Não fui uma adolescente das mais espertas em se tratando de rapazes, mas sempre que me interessava por um, invariavelmente ele não tinha carro. Nas poucas vezes em que aconteceu de ter, era um carrinho velho que eu achava um charme: houve um fusquinha, um Baja __alguém se lembra?__ e até um Maverick cujo tapete estampado de verde havia sido surrupiado do banheiro da “sogra” da vez.
O demais namorados andavam de ônibus e isso para mim nunca foi um problema. Se a festa era muito longe, o jeito era pegar um táxi, caso contrário, íamos mesmo de “buzão”. Minhas amigas debochavam dos “duros” que eu namorava, enquanto que, o que eu gostava mais, era da segurança que eles tinham em si mesmos: não precisavam de um carro para me impressionar.
Já por volta dos 30 anos, me desinteressei de um homem no momento em que ele me disse, enquanto pilotava seu Land Rover novinho em folha, que não tinha dinheiro para dar de entrada num apartamentinho. Cruzes! Vi todo o meu interesse por ele ser atropelado pelo carrão em plena noite enluarada de verão, de frente para o mar de Ipanema... e o romance que poderia ter nascido morreu ali mesmo.
Por outro lado, certa vez fui instantaneamente flechada pela paixão quando um paquera, depois de me oferecer uma carona, deu de ombros __em vez de dar um ataque__ ao perceber que seu carro havia sido roubado.
-- Estava aqui e sumiu – disse, com ar de quem não iria estragar a noite por causa daquilo. Logo depois encontramos o "possante", que estava estacionado em outra vaga, mas a boa impressão já estava na minha cabeça. O relacionamento durou anos!
Já ouvi aqueles papos de que, para o homem, um carro pode ter muitos significados, inclusive a respeito de sua virilidade. Por isso mesmo, considero realmente interessante aquele que não precisa de um carro para se garantir: ele é mais ele, e ponto final.
Daí fico pensando sobre homens que fiam seu poder de atração nos carrões 4X4: não são todos os que fazem isso, imagino, mas que alguns fazem... ah, fazem sim. Dia desses, um deles me xingou no trânsito depois que, de leve, encostei __de novo: encostei__ em seu para-choque com o nariz do meu Fiatzinho. Ele parou o trânsito, desmontou do carro, olhou bem o para-choque e carinhosamente o alisou, quase como se fosse uma moça... e depois me xingou. Como deve sofrer com aquele carro... quanta preocupação, quanto medo de um prejuízo, de um risquinho, um amassadinho... gastou os tubos na compra e no seguro, e em vez de ser feliz, sofre.
Numa outra vez em que me aventurei a sair para jantar com um proprietário de carrão, percebi que sua grande preocupação era não estragar o dito cujo. Quando tirei as sandálias de salto, para descansar os pés, ele imediatamente perguntou se eu pretendia pisar no banco. Naquele instante minha intuição acendeu sua luz vermelha, e a historinha acabou ali.
Mas hoje em dia, quando vejo os carrões zunindo pelas avenidas da cidade, muitas das vezes ultrapassando pela direita, fechando os outros motoristas, acendendo o farol alto nos olhos dos que estão à frente e outros "que tais" típicos de quem se considera "o dono da rua", me pergunto se à namorada aquele motorista dá o mesmo nível de importância. Será que sua vaidade permite que ele seja tão detalhista e cuidadoso no amor quanto é com seu possante?
Olha um dos meus namorados aí!
Oi Fernanda!
ResponderExcluirEssa postagem não é para mim! (sorrio)
Há 12 anos, vendi o único carro que tinha para comprar um terreno onde moro hoje com minha família.
Bom final de semana!
Quero lhe convidar para ver e comentar ‘Um trocado para uma lata de leite caro’ no http://jefhcardoso.blogspot.com
“Que a escrita me sirva como arma contra o silêncio em vida, pois terei a morte inteira para silenciar um dia” (Jefhcardoso)
Tenho 41 anos de convivência com minha mulher. Nossa lua de mel foi de ônibus, nosso primeiro café da manhã na rodoviária. Mas tudo foi muito bom. Minha mulher diz que tivemos sorte de viver em outra época; eu replico que tive sorte em conhecê-la. Não precisamos de bens materiais pra ser feliz, pra impressionar, a gente vem ao mundo nú e faz amor nú (geralmente). Boa matéria, boa reflexão. |Um abraço (Sidney)
ResponderExcluirJeferson e Sidney... somos da mesma tribo! (Irei lá conferir seu blog, Jeferson). Abraços!
