domingo, 22 de dezembro de 2013

Não deixe o crítico escolher seu filme por você!

Um filme é uma obra de arte tanto quanto um poema ou um quadro, e assim sendo, fica muito difícil decidir se gosta ou se não gosta a partir da opinião de outra pessoa. Concorda? O que Fulano acha lindo, Beltrano pode achar horroroso.

Há quem não aprecie Picasso, o que para alguns pode parecer o cúmulo do absurdo! Há quem não goste de Fernando Pessoa... e há quem acredite nas críticas dos jornalistas de cinema, e com isso perde grandes oportunidades de ser feliz. Cinema é o seguinte: a gente tem que escolher pelos atores e arriscar. Escolher pelo gênero é um perigo. Eu mesma já vi "drama" estar como "comédia" e vice-versa. Quer saber como eu faço? Compro minha pipoca e vou, mas se em quinze minutos o filme não me fisgar completamente, saio da sala e vou aproveitar melhor meu tempo tomando um sorvete. Realmente acredito que o diretor tem 15 minutos para conquistar o espectador, e se não consegue neste tempo, não vai ser em duas horas...
Mas no momento há quatro filmes que vou te contar... dão até vontade de ver de novo, coisa que vou fazer em casa, deitada na minha cama. Os dvds são uma das maiores invenções do homem, são ou não são?

Vamos lá: comecei minha jornada cinematográfica da semana com Woody Allen, apesar de a repórter especializada da revista "Veja" ter falado mal de "Blue Jasmine" e do desempenho de Cate Blanchett, imagine você, que o mundo inteiro sabe que foi feita para personagens de verdade...  sua Jasmine é tão triste no presente quanto azul no passado, uma mulher do seu tempo, pode-se dizer, um fino extrato daquela classe feminina que anseia por um casamento dos sonhos e ama o marido em segundo lugar, porque em primeiro vem o amor pela ostentação. Mas eis que amor e ódio andam lado a lado e quando o sonho rui... esta mulher se mostra com todas as suas fúteis fragilidades e amarguras quase infantis. Mas o filme vale também pelos demais atores, sobretudo o namorado latino e grosseirão da irmã pobretona (e independente e feliz)... e o que dizer da inveja de Jasmine, outro personagem que rouba a cena?



Depois fui ver “Capitão Phillips”, o único dos quatro que vi esta semana e que a crítica está aclamando. Não vou me deter em Tom Hanks porque ele dispensa comentários, só digo que a cena final é de uma veracidade impactante. A história real dos piratas somalis que tomam o navio americano e sequestram o capitão na pequena baleeira nos divide: torcemos para quem? Para os mocinhos americanos? Ou para os pescadores africanos esquálidos e em andrajos, forçados a piratear por mafiosos de seu país para que não sejam mortos junto com suas famílias e tribos?
“Capitão Phillips” tem a cena que diz tudo, quando o dito cujo diz ao pirata que há muitas outras maneiras de viver além de pescar e sequestrar pessoas. E ouve a seguinte resposta:

-- Talvez nos Estados Unidos.

O filme me fez pensar no Brasil e em um documentário que vi anos atrás, rodado do Morro Santa Marta, e no qual apareceu o menino que depois se tornaria o bandido Marquinho VP, dizendo que era desenhista e que não queria ser pedreiro, conforme o sistema lhe previa. Quantas pessoas entram para o tráfico por falta de opções melhores? Até que ponto ser pedreiro no Brasil é melhor do que ser pirata na Somália?





Aí veio a vez de “A vida secreta de Walter Mitt”. Bastou um segundo de trailer para perceber que Ben Stiller estava pela primeira vez em filme que não era idiota. E não é mesmo, embora mais uma vez o jornal tenha dado a dica errada. Trata-se de um remake (o que, para mim, não tira o mérito do filme) na forma de uma deliciosa metáfora sobre gente que, em vez de viver, imagina que vive; em vez de agir, sonha... e acaba entrando na onda, como o mentiroso patológico que acredita no que diz. Além das imagens lindas e do roteiro inteligente e bem amarrado, o filme mostra que as transformações pessoais são muito mais fáceis e indolores quando vêm de dentro... e que felicidade só é real quando é resultado do que somos. Não é um filme de arte, aviso, nem fita para ser levada a sério; mas uma ótima diversão que pode sim fazer pensar. (Por que será que algumas pessoas crêem que para fazer pensar o filme tem que ser uma obra-prima?).



Por fim, encerrei a semana pegando “O trem noturno para Lisboa”, por insistência de um amigo mala que já me indicou filmes-roubada algumas vezes. Neste aqui também o jornal está metendo o sarrafo, aliás. Fui ressabiada, mas adorei já de cara, quando Jeremy Irons, aquele ator mitológico, apareceu na tela com seu vozeirão, para mostrar um homem que não tinha nada a perder... e que teve coragem de recomeçar repentinamente. O pano-de-fundo é o Portugal de Salazar e a resistência, mas nada que quem desconheça a história portuguesa não vá acompanhar, porque este é um filme sobre idealismo, amor, generosidade, saudade e decepção. Tudo começa quando Irons salva do suicídio uma moça que ia se jogar do alto da ponte. Até o fim da história, quem salta da ponte é ele mesmo, só que ele salta para a vida!

Um comentário:

  1. Alguns críticos, justamente pelas argumentações dos seus comentários endeusando ou demolindo o filme , fazem-me correr do aplaudido e despertam meu interesse pelo desprezado. (Quase) sempre acerto. Tive uma colega de trabalho que era tiro e queda: se ela adorava o filme...certamente iria considerá-lo desimportante, se o visse (bastou uma vez a indicação dela, para eu aprender rs). Filmes e outras diversões culturais não são somente escapismo...aliás, não é qualquer prazer que me diverte, e não gosto de passatempos frívolos.Nem tempo pra telê eu tenho. Preciso de sentir -culturalmente- a sensação de tempo beeeeeeeem aproveitado , que possibilite ou facilite minha almejada evolução...afinal, o tempo não pára e não volta, né? Lamentavelmente não terei tempo de ver/ler/ouvir tudo o que considero imprescindível e/ou excepcional.

    Das suas sugestões, muito bem criticadas, diga-se "en passant", vi dois: Blue Jasmine, que provocou-me satisfação garantida, principalmente pelo trabalho excelente das atrizes, destacando a Cate... e Um trem noturno para Lisboa, que adoooooooooorei, principalmente por enaltecer, com justiça, o poder da leitura (de excelência, of course!) transformadora. No enredo, um livro de profundas reflexões existencias (minha predileção) muda a trajetória de um homem.Tenho convicção íntima de que fui (bem?!) transformado por algumas leituras seminais (com critério e criticidade) que tive a sorte ou o privilégio de fazer.Diria até que a leitura de qualidade (os clássicos, a filosofia, etc.) me salvou e ainda me salva.Boa leitura é remédio e/ou conforto para a (minha) alma.
    Santé e axé!

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