quinta-feira, 22 de março de 2012

Frase feita é como um jeans 36

Uma vez li, em algum lugar, a frase fatídica:

"Mulher não toma remédio; toma atitude!".

Eu ainda era jovem e inocente, e não sabia que essas frases feitas são como um jeans 36, que não serve em quase ninguém. Então achei o máximo e entrei numas de que queria ser igual à distinta senhora autora das célebres palavras. E radicalizei: não punha nem Aspirina na boca, que dirá Neosaldina! Dipirona? Never! Antibiótico? Só em casos gravíssimos, e antiinflamatório eu risquei do meu caderninho.

Dor nas costas? Caía de cama e botava aquele emplastro Sabiá, conhece? Não resolvia o meu problema, mas eu sofria com dignidade e esperava a dor passar.

Se o drama fosse cólica menstrual, apelava para a velha bolsa de água quente. Dor de garganta, corria com a receita da minha mãe e botava um lenço com álcool enrolado no pescoço... e dá-lhe tosse! Cof! Cof! Cof!

Dor de estômago era combatida com um copinho de leite morno... e anos depois minha amiga enfermeira disse que isso é o pior que a gente pode fazer diante da gastrite. E foi categórica:

-- Doeu? Vai ao médico!

Nervosismo e afobação, fui resolver na escola de ioga, e realmente ajudou e muito! Mas nada dava jeito na insônia que veio morar aqui em casa, depois que meu pai mudou-se para outro planeta. Contei carneirinho, tomei chá de camomila, tentei ler “Em Busca do Tempo Perdido”, passei madrugadas assistindo Discovery e escutando meu marido ronronar no travesseiro ao lado. Só não fiquei totalmente maluca a ponto de ir limpar a casa no meio da noite... e olha que andei sem faxineira, hein?

Com o sono atrasado, comecei a mudar de personalidade: um dia me peguei xingando um taxista no trânsito. Outra vez, encerrei uma discussão com a flanelinha, reles desconhecida, gritando (com o dedo em riste):

-- Vai morrer com a boca cheia de formiga!!!!!!!!!!!!!!

Foi neste momento infame da minha existência, quando, no exato instante em que xingava, também me dava conta do absurdo, que dei o braço a torcer: eu não era (e jamais seria) durona como a tal mulher das palavras macabras lá de cima. Recolhi-me à minha insignificância e admiti que precisava DEMAIS de um remedinho. Dias depois, já medicada, voltei ao tal estacionamento e procurei a flanelinha com quem havia discutido. Ao vê-la, entrei de sola:

-- Minha querida, vim te pedir desculpas!

Ela me olhou surpresa:

-- Desculpas por quê?

Levei um susto: então ela não se lembrava da nossa terrível discussão? E expliquei, quase didaticamente:

-- Porque outro dia você me tratou mal e eu briguei com você. Eu estava nervosa, sabe? Mas fiquei arrependida e vim aqui pedir para sermos amigas!!! Não gosto de ser mal-educada com ninguém!!!

-- Aaaaahhhhhh, a senhora é aquela que disse que eu nunca vou conseguir ter um filho?!

Ôpa! Ela misturou as bolas. Parece que não sou a única maluca desvairada que anda à solta por aí. Ou então o problema é com ela mesmo, que briga com todo mundo.

-- Nãããããão !!!!!!!!!!! Imagina se eu ia dizer uma coisa horrorosa dessas! Falei só que você ia morrer com a boca cheia de formiga...

E encerrei a questão com um abraço bem festivo, dois beijos nas bochechas e ainda mandei um "eu te amo, querida, que bom que fizemos as pazes!". E tratei de sair logo dali. Saí sem olhar para trás e nunca mais voltei lá, mas acho que ela ficou me olhando de longe e pensando que, realmente, eu sou muito mais doida do que pareço.

Por estas e outras, que agora eu não saio de casa sem o meu melhor amigo. E, dependo da situação, já vou logo avisando:

19 comentários:

  1. Fernanda,
    eu estou resistindo bravamente a tomar o RIVOTRIL ....... me vi na cara do cachorrinho da foto!!!! que horror!!
    Vou seguir seu conselho.....
    Um grande abraço,
    Mercedes

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  2. Fernanda,se vc não faz academia,procure um tempinho na sua agenda,pelo menos por uma hora 3 vezes por semana,e junte a essa prática uma alimentação balanceada,e vc verá que tudo mudará para melhor,inclusive a qualidade do sono. Bj.

