Eu sei... já li ou já ouvi em algum lugar que a memória mais possante que temos é a olfativa: basta sentir o perfume do primeiro namorado e zás! Menos de um milionésimo de segundo e já estamos lá, naquele abraço que só ele sabia dar... Cheiro de torta de maçã? Zás, e estamos na cozinha da avó...
Pois hoje viajei ao passado, e o piloto da máquina do tempo não foi o meu nariz.
Tive a sorte de crescer em uma casa onde a música reinava, ao lado dos livros. Bem cedo, eu já gostava de tango, de bolero, de rock e de guarânias. Caí de amores pela valsa lá pelos 11 anos, e até aprendi a valsar, nos ensaios do baile de debutantes das minhas irmãs.
E hoje finalmente chegou minha encomenda: um disco do Supertramp, e que nem é essas “coca-colas”... “Free as bird” é o nome, e meu pai o comprou quando eu já estava lá pelos 19 e já conhecia a dita banda havia muito tempo... ao som de Supertramp curti muita dor-de-cotovelo, assim como America, The Monkees, Fleetwood Mac, Elvis, Edith Piaf, Charles Aznavour, Ray Charles, Withney Huoston...
Quem, com mais de 40, não namorou ao som de Barry White? Quem não dançou com Marvin Gaye?
Mas este disco do Supertramp, em especial, ficou por mais de 20 anos guardado na minha lembrança, sem que eu ouvisse uma só de suas canções. Ele não fez sucesso... então não toca em rádio, não é facilmente “encontrável” nas lojas e, pra piorar, ninguém tem. Por todos estes anos, eu cantarolava as poucas frases que guardei na memória: “it doesn’t matter what I do; it doesn’t matter much to you...” “But every time I ask you to tell me why, you say it’s not the moment…”.
E quando finalmente botei o CD pra tocar, fechei os olhos e esperei a mágica acontecer. Não é que ela aconteceu mesmo?
Quando dei por mim, ao som de “It´s alright”, a viagem já tinha dado certo, e eu tinha outra vez 19 anos e dançava na sala de casa. A cabeça, cheia de sonhos, planos e dúvidas... um livro de biologia inteirinho pra estudar e um namorado lindo morando no prédio ao lado, de onde me chamava com um assovio, pela janela do quarto.
Minha mãe fazia o café das quatro horas e meu pai estava prestes a chegar do trabalho. Meus irmãos transitavam pra cá e pra lá, enquanto disputavam a máquina de lavar , o único banheiro da casa ou o telefone: coisas de família grande.
Enquanto isso, eu curtia meu Supertramp sossegada... e feliz da vida!
It's raining again..
ResponderExcluirMauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirMe lembro dos meus 19 anos de idade, em 1984, ano em que cursava o 3º ano do 2º grau e me preparava para fazer o Vestibular, ter uma carreira de nível universitária de formação, o que, ao meu entender, aumentaria as chances de uma melhor colocação no mercado e na vida.
Embora já pensasse como adulto, apesar de jovem, cresciam em mim as percepções e compreensões de aspecto adulto, inclusive sobre amor, família e amizade. Imperfeitas é verdade, vez que, não contava que a mentalidade pussílânime e mercenária fosse tão vigente em nosso mundo.
Será que fui eu que falhei nessa percepção? Fui ingênuo? Ou será que essa mentalidade vil e atravancadora sempre esteve presente e hoje em dia, com minha percepção de adulto mais crescida e experimentada, já não me deixo iludir tão facilmente pelos afagos apresentados.
Seja como for, embora tenha consciência da importância do dinheiro e das riquezas materiais, assim como os outros também têm. Mantenho a mesma característica desses meus anos iniciais e perceptivos do tipo de pessoa adulta que seria e quem próximo de mim gostaria que estivesse. Com isso, não importa se minhas percepções iniciais de jovem adulto foram pueris face a realidade da mentalidade sistemática de máquina de moer gente. O que mais me importa, é que, mesmo com minha imperfeição, eu jamais me tornarei adequado a tal mentalidade. Essa certeza nutre e alimenta meu éter motriz do existir e de querer estar presente.
Ninguém jamais me prometeu que viver a vida seria fácil, mas já que estou vivo, faço meu melhor, faço minha parte e dessa forma, combato o bom combate.
