Neste mundo que pertence aos "grandes", é muito fácil ser Flamengo ou Fluminense... neste mundo de "vencedores", é muito fácil sonhar com o Barcelona ou o Real Madrid...
Eu quero ver é ser Amééééééééériiiiiiicccccaaaaaaa...
Amor é coisa que não se explica.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
"Elton Johnson" no conflito de gerações
Falou minha amiga Talita, que bem poderia chamar-se Lolita:
-- Fui ao show do Elton Johnson!
-- Fui ao show do Elton Johnson!
-- De quem?
-- Do Elton Johnson...
Não, leitor, não fique pasmo. É muito comum que uma
moça de vinte e poucos anos confunda o nome do Elton John, mesmo sendo ele... o Elton John.
Fiz uma pausa na conversa e comecei a divagar, coisa
que, sabemos, é a minha especialidade:
Não sei se é porque já passei dos 45, mas o fato é
que ando reparando que o tempo é bem relativo, a depender da idade que a
gente tenha. Veja só: se você tem mais de 70 anos não há de considerar a
Segunda Guerra Mundial um evento pré-histórico, e nomes como Hitler, Stalin e
Mussolini não lhe hão de soar distantes como "Matusalém", "Maomé" ou "Adão" e "Eva".
Mas se você (como eu) estiver na casa dos 40 ou 50,
a Segunda Guerra já lhe trará à mente as velhas aulas de história, as tardes
abafadas dos verões da adolescência... o que é bem diferente da Guerra do
Golfo, que acompanhamos ao vivo e à cores pela televisão há bem pouco tempo...
mas que, para a turma de vinte e poucos anos, é tão longínqua quanto a Segunda
Guerra é para nós. Sacou? Experimente falar em Saddam Hussein com um rapaz de vinte anos e ele, muito provavelmente, não saberá de quem se trata.
Rebobinei a memória: dia destes entrei em uma loja e
começou a tocar justamente uma daquelas músicas que marcaram a minha juventude.
Não me contive e falei para as duas mocinhas no balcão:
-- Aumenta que isso aí é Dire Straits!
-- Quem?!
-- Dire Straits!!!
Elas fizeram cara de descrédito e foram conferir o
nome da banda na capa do CD, que era um mix de bandas diversas. E riram:
-- É... é este nome ai mesmo...
Fiquei incrédula:
-- Vocês não conhecem Dire Straits?!
E elas, em côro:
-- Nãããão...
Passados alguns dias, estava eu conversando com
outra mocinha quando ela, contando de sua aventura no Rock in Rio, disse que
gostou muito de um “velhinho" que ela não conhecia, que tocou um rock maneiro e a pegou de surpresa.
-- Qual o nome dele?
-- Não lembro...
Depois vim a saber que o tal velhinho era ninguém
menos que o Bruce Springsteen...
Parei de divagar e voltei ao papo com a minha amiga Lolita, ou melhor, Talita, que foi ver o show
do “Elton Johnson”. Mas não me contive:
-- Escuta... você conhece uma música chamada “My Way”? E uma outra, chamada “In the Still of the Night”? Conhece
um cara chamado Frank Sinatra? E um tal de Cole Porter?
Ela não se fez de rogada, a danadinha, que é terrível:
-- E você, Fernanda? Conhece o Jack Johnson?
Calei a boca. E, como quem cala, consente, ela
aproveitou meu momento de fraqueza para confessar sua mágoa:
-- Ah, Fê, eu nem sabia mesmo quem era o Elton
Johnson, mas quando ele cantou a música da Lady Di eu reconheci. Mas eu fiquei
na maior frustração porque ele não cantou a outra que eu conheço e que é a
minha preferida...
-- Qual? “Don’t
Go Breaking my Heart”?
-- Nãããããooooo... esta daí eu nunca ouvi falar. A que eu queria mesmo era a do filme “O Rei Leão”.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
O Tempo do Alfredo
"Ainda sou do tempo em que viajar para outro país era coisa sem volta, coisa de migração em que a pessoa sozinha era aventureira e, se a viagem fosse com a família, seria mais do que aventureira; seria de risco total conforme fizeram alemães, italianos e japoneses em determinada época para o Brasil. Eles vieram para substituir a mão-de- obra escrava, que havia sido abolida. As condições daquela gente chegando aqui eram terríveis, sendo alojados nas mesmas acomodações dos escravos já libertos. Alemães não vieram nessas condições, mas vieram fugindo de um sistema político ‘nazismo’ que se impunha gradativamente na Alemanha, até que por fim – duas guerras mundiais.
