segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Clark Kent ou Superman: você decide!

A gente pode ser o que quiser, mas se esquece deste poder de decisão.

A gente é cientista, astronauta, bombeiro, Messi ou Ronaldinho, herói de filme, médico, piloto de Fórmula 1... professor, pai ou mãe, policial e até bandido, pra variar.
Então um dia a gente cresce. E esquece que pode ser quem quiser: Clark Kent ou Superman? Se temos os dois dentro de nós, basta-nos escolher!
Mas aí a gente vira massa de manobra: vira o que a novela ensina, o que o marketing ordena, o que a mídia quer, o que o patrão manda, o que o sexo oposto espera, o que a religião dita, o que as nossas próprias neuroses fazem da gente... parece que o mundo nos empurra o Clark Kent goela abaixo, e o Superman vai ficando cada vez mais difícil de acessar. E então nos perdemos...
-- Não sei mais o que fazer...

-- Conheço um psicanalista ótimo, talvez possa ajudar.

-- Nããããão, não tem jeito. Eu sou assim e pronto; quem quiser que goste de mim como eu sou...
Tá vendo? Alguns chegam a dizer besteiras como estas (como se aquele que não virar fã vá mesmo perder grande coisa, e o pretensioso que profere tais palavras não tenha nada a perder neste jogo de vaidade e preguiça).  Se ele é “assim” ou ‘assado” isso quer dizer que está cristalizado... virou um caso sem solução: pior pra quem tem que conviver com ele, então!
Caso mais duro que este, só mesmo o de apequenar a existência ao construir em torno de si um cercadinho invisível; uma fronteira entre a vida possível e a impossível: do lado de lá está tudo aquilo que tornou-se “sonho” e veleidade... como se a vida não pudesse ter lances inesperados, incríveis, mágicos, inimagináveis, e fosse apenas o dia a dia puro e concreto de um horizonte só até onde a vista alcança.  Nosso personagem virou um frustrado com síndrome de pobre coitado, mas em geral ele finge que sofre com boa-vontade todas as negativas que a vida lhe impõe. (É bom ter cuidado com gente assim, que costuma ser invejosa).
Há caminhos ainda mais doentios, como atribuir a alguém a responsabilidade pelos próprios desacertos. Então tudo o que poderia ter acontecido vira amargor em forma de saliva: “hoje estou nesta situação e a culpa é do Fulano, que não me estimulou, não me deixou fazer diferente, não me apoiou etc, etc, etc...”. E onde é que você estava, ô Cara-Pálida, que deixou o Fulano ter toda esta influência nefasta? O que é que você estava fazendo, que abdicou do seu poder sobre si mesmo e foi parar aí no fundo do poço?
-- Você canta tão bem... por que guardou a voz na gaveta e se esqueceu dela?
-- Porque Deus quis assim: não tive oportunidades...
Parece inacreditável, mas até Deus entra na dança e pode levar a culpa... a tal que poderia cantar num disco, num palco ou num coral de igreja, que fosse, jamais levantou um dedo para fazer alguma coisa com a voz que a Natureza lhe deu, e mesmo assim prefere acreditar que a escolha de não cantar foi feita lá no céu...

Salvo quem nasce escravizado por uma cultura onde a única liberdade é acreditar-se livre; salvo quem nasce um regiões inóspitas "de tudo" como em alguns lugares do planeta... salvo quem padece na mão de algozes como de vez em quando a gente a vê na TV, que mostra histórias de pais que acorrentam filhos dentro de casa... salvo tudo isso, podemos ser muitas coisas na vida, podemos mudar de papel e recomeçar a qualquer momento: dá pra ser feliz interpretando um personagem só a vida INTEIRA? Não cansa? Não enjoa? Não causa tédio? Não enlouquece ser igual durante 80 ou 30 anos?
Desconfio das vítimas das circunstâncias e acredito que todos estamos no exato lugar onde nos colocamos, vestindo a fantasia que costuramos sobre a pele, interpretando o papel que escrevemos para nós mesmos. E o roteiro só muda se a gente escrever um novo. Se a gente lembrar que pode ser quem quiser: o que vive ou o que vê a vida passar; o que se expande ou o que se encolhe; o que experimenta ou o que fica na vontade; o que se aventura ou o que lamenta; o que enfrenta o medo ou o que teme; o que é feliz agindo, improvisando e atuando... ou o que se dá por satisfeito com o papel de espectador, sentadinho ali na plateia: e aí, todo cuidado é pouco pra não levar vaia de si próprio quando a novela acabar.
 

                                          Estes aí já escolheram! Ao menos por enquanto.

8 comentários:

  1. Também desconfio muito das vítimas das circunstâncias. __AH! Meu filho era trabalhador, era isso era aquilo. O destino não faz curva. Somos nossos próprios autores.

