quinta-feira, 26 de junho de 2014

De volta ao inconsciente, com Munch




Ainda sob o impacto do inconsciente, fui atrás de Eduard Munch, um cara que se você não conhece pelo nome, certamente há de conhecer por este quadro aqui, ó, um ícone dos nossos tempos...



Munch foi, antes de mais nada, um sobrevivente. E assim como Van Gogh, que o precedeu e o inspirou, ele também cruzava aquela tal porta que conduz ao inconsciente para curar, através da arte, as chagas internas provocadas pelos traumas, pelas catástrofes íntimas, pelas neuroses dolorosas, pelas perdas de morte vividas na infância, pelas doenças mentais no sangue da família.

Mais tarde, alcóolatra, teve agravada a tendência ao isolamento, e nos pincéis encontrou a conexão com o mundo externo: um mundo ameaçador e obscuro, um mundo triste e opressor, um universo violento e em brasa.

Munch Museum  - Valuable works

Munch Museum  - Unique works


Munch Museum  - Interior exhibitions

Puberty by Edvard Munch

Munch Museum  - Unique works
 

Já na maturidade, Munch se refez: libertou-se da bebida e cauterizou sua neurose em um sanatório. Teve a dádiva de encontrar a paz que precisava.

Se parte da força de sua arte ficou lá atrás, com a doença, como dizem os críticos, para mim isso não tem importância nenhuma: Munch já havia provado sua potência como artista e não carecia provar nada a ninguém mais!

Sua maior obra-prima foi ter escolhido a vida enquanto ainda tinha tempo para vivê-la: morreu consagrado aos 80 anos.

2 comentários:

  1. Interessante como a "loucura" se apresenta com uma maior intensidade na vida de genios (sera que a sociedade decide considerar um genio como um louco, por que esse "louco" eh um genio??) e, no caso da pintura, a maneira maravilhosa de como esses "loucos geniais" conseguiram ver e transmitir o que viam em quadros que nao cansamos de admirar!

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  2. Maravilha de post.Por conta deste desfecho sábio: "Sua maior obra-prima foi ter escolhido a vida enquanto ainda tinha tempo para vivê-la", lembrei-me do texto que compartilho. Ainda considero a maior obra de arte, a arte de bem viver, apesar dos inevitáveis pesares.

    Santé e axé!

    Claudia Cunha: Loucura, sombras e teias

    A loucura é uma caverna. Na loucura é o isolamento da realidade ou a dificuldade em se relacionar com o mundo exterior que predomina, a dificuldade em aceitar ou lidar com as rotinas que nos são apresentadas e que minam a capacidade de discernimento e interação com o meio. (...). Acredito que enlouquecer também é refugiar-se, esconder-se em algum lugar obscuro de sua mente para evitar esse fio da navalha que é a vida. Salvo alguns casos (acredito que poucos) em que há disfunções fisiológicas irreversíveis, talvez ceder à loucura seja uma fuga, um esconderijo. Uma caverna. Um lugar em que a resistência em se adaptar, amadurecer ou o que for, induza uma pessoa a viver em um mundo próprio, "auto-centrada".

    (...) que abstrair do mundo e isolar-se nessa caverna escura do inconsciente daria a segurança necessária, que o mundo interior bastaria e nele encontraria a verdade. Fuga, isolar-se em um mundo próprio , é uma faceta do egoísmo em acreditar ser apenas a própria vida a necessária. Mas viver é um risco, é caminhar nesse fio da navalha equilibrado-se bem ou mais ou menos. E o sofrimento é inevitável(...). Isolar-se em si não fará o sofrimento desaparecer, é revivê-lo indefinidamente. Talvez o louco escolha o sofrimento apenas para ter atenção, manipular o mundo em sua volta. Mas, um dia, a flecha retorna.

    Tudo isso porque lembrei de uma conversa que tive com uma amiga, sobre a mãe dela, uma depressiva, de como sua mãe se vitimizava e tudo a afetava. Comentei que, se observássemos bem, poderíamos nos arriscar a afirmar que uma pessoa que sofre de algum transtorno de personalidade ou humor é, em um grau maior do que a média, egocêntrica. Esperando que o mundo se adapte à ela e não ao contrário, a pessoa que tem alguma disfunção está isolando-se em uma caverna que conhece e espera (ou exige) que os outros se adaptem. É sofrido, mas as dores que a vida nos impõe, as escolhas, as atitudes que um ser humano saudável (não normal, a normalidade é relativa) tem, são difíceis para alguém assim. Enlouquecer seria como refugiar-se do mundo, isolar-se de tudo que nos fere, mas, também, do que nos alegra, motiva e purifica. O doente (ou louco) vive imerso em si e analisa a vida apenas sob sua ótica;quer, por força de ações ou pensamentos, atrair os outros para reconhecer-se gente. Os obsessivos, por exemplo, têm dificuldades para reconhecer seus desejos e aspirações, então os depositam no Outro. Ou são submissos à vontade ou desejo do outro, ou são manipuladores, testam a todo momento seu poder sobre quem lhe rodeia. O louco poderia ser, talvez, alguém que não aprendeu a lidar com as frustrações e a impermanência e volatilidade da vida. A ele importa apenas seu desejo, chorar a morte dos pais por não ter a quem impor seu tormento e nem seus alvos principais.

    (...)

    Mesmo que eu ou você vivamos emocionalmente saudáveis, em algum momento da nossa vida a loucura se apresenta através de outra pessoa. Não estamos livres dos desequilíbrios alheios, da loucura de alguém que não aceita ser a vida uma metamorfose e que é preciso seguir em frente. O louco vive preso ao tempo dele, inventa uma realidade que não existe, a distorce para justificar seus atos insanos e desmedidos. O louco é alguém que se prende ao passado ou a um mundo inexistente para viver e esquece de que a vida é feita da realidade, boa ou má... são as "escolhas" de cada um que determinam o presente ou o futuro. Enlouquecer é se prender a um sofrimento eterno, enquanto os demais estão ali, vivendo, realizando. Por pior que seja a frustração, o medo, a agressão, viver ainda é melhor do que enlouquecer.

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