segunda-feira, 21 de abril de 2014

Solte a língua na viagem!

Se tem uma coisa deliciosa em viajar, é conversar com gente diferente. Gente de países diferentes, de cidades longínquas, de realidades impensáveis...
Eu sou aquele tipo de turista bem conversador, sabe como? Puxo assunto com todo mundo e, para minha felicidade, quase sempre saio ganhando. É bem verdade que ontem, num passeio pelo Central Park, me aproximei de um mendigo toda sorridente, estendi a mão que segurava um pão-doce de canela e falei:
 
-- Happy Holyday!
 
O homem arregalou os olhões, começou a gritar palavras incompreensíveis acho que até para o mais letrado americano e eu tratei de dar no pé. Mas posso dizer que, em geral, ganho novos (e breves) amigos... e minhas viagens tornam-se muito mais ricas e divertidas.
 
Já houve tempo em que tinha vergonha de falar inglês, e sofria horrores por isso. Até que descobri o seguinte: o alto grau de exigência é um problema do envergonhado, que se cobra excessivamente e acaba com a língua travada.
 
Falar inglês com pessoas que sejam tão estrangeiras quanto você em países de língua inglesa é um ótimo começo: eles serão compreensivos a respeito das suas dificuldades, porque já passaram (ou passam) por elas. Sacou?
 
E tem mais: falar inglês com ingleses é ótimo, pois eles em geral são educadíssimos e falam devagar. Já os americanos... bem, com estes a gente tem que contar com a sorte e ter paciência com eles... porque eles (na maioria das vezes) não têm com a gente!
 
Viajar para uma cidade como NY, Paris ou Veneza, dá ao turista a chance de conversar com gente do mundo inteiro... já pensou nisso? Trocar uma ideia com um cara que nasceu na Bósnia? Ou na Nova Zelândia? Ou no Egito? Ou no Irã?Muito mais do que ver um monumento centenário, conversar com uma pessoa destas é uma tremenda experiência de vida e uma diversão... faz bem para a alma, renova a gente por dentro, abre uma porta a mais no labirinto da nossa percepção.
 
Há pessoas que viajam e não conversam com ninguém. Ou limitam-se a pedir informações... não sabem o que estão perdendo.
 
Veja abaixo o sr. Walter, chinês que vive na Áustria e sentou-se ao meu lado em um musical na Broadway. Durante o show ele conseguia a proeza de cochilar e dar umas roncadas de leve, mas antes que o espetáculo começasse, e durante o intervalo, conversamos sobre a China, sobre algumas viagens dele e sobre a família, que aliás estava em peso no teatro. Foi assim que conheci seu neto, de 14 anos, um menino vivaz que adora Rocky Balboa, e motivo de o clã chinês estar ali. A certa altura, sr. Walter me perguntou:
 
-- De que país você vem?
 
-- Do Brasil.
 
-- Brasil? Que país é este?
 
-- Sabe, sr. Walter, esta é uma pergunta que nós brasileiros às vezes nos fazemos.
 
Se o homem, que é professor de engenharia e casado com uma médica, já estava confuso, ficou mais ainda depois desta piadinha incompreensível para chineses. O neto precisou intervir.
 
-- Brasil? Onde fica?
 
-- É o maior país da América do Sul.
 
Uma luz se fez no rosto do menino:
 
-- Futebol! É o país onde vai ter a Copa do Mundo?
 
 
E aqui temos Milton, o policial muito simpático que não só me ajudou a escolher a peça que eu deveria ver como também me ensinou o caminho para chegar ao teatro. E ainda batemos um papo sobre cinema, que só não durou mais porque o chefe dele chegou e cortou nosso barato. Para diminuir seu constrangimento, me saí com esta:
 
--Ele está com ciúmes de nós!
 
 
Aqui, Martha, a americana que já viveu em Cuba e é ativista e defensora do planeta. Nós nos conhecemos em uma loja de roupas de Bali, e em pouco tempo ela fez de mim uma partidária de sua causa, com direito a broche no casaco:
 
 
Aqui, Sophie e Catherine, as chinesinhas que conheci na rua, quando dividimos a mesa de uma praça na hora do lanche. Aaaaaaltos papos sobre como é viver na China de hoje, como é ser estudante estrangeiro nos EUA...
 
E elas, infelizmente, também não sabiam onde fica o Brasil. A certa altura, Sophie, cujo nome chinês é impossível de escrever aqui, me perguntou:

-- No verão vocês só usam biquíni?


Com Ariel e Ivonete tivemos a chance de papear ao sabor de uma cerveja de laranja e de petiscos exóticos em um restaurante na Lexington. I-nes-que-cí-vel! Vamos querer a segunda rodada... porque o papo (com ou sem cervejinha) é o ponto alto da viagem...


