segunda-feira, 18 de julho de 2016

Meryl Streep dá aula sobre o ridículo


Comprei o ingresso apenas por se tratar de Meryl Streep. Gosto de me aventurar em um filme sem imaginar as curvas da viagem e, mais ainda, ignorando dicas de críticos: ver um filme, pra mim, é como ler um livro ou mergulhar em um quadro; cada um vê e entende ali um mundo de coisas a partir de si mesmo.

O charmosão Hugh Grant, que sempre faz o mesmo em papéis engraçadinhos, desta vez ganhou o meu respeito com uma interpretação comovente e de verdade, para ajudar a contar a história verídica de uma mecenas da NY dos anos 40 que era acima de tudo amante da música e dotada de um coração vivíssimo, apesar de sifilítica e à espera da morte por nada menos que 50 anos! (E se pensarmos bem, quem de nós não vive a vida inteira à espera da morte? A consciência disso é que nos foge, e que muitas vezes nos faz fugir também o valor mínimo à vida... lapso do qual não sofria a sra. Florence Foster, interpretada aqui por Meryl Streep).

Florence ansiava ter voz de passarinho, mas cantava como uma gralha. Por força da bajulação de que padecem os milionários, foi levada a crer encarnar o rouxinol que não era, e daí para o ridículo foi um passo bem pequeno. Mas e o marido, vivido pelo herói Hugh Grant? O marido entra em  cena com um amor tão verdadeiro, que se vê impedido de dizer-lhe a verdade. Sabe a tal “mentira de amor”, aquela que justifica a lealdade de um sentimento profundo e verdadeiro? E aí nos cabe a velha pergunta: cabe mentira quando se ama, ainda que na mais sublime intenção? Aaaaaiiii... as coisas difíceis do coração! 

Na deliciosa interpretação da dama do cinema, a gente não sabe se rola de rir ou se fica comovido. O verdadeiro ator é de fato aquele que domina o ridículo, não é mesmo? A vida real, no fim das contas, é uma velha e bela ridícula, alguém discorda? Feliz é quem sabe fazer do limão uma limonada, de preferência com gelo e açúcar.

O fim da história, quando a cantora se depara com sua verdade, não poderia ser mais bonita: a gente vai até onde pode. Que triste seria o mundo se só pudesse cantar quem nasce Gal Costa! Tantos anos depois de morta, a sra. Florence Foster segue  inspirando as pessoas com seu amor pela música, e lembrando-nos o quanto ela, a música, pode encantar a vida: fui dormir pensando no filme e no dia seguinte comprei uns discos novos. Feliz da vida!
 

2 comentários:

  1. Alvíssaras pelo retorno. "Demorô, mas abalô^. Excelente sua crítica, e afirmo que , para meus ouvidos, só podoria cantar, principalmente para o público pagante, quem nasce Gal Costa! ou similares.Lógico que até eu, desafinadíssimo, canto, porém, com o bom senso de poupar ouvidos alheios, ou prevenindo o inevitável desastre sonoro rs.Mas, parece, ou tudo indica, que vimos filmes (quase) diferentes. Brincadeirinha.

    A maior surpresa ou o melhor, na minha modesta e desimportante avaliação, fica por conta de Simon Helberg que faz uma composição excelente, com voz doce e expirante, capaz de extrair o máximo humor de cada diálogo, interpretando perfeitamente o pianista Mcmoon, numa personagem cômica que tem seu humor na personalidade e atos muito sutis, sem necessitar ser espalhafatoso para divertir. Para para minha apreciação, considero o filme bastante caricato , com a atuação exagerada de Meryl, sem necessidade, porque a questão "da pior cantora americana e do mundo" já é bastante ridícula ou surreal. A linha condutora do filme é tipo comédia pastelão (embora eu não assista a este tipo de película) e como a atriz é excepcional, claro, ri de rachar, em algumas cenas patéticas.

    Mas prefiro filmes de comédia com mais sutilizas, mais sarcasmos. Simples questão de estilo e/ou afinidade e nada mais. Looooooonge de mim ser mal humorado, ranzinza, casmurro rs...pois o bom humor em mim é o que mais abunda rs. E viva a abundância!!! Ainda assim, com ou sem senões, a diversão "merylstreepiana" será, entretanto, garantida.

    Prefiro, sob todos os aspectos a versão cinematográfica sutil, imperdível e inesquecível da França batizada de Marguerite, com direção artisticamente magistral do Xavier Giannoli vencedor de 6 Césars (prêmio máximo do cinema francês), incluindo o de melhor atriz (de cair o queixo) para Catherine Frot.
    Santé e axé!

    ResponderExcluir
  2. O erro de digitação em sutilezas (e outros, se houver) , desculpe.

    ResponderExcluir

Dicas para facilitar:
- Escreva seu nome e seu comentário;
- Selecione seu perfil:----> "anônimo";
- Clique em "Postar comentário";
Obrigada!!!!!