quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Assombração sabe (mesmo!) pra quem aparece...

Pra começo de conversa, é uma pena que o Silvio Santos não tenha me descoberto, porque eu adoraria fazer parte da equipe das Pegadinhas. Não que eu seja espírito-de-porco, imagina... mas é que eu adoro rir... não só dos outros, é claro: sempre que vejo uma boa pegadinha, acabo me imaginando na cena... e é aí que eu rio mais ainda.

Nos últimos dias, está bombando no You Tube a fantasminha do elevador, que quase mata o incauto de medo e o público de dar gargalhada. Confesso que ri mais ainda ao imaginar como seria se minha irmã e eu estivéssemos naquele elevador... e não só no momento da aparição fantasmagórica, mas, pricipalmente, depois que a equipe de filmagem aparecesse para nos pedir autorização de uso de imagem... não posso nem contar o que provavelmente aconteceria, senão corro o risco de perder a admiração do meu eleitorado fiel.

Mas o Silvio pegou pesado nesta pegadinha do elevador. E se alguém passa mal e tem um piripaque no coração? E se alguém resolve se defender partindo para o ataque em cima do fantasma?

Não pense que isso não acontece: tenho uma tia médium que passou a vida inteira vendo fantasmas e até conversando com eles... mas um dia ficou com medo de um que não primava pela simpatia, ao contrário. Apavorada, começou a passar mal, e aí minha prima, que é um misto de Tomb Rider e "comigo-ninguém-pode", chamou a aparição para uma queda-de-braço... aos berros:

-- Aparece pra mim se você tem coraaaaaaagem!!!! Você só  aparece pra ela porque é covaaaaaarde!!!!

E como o fantasma não apareceu, aí é que ela se sentiu poderosa:

-- Tá com medo?! Cai deeeeeeentro!!!!!

Sei lá se o visitante do além tremeu nas bases, mas o fato é que, depois disso, minha tia diz que nunca mais apareceu fantasma nenhum lá na casa dela.

De minha parte, digo apenas: te cuida, Silvio Santos, porque tem gente mais doida por aí do que a sua equipe pode imaginar...



terça-feira, 27 de novembro de 2012

O cara que queria ser, mas não era

Hoje fui ver um filme sobre o cara que queria ser, mas não era. No caso deste filme, “As Palavras”, o sujeito queria ser Escritor, assim mesmo, com “e” maiúsculo. Tentou por anos, mas... não rolou.

O homem sofreu, chorou, entrou em crise... e então apoderou-se de um livro escrito por outro... ficou famoso, ficou contente, ficou rico. E foi aí que começou a sofrer... porque apesar de todos os louros, ele sabia que “não era”.
Olha, eu não vou contar o filme porque não sou estraga-prazeres. Vá ao cinema e veja por si, inclusive porque o Jeremy Irons, aquele inglês que é um tremendo charme, arrebenta na interpretação de um velho mastigado e cuspido pela vida.
O nosso papo aqui é justamente sobre o “querer ser”... sabendo-se bem distante disso. Ai, meu Deus, quem aí nunca sonhou em ser alguma coisa impossível... que atire a primeira pedra! Eu já sonhei ser muitas coisas, de cientista a veterinária, de mãe a cozinheira de forno & fogão, de poeta e romancista a desenhista e escultora, de super equilibrada a pessoa gentilíssima... e quer saber? Não rolou... e  eu também não morri por causa disso nem pirei na batatinha, achando que podia bancar a atriz... porque é aí que a porca torce o rabo.
Lutar contra a nossa natureza e buscar o impossível é a tortura campeã que podemos impingir a nós mesmos, perdendo apenas para a mania de perfeição, no ranking do masoquismo.
E fingir, como faz o galã do filme, não resolve o buraco da frustração porque o sujeito conhece, mais do que ninguém, suas próprias limitações. Ele pode até fazer o teatrinho, pode curtir tanto o barato de ser “o cara”, que a endorfina no sangue venha a deixá-lo meio crente na situação... a ponto de ele se convencer, por minutos, que sim, chegou “lá”: venceu, tornou-se  o senhor do seu destino e da sua vontade!
Mas não tem jeito: a pessoa que a gente é, na realidade, está sempre ali, grudada no nosso pé... e esfregando a verdade na nossa cara. E se a gente tem um pouquinho só de consciência, sofre ao encarnar o personagem... mesmo que o mundo inteiro embarque na novelinha.
Conheço gente que sofre quando não tira dez na prova... e sente até vontade de largar tudo, abandonar o curso, chorar o resto da vida pela nota máxima que não veio... pra este povo, nem o 9,5 resolve. Só vale o dez. Ô tristeza! E gente que não é feliz porque vive agarrada a uma frustração bem goooorda, tratada na base do mingau de aveia todas as manhãs... porque em vez de ser o que podia, de usar os seus talentos desperdiçados... prefere fingir pra si mesma que a vida "jogou contra".
O ideal de ser, que a gente busca, e que foi criado dentro da nossa cabeça e do nosso coração, é uma figura que merece respeito, é claro, mas que não pode ser elevada à condição de dona da verdade e de soberana sobre nós.
É que às vezes a gente não percebe, mas este ideal pode esconder um tremendo torturador de chicote em punho, a postos o tempo inteiro para nos agredir e violentar... e fazer de nós o que de mais infeliz existe sobre a Terra.

