domingo, 19 de outubro de 2014

Ópera Metrópolis

Grandes espetáculos acontecem, quem diria, em poucos segundos! E nos momentos mais inesperados...  este aqui aconteceu na rua Primeira de Março, em frente ao prédio do Centro Cultural Banco do Brasil, onde o rapaz estava plantado, com seus livros à mão e a pergunta pronta nos lábios, vozinha de vendedor disparada a quem quer que passasse:

-- Gosta de poesia?
Passei rapidamente por ele e parei ali adiante, à espera de que o sinal fechasse. Foi quando a moça, alta, bonita e elegante cruzou com ele, apressada. O homem olhou para ela com olhos de sedutor, empostou ainda mais a voz, quase imitando um locutor de rádio, esticou o pescoço em sua direção e mandou ver no charme:

-- Gooooossssta de poesiiiiiaaaaa????
A moça instintivamente esquivou-se no ar, esboçou um sorrisinho de leve e, sem interromper o passo fez que não com a cabeça. Ele insistiu.

-- Não quer conheceeeeeer?????
Ela continuou caminhando e, sem olhar para trás, levantou o braço para fazer um sinal negativo com o dedo indicador. Parou mais adiante, perto de mim, à espera de que o sinal fechasse.

O homem não se conteve. Aproximou-se e fez cara de nojo.
-- Antipática! Tô aqui trabalhando, tá? Não podia me dar uma força? Não gosta de poesia não? Metida!

Olhei a moça. Ela estava bem ao meu lado e pude perceber sua respiração ofegante e o momento em que mordeu o lábio inferior.
-- Só porque é rica e bonita não dá uma força “pros” outros?
Então aconteceu o desfecho magistral daquela quase-ópera metropolitana, que me fez acreditar que a moça estava mesmo de TPM e, ao mesmo tempo, me fez desejar ter aquele talento para poesia...

O sinal abriu, e enquanto ela atravessava a rua,  voltou-se inesperadamente para ele e arrematou:
-- Gosto tanto de poesia que até fiz uma pra você: O urubu tem pena no pé. Vai tomar no fiofó!
 

 

4 comentários:

  1. Este infeliz que se diz poeta (hum...sei...), sem a mínima sensibilidade e evidente falta de talento...não deveria vender, nem comprar e muiiiiiiiiiiiiiito menos...fazer "poesia". Quando poetas verdadeiros surtarem e manifestarem comportamento patético como este(o que ainda considero impossível)...a poesia , "tadinha"...andará mal dos: tronco, cabeça, membros e, claro, da alma.
    Santé e axé!

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