sexta-feira, 7 de março de 2014

"O ser humano virou salsicha"

Se o blog do Migliaccio é bom, imagina conversar com ele... passado o Carnaval, ele me solta esta frase que virou título de post:

-- O ser humano virou salsicha! Todo mundo igual...
Eu ri, e ri pela expressão de tédio e desânimo na cara dele, e também provavelmente na minha. Pouca gente está se dando conta, mas a TV e as redes sociais estão unificando tudo de uma maneira nojenta. Este desejo humano de ser aceito, “de entrar para o clube” é a mola que acaba com as diferenças. Mas que coisa chata, hein? Que pobreza emocional! É assim que nascem as ditaduras e a ignorância se perpetua.

Por todas estas coisas, eu não aguento mais ver TV aberta, tomei verdadeira ojeriza, acho tudo uma cafonice sem tamanho. Todo mundo fazendo pose, caras e bocas, vendendo a alma pra aparecer no programa do Faustão ou da Fátima Bernardes... ai, ai... credo.
Não vi nada (NADA) de carnaval. Viajei pra Marte. Não, não, viajei pra Saturno, que é mais longe. Certamente haverá por aí uma legião de salsichas que me chame de maluca, mas logrei passar o Carnaval incólume, sem barulho, desfile, vodca, noitaaaaada...

Só por que é Carnaval a gente tem que entrar na dança?
Na Quarta-feira de Cinzas eu estava inteira, pronta para o ano que então começa, e sem ressaca no corpo ou na alma, sem fantasia pra jogar fora ou recosturar, sem precisar fazer desintoxicação com suco verde.  Porque Carnaval é assim, vira cinzas na quarta-feira...
Alguma salsicha de plantão dirá que ando melancólica, e é verdade. Deve ser a TPM, coisa de mulherzinha. Ou de alienígena que não entra na dança dos blocos enfurecidos na cidade colorida.

A salsichada já chegou até mesmo nos desfiles na Sapucaí, onde é triste de se ver a comissão de frente dançando coreografias... eu me recuso!

Alguma salsicha dirá:
-- Ah, mas isso aí é o maior show da Terra, o mundo inteiro tá vendo, tem que profissionalizar, os americanos estão de olho... é muito dinheiro correndo...

Ah, é, é? Dinheiro correndo? E quede o samba no pé? Este é que já correu, e há muito tempo. Fugiu. Até os passistas não podem mais sambar livremente!  
Estão fazendo com o Carnaval o mesmo que fizeram com o futebol: matando toda a raiz e enlatando o que sobra.
O que sobra? É salsicha!

9 comentários:

  1. Fernanda,

    Adorei o seu post. e a foto ......
    Carnaval pela televisao, nem pensar .....acho uma chatice..., tudo a mesma coisa........muito pouca criatividade ....... pra mim ja virou "salsicha" ha muito tempo .......mas ai e que esta .... tem gosto pra tudo ......

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  2. Muito pertinente seu post. Posso garantir que serve para quase todo mundo que deixou-se globalizar ou uniformizar-se . O mundo praticamente americanizado...virou quase um "maria- vai-com-as-outras" , como se dizia em priscas eras, na minha longínqua adolescência rs.

    Por sorte quase sempre fui ovelha nigérrima e já nasci rio acima rs, tanto que nem de televisão gostei. Nos últimos 40 anos só vejo quando sou forçado, visitando parentes em Minas, p.ex. e, assim mesmo, consigo dar um truque dizendo que vou ler.Em "restôs", sento-me de costas, evidentemente, e quase passo mal com a voz do Faustão (insuportabilíssimo!!!), dentre outras absurdidades ou escrotidões.Rede social? Tô fora!

    Gostar ou não de carnaval é o de menos.O pior é que estão acabando literalmente com ele, aqui no Rio (na Bahia, bem antes, com a chatíssima e infantilóide axezação da folia).O nefasto jornal O Globo, p.ex., deu estandarte de ouro para o Bloco Sargento Pimenta que, numa evidente prova de subserviência ou complexo de vira-latas, só toca música dos Beatles nestes poucos dias momescos... como se não houvesse o ano inteiiiiiiiiiiro para isto.

    Até o impensável ou impossível aconteceu. No templo que era exclusivamente para o samba:SAMBÓDROMO... fizerem um fechadíssimo club techno, para o limite de 4 mil pessoas, exclusivamente de "música" eletrônica, com DJS internacionais, o que considero um horror!!!, e pelos próximos cinco anos.

    O tiro de misericórdia já aconteceu há alguns anos, motivo pelo qual deixei de desfilar como passista.Sambo (ainda) muitíssimo bem, dizem as boas e más línguas rs, adoro um samba-enredo poético que já não existe mais e a coreografia "acabou" com a liberdade do samba no pé, como nas palavras lúcidas do Oswaldo Martins:
    "Mas o que hoje se vê nas alas “coreografadas” das escolas é o antissamba, e esse pode ser um outro vírus, só que letal. Sobreviverá o espetáculo e sobreviverão as escolas de samba sem o samba no pé? Que tal um Rock in Rio sem rock? A boa ideia para as escolas talvez fosse colocar sambistas para coreografar suas alas, mas nem isso parece necessário. Bastaria dar mais espaço a componentes da sua própria comunidade, que o samba afloraria naturalmente, da alma de cada um".

    Mais uma vez o País mata uma das suas galinhas dos ovos de ouro, lamentavelmente.

    A Banda de Ipanema ainda toca exclusivamente marchinhas, frevos e sambas de enredo memoráveis.Isto, sim, é resistência cultural, além do Cacique de Ramos e Bafo da Onça na Avenida Rio Branco.

    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  3. De onde vc pegou a minha foto!!