Leia também:

Nunca fui super em nada

domingo, 25 de novembro de 2012

O cafofo da Fefa

Eu, que detesto as redes sociais, não tenho ficha no Linkedin e viro piada entre os amigos porque não estou no Face, sou a prova-viva de que as amizades virtuais nem sempre resultam de problemas como solidão, timidez ou fobia social, nem são prerrogativa das gerações mais novas, que já chegaram ao mundo brincando com o celular da mãe (em vez de um chocalho).

É incrível como a gente pode se sentir distante de quem conheceu por toda uma vida e, na mesma proporção, próximo de pessoas que nunca viu, inclusive nas piores e nas melhores horas: aconteceu comigo, quando meu Velho Dannemann pegou o bonde para o Céu, e depois, quando estive, feliz da vida, flanando em Paris.

Às vezes me pego imaginando o rosto destes meus amigos invisíveis... onde será que vivem? Trabalham em quê? Quem serão eles? Quais os seus dramas e alegrias?

Este é o paradoxo das relações virtuais: o povo acaba se sentindo próximo, e até íntimo, quando em verdade ninguém conhece ninguém e não houve a construção do cotidiano e da história física de um relacionamento.

Mas como dizer que a tribo que a gente encontra no espaço cibernético é de mentirinha? Como afirmar isso se a gente acaba mesmo sentindo que conhece aquelas pessoas?

Ao meu ver, a chave de tudo está na plataforma. Os poucos dias em que estive no Face me mostraram que a tônica ali é a superficialidade. E eu pergunto: rola fazer amigos (mesmo que virtuais) na superficialidade? Já em um blog, dependendo de sua natureza, o que a gente encontra é justamente o contrário: pode haver muita verdade e profundidade nas páginas de um blog... e o leitor entra na dança (ou vai cantar em outra freguesia). O Face junta pessoas, mas um blog une afinidades.

Veja o exemplo do leitor que dividiu conosco a dor pela morte do pai... e do outro , que me conta, via comentário não publicado, que estava lutando contra o câncer... e de mais uma, que me manda receita de sopa... e de de outro, que me convida para um café com bolo... e daquele que me ajuda a defender a “marca” do blog (e de quem acabei ficando amiga em carne e osso), e dos vários que andam me ajudando na busca por uma diarista!

Um blog é um planeta bem diferente do Facebook e de seus similares: nele, não fica quem não se afina com a atmosfera reinante. Ocorre uma “seleção natural” entre os "blognautas" e ,quando não há afinidade de opiniões e propósitos, eles não voltam... isso favorece os laços tanto quanto a possibilidade de opinar, contar casos, dar depoimentos... no blog, a palavra do leitor não só conta, como faz toda a diferença... às vezes, um comentário sai melhor que o próprio post, e aqui já aconteceu de comentário virar post, e dos mais lidos inclusive.

Quando a gente vê, está se relacionando, e não importa nada se conhece o rosto do outro, se sabe onde mora ou trabalha, se tem filhos, se casou e separou, se isso ou aquilo...


Os tempos estão mudando, e a gente muda com eles: embora eu deteste o Facebook, e o narcisismoque impera na rede, admito que tudo é possível na vida, até mesmo encontrar uma patota virtual.



