Meu
pai tem uma veia que, se estourar, babau.
ele
possa ser operado, tentei reconfortá-lo.
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Paciência é tudo o que não tive nesta vida – respondeu, tristíssimo.
Tremi
nas bases ao pensar na crueza da situação: se a veia estourar... lá se
vão
79 anos. Mas
então penso na minha amiga Carla, cujo filho de 12 saiu para uma
festinha
e não voltou, justamente por causa de uma veia que se rompeu.
Doze
anos, quem imaginaria? E a Carla conseguiu sobreviver para, depois,
voltar
a viver: hoje é feliz de novo, e tem tanta força interior que consegue
levar
conforto emocional a pacientes terminais que sofrem num hospital
público.
O
que normalmente a gente não assimila é que, “para morrer, basta
estar
vivo”. Deveríamos aprender com este ditado popular e aplicar seu
contrário:
para viver, basta estar vivo...
Você
já percebeu que nem sempre a morte está realmente perto de quem
parece
estar? Ou longe de quem parece estar? Quantas mães cardiopatas
tiveram
que, repentinamente, enterrar filhos jovens e saudáveis, e
continuaram
vivinhas da silva durante anos, sustentando a moral e a união
da
família inteira? Histórias assim são muito, muito comuns!
A
ilusão da juventude cria nas pessoas a sensação de imortalidade ou, na
mais
real das hipóteses, de que o fim está muito longe. E o triste disso é
que,
contando com o imenso tempo que temos pela frente, adiamos o que
realmente
importa: nos detemos nos problemas e nas insatisfações, em vez
de
curtir as muitas coisas boas que temos ao nosso alcance.
Meu
amigo Roberto se sente velho aos 63 anos. Talvez não tenha visto, no
espelho,
o quanto seus olhos são jovens. Talvez não tenha entendido que
sua
sede de conhecimento e de vida é o maior sinal que sua juventude lhe
dá.
E vejo que outros amigos, na casa dos 30, o consideram um “senhor”.
Meu
irmão, por volta dos 48, acha um absurdo meu pai ter saído para o
baile,
ter dançado até altas madrugadas. Mais absurdo ainda, que ele tenha
namorada,
que seja amigo da ex-mulher, que se recuse a parar de trabalhar,
que
sonhe com viagens, com negócios mirabolantes... que ainda receba
convites
para trabalhar.
--
Por isso é que ficou doente! Ele lá tem idade pra isso?!
Histórias
como estas me fazem ver que somos todos pé na cova; a morte
está
aí para todos os vivos! E ainda me ensinam que podemos errar
tremendamente
em nosso julgamento sobre quem é jovem e quem já
envelheceu
há muito tempo... mesmo que o espelho não nos diga isso lá
muito
bem...
Lembre-se: para viver, basta estar vivo!
Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirA única coisa 100% certa em nossa vida é a morte. Todos nós, invariavelmente, vamos um dia morrer, mas o pior é começar a morrer em vida, sendo tolido e cerceado por pessoas que não entendem nosso jeito de ser e encarar a vida, principalmente quando se é uma pessoa coerente, equilibrada e civilizada.
Mas mesmo assim sempre existem aquelas pessoas exageradas, radicais, autoritárias e cerceadoras, que sentem a necessidade de estarem sempre no controle e domínio das situações, mesmo que estas digam respeito à vida, às escolhas e formas dos outros viverem. Penso que esse tipo de gente deseja o mundo somente para elas, para seu jeito de pensar e ser, onde os desejos e formas dos outros é o que menos importa, colocando-se sempre acima, numa demonstração de egoísmo e egocentrismo.
Pelo que você descreveu, seu pai soube levar a vida e viver plenamente, sendo talvez essa a mensagem dele para os que estavam próximos e principalmente para os filhos, sua continuidade nesse mundo após sua partida.
Felicidades e boas energias.
Fernanda: Seu pai é show. O maior remendo para veias em crise é o bom humor e deixar a morte pra la. Estou com ele e não abro.
ResponderExcluirVou Contigo.
ResponderExcluirQue foto legal!!!
Nem todo mundo. Eu sou pé no forno. Vou ser cremado. anarquista
ResponderExcluirDuilio
ResponderExcluirQuando fiz 40 me dei conta disso tudo e comecei a ajeitar as coisas. Hoje aos 50, considero que cheguei lá.