Felicidades e boas energias.
Ao terminar de ler, mais uma vez constatei, queriDannemann, o quanto sou _desde sempre_ rês desgarrada, ovelha negra, ponto fora da curva e quejandos...
ResponderExcluirNão se esqueça de que não vejo tv e nem celular possuo, dentre outras inúmeras esquisitices/autenticidades, digamos assim...e nada contra quem precisa ou gosta. Sou quase sempre bem-humoradíssimo e "animadim" rsrs... benza Deus!
Quando li: "Quem, com mais de 40, não namorou ao som de Barry White? Quem não dançou com Marvin Gaye?", o etzinho que habita em mim pensou:.já passei há muiiiiiiito dos quarenta e não sei quem é esse povo. Conforme vc já sabe, apaixonei-me (vivo apaixonado e entusiamado, exceto por pessoas...)desde muito jovem, de tal forma pela MPB de excelência (exclusivamente), que a invasão colonialista das músicas americanas não assaltou minha alma. Como não domino o idioma...sempre desconfio, mesmo que eu goste da melodia, que a letra pode ser brega, óbvia ou mais do mesmo. Também o pop jamais conquistou-me. Das brasileiras ...só ouço aquelas que " me ouvem", com as quais mantenho sintonia fina, ressonância, ou seja, as que possuem, além de belas harmonias e melodias, inteligência, arte, poesia e que tenham originais ou bem (ins)piradíssimas letras. Menos do que isto, náo me serve pra nada.
Como sou de natureza curiosa para o que considero interessante ou importante, fui pesquisar para ouvir e, realmente, o tal do Marvin desconhecia solenemente .Mas esta ignorância, sinceramente, em nada modifica meu psiquismo ou bem estar, "bien sûr". Não senti ou percebi lacuna de espécie alguma, pois houve pouca afinidade entre mim _latiníssimo_e ele, yankérrimo rsrs. Iinclusive, por força desde destino, "um tango argentino me vai bem melhor que um blues", assim como uma salsa, etc., certamente.
Porém, qual não foi minha grata e saudosa surpresa ao descobrir que uma das músicas mais emblemáticas ou emocionantes que já ouvi e dancei em pistas de eras pristinas (e continuo dançando_mais tarde, inclusive, vou pra uma festa, oba!_ e convicto de que há brasileiras bem superiores, claro!) é do Baary White e chama-se :"You are the first, my last, my everithing", que adorava e não sabia o nome, muito menos quem cantava.
"Entonces", graças a você, peguei carona na máquina do tempo...além da similaridade nas coisas de família grande.
"Merci beacucoup" pela gostosa lembrança/sensação/viagem.
Abraço apertado e beijo estalado.
ET Marcos rsrs...
Fernanda: Parece que foi ontem. Às vezes quando se faz peixe frito aqui em casa e sobe seu cheiro + feijão + arroz + rodelas de tomate, sou obrigado a lembrar-me de quando eu e meu primo Fernando (barbaramente assassinado no Maranhão), comíamos sentados na mureta da varanda da casa de praia da minha tia Helena em Nova Almeida - ES. Nada era mais gostoso do que chegar da praia, que dependia de uma travessia de barco pelo canal de encontro do rio com o mar e a confusão (todo dia) da minha tia entrando e saindo do barco. Ali mesmo ela comprava o peixe do almoço e os dias eram mais do que perfeitos. As tardes eram de passeios pela praia e andávamos, meus primos e eu, acho que quilômetros, brincando e conversando. Aqui em Meaípe, compro peixe na pedra, fresquinho e invariavelmente a máquina do tempo é ligada quando sobe o chiado da fritura. A gente ia pra lá nas férias escolares e esperávamos o ano inteiro por aqueles dias maravilhosos que até hoje influenciam a minha vida.
ResponderExcluirAchei que você ia gostar. http://letras.terra.com.br/supertramp/116696/traducao.html
ResponderExcluirPara ouvir a Banda Supertramp,eu pego carona na máquina do tempo sem pensar duas vezes,é uma saudade muuuuito gostosa!!! Bjs Fernanda.
ResponderExcluirMonica.
Querida Fernanda, senti de novo o cheiro do café da nossa Minas Gerais. Belíssimo texto. Um abraço, Mercedes
ResponderExcluirObrigada Mercedes! Abraços!
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