Neste calor de Saara que tem sido o verão carioca, na hora da diversão não me arrisco a ir à praia. Se saio de casa, vou ao cinema, ao teatro, ao shopping, ao restaurante. Tudo para fugir do calor.
No último fim de semana, elegi um filme e uma peça, dois sucessos de crítica, e minha emoção não deu as caras no cinema nem no teatro. E olha que emoção é coisa que não me falta...
Ao contrário dos críticos de plantão, que raramente nadam contra a corrente, tenho a coragem de dizer que o premiado "Boyhood - da infância à adolescência", que levou 12 anos para ser filmado, e acompanha o crescimento de um casal de irmãos, fruto de um casamento em crise... olha, "Boyhood" não me disse absolutamente nada nas duas horas e meia em que aguentei na sala escura. O filme tem três horas de duração, três horas que os críticos julgaram incríveis! E que eu considerei ter gasto à toa; podia ter continuado a ler meu livro, que está ótimo, ou podia simplesmente ter tirado uma soneca, que adoro.
Ok. O diretor, Richard Linklater, uma das seis indicações ao Oscar que o filme recebeu, fez uma coisa que os críticos consideraram "única, do ponto de vista cinematográfico": dedicou anos a um projeto. E o roteiro, que a crítica considerou ótimo, eu considerei arrastado. Os diálogos, que os entendidos acharam "extraordinários", eu achei chatérrimos.
Enfim... fiquei duas horas e meia diante da telona buscando alguma coisa realmente preciosa na tal "simplicidade" que as matérias festejaram nos jornais, mas não vi nada, nem mesmo uma frase que me fizesse pensar, uma cena que me tocasse a alma. E desisti. Saí do cinema, que estava lotado aliás, com vontade de gritar pra plateia:
-- Vocês estão gostando?
No sábado resolvi ver a tal comédia teatral, pra dar umas risadas. Adoro rir. E gastei um bom tutu pra ver o monólogo de um ator famoso, a quem muito admiro, e que está há meses em cartaz. "A vida sexual da mulher feia" prometia. Ou não? Só este título já me fez pensar em mil situações hilárias.
Sentei na terceira fila, toda animada, e confesso que fiquei constrangida diante do texto fraquíssimo, do figurino ruim e do desempenho mecânico de um ator que poderia ir bem mais além.
Em dado momento comecei a observar a plateia e notei que quase ninguém ria das piadas velhas e forçadas, algumas extremamente machistas, inclusive. Será que todos sentiam-se enganados como eu?
Dei graças a Deus quando o show acabou e saí correndo dali. Voltei pra casa estressada, com medo da violência carioca, dos assaltos, dos pegas que vivem matando inocentes pelas avenidas, das balas perdidas que matam até quem está dormindo em casa... e no fim de semana sabe como é: o pessoal bebe e o trânsito ainda é pior!
Em casa, tomei um banho rápido, pra economizar água e ir treinando para aprender a viver sem banho (porque já que o Governo não faz a parte dele e culpa São Pedro pela estiagem, a gente tem que se acostumar com a ideia de viver sem água, como o sofrido povo do Nordeste já faz há séculos).
No conforto do ar-refrigerado, peguei no sono e sonhei. Que era inverno e chovia. Ai, finalmente... me diverti.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Pai bandido
Na sucessão dos escândalos financeiros no país,
detenho os olhos nas fotos de um certo ex-diretor de estatal, justamente um
ex-diretor acusado de falcatruas tantas que, como o mundo inteiro já sabe, a
dita estatal, vítima de outros senhores como este que estou citando, e que já foi das maiores empresas do mundo, hoje não tem dinheiro
para tocar seus investimentos. Na fotografia, este ex-diretor veste roupas de
grife e vai cercado de policiais, portando no rosto um sorrisinho meio de lado. De
que será que ele ri? De sarcasmo ou de vergonha?
Fiquei aqui pensando neste homem, e nos outros que,
como ele, já foram respeitáveis homens de negócios, respeitáveis homens de
família, cheios de pompa, cheios de luxo, cheios de vontades, de cerimônias, de
salamaleques e de poder... e que agora estão nus frente ao mundo inteiro, vestindo apenas o
mau-caratismo que têm, e que tornou-se indisfarçável, porque por mais que o
mau-caráter se julgue mais inteligente que os demais, sempre chega o dia em que
a casa cai.
Penso nos filhos destes homens, que já fizeram o
papel de "respeitáveis" um dia, e que agora tornaram-se piada na boca do Brasil
inteiro, porque brasileiro faz piada de tudo... e como o Carnaval está aí,
tornaram-se também máscaras de folia, refrão de marchinhas. Então é esta a
herança que hão de deixar aos descendentes? Quando avidamente armavam suas negociatas não
pensavam nisso? Ou as falcatruas eram justamente em nome do "amor paternal" e
a proteção à família era desculpa para suas atitudes, envolvendo inclusive os
filhos e as mulheres em suas armações?
