É que depois, quando esfriou o sangue,
O que me veio foi o torpor da bílis.
Veio o suor que deslizou na testa;
O fio leve me cortou o pescoço
E trouxe o calafrio da sentença.
E o querer, que quase foi doença,
Que me furou a carne e me tomou o osso,
Vazou de mim para ganhar o espaço
Se dissipar no ar, fugir pela janela.
Alguém me abriu o corpo no abraço
Tirou com dentes a costela
E a pendurou no céu, um arco-íris.
(Fernanda Dannemann)
Mais um belo poema da talentosa blogueira. Aproveito para citar o Manoel de Barros, nosso "manobreiro de palavras", que
ResponderExcluirfará muita falta, certamente:
"Poesia é um lugar onde a gente ainda pode fazer com que um absurdo seja uma sensatez", como no seu caso: Alguém me abriu o corpo no abraço
Tirou com dentes a costela
E a pendurou no céu, um arco-íris.
E mais do genial MB: "Poesia, s.f. Raiz de água larga no rosto da noite / Produto de uma pessoa inclinada a antro / Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã / Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de um homem / Designa também a armação de objetos lúdicos / com emprego de palavras imagens cores sons etc. / geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas / loucos e bêbados" - "Poeta, s.m. e f. Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu / Espécie de um vazadouro para contradições / Sabiá com trevas / Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como / um rosto" - ['Glossário de transnominações em que não se explicam algumas delas (nenhumas) ou menos' - In: ARRANJOS PARA ASSOBIO, Manoel de Barros]
Santé e axé!
Marcos Lúcio
Adorei o seu blog, e a poesia também, entre no meu blog deixe o seu recado, aceito criticas pois elas me fazem crescer. http://liguagemdeumaalma.blogspot.com.br/
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