quinta-feira, 30 de junho de 2011

Aqueles homens adoráveis e seus carros velhos

Não fui uma adolescente das mais espertas em se tratando de rapazes, mas sempre que me interessava por um, invariavelmente ele não tinha carro. Nas poucas vezes em que aconteceu de ter, era um carrinho velho que eu achava um charme: houve um fusquinha, um Baja __alguém se lembra?__ e até um Maverick cujo tapete estampado de verde havia sido surrupiado do banheiro da “sogra” da vez.

O demais namorados andavam de ônibus e isso para mim nunca foi um problema. Se a festa era muito longe, o jeito era pegar um táxi, caso contrário, íamos mesmo de “buzão”. Minhas amigas debochavam dos “duros” que eu namorava, enquanto que, o que eu gostava mais, era da segurança que eles tinham em si mesmos: não precisavam de um carro para me impressionar.

Já por volta dos 30 anos, me desinteressei de um homem no momento em que ele me disse, enquanto pilotava seu Land Rover novinho em folha, que não tinha dinheiro para dar de entrada num apartamentinho. Cruzes! Vi todo o meu interesse por ele ser atropelado pelo carrão em plena noite enluarada de verão, de frente para o mar de Ipanema... e o romance que poderia ter nascido morreu ali mesmo.

Por outro lado, certa vez fui instantaneamente flechada pela paixão quando um paquera, depois de me oferecer uma carona, deu de ombros __em vez de dar um ataque__ ao perceber que seu carro havia sido roubado.

-- Estava aqui e sumiu – disse, com ar de quem não iria estragar a noite por causa daquilo. Logo depois encontramos o "possante", que estava estacionado em outra vaga, mas a boa impressão já estava na minha cabeça. O relacionamento durou anos!

Já ouvi aqueles papos de que, para o homem, um carro pode ter muitos significados, inclusive a respeito de sua virilidade. Por isso mesmo, considero realmente interessante aquele que não precisa de um carro para se garantir: ele é mais ele, e ponto final.

Daí fico pensando sobre homens que fiam seu poder de atração nos carrões 4X4: não são todos os que fazem isso, imagino, mas que alguns fazem... ah, fazem sim. Dia desses, um deles me xingou no trânsito depois que, de leve, encostei __de novo: encostei__ em seu para-choque com o nariz do meu Fiatzinho. Ele parou o trânsito, desmontou do carro, olhou bem o para-choque e carinhosamente o alisou, quase como se fosse uma moça... e depois me xingou. Como deve sofrer com aquele carro... quanta preocupação, quanto medo de um prejuízo, de um risquinho, um amassadinho... gastou os tubos na compra e no seguro, e em vez de ser feliz, sofre.

Numa outra vez em que me aventurei a sair para jantar com um proprietário de carrão, percebi que sua grande preocupação era não estragar o dito cujo. Quando tirei as sandálias de salto, para descansar os pés, ele imediatamente perguntou se eu pretendia pisar no banco. Naquele instante minha intuição acendeu sua luz vermelha, e a historinha acabou ali.

Mas hoje em dia, quando vejo os carrões zunindo pelas avenidas da cidade, muitas das vezes ultrapassando pela direita, fechando os outros motoristas, acendendo o farol alto nos olhos dos que estão à frente e outros "que tais" típicos de quem se considera "o dono da rua", me pergunto se à namorada aquele motorista dá o mesmo nível de importância. Será que sua vaidade permite que ele seja tão detalhista e cuidadoso no amor quanto é com seu possante?

                                          Olha um dos meus namorados aí!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A dor não pode ser desculpa para o erro

Às vezes, ficar doente pode ser um grande negócio: para muita gente, é uma boa maneira de esquivar-se das responsabilidades, dos riscos e da necessidade premente de agir.

Estou falando de pessoas que elegem a “patologia” como desculpa para as más escolhas que fazem e para as estradas tortuosas que tomam. E então, quando dão com os burros n’água, desculpam-se dizendo:

-- Mas é a minha doença que me faz agir assim...

E recorrem a uma série de traumas, rejeições, medos infantis sem solução, complexos de inferioridade, sofrimentos, frustrações e tudo o que houver na seara da tristeza, para justificar seus desacertos e fraquezas. No fundo, buscam a “pena” dos demais, muito mais que a solidariedade.