ResponderExcluirJá li e comentei esse texto no JB há algum tempo atrás. Não lembro exatamente minhas palavras naquela época, mas tenho certeza que meu escrito de agora corroborá o escrito anterior e como recebí e-mail seu indicando o novo acesso ao Alma Lavada, resolví conferir. A verdade é que a maior parte de nossa sociedade nos avalia e valoriza muito mais pelos bens materiais que possuímos e ostentamos, do que por quem realmente somos enquanto caráter e personalidade, demonstrando com isso que a psiquê coletiva de nosso meio social, em sua maioria, está voltada para o superficialismo, a frivolidade e o quase histerismo coletivo guiado pelo consumo voltado para a ostentação e não para as reais necessidades ponderadas e comedidas dos indivíduos. Sinceros desejos de felicidades e boas energias. Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirHOJE EM DIA O NORMAL É TER CARRO. A INDUSTRIALIZAÇÃO FACILITA AO MÁXIMO A COMPRA. o NEGÓCIO É PRODUZIR E VENDER MUUUUUINTO. NO MEU TEMPO DE ESTUDANTE DE FACULDADE A TURMA DO PENCIONATO IA DE BONDE (NOSSA COMO SOU ANTIGA) PARA OS BAILES DE CALOURO. A TURMA ERA GRANDE E ERA SEMPRE EU A SORTEADA COM UM FÂ QUE TINHA UM POSSANTE. lEVAVA A TURMA TODA PARA SANTA TEREZA. COMO O PENSIONATO FECHAVA ÀS 10H, IAMOS DORMIR DA MANSÃO DE ASTRID GATZ QUE FICAVA FECHADA PORQUE SEUS PAIS MORAVAM NO RIO GRANDE DO SUL. ERA UM TEMPO MUITO BOM.
ResponderExcluirMinha mãe dizia: __ No jogo e no volante é que se conhece o passante.
ResponderExcluirFernanda: Posso dizer que tenho mais ou menos 2 milhões de Kms rodados e que gostei muito de dirigir. Uma vez nós vínhamos do Rio para Vitória e todos dormiam (mulher, crianças e minha mãe)no carro enquanto eu dirigia. Reparando isto aumentei um pouco a velocidade e "na estrada", por uma combinação de sorte, estratégia e posição momentânea de outros veículos, fiz ultrapassagens sucessórias e sem querer acordar o pessoal. Numa delas, minha mãe exclamou la de tras: __Isso é um Ballet. Eu repliquei: __Ué mãe... tá acordada?
Uns dias depois que ela faleceu, fui ao Rio para resolver umas coisas deixadas por ela (banco, etc.) e andando pelas ruas, de repente, não sabia como resolver um treco la e peguei o celular e, comecei a discar o número dela. Desculpe.
Fernanda, parabéns pela matéria, tenho 45 anos sou sindicalista, nunca tive carro, vejo amigos e conhecidos economizando até na alimentação, para comprar um carro, acho um absurdo. naõ que eu não gostaria de ter um carro, mais fazer qualquer coisa pra ter um, não faria é uma furada. Se um dia Deus me abençoar com um carro, será naturalmente. Que Deus te abençôe.
ResponderExcluirFernanda: Por favoooor dê uma olhada no meu Blog. Título: Ouvindo a MEC FM http://alfredo-modelosnavais.blogspot.com/
ResponderExcluirBoa Tarde Fernanda
ResponderExcluirMaravilhoso, o que você escreve. Realmente infelizmente vimvemos numa sociadade em que o ter é muito mais importante que o ser. Pra você se situar da situação o filho do diretor da empresa tem uma Rand Lover e quando ele precisa usa o carro da Mae que é um Pajero, diz em alto bom som que o carro dela é fusquinha na Barra!
Pode?
Beijos