segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"Iguais" e "diferentes"

Fico sabendo da notícia: professora manda um bilhete para mãe da aluna negra, bem pequenininha, contando que a menina é alvo de piadas na escola por causa do cabelão armado. A professora termina o bilhete dando à mãe a ideia de fazer um "relaxamento" para alisar os fios e baixar o volume.

A mãe, indignada, não só se recusa a mudar o cabelo da filha como publica a história no Face, com foto e tudo.

Eu vi a foto, e a menina é linda, assim como seu cabelão. Se fosse minha filha, eu não alisava nem por decreto.

Minha primeira reação ao saber do caso foi achar a professora uma despersonalizada infeliz. Mas depois de pensar um pouco, concluí que é claro que ela agiu com a melhor das boas intenções. Quis proteger a menina das piadas dos coleguinhas. Porque a gente sabe que criança é um bicho terrível quando resolve pegar alguém pra Cristo, né?

O problema é que, como se sabe, o inferno está cheio de boas intenções, e em vez de proteger a "diferente" tornando-a igual e pasteurizada, o ideal seria que a escola (e no caso a professora, que representa a escola) deveria ensinar aos "iguais" que o "diferente" também pode ser lindo.

Mas não. Infelizmente a escola não ensina o aluno a pensar...

Neste caso, por exemplo, a professora só enxergou a alternativa de recorrer à mãe e pedir para alisar o cabelo da menina, sem perceber que esta sua atitude significa menosprezar a origem afro e toda a beleza que aí reside, alimentar o racismo e a suposta inferioridade da raça negra, perpetuar a vergonha de ser quem se é e o desejo impossível de ser outra coisa.

A professora perdeu a chance de ensinar aos "iguais" uma ótima lição de respeito e de valorização do próximo. E de ensinar à "diferente" uma boa aula de autoestima.

E de ensinar a todos da sala de aula que todos temos o direito de ser quem somos. Sem ser preciso mudar nada. Sem alisar, sem emagrecer, sem ficar rico, sem ficar na moda, sem ter que agradar, sem ter que pagar nenhum tipo de ingresso para a maioria. Sem ter que ficar igual, ou ter que pensar igual. Sem ter que abrir mão de sua originalidade!

A professora ainda não aprendeu, mas pobre dela: ninguém a ensinou quanta liberdade existe naquele cabelão!

6 comentários:

  1. Ótimo post. Particularmente vejo mais beleza, inclusive nos corpos e cabelos naturais dos negros.Mais uma vez as mulheres mais lindas que desfilaram no Sambódromo, sem dúvida alguma, eram mulatas e/ou negras.

    Na verdade, desconheço o que seja (a ilusão do) igual. A natureza, tal e qual se nos apresenta, constitui-se única e exclusivamente de diferenças e diversidades, irrepetíveis. Nem gêmeos são iguais, exatamente.

    O povo provavelmente pensa que todos os grãos de areia são idênticos, afinal, é só areia, não é? Isso é somente uma limitação do nosso olho, vendo muito mais de perto, ele é algo incrível.
    Nenhum grão de areia é exatamente igual a outro grão, é o que afirma Gary Greenberg, cientista americano que com a ajuda de um poderoso microscópio, ampliou alguns grãos de areia em 250 vezes.Daí, a areia mostra cores espetaculares, formas e texturas diversificadas: cada grão de areia é único e uma diminuta obra de arte.


    O que é ser normal ou igual?

    Esta é uma pergunta frequente. É é agir como todos, fazer o que todos fazem, é cumprir com o que esperam de nós?


    Quem dita as regras da “normalidade”?

    Cada pessoa é diferente uma da outra, não existe no mundo duas pessoas que pensem ou ajam da mesma forma. Mesmo passando pela mesma experiência, é diferente o modo como cada um percebe e assimila essa experiência.

    Além de sermos diferentes uns dos outros, somos diferentes de nós mesmos a cada instante. Afinal, o que pensamos sobre um assunto hoje pode não ser o mesmo que pensávamos anos atrás e nem o que pensaremos no próximo ano. Modificamos-nos a cada dia. Uns evoluindo e outros involuindo, lamentavelmente.


    E são nessas diferenças que aprendemos e nos constituímos como seres únicos.