Longe de mim bancar a juíza. Mas penso em como deve
ser ver o pai estampado no jornal e apontado como tendo enriquecido
ilicitamente, como tendo lesado os cofres públicos, seu nome ridicularizado... não
há dinheiro no mundo que valha esta dor. Pagar um psicanalista em Paris, para aprender a viver com a verdade que o pai era ladrão e prejudicou muita gente? Eis uma herança triste de se receber e aceitar...
Valioso mesmo é o respeito genuíno
por um pai honesto, que mesmo pobre de tudo, seja rico de bons exemplos
para dar. No final das contas, esta certeza é que faz a vida da gente seguir nos trilhos.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Angústia
A casa, repentina, se apequena;
paredes alvas tornam-se castanhas
e da janela vejo a noite antes da hora.
Faço um poema, penso em ir embora
mas onde for serei a mesma,
uma estranha.
A casa faz-se outra sem aviso:
pequena é, mínima se torna;
É o silêncio que devora as traças
das tantas dores que onde for, não lanço fora.
(Fernanda Dannemann)
paredes alvas tornam-se castanhas
e da janela vejo a noite antes da hora.
Faço um poema, penso em ir embora
mas onde for serei a mesma,
uma estranha.
A casa faz-se outra sem aviso:
pequena é, mínima se torna;
É o silêncio que devora as traças
das tantas dores que onde for, não lanço fora.
(Fernanda Dannemann)
domingo, 11 de janeiro de 2015
Viagem ao centro de si
Não me canso de repetir que a pior maneira de escolher um filme para ir ver é ler a crítica dos jornais. Mais uma vez os especialistas pisaram na bola: "Uma longa viagem", que leva Colin Firth no papel principal, é um filme que, se fosse mal contado, teria tudo para ser um dramalhão... e no entanto é lindo, embora os "entendidos" no assunto tenham feito até piada sobre a história (verídica), e tenha havido gente que até riu do final, classificando-o como "impossível".
O caso é que o dito final aconteceu mesmo, na vida real...
Adoro Colin Firth e fiz minha escolha por causa dele, apesar de não apreciar Nicole Kidman, seu par.
O enredo, como já disse, conta a história de um soldado inglês capturado e torturado por japoneses, na Segunda Guerra; finda a batalha, o homem segue vida afora torturado pela lembrança.
Daí pra frente eu não conto mais porque não sou estraga-prazeres, mas o modo como se desenrolam os assuntos da vingança, do arrependimento, do ódio e também o do amor... da lealdade acima de qualquer coisa... isto é que interessa e faz a gente pensar.
A lealdade é um tema que dá muito "pano pra manga", como se diz em Minas. Lealdade a quê? A quem? A que preço? Muitas vezes a lealdade transforma-se em algo funesto dentro da gente, sem que possamos nos dar conta, e faz apodrecer o lado bom da vida: quando nos aferramos a qualquer coisa que seja por "lealdade" é possível que estejamos tomando o caminho do retrocesso ou da estagnação.
A vida é movimento, muitas vezes é também mudar de ideia, tomar outro rumo, decidir até mesmo seguir pelo caminho oposto ao que imaginávamos o correto, o ideal, o único caminho.
Neste sentido, o ódio pode ser uma forma tortuosa de lealdade, tanto quanto o amor pode ser visto como desleal.
Graças a Deus, falíveis que somos... temos também a grandeza dentro de nós.
O caso é que o dito final aconteceu mesmo, na vida real...
Adoro Colin Firth e fiz minha escolha por causa dele, apesar de não apreciar Nicole Kidman, seu par.
O enredo, como já disse, conta a história de um soldado inglês capturado e torturado por japoneses, na Segunda Guerra; finda a batalha, o homem segue vida afora torturado pela lembrança.
Daí pra frente eu não conto mais porque não sou estraga-prazeres, mas o modo como se desenrolam os assuntos da vingança, do arrependimento, do ódio e também o do amor... da lealdade acima de qualquer coisa... isto é que interessa e faz a gente pensar.
A lealdade é um tema que dá muito "pano pra manga", como se diz em Minas. Lealdade a quê? A quem? A que preço? Muitas vezes a lealdade transforma-se em algo funesto dentro da gente, sem que possamos nos dar conta, e faz apodrecer o lado bom da vida: quando nos aferramos a qualquer coisa que seja por "lealdade" é possível que estejamos tomando o caminho do retrocesso ou da estagnação.
A vida é movimento, muitas vezes é também mudar de ideia, tomar outro rumo, decidir até mesmo seguir pelo caminho oposto ao que imaginávamos o correto, o ideal, o único caminho.
Neste sentido, o ódio pode ser uma forma tortuosa de lealdade, tanto quanto o amor pode ser visto como desleal.
Graças a Deus, falíveis que somos... temos também a grandeza dentro de nós.
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
A dor da crítica
Dificil é ouvir uma crítica, o resto é mole pra “nóis”,
como dizem os aficcionionados do Facebook, o Fantástico Mundo dos Puxa-sacos,
onde tudo é elogio e seda rasgada, e talvez por isso mesmo o sucesso seja
tanto.
