terça-feira, 30 de agosto de 2011

A vida é uma caixinha de surpresas

Gosto desta imagem. Gosto de pensar que a vida é mesmo uma caixinha de presentes, de presentes de todos os tipos, inclusive aqueles que a gente não gosta muito.

Lembro de um livro chamado “O valor das pequenas coisas”, que ganhei de aniversário da Titi, melhor amiga da minha mãe. Ainda tenho na lembrança a satisfação dela, diante do meu poder de atriz, em meus plenos dez anos, agradecendo muito contente pelo presente que, secretamente, achei descabido.

“Podia ter sido um livro de histórias”, comentei mais tarde, com a minha mãe. E ela respondeu:

“Hoje não te serve, mas um dia vai te servir”.

O fato é que o presente da Titi me acompanhou por anos, sem nunca ter sido lido. Acabou se perdendo em alguma mudança de endereço. Mas bastou a capa pra dar o seu recado... sob as palavras emblemáticas do título, estava uma moça de vestido marrom, abraçada a um buquê de girassóis: ok, Titi, entendi tudinho.

Anos mais tarde, um dia falei pra minha mãe:

-- Na próxima encarnação, quando Deus me disser pra escolher de presente um dom, vou pedir uma voz maravilhosa pra cantar para as pessoas e fazer com que elas fiquem emocionadas.

E ela, que me gostava de ler, mandou na lata:

-- E você vai ser minha filha de novo, e me dizer que deveria ter pedido a Deus o dom de escrever e, então, tocar o coração das pessoas.

Perdoem-me as divagações, mas minha cabeça, que já voa normalmente, anda mais voadora por estes dias, e lembrei dessas passagens justamente por pensar que a vida é uma caixinha de surpresas.

Vejam este blog, que carinhosamente chamo de “bloguinho”... de dentro da caixa de surpresas, ele nasceu como um simples projeto profissional, mas na minha imaginação foi ganhando outras formas: neste momento de solidão que atravesso, ele está mais pra cachorro de estimação, daqueles que nunca tiveram pedigree, mas cujo rabo balançante é um aviso de vigília sobre o tapete ao lado da cama. Sempre por perto.

Então me vem outra imagem, porque afinal de contas sou mineira da gema: é uma cozinha de porta aberta, café no bule e bolo no fogão. Nas janelas, o sol da manhã bate tão amarelinho! E aquele cachorro de antes agora está na soleira, tirando um sono de preguiça enquanto as visitas entram e saem... muito naturalmente vão se formando os laços da amizade que têm tanto a ver com os dias de hoje... virtuais, invisíveis, sem rosto. Mas nem por isso imaginários.

Da minha caixinha de surpresas, saiu um bilhete de partida para o meu velho Dannemann, que viajou no domingo, no bonde das 22h30. O mundo ficou diferente, sinto-me um bicho em forçosa adaptação... e vejo que este blog, que tanta força me tem trazido, tantas mensagens de empatia e dor compartilhada... este blog é mais um presente enviado por Deus.


Nós dois agradecemos por tudo!

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14 comentários:

  1. Olá Ms Gladiadora, bom dia. Sempre passo por este blog desde a época do JB, e desta vez resolvi deixar minha mensagem.
    O que posso desejar pra você é que continue caminhando, não pare, continue lutando, sonhando, vivendo.... Never give up! Deixo pra você, a linda letra do saudoso Renato Russo. Que Papai do Céu (os dois) toquem o seu coração e lhe dê conforto neste momento difícil. Fique bem!

    Agimos certo sem querer
    Foi só o tempo que errou
    Vai ser difícil sem você
    Porque você está comigo o tempo todo
    E quando eu vejo o mar,
    Existe algo que diz,
    Que a vida continua
    E se entregar é uma bobagem

    Já que você não está aqui,
    O que posso fazer é cuidar de mim
    Quero ser feliz ao menos
    Lembra que o plano era ficarmos bem?

    Jorge

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  2. Jorge... obrigada por me lembrar que agora tenho dois Papais do Céu! Um beijo, e volte sempre!

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  3. Fernanda queridannemann...não deixei de pensar na sua situação delicada...inclusive ontem, de viés e por vias transversas, ou pegando outra vereda...enquanto assistia, extasiado, o magnífico balé "SEM MIM" (seria, também, órfão de mim mesmo? ou a eterna solidão ontológica, do berço ao túmulo?) do idem GRUPO CORPO (orgulho maior para nosotros mineiros sensíveis...que suponho sê-lo, mesmo e tanto quanto nas amizades virtuais, pois também já sinto-a_ por muitas afinidades ou sinais tribais- como amiga). Estive cauteloso e pensando demasiado, desde que li, seu inspirado e significativo poema, no post anterior, considerando-o , na verdade, um réquiem para "tão aguadas solidões".Primeiramente por conta da tristeza do seu pai em perder a esposa, depois servindo para a sua "tristezura" em "perdê-lo".Como a vida é um eterno perdeganha, acredito que você ganhou um pai diferenciado, especial, encantado, a partir da partida dele, para outra Morada. Não acredito em acasos. Justamente "num" dos versos você sente e diz: "órfã de pai vivo". Esta sensação lhe é tão familiar e, agora tão materializada com a saída de cena do pai/herói "gladiador", sentindo-se "órfã de pai morto", que remeteu-me, imediata e etimologicamente ao Mito de Orfeu Observe-se que o nome Orfeu apresenta o mesmo radical de “órfão”, do indo-europeu “orbkho”, que em latim gera “orbus”, “carente de”, sinetes lingüísticos que remetem à própria carência do poético. A eterna fome de pão e poesia...assim como de "circo", por supuesto..

