.
Forte abraço, santé e axé!
Marcos Lùcio
Continuo sem palavras...
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