Com essa visão de grandes viagens é que passei a minha infância e juventude e até hoje não consigo entender como uma pessoa sai do seu país, desembarca em um aeroporto do outro lado do oceano e... some numa multidão de desentendidos.
Não sou
adepto de viver fora do lugar onde nasci e, por mais que admire o sistema
organizado de cada país do primeiro mundo, sou daqui, desta terra-de-ninguém.
Pra mim, a senhora Jacy tem razão. Não devemos nos mudar do primeiro ambiente, e pronto. Hoje, acredito que minha família nunca deveria ter saído de Baixo Guandu, onde de certa forma construiu um patamar, apesar de todos os problemas que vieram em seguida. Devíamos ter ficado por lá e criado uma força familiar forte, estabelecido uma fonte de renda e, mantido a vida e os bens até então adquiridos. Teve uma época em que eu quis até comprar, da minha família, a casa do meu avô, mas desisti e tudo ficou por isso mesmo.
É issssssssssssso!!!!! "
(Por Alfredo Petersen)
Texto retirado do blog Barão de Sacocheiro
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Um homem com saia de oncinha
Sentado no sofá da área-comum do shopping, o rapaz
me observava com o olhar desafiador e um sorrisinho de canto de boca, daqueles
meio debochados. Não, ele não estava sentado: estava refestelado, tomando todo
o conforto do sofá para si, com seus braços, pernas e saias espalhados pelas
almofadas, e os pés, de unhas feitas à moda “francesinha”, se alternando num
balanço nervosinho.
Sim, o moço estava vestido de mulher, e confesso que
num primeiro momento passei pelo impacto da surpresa. Não é sempre que a gente
vê por aí um rapaz com cara de rapaz, cabelo de rapaz, corpo e músculos de
rapaz... portando uma saia godê e uma sandalinha rasteira. Mas passados os
primeiros segundos meus olhos se acostumaram e ele foi naturalmente integrado à
paisagem. Mesmo assim, em resposta à minha surpresa inicial, me olhava com cara de deboche e desafio.
Dias depois, tornei a vê-lo, e desta vez na
livraria. Usava uma saia longa de oncinha e bolsa tiracolo rosa-choque. Mais que
nele, prestei atenção ao redor e percebi que ninguém olhava em sua direção. No começo
achei muito bacana que aquele homem de saia estivesse tão “homogeneizado” ali no
ambiente, mas então percebi que havia um certo esforço no ar; um esforço
coletivo em busca da naturalidade. Era assim: ninguém olhava em sua direção,
mas quando ele já estava longe, tornava-se alvo de comentários e risinhos.
Através da livraria eu o perseguia a pretexto de
olhar os livros, e enquanto observava a reação das pessoas, peguei-me já sua admiradora: é preciso
muita coragem para assumir-se assim, sobretudo em um país como o Brasil. Imagine você a extensão do deserto que
este homem atravessou, sem uma gota de água sequer, para chegar onde chegou. E que
batalhas teve que vencer pelo direito de ser quem é.
Lembrei do Laerte, cartunista, que admiro muitíssimo
não só pelo talento e pela inteligência, mas também por esta coragem, esta
audácia... de ser quem é.
Curioso isso... as redes sociais e a mídia criaram possibilidades para que as pessoas se sentissem mais livres, mais espontâneas, mais importantes... mas como o ser humano é autocentrado em demasia, tornou-se uma "vaca feliz" em meio à manada imensa, vivendo nas telas do Face e nas
fotos do Instagram como se fosse protagonista da novela das nove, encaixando-se com perfeição ao que se espera dele. Pode estar ferrado por dentro, contanto que por fora
haja um “botox comportamental” que segure as aparências. E como todo mundo está
no mesmo barco, a tal rede social cuida para que uns amparem os
outros, de modo que todos sejam sustentados em sua hipocrisia.
