domingo, 14 de setembro de 2014

Em fuga do Sr. Oportunista

Caí na esparrela de ver um filme do Jim Jarmuch, que fez um dia a pérola intitulada “Down by Law", que eu recomendo. Por outro lado, “Amantes Eternos” foi o nome da película para a qual os jornalistas especializados bateram palmas, mas que quase fez dormir a plateia inteira (lotada) do cinema.

Em sendo o filme chatérrimo, mesmo falando sobre vampiros chics, gente-fina e cultíssimos, do naipe de William Shakespeare (que acaba envenenado por sangue ruim kkkkkkk) minha cabeça voadora tratou logo de pensar no assunto da vampirada, que em tempos vorazes de consumismo e Facebook anda cada vez mais em voga.
Foi aí que lembrei da minha amiga, que se queixa do ex-marido, homem íntegro durante o casamento e que, depois da separação, botou pra fora os caninos afiados: mostrou o mau pagador que sempre foi em segredo, negando-se a pagar-lhe uma dívida antiga e ignorando também o afeto dos filhos. A decepção dói porque vem justamente de onde a gente menos espera... mas o caso é que não há palco melhor para um vampiro usurpador que uma relação amorosa, onde o afeto e o erotismo são transformados em moeda de troca e o oportunismo de um fica invisível devido aos sentimentos do outro.  

A família, aliás, berço de dilemas, culpas, ódios e amores inconfessáveis, é um terreno fértil para as relações vampirescas, sobretudo porque a liberdade que as pessoas têm umas com as outras é muito grande, o que acaba abrindo possibilidade para desentendimentos e até ofensas inesquecíveis. Viver amalgamado pode ser uma opção doentia e penosa.
Mas entre as amizades os riscos também existem, e são enormes. Inclusive naquelas amizades muito antigas e queridas. Ontem vi a seguinte cena: duas amigas se encontram, uma delas chega visivelmente irritada porque teria que trabalhar naquele sábado ensolarado. Enquanto conversa com a outra, que está com a filha, nota, no decorrer do papo, que a menina usa um piercing no nariz. A mal-humorada olha e diz, espalhafatosa:

-- Creeeeeedo! Furou o nariz com esse negócio?!
A menina ri, sem jeito, e diz que não, que o piercing é de pressão. E termina a frase quase se desculpando:

-- É só uma brincadeirinha...
Ao que a outra resonde, taxativa:

-- Você é bonita, não precisa disso! Ai, que coisa feia... nojenta!
Vi quando a menina baixou os olhos, timidamente, e seu sorriso murchou. Imaginei que o piercing deveria estar pesando dez quilos em seu nariz: era o peso do ridículo.

Entrei na conversa:
-- Pois eu acho um charme. Adoro piercing. E acho que ficou ótimo em você.

Saí dali pensando no quanto precisamos ser cuidadosos com as pessoas que permitimos que entrem na nossa vida, porque os oportunistas estão sempre de plantão, travestidos de ótimas pessoas, extremamente sedutores, mas na verdade ávidos por uma oportunidade, que tanto pode ser “dar o golpe do baú”, pedir um dinheiro emprestado (para não pagar) ou simplesmente baixar a sua autoestima para sentir-se melhor (já que eles se sentem uma titica).
O que eles querem não importa, no final é tudo a mesma coisa. O que importa é o estrago que eles fazem na nossa vida, que pode ser imenso. E às vezes sem remédio ou difícil de curar.


 

Um comentário:

  1. Não vi e não verei este filme, por não ser meu estilo e por não curtir vampiros, vampiras e vampirismos rsrs. Mas seus brilhantes comentários quanto à família, com destaque para esta pérola de sabedoria: "Viver amalgamado pode ser uma opção doentia e penosa", considero-os irretocáveis e demasiado realistas, supondo ser este o meu estilo preferido: a vida como ela é.Excelente post.
    Santé e axé!

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