    Somos "normais" (adequados) no momento em que vivenciamos essas diferenças, respeitando as nossas limitações, assim como as do outro, e desenvolvendo nossas potencialidades, que são ilimitadas.


    Logo, o normal é ser diferente!

    Só somos iguais porque somos todos diferentes, e porque todos vamos morrer, sem exceções .VIVA A DIFERENÇA DIVINA!!!

    Santé e axé!

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  2. Fernanda,

    Belo post.!!! Bravo !!!!
    Realmente e um absurdo o que esta professora fez, de enviar uma carta a mae desta menina, pedindo para alisar o cabelo ....... ridiculo .....e parabens a mae de colocar no facebook para todo mundo tomar ciencia do fato ......
    Marcos Lucio, estimadissimo presidente da C.P.A.F.S.S., mais uma vez abrilhantando o "Almalavada" com seu comentario .....Adorei !!!

    Abraco grande para os dois.

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  3. E você, Gilda, nossa querida DIRETORA do C.P.A.F.S.S, mais uma vez ...
    generosamente simpática nos elogios. Obrigadíssimo e abraçaço.
    Santé e axé!

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  4. Para enriquecer a questão da eterno e vergonhosos dilema entre diferentes e "iguais intolerantes", sugiro o excelente filme O JOGO DA IMITAÇÃO. O protagonista, Alan Turing , era um gênio e, como tal, aparentava ser muito estranho, absolutamente diferente e a anos luz da "normopatia". Assim, tendo sido vítima de bullyng na infância, ele era um pouco tímido, não sabia trabalhar em equipe e tomava atitudes inesperadas.Foi preso, na Inglaterra de 1950, por atentado ao pudor, uma acusação que levaria à sua devastadora sentença pela ofensa criminal de homossexualidade - mal sabiam as autoridades que estavam a incriminar o pioneiro da computação moderna.O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,o-jogo-da-imitacao-reve-a-historia-de-cientista-brilhante-que-sofre-intolerancia, O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,o-jogo-da-imitacao-reve-a-historia-de-cientista-brilhante-que-sofre-intolerancia,1632484O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,o-jogo-da-imitacao-reve-a-historia-de-cientista-brilhante-que-sofre-intolerancia,1632484

    1632484Nesta época, mulheres eram também discriminadas , sem condenação, evidentemente. Na liderança de um grupo de acadêmicos, linguistas, campeões de xadrez e analistas, Turing foi reconhecido por quebrar o até aí indecifrável código da Enigma, a máquina mortal utilizada pelos nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial.Sua condição diferenciada de desejante sexual não parecia ter muita importância na parte inicial do filme. A forma como uma paixão reprimida de adolescência passa a ser ligada a todo o seu obsessivo trabalho desenvolvido durante a segunda guerra, é engenhosa e comovente. Difícil não sentir vontade de chorar com o drama de Turing e com a absurda/estúpida/injusta/homofóbica (sim, infelizmente ainda há, atualmente,inúmeros casos de homofobia "atound the world") condenação de um herói de guerra e da ciência.Ele teve de optar pela terapia hormonal (castração química) , para não ser condenado e, claro, não aguentou a barra.Para curiosos sobre relevâncias históricas , para humanistas, ou para aqueles que ainda têm sensibilidade, e sabem o que é alteridade/solidariedade...é um filme imperdível."As vezes são as pessoas diferentes ou anormais de quem ninguém espera nada, que fazem as coisas que ninguém consegue imaginar"

    “Quando tinha 16 anos tentei me matar porque sentia que não me encaixava em lugar nenhum. Esse prêmio vai para todos os jovens que acham que não se encaixam em lugar algum e que acham que são estranhos, continuem estranhos e quando vocês estiverem nesse palco no futuro, passem essa mensagem para os jovens na próxima geração”, desabafou Graham Moore, o brilhante roteirista deste importante filme histórico.
    Santé e axé!

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    1. A pressa na digitação rsrs não permitiu o apagamento da segunda inf. sobre o Estadão e a correção dos verbetes: vergonhoso, bullying e around. "Pardon".

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  5. Sei lá, na Africa as mulheres raspam a cabeça.
    Alguem acha q fica bonito? Eu não.
    Michele Obama tem a sua chapinha poderosa... E inumeras outras celebridades tambem.
    Então, melhor lembra-nos tambem do direito a opinião dos coleguinhas da menina.
    Abraço

    Torelly

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