Leia também:
Não me procure no Orkut

Alice no País do Facebook

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O panetone da discórdia

A última candidata ao posto de faxineira daqui de casa é realmente uma peça rara: logo no primeiro dia, quando foi chegando a hora do almoço, me veio com esta:

-- A senhora pode achar meio esquisito, mas eu só como macarrão.
-- Macarrão e mais nada?!
-- É, sim senhora.
-- Mas ninguém vive de comer só macarrão!
-- EU vivo.
Tentei chamá-la à razão:
-- Você faz cocô? Uma pessoa que só come macarrão não consegue fazer cocô... tem que comer salada, legume...
Minha veia teatral veio à tona quando terminei o raciocínio:
--Você vai morreeeeeer comendo só macarrão!!!!!!!!!!
Impassível, ela disse apenas:
-- Faço cocô sim senhora.
Cá entre nós: o que leva uma pessoa a uma decisão tão radical? Comecei a entrevista:
-- Mas por que é que você só come macarrão? Desde quando? É com molho? Com manteiga? Salsicha pode?
-- Dona Fernanda, eu posso ser lá da favela, mas sei que a gente tem que lavar a alface pelos menos cinco vezes antes de comer, e com água quente, que é pra matar o bicho. Tive uma patroa que não deixava a gente lavar nada e...
Foi justamente aí, quando ela fez cara de náusea, que consegui fazê-la parar, antes que fosse tarde e eu já tivesse ouvido a história escabrosa que já estava na ponta da língua dela, prontinha pra pular em cima de mim e me agarrar pela memória.
Em resumo: molho não pode, e como ela não compra manteiga, acostumou-se a comer macarrão... com macarrão, e só. 
Cheguei a ficar com pena e sugeri a manteiga; depois me arrependi, porque ela botou meio pacote (meio mesmo, me-ta-de) no prato. Dias depois, preocupada ao ver que era meio pacote a cada prato de macarrão, tratei de explicar-lhe o que é colesterol, porque não quero ser responsável por alguém ter tido um treco no coração.
Mas esse lance de comer só macarrão me incomodava, e passou a incomodar mais ainda quando percebi que ela só almoçava se eu (EU) fizesse o almoço pra ela.
-- Sandra, já está tarde, você não vai almoçar?
-- Ah, dona Fernanda, não vou parar a faxina pra cozinhar não, porque senão me atrasa muito...
Então a idiota aqui ficava culpada, sentindo-se a própria capitã-do-mato que maltratava escravos, e corria para o fogão.
Quando contei ao meu marido que nossa diarista não comia praticamente nada, ele, garoto esperto, perguntou logo:
-- Ela é magra?
-- Não...
-- Então esse papo todo é conversa pra boi dormir. Ela tá te botando pra trabalhar pra ela.
Parei de bancar a cozinheira da diarista, e ela parou de almoçar... eu já estava sem saber o que fazer com a culpa quando descobri como era sua compensação: era com bolo, com biscoito, com sorvete  ou com qualquer guloseima que não fosse goiabada, pão com manteiga e café com leite ou biscoito maisena. Lembrei de quando eu era adolescente e não jantava, na tentativa de fazer chantagem com a minha mãe, e meu pai não se abalava dizendo que  “quem não come, ou já comeu... ou vai comer”. Estava certíssimo, porque eu já tinha mesmo enchido a pança na cozinha, antes de fingir o jejum.
Mas um dia a casa cai.
--  Sandra, você viu por aí o panetone que estava na cozinha?
E ela, na maior naturalidade do mundo:
-- Tomei café da manhã com ele.
E foram estas suas últimas palavras na condição de faxineira do meu apê. Voltei à ativa no batente com a vassoura, mas pelo menos agora... o título de comilona (assumida) da casa é só meu. E sem essa de comer só macarrão.

Leia também:

Limonada na macumba telepática

 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

"Encostou" uma diarista lá em casa

Voltemos ao épico “Procura-se uma Diarista Desesperadamente”, que tem capítulo novo nas paradas. Talvez eu ande vendo muito filme trash na TV, mas a última que chegou aqui em casa veio com uma carranca tão feia que confesso que fiquei com medo dela: e se fosse uma doida e saísse de repente da cozinha com uma faca na mão? E se resolvesse brincar de “Sexta-feira 13” aqui em casa?