    Monica.

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  3. Mercedes e Monica... às vezes, um Rivotrilzinho é a paz na Terra! Cansei de tentar tirar forças de onde não tem e estou bem aliviada! Beijão!

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  4. Hahahahahahahahaha. Não acredito que você foi procurar a guardadora!!! Sensacional

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  5. Acho triste vc ter incorporado uma química tão forte à sua rotina. No dia que faltar o Rivotril vc vai arrastar correntes. Siga o conselho da Monica, faça ginástica e se alimente bem. Eu nunca tomo remédio, espero meu corpo reagir e tomar conta da situação. Até agora resisti bem à dor e ao mal estar. Bj

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    1. É, Marcelo, não tomar remédios é para poucos. Tomara que você jamais precise. Bjs!

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    2. Concordo om você, queriDannemann, que o mais fino possível a ser feito pelo homem é a poesia e, como ainda... sou mais Platão e menos Prozac ou Rivotril rsrs(longe de mim desmerecer a utilidade deles)...tomara seja oportuna esta madura reflexão, na minha modesta avaliação, desta grande poetisa, a seguir:

      NÃO SEI...

      Não sei... se a vida é curta...
      Não sei...
      Não sei...
      se a vida é curta ou longa demais para nós.
      Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
      se não tocarmos o coração das pessoas.
      Muitas vezes basta ser:
      colo que acolhe,
      braço que envolve,
      palavra que conforta,
      silêncio que respeita,
      alegria que contagia,
      lágrima que corre,
      olhar que sacia,
      amor que promove.
      E isso não é coisa de outro mundo:
      é o que dá sentido à vida.
      É o que faz com que ela
      não seja nem curta,
      nem longa demais,
      mas que seja intensa,
      verdadeira e pura...
      enquanto durar."

      Cora Coralina


      O que mais impressiona-me, é não conseguirmos a felicidade, em que pese estarmos acostumados a "falar" com o

      mundo em segundos, a transitar , ciberneticamente , neste universo quase sem fronteiras, onde a polavra convence,

      vende, ilude, ensina, confunde e, até, transforma.

      Descobrimos muito do universo e ainda não identificamos a riqueza daqueles que passam todos os dias ao nosso lado.

      Ainda somos o velho "serumano" com dificuldade de admitir que erra e a anos luz de "amai-vos uns aos outros".

      Urge redescobrir a simplicidade que comunica, a mão que toca e diz mais do que palavras, o abraço sincero que reconforta, enfim , o imenso tesouro dos semelhantes que compartilham nossa rápida trajetória.

      Por que não fazer de cada dia um encontro, de cada momento o único (cada instante é irrecuperável e irrepetível) e de cada pessoa um companheiro? (pelo menos, empaticamente, o máximo possível). Na verdade, o mais importante do destino, não é a chegada, mas , sim, a viagem. Poder compartilhar a paisagem do caminho, então, é o máximo!.

      Quem ainda não entendeu que nascemos para aprender, dividir, partilhar e conviver, construindo a felicidade que emana desta arte de viver, só está existindo...ainda não esta vivendo.


      Boas vibrações, santé e axé!!!

      Abração
      Marcos Lúcio

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    3. EstiMarcos, você já é um companheiro!!! Bjs!

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  6. Mauro Pires de Amorim.
    Sei de que ser um Gandhi, um Buda, é bem difícil e complicado, especialmente vivendo no mundo e sociedade da mentalidade reinante de máquina de moer gente.
    Também tenho meus momentos de nervosismo e irritação, afinal, somos humanos. O que procuro aprender com tais momentos adrenalíticos, que, posteriormente e invariavelmente nos aumentam o mal-estar físico e psíquico anterior, é monitorar suas causas e constâncias de ocorrências.
    Em termos de nominações pragmáticas e etimológicas, podemos referir isso como sendo "inteligência emocional". Sei também que trabalhar isso não é nada fácil, especialmente quando se está atolado(a) de preocupações. Mas por outro lado, de nada adianta o desgaste físico e psíquico excessivo, vez que, as questões específicas que nos preocupam, continuarão existindo da mesma forma. É preciso se desenvolver formas de auto-preservação para não se deixar virar uma pilha e depois um pandareco, em total estado de desequilíbrio.
    Portanto, procuro ter uma vida mais equilibrada possível, bem previsível e rotineira.
    "Nossa, que mediocridade!", dirão alguns(mas).
    Ser chamado de medíocre também não me importa, afinal, etimológicamente, medíocre, significa, mediano, aquele(a) que está na média. Vejo isso como sendo a pessoa comum, simplismente mais um filho ou filha da Terra.
    Sinta seu rítimo, não tente viver além dele. Lembre-se do termo "carpe die", no singular mesmo, já que falo para você, uasado em "Sociedade dos Poetas Mortos."
    Felicidades e boas energias.

