Dia destes li a entrevista de um escritor
brasileiro, em revista de grande circulação. Um simpático senhor que tive a oportunidade de
entrevistar mais de uma vez, inclusive, e que passou pelo drama de perder um filho.
A morte é sempre trágica para os pais que ficam, e
dolorosamente sem remédio para a família amputada, para os irmãos que tornam-se
“ímpares”, sem par devido à ausência daquele insubstituível que se foi. Como
dizia minha mãe, “um filho jamais substitui o outro”. E eu lhe digo: um irmão também não.
Mas o que me chamou a atenção na entrevista foi aquilo passível de ser sentido, mas que, quando dito, faz-se
absurdo. Algo mais ou menos assim:
“A Terceira Guerra Mundial não é nada diante do que
estou vivendo”.
Com absoluto respeito ao seu sofrimento, levei um
susto...
Não duvido que caiba toda a dor do universo em um só coração, e quem sou eu para dizer que não? Mas... como é que se mede a dor?
E então a dor somada de
todos os pais do mundo, que por ventura perdessem seus filhos, não seria nada
diante do seu infortúnio? Toda a catástrofe de uma guerra
seria menor? Todo o amor alheio... menor?
Pus-me a pensar. E, como sou jornalista, imaginei logo a cena: a entrevista começou
sobre trabalho, enveredou para a vida pessoal e o homem se emocionou,
esqueceu-se de que falava com um jornalista e abriu seu coração. Deixou falar o
desespero, soltou a frase íntima e impensada que só confessamos a amigos de
verdade, aqueles que entendem as forças de expressão dos nossos piores momentos.
Mas quando é um jornalista quem está do outro lado
do sofá, cada frase ganha outro valor, sobretudo se o entrevistado é famoso, mais ainda se for popular. E frases desesperadas valem
mais, principalmente nas manchetes de jornal...
Espero que tenha sido assim. Que a frase infeliz, vista qualquer que seja o ângulo, tenha sido nada mais
que um desabafo muito bem aproveitado no momento da edição da matéria. Porque a
outra hipótese seria, no mínimo, cruel e arrogante demais.
Acho que você não avaliou bem a frase. Eles quis dizer que perder um filho é uma dor maior que todas as dores de uma guerra. Ou melhor, que ele sentiu como se fossem milhões de vidas perdidas… sei lá, espero que seja isso e não uma comparação como você colocou. Grato.
ResponderExcluirA alma humana é algo complexo… mas previsível!! Lendo o seu post (do qual gostei demasiado, com destaque para :"porque o mundo, este terreiro de horrores" ) eu lembrei da letra de Nelson Cavaquinho, na famosa “a flor e o espinho”, que diz: “Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”. Tudo depende do grau de neurose de cada um. Queira Deus que nós tenhamos toda sensatez necessária para cultivarmos mentes sadias, mesmo na dor. Dor, aliás, que faz parte (e uma boa parte) da vida de todos os viventes.Mas a dor… ahhhh, a dor. É quase uma droga de tão prazerosa que pode ser, para muita gente, né?Ela dá currículo. Alguns são definidos por ela. Trazem no corpo uma centena de cicatrizes que legitimam a sua condição de eterna vítima...e lançam mão dessa “carteira de identidade”. Tive uma tia que "adorava" ficar hospitalizada pois assim ela supunha receber atenções. Triste equívoco.
ResponderExcluirRealmente, ninguém conhece a sua dor, pois ninguém viveu a sua história e ninguém consegue compreender todos os fatores que lhe constituem e como essa sua dor atual lhe afeta. Talvez tenha começado com um abraço que lhe foi negado há décadas e hoje tornou-se uma carência ou dependência emocional tremenda. Ou talvez tenha sido um ‘sim’ numa hora em que deveria ter ouvido um ‘não’, e foi o começo de uma noção de que todos à minha volta devem me servir. Freud explica...Tá doendo? Eu sei. Eu também estive ou estarei. E o João também. E a Maria também. E o Paulo também e "tutti quanti".