Fechei os olhos para o jeito esquisito da figura, que nem falar falava, nem um sorrisinho de leve se dignava a dar. Era mais ou menos assim:
-- Bom dia, Fulana!

-- Humpf.
-- Você é alérgica a algum produto de limpeza?
-- Humpf, humpf, humpf.
E até:
-- Hora do almoço!
-- Huuuuuumpf!!!!!!
Mas ela dava conta do recado, e tanto, que fiz vista grossa pra tudo e tratei de calar a boca da minha intuição, que já estava com dor de garganta de tanto gritar. As pessoas são diferentes, o que é que tem de mal? O Brasil é um país livre e o cidadão pode ser o que quiser, inclusive mal-encarado e esquisito, uai!
Então começaram o sinais... um dia minha Comigo-Ninguém-Pode apareceu seca e morta na porta de casa... depois foi a vez da Espada-de-São-Jorge, que parecia ter perdido a briga com o dragão... ( e eu imaginei estar vendo o dragão varrendo a casa, mas varria tão bem que deixei prá lá).

Mas aí os peixinhos amanheceram boiando no aquário, e não deu mais pra relevar... corri pro telefone e chamei minha amiga mãe-de-santo, expert em assuntos esquisitos. Não teve trelelê:
-- Compra tudo de novo, e se morrer outra vez manda a empregada nova embora.
Na loja de plantas, contei meu drama ao vendedor e saí de lá com um kit que incluía, além da “Comigo" e da “Espada”, duas pimenteiras e um vasinho de arruda. O homem ainda aconselhou, apontando o indicador para o céu:

-- Faz uma reza porque é sempre bom...
Chegou o dia da faxina e abri a porta confiante no meu “corpo fechado”.
-- Bom dia, Fulana!
-- Humpf!
Foi nesta tarde, quando voltei do trabalho, que descobri que ela sabe sorrir, porque foi com um sorriso nos lábios que contou o seguinte:
-- Estourou um cano na cozinha, alagou a casa do vizinho de baixo, estragou um armário que ele acabou de comprar e a senhora vai ter que pagar todo o prejuízo sozinha.

Tomou mais um gole de café e arrematou a história:

-- E eu não limpei nada porque fecharam o registro e estamos sem água. Acho que a senhora vai ter que tomar banho na casa da sua sogra!
 



Leia também:

O milagre da multiplicação das Julienes

Trago a Cinderela do lar em três dias

Limonada na macumba telepática

domingo, 18 de novembro de 2012

Hoje é dia de Fê X Flu

Mas qual é a graça de ver um jogo de futebol se o seu time já é o campeão quando ainda faltam três jogos pra acabar o campeonato?

