quarta-feira, 14 de março de 2012

A felicidade veio montada num caramelo

Minha tia Leléia era um show de mulher: bonita, elegante, inteligente e bem-humorada. Além de ser um tipão, bem estilo Greta Garbo, a estrela de cinema que virou mito, tia Leléia tinha ainda um talento natural para estrelar situações embaraçosas. Foi assim que, ao entrar na loja do “seu” Frota, um respeitável comerciante de tecidos conhecido da família, ela passou por um constrangimento digno de crime passional, quando ele se aproximou e sussurrou, em tom confidencial:

-- Danada, por que você foi embora ontem e não esperou que eu acordasse?

Chocada, ela deu um passo atrás, mas ele segurava suas mãos nervosamente e falava baixinho. Ela tentou chamá-lo à razão.

-- “Seu” Frota, sou eu, a Maria Léa...

E ele, inconformado, um segundo antes de ela fugir porta afora:

-- Agora vai querer mudar de nome?! Quero saber por que é que foi embora e me deixou lá! Saiu sem me acordar, sua malandrinha! Logo ontem, que a minha mulher tinha ido visitar a mãe dela!

Mas este episódio não é nada diante do dia em que ela entrou, linda e poderosa, na finada Confeitaria Colombo que havia em Copacabana, para um lanche com as amigas. “Fechou” a confeitaria assim que pôs os pés lá dentro, e não passou desapercebida a absolutamente ninguém. Todos se viraram para vê-la passar entre as mesas, tão elegante com o vestido de seda e uma piteira na mão.

A mágica durou pouco. Escorreu ralo abaixo enquanto ela, horrorizada, gritava a plenos pulmões:

-- Um dente!!!! Um dente no caramelo!!!!!!!!

Em peso, a Colombo voltou-se para ela, que em vez da piteira, tinha agora o caramelo entre os dedos... e nele, bem coladinho, jazia um molar. Choque geral, silêncio de horror... e ela, repentinamente, deu outro grito:

-- É meu!!!!!!

Desde a infância, já ouvi esta história milhões de vezes, mas não tem jeito: sempre dou risada. E como este mundo não perdoa, dia desses me aventurei ao prazer de uma bala Toffees, daquela que gruda deliciosamente nos dentes... e fiquei sem o único bloco que tinha na boca. Pelo menos não tive um ataque; consegui manter a pose até o banheiro, onde, entre quatro paredes, constatei minha banguelice em completa solidão.

Mas... há males que vêm para o bem, é o que sempre digo. Aquele bloco prateado, que fiz para salvar um Siso, me incomodava tremendamente, em meio a todos os meus dentes branquinhos. Milhões de vezes olhei para ele, diante do espelho, pensando que sim, um dia eu criaria coragem para tirá-lo de lá, substituindo-o por um branquinho da Silva, porcelana total! Mas quede a coragem para gastar uma grana preta em nome desta vaidade? Afinal era só um dente lá no fundo da boca... um dente que ninguém, além do Marcelo Migliaccio, o cara mais crítico que Deus botou neste mundo, já havia reparado (e apelidado de "Panelão").

Então... eis que uma bala de leite entrou em minha vida e mudou tudo... a dentista, que é amiga há anos, ganhou o dia ao ver minha felicidade com o dente novo. E eu, que tinha reclamado tanto do gasto inesperado, acabei agradecida à tragédia inicial:

-- Bendito caramelo!

6 comentários:

  1. A felicidade é realmente uma coisa mágica... pode ser encontrada em, absolutamente, qualquer coisa!
    ;-)
    Beijos querida. Adorei o post.
    Eliane.

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  2. Mauro Pires de Amorim.
    Nunca fui fã dessas balas do tipo caramelo. Desde a época do Colégio São Vicente de Paulo, no Bairro do Cosme Velho/RJ, onde aliás, travei primeiro contato com o Marcelo Migliácio, lá pela metade dos anos 70, havia as balas "Toffee" (imagino que a grafia seja essa), bem nesse tipo de caramelo por você descrito e que, desde então, percebí que para poupar os dentes, o melhor não era mastigar, mas sim deixar dissolver na boca com a ação salivar. No mesmo sentido, as balas ou "drops" do tipo "Halls".
    Mudando de assunto.
    Desde seu texto anterior, percebí sua alta temperatura. Pelo tema e algum conhecimento prático de convivência com alterações psíquicas provocadas pela TPM e agora que você está menos "Mulher-Kamikaze", ousarei comentar.
    Tadinha da abelinha, deve ter ficado traumatizada com sua reação exagerada e cômica (risos).
    Sei lá, mulher nesse estado Kamikaze, fica enlouquecida, até fanática! Logo pensei. Se eu escrever fazendo piadinha, derrepente, o nível da fúria enlouquecida da "Mulher-Kamikaze" é tamanha que pode querer me perseguir, me emboscar na esquina com uma "peixeira", uma kataná(espada Samuraí). Aos gritos de: banzaí, banzaí! (muitos risos).
    Muitas felicidades e boníssimas energias.

