quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Mutatis Mutandis

Certa vez, zapeando com o controle remoto da TV, vi uma cena de filme sensacional...

Era mais ou menos assim: um grupo de amigos lobisomens jogava cartas, tomava drinks e conversava animadamente à mesa de um bar devidamente fechado. Ali, entre aquelas paredes, eles podiam ser o que eram: lobisomens. Lá fora, eram respeitáveis homens de família, de negócios, presidentes do Rotary...
Tempos depois, vi o trecho de outro filme, cujo título também não me recordo: este era estrelado pela famosa Cher, que entrava em um auditório cheio de mulheres e, quando as portas se fechavam... cham!

Todas se transformavam em mostrengas.
Olha, eu não sei o final de nenhum dos dois filmes, mas isso nunca me importou. Estas poucas cenas já foram o suficiente para que minha cabeça voadora arrumasse o resto da história, que é o seguinte: o que será que a gente é de verdade? Tenho até medo de pensar!

Alguém aí já ouviu falar de São Tomé das Letras? Aquela cidade lá no sul de Minas onde, segundo dizem, os discos voadores costumam aparecer? Pois é. Coisas estranhas também acontecem naquelas bandas, de acordo com a “boca do povo”. Uma vez um amigo meu foi lá com a namorada pra passar um fim de semana e, quem sabe, ver um OVNI. No meio da noite, quando um olhou pra cara do outro, o que viram foi uma bruxa e um vampirão. Imagine você uma coisa dessas...
Mas o caso é que, no dia a dia da vida real, a gente não precisa estar num filme com a Cher ou dar um pulo a São Tomé das Letras pra enxergar além da máscara alheia... e nem mesmo pra deixar cair a nossa. A verdade, aquela que liberta, também tem o dom de estar por toda parte, o que significa que os monstrengos que temos dentro de nós sempre acabam saltando pela nossa garganta e pulando na goela de alguém, causando decepções e vexames. Pra que isso não aconteça, todo cuidado é pouco. Como dizia já o meu velho amigo e monge tibetano: "Vigiai!".

Mas, pensando cá com os meus botões, acho que temos que ser generosos com os outros e com nós mesmos: ninguém se reduz a um monstrengo, afinal, não é mesmo? Há que se separar o profissional do pessoal, pelo menos...  e não perder o respeito por aquele grande poeta, que escreve tão bem, mas é um grosso! Ou você não vai mais ler os poemas lindos dele?
Ou deixar de ver o filme estrelado por aquele ótimo ator, apenas porque ele é um traste como pessoa...
Ou deixar de ouvir aquele excelente orador, que te desperta a consciência para a reflexão, "só" por ter tido o desgosto de ver nele, fora do palco, as garras violentas da insensatez...
Ninguém é perfeito, inclusive nós mesmos. Vistos mais de pertinho, somos todos monstrengos em constante mutação. Se é pra melhor, ou pra pior... aí sim, depende de cada um.

 

5 comentários:

  1. Fernanda,

    Todos nos temos os dois lados, um mais acentuado que o outro, acho que um dos motivos que nunca quis conhecer nenhuma pessoa famosa, (que admiro) foi justamente por isso, nos acostumamos a misturar as estacoes (pelo menos eu). Agora quanto esse orador que voce descreve no seu penultimo paragrafo que desperta a consciencia para reflexao e mostra as garras da insensatez fora do palco ...........AUTO LA.... a pessoa tem que ser coerente com suas proprias palavras nao consigo aceitar e nem conviver com os que dizem: "faca o que eu digo, mas nao faca o que eu faco ......."

    Felicidades,

    Gilda Bose.

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    1. Gilda... não vou negar: concordo com você! Mas estou fazendo um esforço danado pra tentar relevar... sacou???

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  2. A complexidade humana extrapola nossas (vãs) tentivas de compreensão, se não estou equivocado como sempre rsrs. A sábia Clarice Lispector vaticinou: "não tente entender, viver ultrapassa qualquer entendimento". Para não irmos muito longe, basta pensar em algo bem básico como p.ex., a Gilda dizendo pra Fernanda que está com uma dor de cabeça insuportável. "Oquei"...a blogueira talentosa entende, mas ao modo dela. Cada um , com suas especificidades e singularidades, tem a sua dor de cabeça e pasme, há até quem não a tenha (felizardos). A comunicação total inexiste e cada um entende de acordo com suas experiências, vivências, conhecimentos, psiquismo, (falta de) inteligência, crença e, pior, muito mais emocional que racionalmente.

    Há seres humanos tão frágeis, que tiveram uma infância tão violentada emocionalmente, que para o resto da vida (há honrosas e raríssimas exceções, dizem, assim como outros afirmam que pau que nasce torto não endireita rsrs) irão fazer de quase tudo e todos um bicho de sete cabeças e ( quase) se afogarão por tantas inúteis tempestades em copo d'água. Logicamente, estes serezinhos julgam que o mundo está errado(não sem razão) e, claro, eles certíssimos, mas sem perceberem que a dificuldade de se adaptarem(não significa concordarem), de serem cínicos quando convém e de não levarem tudo a sério, estaria ao alcance,,, se não fossem tão orgulhosos, prepotentes, arrogantes e infantilóides.Eles não têm a sensatez de perceberem o que é ou não relevante, de medirem consequências, e passam a vida sem amigos verdadeiros, cheios de problemas e infelizes (muitos têm como destino a loucura, a doença ou o isolamento).Coitados.
    Santé e axé!

    Quem não souber domar o animal que traz em si, com o uso da racionalidade, da alteridade, da sensatez e /ou bom senso, da prudente distância, etc., estará pronto para a agressividade e/ou violência, quase sempre por má interpretação ou infantiloidismo, quando não percebe a diferença entre o joio e o trigo e não consegue ler sinais, até os mais óbvios. Infelizmente já passei por este tipo de experiência, na passagem da adolescência para idade adulta, e por excesso de compaixão, ao envolver-me com gente (quase) paranóica. Um horror.

    Na verdade, só gentileza gera gentileza e devemos sim, conceitualmente, envolvermo-nos emocionalmente com pessoas de energias e psiquismos e comportamentos, etc., não muito ou completamente distintos dos nossos. Nem toda mistura é de boa digestão, convenhamos. O alho pra lá, o bugalho pra cá, e não somente até quarta-feira rsrs.
    Santé e axé!.

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  3. Não tenho alma feminina.Ato contínuo, não conseguiria , não tenho este propósito e nem disponho de tempo para amar bugalhos rsrs. Mal dou conta de amar meus alhos cozidos ou fritinhos, de preferência rsrs.No máximo, consigo o desprezo ou a indiferença por bugalhos. Entretanto, não sei por qual motivo, lembrei-me, imediatamente, amor nômade da cabeça aos pés que sou rsrs...de “Coração andarilho”¹, da Nélida Piñon, em especial destes fragmentos: “(...) Nasci de uma estirpe gentil, empenhada em embelezar o cotidiano. (...) estremeço de gozo diante de um gesto delicado. As cordas do meu ser afinam-se de imediato com o som perfeito dos sentimentos humanos. (...) Ao surpreender gestos assim, retribuo a generosidade que me ofertaram sem cobrar nada em troca. Assinalo nas tábuas do amor a minha fé na bondade gratuita que brota da mesma região que inventou Deus. (...)”.
    Santé e axé!!!

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