Lamentavelmente, elas acabam acreditando mesmo no que dizem, e podem ser tão convincentes, que nos fazem crer em sua ladainha. E então conquistam aquele “colinho” que, na realidade, só as prejudica ainda mais.

O problema, é que todas as pessoas, no planeta inteiro, têm suas histórias tristes para contar. Todo mundo já sofreu morte de pai ou mãe; todo mundo padeceu de bulling na escola, numa época em que esta palavra nem existia e a gente resolvia tudo sem ações judiciais; todos já foram humilhados, apanharam na infância, tiveram que digerir frustrações, sofreram, padeceram, tiveram medo...

A dor não pode ser desculpa para o erro, caso contrário, a humanidade inteira estaria perdida, e não haveria civilidade nem alegria.

O sofrimento é educativo: quem consegue lapidar-se vivendo só de bonança? Raríssimos. A maioria de nós, infelizmente, só se aprimora na dor. O que significa que, ao fazer de mim uma vítima, estou fechando os olhos para os ensinamentos que a vida quer me dar. Estou escolhendo não crescer; optando por continuar na imaturidade que justifica o erro.

Falta dignidade a quem tem pena de si mesmo, porque este caminho, tão fácil, só nos conduz à decadência, e pelas nossas próprias mãos.

Ver-se como doente e, portanto incapaz, é a maneira que uma pessoa tem para justificar sua paralisia, sua preguiça, sua teimosia, sua estupidez. E mais tarde, quando colher o fruto das suas escolhas, poderá culpar Deus e o mundo inteiro pela sua infelicidade, porque também é mais cômodo dizer que “Deus não quis” ou “que a vida foi dura”, ou que “meus pais não me ajudaram”, ou que “não tive oportunidades”.

Sim, é mais fácil escolher a doença. E no fim, morrer mesmo de tristeza.

 
           Pior cego é o que não quer ver; e enxerga nuvens negras em tudo...

sábado, 25 de junho de 2011

Saber desistir é uma arte

Minha vida já deu guinadas tão inacreditáveis que passei a respeitar um pouco mais os roteiros rocambolescos das novelas. E, quanto mais me abro às mudanças de rumo, às possibilidades (ainda que remotas) e até mesmo aos sonhos impossíveis, percebo que novas guinadas podem vir a acontecer __ou a murchar__ como se fossem ondas no mar. Inclusive porque desistir é uma arte e faz parte da vida tanto quanto lutar.

Acho que é uma conseqüência natural: a gente se abre pra vida, a vida vem.

Houve uma época em que eu tinha todo o futuro esquematizado na cabeça, mas o tempo foi passando enquanto a realidade parecia me empurrar para outros caminhos, porque por mais que eu me esforçasse, aquele roteiro que eu tinha traçado para mim estava longe de se concretizar. Um dia, entendi que ela, a vida, tem mais imaginação que eu. E aceitei que precisava aprender a “deixar pra trás”.

Amizades infrutíferas, sonhos ou projetos que não se realizam, amores que não evoluem, carreiras que não alavancam, convivências impossíveis, promessas que não se concretizam...

Aprenda a deixar para trás. Aceite que, talvez, seu destino esteja em outro lugar... sem deixar-se cair na armadilha de crer no "destino traçado", porque aí se esconde o perigo de, simplesmente, não agir, não buscar, não desistir, não partir pra outra. Mas é preciso reconhecer que, da mesma maneira que algumas coisas parecem fazer uma força danada para acontecer, outras... não acontecem! Em alguns casos, portanto, desistir pode ser uma atitude sábia, em vez de covarde. E que exige muita força, porque desistir dói.

Mas entenda que o desapego, muitas vezes, é a melhor alternativa, inclusive para que a vida flua, em vez de tornar-se cada vez mais estéril ou frustrante. Deixar para trás nos liberta e nos abre portas inimagináveis para destinos que, antes, nos pareceriam impossíveis.

Aprenda a seguir adiante, e com as mãos vazias, para que possa enchê-las de novo...

