De vez em quando sinto que me sai do peito
uma menina que não viu a vida
(ou se esqueceu da morte,
todas estas dores)
desconhece a perda e só enxerga as cores
que a natureza lhe botou nos olhos.
Às vezes ela vem com cinco anos,
com dezessete, vinte, trinta e poucos;
brinca de pique, usa batom, solta um gemido rouco,
nem sabe que a vida é este mar de escolhos.
Ai, esta menina que se esconde em mim...
E que ressurge, viva, e tem nas mãos um ovo...
É de felicidade, a gema que ela guarda ali!
Eu penso nisso e rio: gozo de novo...
(Fernanda Dannemann)
Ternura
ResponderExcluirQue essa menina viva eternamente.
ResponderExcluirLindo e oportuno poema.Adoooorei. A felicidade (sempre interna) como gema, que (até) geme ...é o máximo O importante , suponho ou deliro eu rs, é saber identificar quem está atuando em nós: se a criança eterna e birrenta ou reclamona rs, se o pai (a repressão, os preconceitos, a moral, os freios, etc.)ou se o adulto, aquele ser especial que identifica e atualiza e corrige e desconstrói os dois "serezinhos" anteriores , dando uma boa equilibrada e calibrada nas emoções (segundo a análise transacional) .Mas são raros os que -com muito trabalho e esforço e vigília- chegam à esta auspiciosa fase anterior à velhice.A maioria dos frutos humanos apodrece sem amadurecer.
ResponderExcluirO que muitos observadores do psiquismo humano constatam foi o que o gênio Machado de Assis vaticinou no milênio anterior, e mais atual do que nunca, posto que o neoliberalismo incentiva , via meios de comunicação (telê, etc.)a alienação ou o infantiloidismo em qualquer idade. Logicamente para criar frustração e a ilusão de consumo (correr pra shopping rs) como válvula de escape...debalde, evidentemente.Vamos ao brilhante e sagacíssimo mestre???
"Há criaturas que chegam aos cinqüenta anos sem nunca passar dos quinze, tão símplices, tão cegas, tão verdes as compõe a natureza; para essas o crepúsculo é o prolongamento da aurora. Outras não; amadurecem na sazão das flores; vêm ao mundo com a ruga da reflexão no espírito, - embora, sem prejuízo do sentimento, que nelas vive e influi, mas não domina. Nestas o coração nasce enfreado; trota largo, vai a passo ou galopa, como coração que é, mas não dispara nunca,não se perde nem perde o cavaleiro".
Santé e axé!