Fui conhecer o Museu do Inconsciente, uma preciosidade escondida no Engenho de Dentro, lugar que, confesso, só havia passado assim mesmo: de passagem.
Quando dei por mim, estava absolutamente encantada com o que vi, obras saídas literalmente do inconsciente dos artistas, pacientes do Instituto Municipal Nise da Silveira, a psiquiatra nordestina que em plenos anos 40 deu voz a esquizofrênicos através da expressão artística e criou um ateliê para depois criar um Museu do Inconsciente, fazer exposições internacionais e nacionais e chamar um pouco mais a atenção do mundo para o que rolava dentro dos muros do manicômio.
Mas é lamentável aquelas obras de arte tão lindas e preciosas escondidas ali, distantes do olhar do público, que desconhece a existência do museu. E que pena que não haja mecanismos que possibilitem ao menos uma discussão atualizada sobre a possibilidade de reprodução daquele material tão bonito, de forma a levantar verba para ampliar o museu e possibilitar que mais uma parcela das 350 mil outras obras do acervo seja trazida a público, e que exposições itinerantes sejam montadas. É mesmo uma pena...
Já pensou se houvesse uma sucursal do museu do centro da cidade, com loja e café? Grandes ideias podem parecer absurdas em um primeiro momento... Não só pela beleza das peças, mas por sua importância na área da pesquisa (e também pelo interesse que haveria de despertar no público leigo) o Museu do Inconsciente deveria entrar na pauta de discussão dos nossos políticos como um projeto ligado também à pasta da cultura.
Fiquei particularmente apaixonada por dois artistas: Fernando Diniz e Adelina Gomes. Ele pintava aquarelas coloridas cujos motivos eram basicamente objetos domésticos: uma tentativa de organizar “a casa” interna. Ela gostava de esculpir imagens humanas, mas fiquei especialmente encantada com suas pinturas a óleo, enganosamente infantis, para o observador desatento.
O trabalho do artista que acessa o inconsciente me encanta de modo singular porque traz em si um dilaceramento que só os íntimos da dor e da brutalidade são capazes de traduzir; ao mesmo tempo em que traz também uma sede de singeleza e normalidade. Veja Eduard Munch e Vincent Van Gogh... não estão distantes de Fernando Diniz e Adelina Gomes: todos vieram do mesmo lugar; um lugar chamado Solidão.
Gostei. Vou visitar pra conhecer.
ResponderExcluirFernanda,
ResponderExcluirAdorei seu post. BRAVO !
Voce ja esta fazendo a sua parte, que e a divulgacao ....... importantissima, para que nos todos tenhamos o conhecimento deste Museu do Inconciente.
Felicidades,
Gilda Bose
Tem mais fotos? Publica, po!
ResponderExcluirO cérebro enquanto vivo é conflito. Essa frase eu não sei quem criou, mas, imediatamente adotei com verdade incontestável e o cérebro esse desconhecido, se tem alguma chance de investigação, com certeza a chance passa pelo abstrato de trabalhos como estes.
ResponderExcluirEste tipo de passeio, viagem - para dentro de si, é dos meus preferidos.Normalmente este maravilhoso museu é visitado pelo povo da área "mental", por questão curricular, dentre outras, digamos assim.
ResponderExcluirAdmiro profundamente dona Nise da Silveira.Adepta da Terapia Ocupacional, via na expressão da pintura, modelagem e xilogravura o meio de ajudar e compreender o doente no seu lado emocional mais interiorizado. Achava que a relação psiquiatra-cliente deveria se dar através de compreensão e afeto. Não gostava de chamar os clientes de pacientes, dizia serem pessoas, e como tal tinham nomes.
Seu amor aos portadores de distúrbios mentais a faz entender que uma pessoa com esse problema não pode se curar em um ambiente de um hospital psiquiátrico, pois, por melhor que fosse, era muito desagradável.
