Sabe quando você está muito entretido,
vendo TV, lendo um livro ou prestando muita atenção enquanto alguém está falando?
Você está, literalmente, hipnotizado! Como explica a psicóloga pós-graduada em
hipnose clínica, Míriam Pontes de Farias, a hipnose, aquela técnica
milenar cercada de mitos, é um
santo remédio para as dores do corpo, da alma e até para quem tem medo
do dentista!
O que é hipnose e como ela funciona?
O estado hipnótico é alcançado sempre
que concentramos a atenção em qualquer estímulo externo ou interno, podendo ser
um som, uma imagem, uma sensação, o ritmo da respiração, um aroma, um sabor, um objeto. Focalizar a atenção nesses elementos
dispersa os estímulos periféricos, o que propicia o transe hipnótico. Ou seja:
o transe hipnótico pode ocorrer quando lemos uma revista ou jornal, assistimos
um programa de TV, uma sessão de cinema, uma peça teatral, quando prestamos
atenção a uma entrevista, a uma palestra, a uma aula ou até mesmo quando lemos
um artigo sobre hipnose. Se observarmos bem, entramos em estado de hipnose em
várias situações corriqueiras, várias vezes ao dia.
O que acontece com a mente durante uma sessão de hipnose?
É importante ressaltar que no estado de
hipnose utilizado na psicoterapia, o paciente não perde a consciência. Trata-se
de uma técnica na qual o paciente fica mais relaxado e receptivo à voz do
hipnólogo. É um estado intermediário entre sono e vigília.
Na hipnose clínica, a palavra é o instrumento de trabalho do psicoterapeuta,
sendo considerada o mais importante estímulo, através do qual conseguimos
diminuir a freqüência das ondas cerebrais. Isso possibilita ao paciente entrar
em estado alfa, quando o organismo aumenta a produção de dopamina e serotonina,
substâncias que causam sensação de relaxamento, bem-estar e prazer. Nesse
estado, o paciente fica mais receptivo às induções e intervenções do hipnólogo.
A hipnose é indicada para tratar os mais
diferentes tipos de problemas, da dificuldade de falar em público ao estresse,
dos traumas à síndrome do pânico, da dificuldade de raciocínio à dificuldade de
relacionamentos. Por que esta técnica é tão abrangente? Como ela atua?
A hipnose é uma técnica
psicofisiológica: o paciente tem as sensações de bem-estar e relaxamento primeiro
na mente, e depois no corpo. No transe hipnótico há uma inibição do córtex
cerebral, e quando isso acontece, o centro auditivo é ativado e vai diretamente
ao sistema límbico, responsável pelas emoções, e ao hipotalâmico, principal
receptor das emoções. Uma vantagem da hipnose é que ela tem uma elasticidade muito grande, podendo ser aplicada a diversos tipos de pacientes e
vários tipos de situações. E é também uma técnica personalizada, ou seja, específica
para cada paciente com sua vivência e sua história.
De que forma a hipnose potencializa um
tratamento psiquiátrico para curar, por exemplo, fobias, TOC, bipolaridade?
Tanto os quadros fóbicos quanto os de
TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) são transtornos de ansiedade, e a hipnose
é uma técnica bem indicada nesses casos. As técnicas de hipnose potencializam o
tratamento porque tratam o foco do problema. À medida que o paciente vai
melhorando dos sintomas, o próprio psiquiatra vai fazendo o desmame da
medicação. A hipnose não é indicada nos casos de bipolaridade, pois este é
classificado como um quadro psicótico.
A hipnose é uma alternativa também para
o tratamento de dores crônicas, como a enxaqueca. Como ela "desliga"
o fator que provoca a dor crônica?
É importante ressaltar que toda dor tem
um fator emocional presente, e cada experiência de dor é sentida por cada
pessoa de forma singular. Quando o paciente aparece no
consultório com uma dor, seja ela qual for, é necessário que seja feita uma avaliação
médica para saber qual é a origem dessa dor, pois não se trata a dor sem um diagnóstico médico. Dor é sinal de que alguma coisa não está
bem. Depois que tivermos um diagnóstico fechado, aí sim podemos tratar a dor. A
enxaqueca, por exemplo, deve ser investigada, pois existem vários tipos: a enxaqueca
menstrual, a enxaqueca por alimentação, a enxaqueca tensional ou a enxaqueca
orgânica, que é oriunda do sistema nervoso central, e é neurológica. Não há um
desligamento do fator que provoca a dor, há uma diminuição na sua intensidade.