Concordando com o seu post em gênero, número, grau e quaisquer outras classificações que eu, porventura, tenha esquecido (rs).
ResponderExcluirAbs!
Queridannemann...um admirador confesso (moi même)não resiste a um postÓtimo como este. Nosso fulgurante e genial Nandinho Pessoa disse, com a habitual propriedade... que somos cadáveres adiados. Bingo!!! Sobre a falta de paciência do seu saudoso pai (e de uma infinidade de simples mortais, mundo afora), somente pode dar conta ,um dos maiores orgulhos intelecutuais do Patropi, nosso mineiro mor: Guimarães Rosa, que aconselha ou vaticina: Deus é paciência; o resto é o diabo. Bingo!!! "again". Não poderia ficar incompleta a triangulação...daí, somente a caleidoscópica Clarice_uma das minhas paixões_ para concluir, lispectorianmente:(…) E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior – vive-se, sem ao menos uma explicação. (…).Saúde, alegrias e sorte "procê".
ResponderExcluirMarcos Lúcio Pinto
O que nos difere dos outros seres que compartilham este planeta eh o pensar e, por consequencia, sabemos como chegamos a este mundo e que, um dia, partiremos.
ResponderExcluirQuando jovem sentia-me "imortal". Nao pensava na morte e, bem inconsequente como outros jovens, me aventurava sem considerar o perigo (acho que foi por isso que perdi alguns amigos nesse periodo. Mortes estupidas, mortes que poderiam nao ter passado...) Com o passar dos anos fui vendo o mundo (e a vida) de uma forma, digamos, mais calma: contemplo o que esta ao meu redor, curto as pequenas coisas, paro para ver um passaro, uma flor, uma montanha. Curto detalhes que antes passavam despercebidos. Me faz feliz sentar e acariciar minhas "meninas" (duas cachorras Maltes, Princess -mae- e Bella -filha-). Regar as plantas, olhar o ceu e, principalmente, absorver a calma que me rodeia.
Com o passar dos anos apareceram os problemas de saude que todos temos em diferentes niveis. Nesse passar do tempo amigos partiram enquanto seguia aqui.
Sinto-me gratificado por tudo que passei e, se nada se leva da vida, enquanto vivo, vivo as recordacoes que tanto complementaram o meu existir; que ajudou-me a ser feliz!
Creio que a morte seja o fim. Nao creio que exista uma "vida" apos a morte entao, tomei a decisao de doar meus orgaos. Quando morrer, darei vida!
Creio que devemos, sim, viver a vida na sua plenitude, em todos os minutos, nao importando a idade.
Somos ridiculos por fazer algo incompativel com a idade? Nao! As pessoas que nos rodeiam, que se apegam ao critico, essas ficam nos olhando como se fossemos ridiculos; bichos raros.
Temos o direito a viver as nossas vidas da forma que optamos e, aos que criticam esse estilo de vida, as favas!
Mudei-me recentemente de New York para Orlando. Uma semana depois da mudanca, comprei um carro esportivo, conversivel e curto isso. Abaixo a capota, esposa senta ao lado, "meninas" ficam no banco trazeiro e saimos, muitas vezes, sem destino. Apenas saimos, passeamos e, vendo algo interessante, paramos para contemplar: vivemos a vida.
E isso se chama felicidade.
Certo esta o seu pai. Certas estao as pessoas que apenas querem viver alegre. Pessoas que curtem o que fazem. Essas vao viver melhor.
Do mais. nao estou com o pe na cova mas sim no forno: nao gosto de ocupar espaco com inutilidades.
Seja bem-vindo! Agradeço a visita e o comentário! Gostei das suas palavras, e digo que sou do seu grupo: tento viver minha vida ao máximo, valorizando o que realmente importa. Sim, meu pai estava certo, eu sei, e sinto meu coração quentinho todos os dias, quando penso nele e nas coisas que ele dizia. Espero que você tenha gostado da minha casa virtual, que entre, visite os outros cômodos e fique para sempre. Gosto dos seus comentários lá no Rio Acima, e é sempre muito bom ter por aqui gente que tem o que dizer: isso é o melhor do blog, estou sempre repetindo. Abraços e felicidades!
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