    Orfeu, assimilando a morte como matéria poética, enfrenta-a com a mesma obstinação com que deseja decifrar o seu próprio enigma: o de “ser de linguagem”, algo que você, na minha modesta avaliação, (e da sua mãe que percebia seu dom de escrever) domina com eficiência, experiência, conhecimento, talento e emoção, a despeito dos inevitáveis limites, paradoxos , mistérios insondáveis e, por isto mesmo, humanos em demasia.

    A morte órfica por excelência seria, então, a última morte, aquela que se experiencia no êxtase e na dimensão criativa - que liberta o homem dos retornos à vida_ e, num determinado momento, faculta o mergulho na Via Láctea, casa do Pai Eterno e, agora, do seu pai eternizado. Esta é uma morte traspassada pelo desejo _como desiderato_ orientada para o elevado, para as estrelas, para a luz que nos guia e aquece, mas da qual estamos indefectível e necessariamente afastados. "Ad maiora natus sum" é como entendo nossa trajetória existencial, com prazo(às vezes curto demais) de validade...mas sempre desejante de caminhar e evoluir para e com as coisas do Alto.

    Remeto-me ao magistral Guimarães Rosa, gênio mineiro e mundial da arte literária;"as pessoas não morrem, elas ficam encantadas", uma vez que a verdadeira morte para um órfico encontra correlato apenas no êxtase ou na dimensão criativa, (seja da poesia, seja da concepção decorrente da união de corpos), que eterniza a beleza, a reprodução, a transformação, a continuidade. Saúde, sorte, paz e luzzzzzzzzz + caloroso ou acolhedor abraço.

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  4. Lindo texto Fernanda.
    Valeu.
    Monica.

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  5. fernanda voce que sempre ilumina meus dias, agora e hora de com muita humildade eu te mandar minha luz com muito carinho.....tenho certeza que como eu todos que participam do seu blog, sentem o mesmo carinho.....ai vai todo amor que houver nessa vida

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  6. Monica, Marcos Lucio, Bia... obrigada pelos sentimentos, pelo abraço e pelo apoio: obrigada mesmo!

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  7. Mauro Pires de Amorim.
    Querida e prezada Fernanda Dannemann, como já escreví antes, os que partem de nossa vida, sejam vivos ou mortos, bons ou maus, passam a viver no mundo de nossas memórias. No caso específico de seu pai, percebo que era muito querido e amantíssimo, mas passa a existir da mesma forma, no mundo das memórias e lembranças. Até mesmo enviando mensagens para vocês nos momentos alegres e tristes que vivem e viverão, por meio de sua postura diante das situações, através das memórias e lembranças que vocês tem dele e como ele agiria diante de cada situação específica, seja de alegria ou tristeza. Esse é o maior legado que ele deixa para vocês que eram tão próximos e a forma pela qual ele se mantém vivo, embora não esteja presente fisicamente, continua existindo em caráter, alma, através de vocês.
    Felicidades e boas energias.

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  8. Fernanda sinto muito,que Deus te de muita força e que Ele te abençoe.Saiba que agora teremos um otimo intercessor.Tenho certeza que o Paloka esta muito feliz.Amei seu blog,ja sou uma fã :)

    Muitos beijos

    Layra capelli

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  9. Mauro e Layra... agradeço pela força, pelas mensagens tão carinhosas. É muito bom ter vocês aqui comigo no blog. Beijão

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  10. Mauro Pires de Amorim.
    Fernanda Dannemann, é o mínimo que posso fazer por você, nesse momento de partida de seu querido pai, principalmente porque você enche meus dias de alegria e boas reflexões com seus textos.
    Muitas felicidades e boas energias.

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  11. Fernanda,não peça desculpas por suas divagações,pois tem sido um prazer voar com você ! Sempre nos transmitindo uma energia boa ,mesmo na dor.

    Outro dia tomei um café com bolo genuinamente mineiro, bom demais da conta !! E lembrei de você.

    Muita paz e muito amor !

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  12. Olá Fernanda, como vai....que saudades do nosso tempo de criança... nos conhecemos quando crianças(minha mãe trabalhava na sua casa e eu morei com vocês durante algum tempo, hoje sei que foram os melhores de minha vida.Venho tentando fazer contato com você há tempos, há muitos anos consegui seu endereço com seu pai, mas acabei perdendo.Muitos anos se passaram e muitas coisas mudaram, mas quando vi sua foto, já a reconheci na hora, o mesmo sorriso...que tal combinarmos uma viagem no tempo pra botarmos a prosa em dia, moro em Três Corações, é um pouco distante de você, mas seria um prazer revê-la. Abraços

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    1. Blanche querida, eu também nunca me esqueci de você, e incrivelmente falei a seu respeito há poucos dias, e lamentei nunca mais ter te visto! Peço que me envie seu e-mail e telefone, não vou publicar, é claro, mas assim podemos conversar melhor. Estou esperando! Um beijo!

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  13. Fernanda Dannemann, quanto tempo. Crescemos fazendo arte juntos. Dividimos muitas vezes o mesmo espaço. Sua irmã, a Cláudia de vez em quando falo com ela. Mas se eu tiver que falar com vc, levará uns DEZ anos pra por o papo em dia. Fiquei feliz em ler o quanto vc é querida e pelo que vc escreve em seu Blog. Parabéns, de seu maninho que nunca te esqueceu. Wilson Lima (Simonal). Assim apelidado pelo seu (nosso) querido Pai Paulo Dannemann. Milhões de beijos.

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