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  3. Não posso deixar de reproduzir esta historinha que considero a evidência solar de que há, sim, alguns ou muitos?! males que vêm para o nosso bem. Acrescento, para não dar margem à interpretações apressadas tão comuns nestes tempos líquidos...que estou, graças a Deus, a anos luz do masoquismo, "of course" e hedonisticamente, declaro: salve o prazer!!!

    Por uma pequena vila um dia passou uma manada de cavalos a caminho da capital do reino. Um garoto encantou-se por um pequeno potro, e acabou ganhando o cavalinho de presente do cavaleiro-chefe. “Que sorte teve seu filho”, comentou um vizinho com o pai do garoto. “Pode ser sorte ou pode ser azar”, respondeu o pai. O tempo passou, e o cavalinho crescia ao lado do garoto feliz. Entretanto, um dia o cavalo fugiu.“Que azar teve seu filho”, interpretou o mesmo vizinho. “Pode ser azar ou pode ser sorte”, argumentou o pai. Alguns dias depois o potro voltou para o curral, trazendo com ele uma pequena manada de cavalos selvagens. “Que sorte teve seu filho”, insistiu o vizinho palpiteiro.Mais uma vez o pai ponderou que “pode ser sorte ou pode ser azar”.
    O menino pôs-se, então, a domar os cavalos, e nessa tarefa acabou caindo e fraturando a perna, o que o deixou imobilizado, sem poder montar nem andar. “Que azar teve seu filho”, disse o mesmo homem. “Pode ser azar mas pode ser sorte”, retrucou o pai, mais uma vez. Foi quando o país a que pertencia a aldeia entrou em guerra e todos os jovens foram convocados e enviados para batalhas sangrentas, mas o jovem não foi, pois estava acamado. “Que sorte teve seu filho”... – e assim a história pode não ter fim.

    O Eugênio Mussak considera, realisticamente, que esta pequena metáfora nos lembra que nem sempre a conseqüência dos fatos será como seu prenúncio.Uma boa notícia pode se transformar em uma má situação, e a recíproca é verdadeira, pois alguns males que acontecem em nossas vidas podem se transformar em coisas boas, melhores até do que se o mal não tivesse acontecido. Pode ser apenas coincidência, ou pode derivar da capacidade que o ser humano tem de se recuperar, reorganizar os fatos e ter, no final, um balanço positivo a partir de situações aparentemente negativas. É quando dizemos, otimistas, que há males que vêm para o bem.
    O filósofo dinamarquês Sorën Kierkegaard jogou uma luz sobre o assunto quando, em 1849, publicou sua obra O Desespero Humano . A diferença está em o que fazemos com esse desespero e o que aprendemos com ele.

    Ele divide o desespero em duas categorias: o desespero-fraqueza e o desespero-desafio. O primeiro deriva do desejo de não sermos o que somos – ou negar os fatos. O segundo deriva do desejo de sermos o que não somos – ou transformar os fatos.


    Os males que acometem o homem funcionam como um espelho. Quando se mira nele, este vê sua verdadeira essência, que pode ser sua miséria ou sua grandeza, ou ambas. Os momentos maus, de sofrimento, são a melhor oportunidade que temos de entrar em contato real conosco mesmos..

    Considera-se o primeiro desespero como uma fraqueza, pois não podemos negar o que somos sem ofender nossa essência. Isso é um ato covarde, fraco. Já o segundo desespero é um desafio por abrir a possibilidade de ser mais do que se é. É conseguir mais do que se conseguiu até então. Significa patrocinar a evolução, o que não deixa de ser igualmente desesperador, pelas dificuldades naturais da mudança.

    Quando a fraqueza vira desafio e a autonegação vira mudança e aprimoramento de rumos, então o bem sempre virá, como conseqüência natural do próprio aprendizado.
    Kierkegaard afirma que as infelicidades que o homem encontra pelo caminho o fazem aproximar-se de si mesmo e, ao invés de extinguir-se, ele se refaz, torna-se um novo ser, melhor e mais forte.

    Ato contínuo, faço minhas as iliminadas palavras do Chico Xavier: "Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito".

    Santé, axé e beijão procê!!!

    Marcos Lúcio

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  4. Outro dia vc fez elogios ao Marcelo,sobre as historinhas que ele escreve,mas vc também é ótima nessas historinhas,sabia??? Bjs.

    Monica.

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  5. MAURO... cuidado comigo, porque na TPM eu fico "totalmente pirada e maluca" mesmo! MONICA... adorei seu elogio, fofa! ESTIMARCOS... é como diz o budismo: "os problemas virão; o que importa, é como lidaremos com eles". Beijos aos três!

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  6. Mauro Pires de Amorim.
    Logo identifiquei! Enloquecimento por TPM (Trimiliques Psicóticos-Monstruais). Tenho alguma prática com tal feronômialidade (muitos risos). Até tenho armadura! (mais risos ainda).
    Mais uma vez, muitíssimas felicidades e boníssimas energias.

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