Novas amizades, nova carreira, novos sonhos, relacionamentos, oportunidades e todo o resto que faz a vida ser maravilhosa estão ao nosso alcance por toda parte, mas às vezes a gente precisa, antes de estender a mão e agarrar o “novo”, fazer uma reforma íntima e ajustar o foco do nosso olhar sobre nós mesmos: abrir o coração e a vontade para receber o dia e o que ele trouxer na bagagem e usar a inteligência para entender que, para mudar as coisas e o rumo dos acontecimentos, temos antes que mudar a nossa cabeça e desprogramar aquelas ações e reações destrutivas que trazemos gravadas em nós, sem que nos demos conta:

“Eu não mereço”. “É demais pra mim”. “Não pode ser verdade”. “Ah, se eu pudesse...” “Não consigo”. “Felicidade é para os outros”. “Fulano é fdp”. “A vida é dura”. “O ser humano é mau”. “Desconfie sempre”.

Temos que nos desarmar porque não estamos em combate com a vida: ela de um lado no ringue, e nós do outro, lutando para impor nossa vontade diante de um inimigo perigoso de modo que não precisemos desistir de nada.

Sei que não é fácil mudar nosso olhar e nosso comportamento, ou deixar de brigar com a vida e com as pessoas. Mas só assim conseguimos de fato abrir mão do que não frutifica, por mais que nos pareça impossível, e mudar o plantio, cultivar outro futuro.

Viver um namoro com o tempo, com o mundo. Deixar pra trás o lema de que a vida é uma batalha.

A gente tem que abraçar a vida e fazer amor com ela.

          Abrace e beije a vida, pra que ela te abrace e te beije de volta!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Por onde anda o seu pensamento?

A minha mente é um cavalo selvagem, e montada nela é que vivo neste mundo.

Todo cuidado é pouco quando se trata deste cavalo, porque ele tem vontade própria e, se não for domado, é capaz de me conduzir a qualquer lugar, inclusive aos piores: houve um tempo em que vivi por lugares terríveis, ao lado de más companhias e num inverno glacial e sem fim. Não me dava conta de que sair dali dependia unicamente da minha própria decisão; bastava, apenas, um pouco de força de vontade.

Certa vez, eu voltava para casa caminhando por uma rua linda e cheia de árvores, quando, de repente, quase que por milagre, me dei conta do esplendor da tarde: senti o calor daquele dia, vi a luz do sol entre as folhas, as pessoas com suas roupas coloridas, o sorveteiro, os cachorrinhos, o portão da escola, as crianças, os carros passando, o mar lá adiante. Foi um susto, uma surpresa. E então olhei para dentro de mim e cheguei a sentir a umidade daquela rua escura que eu habitava, cheia de gente desesperada e sem fé na glória das manhãs. Uma rua perdida na noite, onde eu me sentia (e era, de fato) prisioneira dos meus sentimentos ruins: a autopiedade, o pessimismo, o ressentimento.

Foi naquele momento que me dei conta de que, ainda que a realidade esteja difícil, temos que tomar conta, o tempo inteiro, de por onde vai a nossa mente. Domar o cavalo selvagem e irracional que temos em nós, mas que também é forte, veloz, voluntarioso... feito só de impulso e instinto. Fazer dele um servo, não permitir que ele seja o senhor. Entendi o que quis dizer um mestre budista que conheci certa vez, quando aconselhou:

-- Vigiai!

E passei a vigiar a minha mente, a recusar os pensamentos destrutivos da mágoa, da desesperança, do medo e da angústia. Quando o cavalo entra por estas ruas, eu o conduzo pelos caminhos da alegria, tratando logo de evocar uma lembrança feliz ou uma expectativa boa. E mesmo que ele tenha relutado no começo, rapidamente se deixou domesticar, porque tudo nesta vida é uma questão de treino e de persistência.

Quando dei por mim, já habitava outro mundo, e meu cavalo seguia manso sob o meu comando, levando-me somente a lugares em que eu era feliz por estar. Hoje conheço sua força e sei lidar com ela: entendo bem sobre os seus perigos e armadilhas, afinal, sua essência é a de um animal selvagem. Mas o mais importante de tudo, é que descobri também a minha força, e entendi que nada pode ser mais veemente que a vontade de ser feliz.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Não me procure no Orkut...

