sexta-feira, 2 de maio de 2014

Voltar é sempre um recomeço

A gente está sempre indo a algum lugar, e se não vamos ao cinema, ao mercado, à casa de alguém ou a Paris, numa viagem de férias... estamos ao menos indo rumo ao futuro. Indo, indo, sem parar, como um ponteiro nervoso de relógio, que não para porque não pode e nem quer ficar pra trás.

E nesta onda de ir, o curioso é que desejamos chegar cada vez mais distante, já reparou? O mundo moderno não tem fronteiras... queremos ir longe no trabalho e alçar todas as promoções possíveis; nas férias, sonhamos com passeios longínquos pelos lugares mais exóticos e remotos do planeta. É como se fôssemos conquistadores, desbravadores da experiência... sempre indo, indo...

Parar pra pensar já não faz parte do trajeto: "parar" é o mesmo que "estagnar", e quem é que quer ficar para trás em tempos vorazes de Facebook e Linkedin? Pega até mal sumir do mapa por uns dias. "Pensar", além de dar trabalho, pode vir a doer bastante, e quem é que quer sentir dor em tempos de consumo selvagem e prazer imediato? Dor é coisa do passado...

E o que fazer com o cansaço de viver assim?

Ir é quase sempre uma festa; a gente vai, vai, vai... e às vezes até se perde pelo caminho, o que faz parte da diversão. Se houver incômodos, não faz mal... isso faz parte do percurso. Quem é que nunca teve uma bolha no pé ou chorou uma decepção? Mas sempre chega o dia em que a gente pega uma rua sem saída, e então, numa hora como esta, não tem jeito: a gente tem é que voltar.

Voltar é sempre um recomeço. Seja voltar pra casa, à noitinha, no fim do expediente... seja voltar de férias, depois de uma viagem a Nova Iorque... voltar para o trabalho, de manhã cedinho... voltar para a casa dos pais, após o divórcio... ou para o casamento, depois daquela separação dolorosa... ou para o abraço daquele amigo, que nos decepcionou... para a faculdade, depois de muitos anos, ou voltar para a realidade, quando acordamos de uma paixão violenta... ou mesmo para um projeto que havíamos abandonado...

A gente tem sempre uma estrada pra retomar, um caminho pra continuar seguindo, uma história para a qual regressar... e recomeçar, como uma chance que a vida nos dá de fazermos as coisas de um outro modo, quem sabe? A simples oportunidade de olhar o cotidiano com olhos diferentes já muda tudo. Ponha um pouco de curiosidade no seu olhar; e se puser um pouquinho de doçura a mudança será ainda maior. Pode não ser fácil, mas é tudo uma questão de exercício, como a gente faz com o bíceps, na academia... e ele vai crescendo e ficando forte, sabe como?

Voltar é sempre um recomeço. Decide aí como é que você quer a sua história.




3 comentários:

  1. Fernanda,

    Bem vinda a sua casa!

    Depois de uma viagem, e sempre bom retornar .... Eu como nao tenho nehum problema com a rotina, mas sou tambem curiosa por conhecer lugares ..... mas nao tao longinquos .... aprendi que idioma e comida, para mim sao muito importantes......sendo assim so gosto de ir a lugares que pelo menos posso entender o que as pessoas estao falando.......Pensar faz bem, e o silencio para mim e um senhor exercicio que todos nos deveriamos praticar .......

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  2. Concluo que a viagem fez muito bem à talentosa blogueira. O texto ótimo não deixa dúvidas.Como costumo pensar, sempre, que viagens são janelas abertas para o mundo nos invadir, nos nutrir, para que possamos seguir nosso caminho, com mais experiências e alegrias, citarei 3 autores, dentre outros.
    O L.F.Veríssimo:"Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas, depois, rejuvenesço uns cinco anos! Viagens aéreas não me incham as pernas,incham-me o cérebro, volto cheio de idéias!"
    O Marcel Proust :"Uma verdadeira viagem de descobrimento não é encontrar novas terras, mas ter um olhar novo", e o Montesquieu:"As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.”

    Hum, e como é bom regressar!
    Por que será que desejamos tanto voltar ao aconchego do lar, mesmo que seja depois de um dia de trabalho ou de uma longa viagem?
    Certamente, temos respostas diferentes para essa questão, mas em geral saber que alguém está à nossa espera, e que, na bagagem de volta, estamos trazendo além das fotos, mais risos, mais paciência, mais gratidão e mais coragem para recomeçar, causa-nos uma sensação tão boa que não se pode negar: o regresso é tão importante como qualquer ida.

    Aliás, acredito que muitas vezes é preciso ir para ter a alegria de voltar. E isso se dá também na vida! É no regresso que muitas vezes nos (re)encontramos conosco mesmo e damos a oportunidade de sermos encontrados por outros. A viagem, entre os muitos benefícios que nos causa, traz em si o poder de nos desinstalar, de nos fazer sair do comodismo e contemplar, em outros, o quanto podemos e devemos ser melhores. Aliás, acredito que nossa vida pode ser comparada a uma viagem, na qual o destino é a eternidade.

    Há quem diga que viajar é descobrir novos horizontes, é contemplar o mundo por meio de um novo prisma, é bater asas e voar em novas direções.
    Depois de 15 dias em outro país, sem dominar seu idioma (quanto mais diferenciado, exótico e singular o roteiro, melhor...aprecio lugares ímpares e ricos culturalmente), começo a sentir saudade de tudo... da casa, da comida, do paisagem do Rio e, principalmente, dos amigos que fazem parte do meu dia-a-dia. Estas sim, as razões que me causam a alegria do regresso.
    Santé e axé!

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