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  4. Eu gostei muito da corriografia homenageando o Senna, inclusive da comissao de frente.

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  5. Quem está melancólica é a salsicha e você jamais... Fernanda, que luta bravamente. Eu vou lutando sempre para não ficar estático diante dos códigos de condutas com atualizações imediatas baseadas nos índices de audiência. É mesmo pra salsicha e apesar de qualidades de salsichas, salsichas terão sempre o mesmo gosto.

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  6. Marcos Lucio,

    Estimadissimo Presidente da C.P.F.A.S.S. adorei seu comentario e concordo.
    Lembra da letra do samba:
    "Quem nao gosta de samba, bom sujeito nao e
    E ruim da cabeca, ou doente do pe ......".

    O carnaval esqueceu dessa letra ......esqueceu do verdadeiro samba ....... que pena ...
    Abraco proce.
    Felicidades,

    Gilda Bose

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  7. Gilda, prezadíssima...esta é somente mais uma prova de que você é insubstituível no cargo de diretora do C.P.A.F.S.S. Tenho tanta convicção disto que possuo camisetas com esta frase lapidar e definitiva (mas só vale exclusivamente para sambas de ricas harmonias, melodias e letras inspiradamente poéticas, ou seja, de bambas que são raridades, tipo Paulinho da Viola para citar um exemplo somente).
    Abraço forte, santé e axé!
    O humilde "presidentim"

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  8. Quanto às redes sociais, reproduzo entrevista com o médico psiquiatra Flávio Gikovate (admiro-o profundamente por tudo que li de sua autoria)– Jornal “A Gazeta”, 14 de janeiro de 2013
    FACEBOOK NÃO TRAZ FELICIDADE

    As redes sociais têm algum aspecto positivo?
    O Facebook, assim como todos os novos equipamentos que nos permitem acesso ao mundo “virtual”, tem aspectos positivos e negativos. Permite que se reencontrem personagens relevantes do nosso passado e o conhecimento de novos “amigos” que poderão vir a ser verdadeiros parceiros sentimentais.
    Por que, então, o Facebook não traz felicidade?
    O Facebook tem um caráter exibicionista, em que as pessoas postam fotos e descrevem situações ideais, de férias, de pratos deliciosos que estão comendo em locais privilegiados e coisas do gênero, que são capazes de despertar admiração e inveja em quem não está vivenciando aquela situação por falta de tempo ou por falta de meios materiais. O Facebook é um local de um exibicionismo grosseiro e que está a serviço de uma autopromoção um tanto patética.
    O senhor afirmou em entrevistas que o Facebook é palco de autoerotismo e exibição? Por quê?
    Assim como na vida real, no universo virtual deveríamos ser cuidadosos ao nos exibirmos. Isso pode indicar apenas o desejo de despertar a inveja dos que estão nos observando, o que é uma óbvia manifestação agressiva e maldosa. Acho fundamental compreender que o mundo virtual se distingue muito pouco do real: um é a representação do outro.
    Qual seria o maior prejuízo da nossa participação nas redes sociais?
    O de estimular indevidos sentimentos de inferioridade, já que as pessoas exibem momentos especiais de suas vidas, que não têm nada a ver com o cotidiano delas. Revistas no estilo de “Caras” fazem a mesma coisa. Zigmund Bauman, um sociólogo polonês radicado na Inglaterra, afirma que o Facebook é uma espécie de revista “Caras” individual, onde a pessoa comum se exibe da mesma forma que fazem as celebridades nas revistas impressas. Acho que ele tem razão.
    Seria melhor não usar as redes sociais?
    É claro que elas devem ser usadas, mas com as devidas reservas. Trata-se de local de intercâmbio de informações, de busca de aproximação com pessoas com as quais se tem afinidades, novas parcerias sentimentais, de amizade e trocas de todo o tipo.
    Como seria, então, a melhor forma de usar essas redes sociais?
    O que deve ser evitado é o excesso de dois tipos. O primeiro é renúncia à vida real para viver só por conta do que acontece no Facebook. Existem pessoas quase que viciadas nesse tipo de convívio. O segundo excesso seria o exibicionismo grosseiro e agressivo, em que o objetivo é se destacar provocando a inveja dos supostos “amigos”.
    Por que tanto interesse pela vida alheia?
    A curiosidade pelo que acontece com as outras pessoas sempre existiu: no passado, as pessoas ficavam com cadeiras na porta de suas casas para saber como viviam seus vizinhos! Todos leem com interesse as páginas policiais para saberem dos crimes e assaltos. Todos querem saber como vivem as outras pessoas, talvez até para terem alguma ideia interessante a ser copiada para a própria vida.
    Então, esta é uma curiosidade natural?
    Nada de mais natural do que querer saber da vida das outras pessoas. O que é grave, que deve ser evitado, é viver criticando modos de ser e de viver que sejam diferentes dos nossos.
    Santé e axé!
    M.L.

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  9. Marcos Lucio,

    Suas palavras como sempre muito gentis, obrigadissima.

    Concordo com o psiquiatra Flavio Gikovate, sobre as redes sociais ......eu tenho interesse de saber das novidades dos meus amigos e familiares, Quanto as pessoas que nao conheco nao tenho nenhum interesse, nao gosto de expor as coisas que faco e os lugares que frequento (veja bem nao sou nada timida, pelo contrario) e se eu fosse bilionaria rsrsrsr .... jamais em tempo algum eu deixaria os que nao me conhecem saberem .....privacidade para mim e uma das coisas mais importantes .....
    Uma das coisas que mais admiro na Fernanda, neste espaco maravilhoso que e o Alma Lavada, e o jeito que ela descreve situacoes e faz com que a gente de o nosso ponto de vista.

    Abracos proce.
    Felicidades,

    Gilda Bose

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