Foi em 2000, que tive contato com inúmeros maravilhosos e impactantes trabalhos daquele que se tornou uma referência internacional.Ele era integrante destacado do módulo Imagens do Inconsciente, na Mostra do Redescobrimento Brasil + 500.Era o senhor Arthur Bispo do Rosário que viveu por cinco décadas como interno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, Rio, diagnosticado como esquizofrênico. Sua obra surpreendente foi descoberta no início dos anos 80 e ganhou repercussão internacional.
Ele desenvolvia artefatos/trabalhos que considerava um inventário do mundo para levar a Deus: esculturas, pinturas, bordados e colagens, utilizando os mais diversos materiais - desde panos até utensílios domésticos. Existe um museu específico para ele, tamanha a magnitude da sua obra.
A arte de Arthur Bispo do Rosário atrai a atenção de especialistas e
amadores das artes desde os anos de 1980. Graças a Instituições como
o Museu de Imagens do Inconsciente e ao trabalho de críticos e cura-
dores, sua obra se tornou uma unanimidade, com direito a representar o Brasil na Bienal de Veneza em 1995. Bispo é reconhecido como uma espécie de “reencarnação”de aclamados ícones da modernidade, como Duchamp, Arman,Andy Warhol, etc.
A originalidade que reveste a obra de Bispo é fruto de "ausências":da formação acadêmica, da sua não relação com tempo cronológico, da falta de convívio social,e escassez de matéria prima especializada. Na solidão de seu ser reside a sua determinação.
Santé e axé!
Hola Fernanda !! años atrás despertó mi curiosidad un pequeño cartel en el Museo de arte Contemporáneo de Niteroi "Conozca el museo de imágenes del inconsciente" decía. Pregunté como llegar y fue para mi una experiencia inolvidable. Las instalaciones eran mucho más precarias que lo que muestran sus fotos. Las obras estaban agrupadas según el artista que las había pintado y era posible leer en los datos del artista el motivo por el cual se lo había recluido. Dos cosas me llamaron poderosamente la atención. La primera fue al leer las tristes historias de los internos, comprobar que en la gran mayoría de los casos (diría que en el 90 % de los casos) el detonante del brote había sido una cuestión amorosa. Traiciones de conyuges, amores no correspondidos, padres o madres que se oponían a noviazgos de sus hijos, había de todo. Allí tomé conciencia de lo peligroso que puede ser el amor y la relación amorosa mal manejada. Seguramente había motivos más profundos para la enfermedad mental, pero insisto: el quiebre o el detonante había sido una contrariedad amorosa. Entre esos casos estaba el de un hombre que había sido traicionado por su esposa. Ese hombre la habia asesinado y terminó siendo recluido en el Engenho. Sólo pintaba retratos de su mujer, no podía dibujar otro motivo. La segunda historia fue la del interno que un buen día dejó de firmar sus pinturas, lo que causó la extrañeza de la Doctora Nise, quien le preguntó porque ya no firmaba sus pinturas. El interno contestó que lo habían trasladado de pabellon, que nadie le había preguntado nada, que se sentía una cosa y no una persona. Al no ser una persona, entendía que no tenía sentido firmar.
ResponderExcluirFernanda, siempre es un placer leer sus posts, gracias por ellos !! hasta siempre, Fernando Gras
Fernando, que bom reencontra-lo aqui! Não escrevo em espanhol porque estou muito cansada estes dias, e até para escrever em espanhol estou cansada! kkkkkkkk!!!!!! Eu soube da história de um interno que só pintava uma mesma mulher... e um dia ele teve um ataque cardíaco enquanto pintava, mas não permitiu que o ajudassem alegando que precisava terminar o quadro, e morreu pintando aquela mesma mulher. O quadro ficou inacabado. Será que se trata deste mesmo homem que você citou? Fico muito feliz por saber que você gosta dos posts. Isto é um incentivo para que eu continue a escrever. Volte sempre, Fernando! Abraços!!!
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