...nem no Facebook, nem no Twitter... porque eu não estou lá: estou na minha casa ou no meu telefone. Não foi assim que os amigos sempre se encontraram? E, para quem não é amigo a ponto de uma intimidade destas, temos aí blog e e-mail. Tá mais que bom.

As redes de “relacionamento” são o que há de pior em termos de invasão: quem foi que disse que quero notícias de todos os meus amiguinhos de infância ou de adolescência? Que quero ser encontrada por ex-namorados? Por familiares com quem não convivo? Por gente que passou pela minha vida e, como o próprio verbo comprova, já foi? Quem disse que gosto de relembrar historinhas do passado? E muito menos me interessa contar minha vida a uma platéia que nunca conheci...

Benza Deus, minha carência não chega a tanto, e fico satisfeita com os relacionamentos que mantive. Aqueles que deixei que se perdessem... podem continuar perdidos como estão, e não vai ser com uma ficha em site de relacionamentos que vou deixar estragar meu sossego.

Por falar nisso, que nome é este? Rede de relacionamento? Sou do tempo em que “relacionamento” era uma coisa mais concreta que trocar notícias via internet: a gente se relacionava mesmo, se encontrava, conversava, olhava nos olhos, se abraçava, ouvia a voz e a risada do outro... Com o comodismo das redes, os encontros físicos começam a ser adiados, adiados... até que a amizade acaba virando uma fantasia virtual. Um dia, quando você finalmente encontra aquela sua amigona, percebe que a afinidade entre vocês já nem existe mais.

Até as crianças estão entrando na onda de acreditar que a Internet é a melhor maneira para brincar... queimado? Pique-esconde? Mas que coisa ultrapassada! Elas querem é teclar!

Caaaalma! É claro que acho a Internet uma das maiores invenções da história humana... assim como e-mails e blogs. Mas vejam... minha amiga Cristina, por exemplo, quer ser minha amiga também no Quepasa.com... mas ela já não é minha amiga? Quer ser minha amiga de novo? Ou quer ser mais minha amiga? Francamente não vejo em quê o Orkut e seus parentes podem contribuir para que uma amizade se fortaleça. Ou você realmente acredita que era impossível ser amigo antes que alguém inventasse estas redes?

Pode dizer que sou do tempo do Matusalém, que parei no tempo, inclusive... mas vou te contar uma coisa: adoro receber uma cartinha via correio... Telegrama de aniversário, então... Uma visita em casa... E encontrar aquele amigo para um almoço ou um café? Até mesmo um bom papo pelo telefone pode ser uma diversão... melhor que alimentar a neurose coletiva que desperta, em seres humanos anônimos, o deleite de ser acessado, clicado, procurado, chamado, seguido... até por gente totalmente desconhecida, que aparece dizendo que “quer ser seu amigo”!

Quer mesmo, é? Ah, então já que é assim, aproveita e pede um dinheiro emprestado, pra ver se sua popularidade continua alta...

As crianças não brincam mais assim...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quando o conforto é uma ilusão

Muitas vezes, educados para "aguentar" a barra, "suportar" as dificuldades, "aturar" situações, "segurar a onda" do que nos incomoda, acabamos levando uma vida inteira de esforço e infelicidade.

E em nome de quê?

Pare para avaliar, com cuidado, e verá que muito do que anda suportando não vale o preço que tem que pagar. E que, mais do que qualquer coisa, o verdadeiro xis da questão pode ser o comodismo. Como eu já disse em algum post no passado, ser feliz dá um trabalho danado, e não raro a gente tem que dar um salto no escuro, sem paraquedas e rede de proteção...

Já fui do tipo que aguentava a dor de cabeça o dia inteiro porque, simplesmente, achava que tomar remédio era coisa de gente fraca. Já fui do tipo que, por não gostar de discutir, era capaz de aceitar o desrespeito. Pode não parecer, mas por trás de tanto esforço em "deixar pra lá", o que se escondia era o comodismo: demorei para perceber, mas tomar uma atitude é coisa para poucos. Deixar como está, ao contrário, é o caminho mais fácil. Mais cômodo. Mas só aparentemente, porque, na realidade, nos toma muita energia, muita saúde, muita alegria e, por fim, muita vida.