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  2. Mauro Pires de Amorim.
    Todos nós somos produto do meio, no caso, da cultura, do meio social que nos cerca e isso pode ser uma "prisão", uma "imposição" e até mesmo, uma escravização.
    Lembro-me em comentário passado, ter contado acerca de minhas experiências domésticas de solteiro, lá pela metade da década de 1990, quando morava sozinho e realizava tarefas domésticas tranquilamente, na boa, sem estress, afinal, teriam que ser realizadas de qualquer forma e na dentro de minhas possibilidades, aquelas eram as minhas. Algo "perfeito" para mim. Portanto, penso que o "x" da questão venha a ser isso. O conceito de perfeição que reside em cada um de nós.
    Nossa sociedade é muito invejosa, recalcada, fofoqueira, esteriotipadora. Tendo culturalmente a necessidade simplista e de forma quase monossilábica, de rotular, de adjetivar, de nomear, alcunhunar, apelidar as pessoas. Isso também é circunstância. A qustão, é como cada um de nós vai lidar com as circunstâncias, já que "perfeição" absoluta, não existe. Os "santos" ou "santas" de uns, certamente são os "demônios" ou "demônias" de outros. E isso, também é variável, vai depender da circunstância específica.
    Mas o que aprendí vivendo é que, todos adoram rotular os outros(as), preferencialmente se for para falar mal, "malhar", pois dessa forma, escondem seus "defeitos" e retransmitem a cultura do rótulo, pois é mais cômodo ser imediatista, superficial, do que analisar mais profundamente. Mas fato incontestável é que, ninguém conhecerá tão bem a pessoa em questão, quanto ela mesma. E isso também é circunstãncia.
    O que podemos fazer diante de tal complexidade, no meu entender, é perante nosso conceito e circunstância de "certo" e "errado", ou ainda, de "serve" ou "não serve", "presta" ou "não presta", simplismente decidirmos, se vamos ou ficamos.
    Felicidades e boas energias.

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  3. SER, definitivamente, não é tarefa fácil. Sabemos, desde Freud, que a civilizaçãopossibilita-se pela Repressão e Sublimação de nossos instintos. Sem isso, devoraríamo-nos. Por outro lado, embora não considere antinômico, os Existencialistas,principalmente, os franceses, aí, pontificando Sartre, enunciam que somos condenados á liberdade. Liberdade, implica em fazer escolhas, sempre. Ainda, segundo Sartre, sempre somos o melhor que conseguimos SER, mesmo que, eventualmente, ao olhar do outro, SEJAMOS NADA. Mas, o que é o NADA, se não a possibilidade de SER?
    O que é, então, SER autêntico? Ese constructo é igual para todas as pessoas? Creio que não. E SER autêntico, significa necessariamente, SER bom e generoso? Psicopatas, são singularmente autênticos. Ou, não?
    Então, sendo simplista, viver, é o que nos cabe. Ora, generosos(ao olhar do outro)ora, demoníacos( também, no espelho que o outro reflete). Maravilhoso, quando somos congruentes com os anjos e demõnios que nos EXISTEM( no espelho de nós mesmos) e conseguimos viver em sociedade, sem SERMOS predadores do outro, qualquer outro.

    ANTONIO CARLOS

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  4. Noves fora as escolhas que não podemos fazer, tais como: cor de pele, altura, beleza, sexo, sexualidade, nacionalidade, filiação, uma vez que tudo isto _na verdade são os imperativos biológicos_ é anterior à nossa vontade...existem, sim, mobilidades, possibilidades e tentativas, no mínimo. Quem fica parado é poste e ainda leva mijada de cachorro rs. Há quem diga que os tempos estão tão "ao contrário", que os postes já estão mijando nos cachorros, et la nave va! Para onde?!

    É evidente que circusntâncias e oportunidades muito favorecem, tanto para o bem quanto para o mal, queriDanneman. Não podemos duvidar, também, dos segredos e sagrados existenciais, inacessíveis a nosotros, reles mortais. Há os crentes, inclusive, em carmas...reencarnaçoes e "taisequais".

    Seu texto é incorrigível e faço minhas suas palavras. Mas fico matutando se o grande problema da humanidade é, primeiramente, a idiota mania insatisfatória e incauta, de se comparar e de querer imitar.

    Sempre fico com a impressão de que as pessoas estão fazendo e querendo porque as outras também estão (com a ajuda perniciosa das propagandas americanizadas, de n tipos). Ainda está looonge o tempo do conheça-te a ti mesmo, infelizmente.

    Parece que o povo não entende que a vida é constituída única e exclusivamente de diversidades e diferenças. É uma parvoíce querer ser ou parecer o que não é, ou, pior, imitar "ozotro" .

    Deveria_ se ideal houvesse_ fazer-se valer um imperativo categórico do tipo: SINGULARIZE-SE, para toda gente.

    "O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos" é uma destas frases_ no caso, da genial Marguerite Yourcenar_, que dá conta do que aos trancos e barrancos tento digitar. Vale citar, também: "Julgamo-nos puros enquanto desprezamos o que não desejamos." "Todo prazer sentido com gosto parece-me casto."de sua fecunda autoria.

    Sem o auto-conhecimento e por sermos desejantes, acima de tudo, fica impossível se saber , ao certo, o que se quer ser ou ter... a quem , como e quando amar... como trabalhar ou não... como descansar... de quais prazeres usufruir, etc. Como a maioria é desatenta e acredita que a satisfação material (compre! consuma!) propagandeada vai funcionar...dá com os burros n'água, posto que o consumo é o ópio do desejo. Assim que o objeto está nas mãos, pouco tempo depois o vazio se instala, novamente. Compras só adiam a insatisfação. Só existe satisfação de longo prazo...no ser, inclusive espiritualmente, jamais no ter.

    Só quem possui a salutar coragem ou curiosidade_ ainda que com angústia_ de responder pessoal, intrínseca, intransferível , ontologicamente e com absoluta verdade ou auto-conhecimento à seminal pergunta freudiana: AFINAL, O QUE VOCÊ QUER?..., pode, deve e merece ser feliz, se não estou equivocado ou se não me falha a memória. Ótimo o comentário do A. Carlos.

    Forte abraço, santé e axé!
    Marcos Lùcio

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