Será que é mais ou menos como tirar dez na primeira prova e ir pra segunda precisando só de dois?  Quede a motivação pra estudar?
-- Ah, que estudar o quê, eu vou é ver “sessão da tarde”!
Por isso mesmo é que hoje fiz de tudo pra convencer o meu marido a não perder tempo assistindo o jogo do Fluminense contra o Cruzeiro, mas não teve jeito porque torcedor de futebol  parece que sintoniza numa onda de rádio qualquer que se espalha pela cidade, uma frequência invisível e contagiosa que domina sua mente e sua vontade, e aí o caso está perdido tanto quanto a discussão.
Meu primeiro marido, que fez até documentário sobre o América Football Club, passou os primeiros 4 meses de namoro sem ver nenhum joguinho... eu até achava esquisito, já que sabia que estava me envolvendo com um Fluminense roxo (ou, melhor dizendo, grená). Chegou janeiro, levou-me a um clássico no Maracanã, e foi quando vi o quanto um Fla-Flu é mesmo mágico. Depois virou hábito, e vi o Fluminense ganhar e perder para o Botafogo, o América, o Palmeiras, o Figueirense, o Ponte Preta e o sei lá mais quem.
Com o tempo, e a falta de cerimônia que o casamento traz, o futebol foi ficando cada vez mais íntimo de casa: era programa de rádio, mesa-redonda na TV e milhões de campeonatos, inclusive o europeu... o cúmulo do absurdo foi quando ele me convenceu a deixar de ver minha novela das oito, apelando para o meu lado crítico e dizendo que novela é coisa de gente que não lê, não pensa, não escreve e não tem nada melhor pra fazer. Depois descobri que isso aí também foi tática só pra ter mais tempo com a TV e assistir sua coleção de jogos gravados.
E tem mais: se eu reclamasse, o máximo que conseguia era um convite pra bancar a torcedora junto com ele, que me dava camiseta do Flu de presente de aniversário e gostava de viajar pra umas cidades esquisitas, que não tinham nada de turísticas...tipo Volta Redonda... e sempre tinha a coincidência de um jogo pra gente ver ao vivo... Foi em Campinas que tivemos que sair correndo antes do final porque o Flu ganhava de 4 a 1 e ficamos com medo de apanhar. E em Volta Redonda quase tostei ao sol de 40 graus no estádio Raulino de Oliveira...
O segundo marido está longe de ser um torcedor apaixonado, mas depois de passar anos (anos!) sem dar a menor para o futebol, anda botando as bandeirinhas de fora ultimamente. É um tal de interromper o filme assim bem de repente, pra ver o jogo... e eu já percebi: é sempre quando a vizinhança grita “Neeeeense!!!!” .
No último jogo, quando o time das Laranjeiras foi já consagrado campeão antes da hora, ele mandou torpedos para todos os amigos, parabenizando uns e sacaneando outros. E hoje já veio avisar que tem jogo, um jogão, uma partida inesquecível, importantíssima, imperdível... e eu já sei que nem devo entrar em campo pra tentar mudar a programação, porque perderia de goleada.
Ele se justifica:
-- Vai ser hoje a entrega da faixa, meu bem.
E eu tento me inteirar do assunto:
-- Qual é a cor da faixa?
Se você quer saber, não gosto nada de ser seca-pimenteira, mas já estou pensando que, quando o assunto é futebol e casamento, o melhor mesmo é que o time fique escondido lá na terceira divisão.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Lobo ou vampiro? Você decide!



Fui ver o último capítulo da saga que juntou uma família de vampiros super gente-fina, uma turma de lobos sexies e uma garota chamada Bela (e que deveria ter sido chamada Chata, porque é uma tremenda mala sem alça... considerando que ela tem o lobo e o vampiro hollywoodianos aos seus pés, concluo que está correta a minha teoria de que os homens adoram mulheres que são um verdadeiro pé no saco).

O roteiro é uma idiotice, mas como até as idiotices podem ter um fundo filosófico, pus-me cá a pensar e... pimba! Achei uma boa discussão.
Vamos lá: qual é a moça que nunca esteve frente ao dilema “vampiro ou lobo”? Explico: lembra daquele cara que te deixou MA-LU-CA em algum momento da vida, mas que tinha tudo pra te fazer muito infeliz? É, aquele mesmo... o tal que a sua família não gostava... e que as suas amigas diziam que não servia pra você... e que também era um grosso, um brega, um idiota ou simplesmente uma figura antônima a tudo o que você era e viria a ser?
É, aquele mesmo... que apesar de tudo isso tinha um charme ou esbanjava um borogodó que só você conseguia enxergar (e mais ninguém, nem mesmo a mãe dele?). E que parecia ser até meio esquizofrênico, porque às vezes era o cão chupando manga e te azucrinava, te  deixava infeliz, te arrasava... mas em outros momentos era a versão melhorada do seu homem ideal e te alçava ao posto de mulher mais feliz do mundo?
Então... este aí era o vampiro da sua história.
E não tinha pra onde correr; mesmo que ele fosse um cara “do bem”, que tivesse as melhores intenções do mundo e fizesse cinco sessões de terapia por semana, sua natureza sempre haveria de gritar mais alto: e se você tivesse mesmo ficado com ele, chegaria o dia em que o morcegão poria os caninos afiados pra fora e... nhac! Era uma vez uma jugular.
Agora vamos falar do lobo em pele de bom rapaz... aquele que a sua mãe adorava... e seus amigos diziam que era o parceiro ideal: ele tinha garras pra brigar por você, bigodes pra fazer cócegas, olhos misteriosos pra seduzir... e seu instinto natural de alcateia, que acolhe, protege, aconchega e valoriza. Uma delícia de namorado!
Mas as mocinhas... aaaai, as mocinhas não raro são umas burras e gostam mesmo é do perigo. Preferem arriscar o pescoço num relacionamento turbulento e doloroso com o "chupa-cabra", em vez de viver de alegria e tranquilidade com o Peludo. Consideram-se capazes de transformar o homem errado no homem certo porque são vaidosas demais ou, simplesmente, porque ainda acreditam em histórias da carochinha.  Estas aí sempre levam a pior, não tem jeito, pois um dia os lobos se cansam e vão uivar em outra freguesia, e então elas perdem a chance de felicidade e de viver com um homem que vale a pena.
Mas olha, este papo não tem a ver só com mulher não. O homem não está livre dos riscos... e neste caso, não se trata de vampiras ou lobonas. Como muito bem vi em um documentário do Discovery, no campo amoroso ou sexual os homens estão mais para a figura mítica do “Bobo erectus”, um ancestral bem primitivo na cadeia evolutiva e cujos genes eram tão (mas tão) fortes, que até hoje batem ponto nos cromossomos da rapaziada.
O Bobo Erectus, infelizmente, está sempre a postos para uma conquista, e, pra piorar, tem um fraco por uma tipa descendente daquela que os cientistas batizaram “Lucy Periguetis”, que de acordo com os estudos científicos, seria algo como a especialista em pensão judicial já no Neolítico. Este nome, tão sugestivo, deve-se ao fato de que a ossada do casal foi encontrada em ótimo estado de conservação, sendo que, enquanto Lucy Periguetis tinha aquele que foi considerado  o primeiro dente de ouro da história da humanidade, seu par, o Bobão, digo, o Bobo Erectus, não tinha um só dente pra contar história... era banguelinha da Silva.
Felizmente para ele (e para nós, seus descendentes) apareceu na cadeia evolutiva uma outra figura, a  “Alto-astral Pitecus”, e foi daí que surgiu o divórcio, o segundo matrimônio e a felicidade conjugal. Portanto, rapazes... cuidado aí na hora de fazer o ritual do acasalamento e não mostrar os dotes pra mulher errada: isso pode custar muito caro no final.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Lobotomia na alma