Através dos comandos hipnóticos pode-se criar técnicas de distração e, desta
forma, alterar o foco. Mas se o
fator predominante for emocional, à medida que a intensidade for diminuindo, pode-se chegar a eliminá-la.
Quanto tempo dura o tratamento? Todas as
pessoas são "hipnotizáveis"? Ou algumas são mais suscetíveis que as
outras?
O tempo do tratamento vai depender de
paciente para paciente, e os pacientes mais suscetíveis respondem mais rápido
ao tratamento. De modo geral, 80% da população são hipnotizáveis, o que
caracteriza um índice bastante favorável ao tratamento. Cerca de 10% são muito
hipnotizáveis, e os outros 10% não são hipnotizáveis: nestes casos, existe um
treinamento para condicionar o paciente ao tratamento.
Há algum tipo de contra-indicação?
Pacientes que apresentem Alzheimer e Parkinson,
além de quadros psiquiátricos graves, esquizofrênicos e psicóticos.
Como escolher um bom profissional para
um tratamento?
Apesar de ser uma prática milenar,
apenas em 20/08/99, através do Parecer nº 42/99 do Conselho Federal de Medicina
é que foi aprovada como prática médica. A partir de então ficou estabelecido
que somente médicos, psicólogos, fisioterapeutas e dentistas podem fazer uso
dos recursos da hipnose. A hipnose é, na verdade, uma terapia feita sob medida,
focal e rápida, se comparada às psicoterapias convencionais, e que conta com o
respaldo dos conselhos Federais de Medicina, Psicologia, fisioterapia e
Odontologia.
É recomendado que, para se realizar um
tratamento, o profissional tenha formação em uma das áreas acima
citadas, e que além disso tenha um curso de habilitação ou especialização em
hipnose clínica. A escolha de um profissional pode acontecer através de uma boa
indicação. Procure saber também qual é a formação deste profissional, certifique-se
se ele é qualificado ou não.
A hipnose é melhor ou mais indicada para
o tratamento de estresse e ansiedade do que tomar remédios? Por quê?
Se pensarmos na ansiedade como uma condição
humana e necessária à nossa existência, a ansiedade como a força-motriz que nos
faz produzir, criar ou realizar coisas, como o movimento pela vida, concluiremos
que a pessoa ansiosa, de modo geral, é também realizadora! No entanto, quando a
ansiedade está além da conta, é necessário buscar ajuda profissional. Muitas
vezes a ansiedade pode ser controlada somente com a hipnose, mas nos casos mais
graves é necessário o acompanhamento de um psiquiatra e o uso de medicação pode ser benéfico. Há diversos
graus de ansiedade: em grau severo, a medicação é necessária porque o paciente
sofre de alteração bioquímica e somente a hipnose não resolve: o tratamento
concomitante é mais eficaz.
Quais os problemas que mais levam as pessoas a
buscar a hipnose?
A hipnose trata muito bem os males da
atualidade, e as principais indicações são nos quadros de depressão, ansiedades,
fobias, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, tiques, obesidade,
tabagismo, dificuldade de aprendizado, transtornos do sono. Além disso,
recomenda-se o emprego da hipnose para tratar baixa autoestima, compulsões,
estresse, tartamudez (gagueira), doenças psicossomáticas e dores de uma forma
geral, sobretudo enxaquecas. Também auxilia pessoas sadias que desejam mudar
sua maneira de agir para melhorar seus desempenhos sociais, profissionais ou de
relacionamentos, e até mesmo os candidatos submetidos a provas e concursos.
As dúvidas
mais comuns que as pessoas têm:
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A hipnose não acontece por força ou poder do hipnotizador, e sim
pela aceitação e interação da pessoa que entra em transe e deseja ser
hipnotizada
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A hipnose não é para “pessoas de mente fraca”: em tese, qualquer um
pode ser hipnotizado
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O hipnotizador não controla os desejos do paciente: a mente
inconsciente é amiga e nos protege. Desta forma, ninguém faz o que não quer,
mesmo estando hipnotizado
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A hipnose não faz mal, desde que aplicada por pessoas preparadas e
bem-intencionadas
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A hipnose não causa dependência
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A pessoa não fica “presa” no transe nem corre o risco de não
acordar; caso o hipnotizador pare de falar, duas coisas podem acontecer: o
paciente despertar ou dormir e despertar um tempo depois
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Hipnose não é regressão
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A hipnose de consultório, utilizada como ferramenta terapêutica, é
diferente daquela usada por mágicos, no palco
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Estar em transe não significa estar inconsciente, ao contrário:
significa estar muito mais atento ao que se passa dentro e fora de si
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A pessoa hipnotizada não revela seus segredos nem fica à mercê do
hipnotizador