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    1. Mauro, todo "pandareco" (adorei!) de vez em quando precisa de um remedinho! bjs!

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  7. Fernanda,

    Nao sou a favor de tomar remedios a toda hora, mas tem casos que somos obrigados a recorrer a um, e isso e natural. Sao pouquissimos seres humanos que conseguem dominar a mente a tal ponto que nao sente mais a dor fisica....mas isso eu deixo para os velhos hindus......
    Na meditacao eu encontrei paz interior. Nas caminhadas tambem.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  8. Este não é um recado para a melhor blogueira que conheço. È somente um alerta para quem ainda não sabe dos desdobramentos prováveis dos efeitos colaterais destes "anestésicos" emocionais.Já em 1998, o professor Jesse Ausubel da Universidade Rockefeller alertava que o uso maciço da psico-farmacopéia poderia levar a um gigantesco declínio da libido:

    "O Prozac é bem conhecido por causar disfunções sexuais, ao mesmo tempo em que atua como um calmante geral(...). Pode ser que a América e outras nações estejam receitando à sua população uma gradual porém gigantesca e fatal perda da libido. Um irônico fim para o século de Freud."

    Seja pelo desgosto diante das dificuldades em lidar com as circunstâncias indesejáveis e inevitáveis, ou pelos efeitos colaterais de drogas destinadas a mitigá-las, as mulheres estão renunciando à sua sexualidade. Quando os seres humanos deixam de desejar uns aos outros fisicamente, é por que deixaram de desejar uns aos outros de qualquer outro jeito. As coisas que motivavam muitos a juntarem-se em uma união íntima e permanente, procriando e aculturando a geração seguinte, dão lugar a um puro e tipicamente neoliberal exercício do ego.
    Abraço com afeto + excelente finde.
    Danilo

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    1. Oi, Danilo! Pode ficar tranquilo, porque só apelo para o Rivotril muito raramente... mas que ele agora mora na minha bolsa... ah, isso ele mora! Fico calminha só de saber que posso contar com ele em casos de curto-circuito. beijão e até breve!

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    2. Mauro Pires de Amorim.
      Não quero me arvorar em porta-voz, aliás, nem tenho procuração para isso. Portanto falo por minha percepção e ela me diz que, tanto eu, como os(as) demais comentaristas, desejamos seu bem e te queremos muito bem.
      Ver alguém sofrendo não faz nada bem, embora sempre haja os "espíritos de porco" que regojizam-se com isso. Peço perdão ao animal porco pelo uso de tal metáfora, pois eles conseguem, assim como o restante dos outros animais, serem melhores que pessoas desse tipo. Também sinto pena do(a) cachorrinho(a) neurótico(a) ou neurotizado(a) da foto.
      Com isso, em meu nome e dos demais, tenho certeza que eles(as) aprovarão, desejamos seu pronto restabelecimento e retorno à felicidade e boas energias.

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    3. Caro Mauro... concordo com você sobre o pobre do porco, bicho simpático que é mesmo incomparavelmente melhor do que pessoas ruins por natureza. Já o cachorro da foto, acho que ele está fazendo pose para o fotógrafo. E, quanto a mim, é o seguinte: estou muito bem, graças a Deus, mas que o Rivotril de vez em quando ajuda... ah, isso ajuda! Abraços!

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  9. Fernanda,

    Apesar da tentação de tomar o Rivotril, só o faço ocasionalmente, quando o coitado do coração já está mais do que apertado e a dor não compensa, inútil sofrer por isso.
    Ótimo remédio, pena que, se usado sem parcimônia, pode causar dependência como bem avisa a embalagem.

    Abraço

    André

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  10. André, concordo com tudo o que você disse. A gente não pode abusar, mas sofrer também não dá! Bjão!

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  11. Hahahaaha Adorei Fernanda! Achei super legal voce pedir desculpas, sua cara fazer isso! Beijos, Juliane Pocinhos.

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