Já faz muito tempo que ouvi falar de Jung pela primeira vez, e foi quando conheci a tal da “sincronicidade”, que, trocando em miúdos, é uma lei do universo que diz que “aquilo que você procura também procura você”.

 Foi com Jung que aprendi outra coisa muito legal: se a gente deseja a mudança, deve começar a mudar... e se não dá pra mudar nada no momento, devemos ir por onde é possível, nem que seja botar as meias na gaveta dos pijamas e os pijamas na gaveta das calcinhas (ou das cuecas, dependendo do que você use).

Tudo na vida pode um dia amanhecer estragado, igualzinho o jantar de ontem que ficou no fogão por causa da nossa preguiça em lavar a louça. Até o que nos gratifica hoje pode apodrecer amanhã: paixões avassaladoras, amores inesgotáveis, missões de vida, projetos maravilhosos, desejos irresistíveis, escolhas que deveriam ser eternas, certezas absolutas, verdades inquestionáveis... quem é que está livre de se cansar? De mudar? De virar outra pessoa?

Quando isso acontece, não tem jeito: mesmo que a gente não queira, nem sob ameaça, lavar aqueles pratos sujos lá na cozinha da nossa alma, e finja que está tudo bem apesar da bagunça e da sujeirada, sempre chega o momento em que torna-se insuportável conviver com os insetos que vão aparecendo, com o mau-cheiro que toma conta de tudo, com a falta de pratos limpos no armário, com a terrível rotina de comer aquela comida mofada...

Então, num esforço mitológico, a gente pode obrigar-se a sofrer de indigestão todos os dias, a viver como bicho e a devorar as baratas; a nadar contra a corrente da natureza humana e se afogar no veneno da apatia... viver assim, num sufocamento constante do fogo criativo que nos move, inconscientes do mal ao qual nos submetemos. A gente pode sintonizar a frequência equivocada e se acostumar a qualquer coisa, fazer uma lobotomia no espírito, estar em sincronia com o desperdício e abandonar o leme da nossa vida: a frustração também está aí para quem a queira, incluída na teoria da sincronicidade do grande Jung. É quando a gente se pergunta:

-- Mudar?! Pra quê?!

É que viver, viver de verdade... é coisa pra poucos porque exige mesmo  muita disposição.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Engenhoca que emociona

Pena que no final a gente descobre que é uma propaganda, mas vamos relevar... e pensar só no que vem antes da venda do produto.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Bem-vindo a um berçário especial...