Não, não me digam que sou pessimista... os
dramas humanos não são poucos, nem são secretos; basta só um pouco de atenção para dentro de si mesmo e para quem estiver ao lado. O que mais há por aí é gente com o choro preso na garganta. Gente que não para de contar piada ou de forçar o riso porque, se parar... gente que não se dá a chance de rever a própria vida porque, se fizer isso...
Mas então, quando aparece alguém como o Laerte, ou como o
tal rapaz anônimo do shopping, com coragem para aceitar-se plenamente... como é
que reagimos?
Nossa tendência é a crucificação. O escárnio, mesmo
que velado. A ridicularização. Será por inveja?
Veja você que nem os mortos estão a salvo disso: dia
destes, vi na Internet algumas biografias de Isaac Newton, Leonardo Da Vinci e
Mahatma Gandhi, e ali estavam também os especuladores acerca da orientação
sexual dos biografados. A hipótese da possível homossexualidade do trio
baseia-se principalmente no fato de que Newton era muito fechado, Da Vinci
nunca foi visto com mulheres e Gandhi optou pelo celibato apesar do casamento.
Passei alguns dias pensando em todas estas coisas e no
final de tudo me lembrei de uma das frases preferidas do velho jornalista
Ibrahim Sued, com quem trabalhei muitos anos atrás, e que não raro era também
alvo de especulações ou maledicências. Uma frase que de tão libertadora, pode acalmar as
tempestades que se formam no coração dos diferentes:
“Enquanto os cães ladram, a caravana passa”.
Isaac Newton, um dos gênios de quem sou fã
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
A maior dor do mundo
A maior dor do mundo é a sua, e não tenho dúvida
nenhuma a respeito disso. A menos, é claro, que você consiga, por um breve
momento que seja, calar o seu coração e levantar os olhos para além dos limites
de si mesmo. Não é preciso ir muito longe, porque o mundo, este terreiro de horrores, não tardará no favor de lhe mostrar a desgraça alheia,
muitas vezes histórias bem piores que a sua e que talvez até lhe anestesiem um
pouco a tal dor da primeira linha ali atrás.
Dia destes li a entrevista de um escritor
brasileiro, em revista de grande circulação. Um simpático senhor que tive a oportunidade de
entrevistar mais de uma vez, inclusive, e que passou pelo drama de perder um filho.
A morte é sempre trágica para os pais que ficam, e
dolorosamente sem remédio para a família amputada, para os irmãos que tornam-se
“ímpares”, sem par devido à ausência daquele insubstituível que se foi. Como
dizia minha mãe, “um filho jamais substitui o outro”. E eu lhe digo: um irmão também não.
Mas o que me chamou a atenção na entrevista foi aquilo passível de ser sentido, mas que, quando dito, faz-se
absurdo. Algo mais ou menos assim:
“A Terceira Guerra Mundial não é nada diante do que
estou vivendo”.
Com absoluto respeito ao seu sofrimento, levei um
susto...
Não duvido que caiba toda a dor do universo em um só coração, e quem sou eu para dizer que não? Mas... como é que se mede a dor?
E então a dor somada de
todos os pais do mundo, que por ventura perdessem seus filhos, não seria nada
diante do seu infortúnio? Toda a catástrofe de uma guerra
seria menor? Todo o amor alheio... menor?
Pus-me a pensar. E, como sou jornalista, imaginei logo a cena: a entrevista começou
sobre trabalho, enveredou para a vida pessoal e o homem se emocionou,
esqueceu-se de que falava com um jornalista e abriu seu coração. Deixou falar o
desespero, soltou a frase íntima e impensada que só confessamos a amigos de
verdade, aqueles que entendem as forças de expressão dos nossos piores momentos.
Mas quando é um jornalista quem está do outro lado
do sofá, cada frase ganha outro valor, sobretudo se o entrevistado é famoso, mais ainda se for popular. E frases desesperadas valem
mais, principalmente nas manchetes de jornal...
Espero que tenha sido assim. Que a frase infeliz, vista qualquer que seja o ângulo, tenha sido nada mais
que um desabafo muito bem aproveitado no momento da edição da matéria. Porque a
outra hipótese seria, no mínimo, cruel e arrogante demais.
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