Quantas vezes nos deixamos levar pelo comodismo e não damos um basta em pessoas ou situações insuportáveis? Uma amizade que não anda saudável, mas que tem lá suas vantagens... um desconforto físico que, para ser curado, exige médico, exames, remédios... um namoro cujo prazo de validade já venceu, mas aí teremos que enfrentar a solidão e, depois, começar do zero com outra pessoa... aquela fome noturna que, para ser vencida, exige que você saia da cama... e por falar em fome, aquela dieta que você precisa fazer para voltar a se sentir bem consigo mesmo, mas que necessita dedicação e força de vontade... um casamento falido que, para acabar, vai levar junto metade dos bens... um emprego que paga bem, mas onde você já não está feliz...

Diante de tanto trabalho, a gente prefere aguentar e fingir que se dá por satisfeito com o que pode tirar de bom do que nos exaspera. Mas o que é que há de bom em aturar pessoas que a gente não suporta? O que há de bom em estar gordo ou sentir dor ou, ainda, dormir com fome? O que pode haver de bom em ganhar muito dinheiro em troca do nosso tempo e de toda a energia perdida em projetos que não nos fazem felizes? O que pode haver de bom na sua vida jogada fora, ainda que seja só um dia?

A gente nunca sabe quanto tempo tem para ser feliz, por isso a hora é agora. Passar a existência "aguentando" é o mesmo que jogar a vida fora. Deixe para exercitar sua capacidade de "suportar" quando (e se) a vida te trouxer algo realmente terrível. Enquanto isso, dê mais valor à sua alegria e liberte-se do que te aprisiona.

domingo, 19 de junho de 2011

Felicidade é chutar o balde

Há momentos na vida em que a alegria só é possível quando a gente chuta o balde. Já aconteceu com você? Acontece com todo mundo, o que varia é apenas o tempo que levamos para chegar a este momento mágico da transição. Mágico sim, porque, dependendo do balde que a gente chuta, as coisas nunca mais serão como antes.

Soube de um cidadão que, depois de ver “Beleza Americana”, chutou o balde do casamento. Inspirado pela coragem do herói do filme, deu um basta na infelicidade conjugal e foi cantar em outra freguesia. Não sei o fim da história: se ele conseguiu ser feliz com a nova vida ou se, acovardado diante dos desafios do futuro, preferiu fazer o caminho de volta. Mas a questão não é essa.

A questão, agora, é aquele momento em que a gente não dá conta de segurar a peteca. Aquele instante derradeiro em que, como uma panela cheia, nossa cabeça deixa o leite transbordar.

Chamo aqui outro filme, “Um dia de fúria”, que fala exatamente disso através de um homem calminho que, um dia, explode. O fim é previsível, porque neste mundo em que vivemos a civilidade exige a auto-vigilância e, muitas vezes, a aceitação de absurdos. Dou risada da metáfora vivida por Michael Douglas, o protagonista, porque ele mostra aquele lado meio doido que todos nós temos dentro de nós, amordaçado... mas que, às vezes, foge e faz mil maluquices por aí.

Não estou defendendo a irresponsabilidade, porque sou doida mas não sou maluca. O que defendo, é o direito que temos à aventura da mudança, porque sem isso a vida não tem nenhuma cor, que dirá alguma graça.

Um emprego que você joga pelos ares; um chato que você risca do seu caderninho; alguma odiosa obrigação que você simplesmente deleta das suas prioridades; uma viagem sonhada que, de repente, você resolve fazer; uma declaração de amor que, inesperadamente, vence a timidez; umas boas verdades que, de um salto, saem pela sua boca; um presente caro que você decide se dar; um dia de folga que você rouba do calendário, só para ser feliz... e até mesmo uma dieta pouco calórica que vira fumaça...

Olhe para dentro de si mesmo e vai levar um susto com a quantidade de baldes, cheinhos, que estão aí, à espera de um pontapé “daqueles”! E mande a culpa para as cucuias!

Chutei o balde da dieta e mandei brasa no macarrão... mas fui pega em flagrante!