                                                            "Chega o seu pé pra lá!!!"
 

                                                         "Agora eu não quero brincar..."
 
 
                              "Quem foi o sacana que botou minha tigela em cima deste banquinho?!"
 
 
"Como é que eu vim parar aqui???"

                                              "Eu não vou tomar injeção!!!!!!!!!!"
 
                                 "Por quê que a sua tigela veio com mais leite que a minha???"
 
                                                       "Você tá roncaaaaando!!!"
 
"Acho que eu sujei a fralda..."

                                                     "Caaaalma..."

                                                             "Vam bincáááá???"

                             "Quem encontrar minha lente de contato ganha um prêmio!!!
 
"Vamos pegar este fdp!"

                                                              "Adoro este colinho!!!"

domingo, 4 de novembro de 2012

A herança do "zio" Alfredo

Antes de mais nada, é preciso apresentar o Zio Alfredo, italianão tio do meu marido que veio ao Brasil em 1979, pela primeira vez, para conhecer os sobrinhos já adolescentes e o verão do Rio de Janeiro. Em sua primeira manhã na cidade, chegou à cozinha e perguntou aos dois rapazes:

-- O que temos para beber?
-- Cerveja em lata.
Ele confundiu "lata" com "leite" e indignou-se:
-- Leite?! Quer me matar?!
Zio Alfredo era um tipão meio Marcello Mastroianni: bonito, charmoso, personalidade forte e bon vivant. Solteirão convicto e apreciador das boas coisas da vida, passou a vir regularmente ao Rio, hospedava-se em um hotel em Copacabana e gostava de namorar as mulatas. Não o conheci, mas ao saber de suas histórias, ele rapidamente entrou para a minha coleção de tios inesquecíveis, juntando-se aos outros – Mário, Sérgio, José, Nelo, Antônio, Luis, Paulo, Jack, Armando e Moura – cada um com sua peculiaridade e especial à sua maneira.

 
Zio Alfredo era também um homem sábio, e costumava dizer que o dia a dia de operário em Roma era compensado com grandes delícias:
-- Não posso frequentar o mesmo restaurante que o Mastroianni frequenta todos os dias, mas ao menos uma vez por ano estou lá: visto meu melhor terno e desfruto de um bom e luxuoso jantar. E depois digo a mim mesmo, satisfeito, que também estive ali, onde ele esteve, comi aquela mesma comida e tomei aquele mesmo vinho chateauneuf du pape, sentado naquele mesmo lugar.
E era assim que ele curtia a vida, dentro de suas possibilidades. Um homem que sabia viver.
Certamente zio Alfredo veio parar em minha coleção de tios porque me identifico com seu prazer em usufruir das alegrias e as coisas boas da vida, dentro dos limites do possível. E foi assim que eu, que adoro colares, anéis e pulseiras, e nunca dei importância a joias, fui vítima da paixão à primeira vista diante da vitrine (sem preços) de uma joalheria.  
Quando a vendedora contou que se tratava de ouro branco cravejado de brilhantes negros (eu nem sabia que existem brilhantes negros, pensei que fossem ônix!) e brilhantes brancos... comecei a cair na real. Sim, aquela pulseira foi feita para mim, tenho certeza, mas ainda preciso ficar rica para compra-la. É mais ou menos como o casamento impossível entre a moça rica e o rapaz pobre: amor regado a frustração. Não perdi a pose, é claro, quando ela disse o preço, com a mesma naturalidade de quem fala de um cacho de bananas:
-- 14 mil reais, mas dou desconto se pagar à vista!
Saí da loja meio tonta com o acontecido, misturando no liquidificador psíquico a paixão pela pulseira, logo eu que não ligo pra joias, e o preço, o preço!!! Quem é que paga 14 mil em uma pulseira, meu Deus?!
Foi aí que o Zio Alfredo entrou na história, saído de sua nuvem no céu para me dar a ideia:
-- Volta lá e bota a pulseira no pulso!
Foi o que fiz. Entrei na loja com minha pose de mulher rica e fui logo dizendo à vendedora:

-- Meu pai me disse pra escolher um presente de natal. Posso tirar uma foto com a pulseira pra mostrar pra ele?


