segunda-feira, 15 de junho de 2015

"O amor é o encontro de dois naufrágios"

                                                                                             (Para o meu amor)

Então Freud escreveu: “o amor é o encontro de dois naufrágios”.

E a frase parece que colou-se a mim como uma tatuagem invisível que foi entrando pela pele, sendo absorvida, lentamente, no passar dos dias... e absorvida para sempre. Os sentidos que encontrei para ela não sairão mais porque estão misturados ao meu jeito de ver o mundo e de sentir as coisas. E é assim mesmo que sinto o amor: o encontro de dois naufrágios.
Não sei exatamente o que é que Freud quis dizer com isso; jamais saberei, mesmo que estude exaustivamente sua obra. O sentido exato de sua intenção, ao escrevê-la, morreu com ele. O jeito é fazer, com as palavras, o  que faço com as paisagens coloridas de Van Gogh e com as formas às vezes incompreensíveis da escultura surrealista: encontrar uma porta escondida e entrar, sentir o efeito deste universo novo.

Não limito o amor ao encontro de dois acidentes. Esta é uma visão simplista e que diminui a união dos amantes a uma simples junção de dissabores, como se o enamoramento fosse uma neurótica e infeliz coincidência, uma ligação de maltrapilhos emocionais que compartilham as próprias necessidades.
O amor é o encontro de dois naufrágios porque é uma identificação íntima e espiritual, um enlace feito à revelia dos acontecimentos porque nasce na essência do que realmente somos: aquela parte nossa tão oculta do mundo e que só pode ser vista por um semelhante, um gêmeo, uma metade, um irmão de alma... aquele que nos conhece antes que possamos nos revelar, e nos aceita mais que nós mesmos.

Nossos naufrágios são "nossos" no sentido plural que um casal é, em sua mais pura natureza. Porque o amor é feito de duas alegrias que se juntam, mas é também, eu acredito, o encontro do naufrágio que somos.
 
"O Impossível", escultura surrealista da mineira Maria Martins, hoje exposta no Malba, Em Buenos Aires
 

3 comentários:

  1. Psiquiatra e psicanalista, Alfredo Simonetti em seu livro "O Nó e o Laço", aborda, por exemplo, as evidentes e profundas diferenças individuais entre homem e mulher e afirma que os humanos não escolhem um parceiro por sua beleza ou sucesso profissional. Segundo ele, a opção é feita pela pessoa que tem uma neurose que complemente a sua.Fecha com Freud.

    No começo do casamento, a pessoa acha que escolheu o parceiro pela beleza, pela inteligência, pelo sucesso, pelo corpo etc, porém, com os anos de convivência começa a se dar conta, alarmada, de que escolheu seu parceiro, entre outras coisas, porque ele completa sua própria neurose.
    Sim, as neuroses também se casam e somos todos, num certo sentido, neuróticos, ou se preferirmos "normóticos". Aliás, o período de namoro é o tempo necessário para descobrir se nossas neuroses combinam. Escolhemos para casar quem nos completa - no bom e no mau sentido.
    Se a pessoa tem uma tendência a se vitimizar, provavelmente escolherá um parceiro dominador; se a tendência for para ser um grande cuidador, ou controlador, certamente escolherá um parceiro carente. Duas pessoas dominadoras têm pouca chance de ficarem juntas por um tempo muito longo; todavia duas pessoas que gostem da disputa - sendo uma mais dominadora e a outra mais passiva - estas, sim, têm chance de um casamento longo, longo e repleto de reclamações justas: uma se queixando da dominação do outro, e o outro se queixando da falta de iniciativa do primeiro.
    Queixar-se do outro sugere a presença de dois sentimentos, a antipatia e o antagonismo
    .
    Entre os que amam, geralmente um quer mais sexo que o outro, ou quer em hora em que o outro não está tão a fim - ou faz de conta que não está. Esta recusa, real ou fingida, acaba também sendo excitante para a maioria das pessoas, desde que não seja exagerada, e põe em andamento um jogo onde vencedores e vencidos se realizam. No fim das contas, o sexo satisfaz os impulsos amorosos tanto quanto os impulsos agressivos.
    Infelizmente precisa de mais um post rsrs.

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  2. Dando continuidade à saga do naufrágio, então rsrs, com raríssimas exceções, dizem...
    .Eu te conheço: conheço?
    "Eu te conheço, eu sei quando está acontecendo alguma coisa pelo jeito como você respira." - afirma a esposa desconfiada para o marido que acabara de lhe dizer: "Não é nada, não tenho nada."
    De todas as ilusões do amor romântico há uma que geralmente se desfaz de uma maneira profundamente desconcertante: é a ideia de que realmente conhecemos a pessoa com quem estamos vivendo. Não é raro conviver com uma pessoa por muitos e muitos anos e, de repente, nos darmos conta de que não conhecemos essa pessoa.
    Ela faz, ou sente coisas insuspeitadas, coisas que não imaginávamos nem admitíamos como possíveis. A partir do retumbante "Eu não acredito, não é possível!", o outro passa a ser um enigma, ou pior, uma fraude. Mas o mais provável é que o que o outro fez sempre foi uma possibilidade real, nós é que não podíamos ver. Não podíamos, porque ver significava sentir coisas ou ter que tomar atitudes para as quais não estávamos preparados.
    No amor, conhecemos a pessoa amada da mesma maneira a que assistimos um filme: preenchemos com nossa imaginação os espaços vazios entre os fotogramas. Isto, porém, não é uma característica do amor, tem a ver com todos os tipos de relacionamento humano e chama-se idealização. O que acontece é que, no amor, pagamos muito caro por nossas tantas idealizações.

    Essas idealizações não se referem apenas à pessoa amada, muitas vezes sofremos também pelas idealizações que construímos a respeito de nós mesmos, e uma das mais freqüentes é a da vítima inocente. Gostamos de pensar que somos um parceiro legal, que estamos fazendo tudo o que podemos pelo relacionamento e que o outro é que é um egoísta, quando não um sacana mesmo, que nos faz sofrer com suas maldades.
    É preciso muito cuidado com esta historinha vitimosa, porque raramente existem bandidos e mocinhos no amor; estamos mesmo, os dois, tentando nos salvar de nossas próprias angústias. Marido e mulher são como dois náufragos que, nadando num mar de desejos e sentimentos conflitantes, acabam se encontrando, segurando-se um no outro e, com isto, salvando-se momentaneamente de morrer afogados ou de frio. Mas os dois são náufragos - ninguém está salvando ninguém.Também no amor, as aparências enganam.
    Santé e axé!

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  3. Fernanda,

    Sei que Freud foi e sera immortal, por seus descobrimentos na Psicanalise, importantissimos ate hoje, mas infelizmente nao concordo com a frase dita por ele no seu belissimo texto .......

    Felicidades,

    Gilda Bose

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