E quantos não carregam suas dores no peito, para que o mundo todo veja? Quantos já não se apresentam e, antes mesmo de dizer o nome, mostram a ferida, a cicatriz, a muleta? Pode ser uma lágrima, um meio sorriso, o que for. Mas isso vicia. Vicia a tal ponto que alguns jamais abrem mão da sua doença, pois a sua condição de doente lhes confere a justificação para uma vida de abonos e facilidades. “Todos devem me servir, afinal, eu tenho a MINHA dor.” Patético e/ou patológico, né?
O problema não é compartilhar nosso fardos com os outros. O problema é quando uma pessoa deposita seus fardos sobre os outros a ponto de “se ausentar” da responsabilidade de resolver seu problema, ou seja, não se permite enxergar uma solução se fazendo sempre de vítima e sempre dependendo dos outros, a ponto de abusar da boa vontade deles. Aí , além de injusto, é dose...é purgante, é encosto.
Santé , axé e os desejos sinceros das menores dores do mundo rs.
Marcos Lúcio
Esta resposta parece uma página de Saramago...você esta cada vez melhor...
ExcluirFico lisonjeadíssimo em agradar a talentosa blogueira e minha fiel leitora (obrigatoriamente rs) , além da Gilda.Já disse e repito que elogio vindo de elogiável... tem muito mais respaldo, estofo e significado, não somente gratidão.Humildemente reconheço estar a anos luz do luminoso Saramago, né?Meu modesto texto foi uma costura de algumas anotações/experiências antigas que reli em caderno de anotações de priscas eras , antes que traças e troços o devorem rs.Merci beaucoup, santé , axé! ;Aproveito para compartilhar , de minhas anotações/arquivos, o texto que considero "the best", sobre as inexoráveis e democráticas perdas, afinal delas ninguém escapa e que são a prova mais concreta de que estamos vivos.Já perdi até estes instantes imediatos enquanto digito...mas estarei ganhando outros, se Deus quiser.
ExcluirM.L.
Perdas
Clécio Branco.
A vida, tal qual a concebemos, tem como único fundamento inexorável o perder em todos os sentidos. Perder é morrer em sucessivas prestações. Edgar Allan Poe diz isso de uma forma assustadora pela voz do corvo:"nunca mais!", diria ele, em tantas circunstâncias "nunca mais!" Nunca mais a nossa infância, nunca mais a juventude, nunca mais esse tempo que passou, nunca mais a primeira paixão, nunca mais os dias passados... tudo que passou é eternamente perdido. Neste momento, ainda que não queiramos pensar no fato, estamos perdendo tantas coisas que escorregam como areia por entre os dedos. Isso porque, tudo na vida se degrada sob o fluir do tempo. Neste caso, todas as perdas são necessárias e inevitáveis. E viver é o constante aprender a perder e perder-se, encontrando-se na graça do viver, em fluxos contínuos do movimento dos devires da vida.
Fernanda,
ResponderExcluirJa estava com saudades ..... este assunto da o que falar nao e mesmo.....seu post sempre fazendo com que a gente reflita ..... e com o comentario do Marcos Lucio, complementando......... e muito bom.
Gostaria de adicionar duas frases:
"Quem quiser vencer na vida, deve fazer como os sabios: mesmo com a alma partida, ter um sorriso nos labios." - Dinamor.
Inscricao para um portao de cemiterio.
Na mesma pedra se encontram.
Conforme o povo traduz,
Quando se Nasce - uma estrela.
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hao de emendar-nos assim:
"Ponha-me a cruz no principio .... E a luz da estrela no fim."
Mario Quintana
Felicidades,
Gilda Bose
Peço a DEUS simplesmente que não deixe acontecer coisa alguma que eu não possa suportar e até hoje - preciso dizer que tenho certeza de DEUS - Ele tem nos protegido e mantido de um jeito nem menos, nem mais, bem de acordo com a verdadeira coisa humana e isto é o que mais valorizo nesta vida. Não quero ser rico e pobre não seria nem se quisesse porque meus valores espirituais hoje, me puseram num degrau bom de se olhar o mundo com as suas dificuldades e facilidades. Agradeço sempre o fato de não cair e também o fato de não ser colocado na situação ter sobrando e negar ajuda em nome de uma suposta necessidade de ser prevenido. É muito confortável ter os problemas que eu tenho e estar sempre sob proteção de ninguém menos que ELE.
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