17 comentários:

  1. Quando viajei aos EUA pela primeira vez comprei antes um livro com 100 perguntas em inglês que um viajante precisa fazer, tipo onde é o banheiro ou que horas sai o trem. O problema é que faltou-me um livro com as traduções das respostas que os gringos me davam, então fiquei na mesma...

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  2. Fernanda,

    Adorei seu post. Fotos e seus comentarios.

    Isso me fez lembrar uma serie de coisas por exemplo:

    Portugues e nossa primeira lingua, as outras dependendo da idade que for aprender o nosso sotaque e mais carregado., e tem mais, todos nos temos sotaques cada um da sua regiao.........acho uma ignorancia total ........enfim, eu sou da opiniao que se deve falar, "soltar a lingua" , se o americano conversar com o ingles, com certeza dependendo da regiao o ingles nao vai entender nada .....e o ingles e o mesmo, certo, com algumas girias diferentes .......Os franceses da Franca com os do Canada..... tambem um critica o outro e por ai afora ...... os chineses nem ouviram falar do Brasil .... cultura geral.... zero (desculpe a franqueza)......falar com os outros, tambem acho interessantissimo, e uma troca de ideias e de conhecimento........

    Bom saber que encontrou com brasileiros, comentarista do seu Blog.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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    1. Gilda, cada vez mais vejo o quanto nós duas somos mesmo do mesmo clube... daqui a pouco o presidente aparece para dar o pitaco dele...

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  3. Fico feliz por você se divertindo pelo mundo a fora. Fale tudo do jeito que quiser por ai e não se preocupe com nada além de diversão.

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  4. Mais uma vez a blogueira acertou na mosca: " Trocar uma ideia com um cara que nasceu na Bósnia? Ou na Nova Zelândia? Ou no Egito? Ou no Irã?Muito mais do que ver um monumento centenário, conversar com uma pessoa destas é uma tremenda experiência de vida e uma diversão... faz bem para a alma, renova a gente por dentro, abre uma porta a mais no labirinto da nossa percepção".

    De minha parte, como sou desinibido, não tenho o menor problema com relação a soltar a língua. Se precisar - e como adooooro, também, viajar par países de culturas muiiiiiiiio diferentes , exóticas e ricas - , completo com gestual , desenho e o que mais for necessário. Se couber ou for convidado, até subo no palco nos shows típicos ou festas e pasme...como sou "beeem animadim" e dizem que danço "mui bien"...sou mais aplaudido do que os artistas kkkk.

    Viajar é a melhor diversão ou o melhor aprendizado.Segundo Érico Veríssimo, "existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar". Como sou extremamente curioso para o que considero relevante, diferenciado, único, formativo ou importante...sinto grande verdade nesta máxima do Mário Quintana:"Viajar é trocar a roupa da alma”.
    Por ter andado razoavelmente pelo vasto mundo (não tanto quanto gostaria rs), posso assegurar que as experiências foram sempre muito valorosas e intensas.

    Passar por tantos lugares, escutar e até mesmo falar outros idiomas, provar bebidas e comidas diferentes e interagir com culturas (até radicalmente) diversas nos faz mais observadores , tolerantes e ricos espiritualmente. Pelo menos essa é a minha proposta.

    O Amir Klink tem razão:“ Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver… É preciso questionar o que se aprendeu. É preciso ir tocá-lo”

    Repito: divirta-se o máximo possível...

    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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    1. Kkkkkkk imaginei vc no palco, roubando a cena! Adorei a frase do Veríssimo! E a do Quintana! E a do Klink, a quem tive o prazer de conhecer, aliás, e ele eh mesmo um cara super inteligente, simples a beça

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    2. Como você gostou das citações e por considerar leitura relevante e/ou intelectiva a minha maior e melhor diversão ,não posso deixar de divulgar a ideia do projeto de leitura " Ler é viajar sem sair do lugar",
      da professora (existe profissão mais nobre e/ou importante?) Mariza Schiochet.

      A palavra escrita é, mais
      do que nunca, a nossa principal ferramenta para compreender o mundo. A grandeza do texto consiste em
      nos dar a possibilidade de refletir e interpretar as coisas da vida... louca e breve (né, Cazuza?).

      Justamente porque histórias que falam da vida e das pessoas nos mostram o quanto homens e mulheres dos quatro cantos do mundo sofrem dos mesmos problemas e preocupações, em idiomas e culturas diferentes, sem precisar de deslocamento ou averiguação "in loco" :
      - Conflitos familiares
      - Decepções amorosas
      - Impotência frente a certos problemas de saúde
      - Insatisfações com o trabalho ou a própria carreira, etc.