Uma boa verdade, na forma de crítica construtiva, já
quase não encontra lugar na vida de hoje; o povo prefere cortar relações, sair no tapa,
virar a cara, jogar a amizade no lixo. É que para ouvir uma crítica, o sujeito
carece ser forte por dentro, ter músculos no pensar e na autoestima, ser movido
pelo anseio verdadeiro de evoluir. Caso contrário se ofende, exige desculpas e condolências.
As críticas bem-intencionadas não foram feitas para
os fracos, nem para os arrogantes, que no fim das contas estão todos no mesmo
barco.
Crítica doentia, maldosa, cheia de esgar e inveja...
isso aí é artigo para incineração e não merece uma gota de preocupação de quem
quer que seja. Mas não é disso que falamos no presente momento, e sim do famoso "toque" que só os corajosos têm ousadia de dar... mas que necessita coragem também para ser ouvido, aceito, assimilado e digerido, como se fosse um remédio ministrado por quem ama. E só quem ama o faz. O que em geral há faltado, é amor na hora de receber. Explica-se: o caminho do ódio é mais fácil, e da infelicidade também.
Mas o sincero, aquele cara que tem a coragem de
levantar o dedo e gritar para todos que sim, o rei está pelado... este aí
deveria ser ouvido com mais cautela por Sua Majestade, o que não erra, o que
não paga mico, o que está acima do bem e do mal. Porque o único ganho que o
sincero tem, é justamente ver o rei vestido. Mesmo correndo o risco de ser
incompreendido pela multidão... e pelo próprio rei. Aliás, coitadinho do rei!
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
O silêncio nos dias
Peço perdão aos amigos do blog pelo silêncio de semanas.
Talvez eu estivesse mudando a plumagem. Ou de estação: silenciei de repente, um vazio interno e abissal, uma falta do que pensar e dizer. Então não pensei e nem disse.
Deixei-me levar pelo silêncio como se fosse um rio, daqueles bem tranquilos, em pleno verão tropical. Boiando sobre ele, deslizei pelos dias numa frugal ausência de palavras. Foi quase meditação. Foi quase transcendência.
Já nasci feita de palavras. Como se frases cobrissem os ossos e, dentro das veias, corressem rimas. E a minha alma, a alma sempre molhada, que voa presa ao varal... a minha alma é de sentido!
Mas até quem é feito de palavras é também feito de silêncios, de pausas, de nada a declarar.
Então às vezes me calo, encho a boca de reticências e é como se um sono de princesa amaldiçoada se deitasse sobre mim.
Durmo. Espero. Deixo passar o vazio interno, esta necessidade de estar só como em um salão de baile sem orquestra ou convidados... apenas a voz do pensamento vago, errante, disperso: um encontro de dias entre mim e minha consciência, esta que se achega repentina e exige tempo, exige calma, exige mesmo a sabedoria da qual não disponho.
É o silêncio que faz pensar no que jamais pensamos, porque maltrata, fere, exige, impõe.
Um silêncio que toma tudo; a casa, nas tardes abafadas. O quarto, nas noites vagarosas. O fim de ano, com suas cores falsas.
Até que um dia as palavras brotam, lentamente, ou o desejo simples de dizê-las... como se ali, do outro lado da janela, o meu jardim anunciasse a primavera.
Talvez eu estivesse mudando a plumagem. Ou de estação: silenciei de repente, um vazio interno e abissal, uma falta do que pensar e dizer. Então não pensei e nem disse.
Deixei-me levar pelo silêncio como se fosse um rio, daqueles bem tranquilos, em pleno verão tropical. Boiando sobre ele, deslizei pelos dias numa frugal ausência de palavras. Foi quase meditação. Foi quase transcendência.
Já nasci feita de palavras. Como se frases cobrissem os ossos e, dentro das veias, corressem rimas. E a minha alma, a alma sempre molhada, que voa presa ao varal... a minha alma é de sentido!
Mas até quem é feito de palavras é também feito de silêncios, de pausas, de nada a declarar.
Então às vezes me calo, encho a boca de reticências e é como se um sono de princesa amaldiçoada se deitasse sobre mim.
Durmo. Espero. Deixo passar o vazio interno, esta necessidade de estar só como em um salão de baile sem orquestra ou convidados... apenas a voz do pensamento vago, errante, disperso: um encontro de dias entre mim e minha consciência, esta que se achega repentina e exige tempo, exige calma, exige mesmo a sabedoria da qual não disponho.
É o silêncio que faz pensar no que jamais pensamos, porque maltrata, fere, exige, impõe.
Um silêncio que toma tudo; a casa, nas tardes abafadas. O quarto, nas noites vagarosas. O fim de ano, com suas cores falsas.
Até que um dia as palavras brotam, lentamente, ou o desejo simples de dizê-las... como se ali, do outro lado da janela, o meu jardim anunciasse a primavera.
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