Não só tirei a foto, como a moça já queria separar um exemplar pra mim. Como se vê, a pose eu já tenho, só preciso mesmo é tratar de ganhar na Mega-sena.

Namorei a bichinha, sentindo-a escorregar em meu braço pra cima e pra baixo, e tive a deliciosa sensação de ter uma joia tão linda e tão delicada assim, quase parte de mim. Olhei mil vezes ao espelho, me imaginei curtindo a vida com ela pelas ruas da cidade, pra sempre juntinhas e inseparáveis. O sonho durou pouco, apenas alguns minutos, como uma noite de amor impossível... e depois a deixei lá, é claro, antes que a separação se tornasse tão impossível quanto o casamento.

E então aconteceu o milagre da vida: foi só chegar em casa que ganhei de presente, da minha sogra, um conjunto de marfim que lhe foi dado muitos anos atrás... por quem? Por ninguém menos que o zio Alfredo, que foi logo avisando:

-- Cuidado com elas: são joias de verdade e valem tanto quanto ouro. E ficam lindas enfeitando uma mulher.
Não tive dúvidas: zio Alfredo não só aceitou entrar para o clube dos meus tios inesquecíveis, como também me elegeu a sobrinha brasileira que não teve, quando por aqui passou.


 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

"Gonzaga", de Breno Silveira, fala de todos nós

O filme "Gonzaga, de pai para filho", de Breno Silveira, vai muito além de contar a história do "Rei do Baião", que popularizou a música nordestina Brasil afora.

Note bem que Breno sofreu a viuvez enquanto estava no meio deste trabalho... fico pensando se talvez sua dor tenha se somado ao talento para redundar em um filme que fala tão lindamente do amor, em suas variadas formas: o amor puro e desesperado entre um rapaz e uma moça; aquele outro sem limites, entre mãe e filho; um terceiro, entre artista e público; e um quarto, o tema central da história, entre pai e filho.

As mães, ainda que doidas, egoístas, infelizes ou ausentes, são unanimidade. "Mãe é mãe", prega o dito popular, e tudo de mal que possa vir delas tem perdão... e ponto final. A mãe é uma entidade, uma deusa mitológica, uma razão primeira da existência, e isto ninguém discute.

Já o pai... com frequência não usufrui do direito de ser simplesmente um ser humano, e dele espera-se os tais cem por cento, sabe como? Não adianta fazer o máximo possível, não resolve ter dado o seu melhor. Do pai espera-se jus à fantasia de herói, caso contrário há de se transformar em monstro. Para ele nem sempre há perdão porque, não raro, diante dele os filhos recusam-se a crescer, teimando com suas faturas em punho, cobrando carências sem solução.

Não estou defendendo a ausência de Gonzagão na vida o filho, Gonzaguinha, menino que sofreu de solidão a sua vida inteira, segundo mostra o filme. Sua revolta se justificava e tinha raízes na mais profunda tristeza de quem viu-se, tão cedo, órfão de mãe... e de um pai vivo também. Triste. O desencontro é sempre uma tristeza, principalmente quando não acontece por falta de amor, mas simplemente porque somos humanos e erramos mesmo quando tentamos o acerto.

Mas então o filme fala de vida, de música e de uma busca desesperada pelo amor: pai e filho nesta estrada, cada um sofrendo a própria história de modo bem peculiar, ambos talhados para o papel de sobreviventes... e ao fim de tudo eles nos mostram que só o amor, além da verdade, é capaz de nos libertar.

A cena em que Gonzagão, viúvo e completamente perdido, retorna à casa paterna depois de mais ou menos vinte anos, trata de um tema universal. Ali, em plena seca do nordeste, numa miséria tremenda, a paz e a alegria brotam da terra milagrosamente, fazendo o expectador pensar em si e em sua  própria vida: quem nunca sofreu neste mundo imenso e correu de volta ao regaço original, à casa feita de sangue, de veias, de história e sentimentos, que é a casa dos pais, lá na infância?

-- E isso é  hora de chegar em casa?! -- pergunta o pai de Gonzagão ao reconhecê-lo, emocionado e esquecido dos vinte anos de saudade que se passaram.

O pai, a mãe, os irmãos, aquela casa antiga... é lá que a gente se reconstrói. Meus olhos se encheram de lágrimas e pensei que, lá no céu, um dia eu também estarei voltando pra casa.