      Estes são apenas alguns exemplos de situações e sentimentos - que afligem as pessoas em todos os lugares do mundo, independente da nacionalidade, do sexo, da classe social, da sexualidade, ou do grau de instrução - que podemos conhecer sem ir aos "istêitis" ou outro país qualquer deste mundico ao Deus dará.

      Minhas melhores viagens, ainda imbatíveis: Paris (a eterna cidade luz) e Grande Sertão Veredas do excepcional mineiro Guimarães Rosa...sem desmerecer outros destinos e escritores, porque "a dimensão de uma obra depende também da experiência pessoal de cada um, de quanto sua vida foi transformada por ela" nas oportunas palavras do ensaísta canadense Alberto Manguel.
      Santé e axé!

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  5. Marcos Lucio,

    Simplesmente adorei seu comentario. Bravo !!!

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  6. Agradeço a gentileza e/ou generosidade da minha única leitora especial e mui digníssima diretora do C.P.A.F.S.S. Dá-me ânimo de continuar como pitaqueiro.A talentosa blogueira não conta porque, "tadinha"...é "obrigada" a ler minhas mal traçadas linhas. Abraço forte para ambas.
    O humilde "presidentim" rs

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  7. A cerveja de laranja eh a Blue Moon rotulo azul. Por falar em bebida: curtiram o vinho??Foi um GRANDE prazer que, esperamos, ocorra novamente. :o))

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  8. Pô, com tanta gente para conversar e você vai logo puxar papo com mendigo!
    Não é preconceito, mas mendigo de 1º mundo é ao menos um sujeito que tem amparo do Estado e entidades de direitos civis. Bem diferente de mendigo de 3º mundo, que tem amparo somente em propaganda política, pois se a cidadania nos países de 3º mundo é mal e porcamente amparada, apesar de ser contribuinte, imagina os desvalidos sociais. Aliás, cidadania no 3º mundo é garantia de indigência, só servindo para propaganda política na hora de mostrar a demagogia, na hora de fazer a imagem dos salafrários que estiverem no poder.
    Tive um professor de direito penal na UERJ, na época em que estudava lá, que fez o coerente comentário, dizendo que criminoso e desvalido social de 1º mundo é pior do que de 3º mundo, justamente pelo fato de no 1º mundo existir toda essa malha de amparo ao cidadão para impedir que ele se transforme num criminoso ou num mendigo, além de uma economia historicamente muito mais estável e que ofereça salários e condições mais dignas. Coisa que não existe em país de 3º mundo.
    Portanto, em função dessa malha de proteção social existente e do histórico de estabilidade e condições mais dignas da economia deles, quando você ver um mendigo em país de 1º mundo, tenha muito mais cautela, pois pode haver algo mais por trás daquela indigência do que desamparo da malha social e falta de oportunidade econômica digna.
    Felicidades e boas energias.

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    1. Mas Mauro, mendigo (ou doido) também pode render um bom papo...

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  9. Pode ser, mas pessoas mais estáveis também.
    Não tenho preconceito contra mendigos, principalmente sendo brasileiro também, mas mendigo de país de 1º mundo, assim como bandido, o buraco é mais em cima, já que buraco em baixo, buraco do ralo, qualquer um alcança.
    Por isso esse mesmo professor que tive na UERJ, dizia que presos, criminosos brasileiros são mais fáceis de serem recuperados do que presos e marginais de países de 1º mundo, mas como nem os governos militares eram sérios e atentos para a importância estratégica das políticas de malha social, os governos civis da era democrática também não são. Com isso temos mais de 50 anos de atraso em relação ao países desenvolvidos.
    A política no Brasil é jogada de marketing para sair bem na fita diante da opinião das agências de comunicação, marketing e avaliação econômica estrangeiras.
    Com isso, modelos ditatoriais são sucedidos, eras democráticas são sobrepostas, nessas eras democráticas partidos de diferentes siglas alternam o poder, mas no fundo, na verdade, nada muda. São todos uns governantes de fachada, umas marionetes mambembes pré-fabricadas para servirem aos interesses dos mestres.
    Igualzinho na época na época do Brasil Colônia e Brasil Império, já que a grande monarquia portuguesa e seus filhotes descendentes era cachorrinha subserviente da Inglaterra e depois dos EUA.
    Enquanto o Brasil não se tornar independente desse julgo de colônia, quintal, vai continuar sendo assim, um país para gringo ver e chegar a conclusão que é terra do samba, mulata, carnaval, futebol e putaria.
    Felicidades e boas energias.

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