quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Como renascem os órfãos?
Vou ao shopping lamber vitrines. Adoro experimentar todas aquelas coisas que já sei, de antemão, que não vou comprar. E, de repente, numa decisão inesperada, faço um investimento na autoestima...
Mas hoje, nem isso me anima, e chego a me sentir ridícula nesta tentativa frustrada de voltar ao mundo das frivolidades humanas... que também são parte da alegria da vida.
Então, naquela cafeteria que evito, porque o colesterol anda alto, peço um café com leite, muito açúcar, e aquele bolo de laranja, bem gordo.
Mas minha boca transforma tudo em areia.
Volto pra casa: na maciez da minha “nuvem”, o sono não dá as caras. Mandou avisar que foi passear no Paraguai.
Meu marido dorme ao lado, e me aconchego a ele na tentativa de unir-me novamente a este mundo, este mundo que ficou tão diferente. Ligo a TV, chamo o Fernando Pessoa, recorro ao Machado de Assis, ao Gabriel García Marquez... ninguém me acalenta este vácuo, este corredor vazio e sem fim que de repente se abriu à minha frente, como um caminho único e obrigatório do qual não posso fugir: esta agora é a minha estrada.
Passeio pela casa, ouço o relógio, olho de relance aquela poltrona tão vazia, onde meu velho costumava ficar por horas... as violetas imploram por água em seus vasinhos, e fico contente ao ver os botões prestes a nascer: é tão difícil manter as violetas em flor! Mas eu consigo.
O tempo anda muito lento ultimamente, e meu estômago dói. A vida parou por uns dias, e no espelho, o rosto que vejo não é o meu, nem sou eu esta pessoa ferida que tem andado por aí: este é o rosto e o andar de todos os órfãos do mundo.
Faço uma ponte ao futuro, miro bem lá adiante, bem além deste corredor estreito que tenho atravessado: o sol, um dia lindo, a vida em flor no meu coração...
Então dou mais um passo, na certeza de que a alegria me espera por lá.
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Cara Fernanda, com certeza a alegria está lá fora. Não se deixe abater, pois cada dia será um dia diferente, mesmo que a tristeza venha, mas logo irá embora. Deus nos quer alegre,pois ele acredita em nossa força. Paz e muita saúde para você. Grande Abraço.
ResponderExcluir"A vida parou por uns dias." Exatamente,foi só por uns dias,Fernanda.Atravesse esse,"corredor estreito" fazendo as coisas que antes lhe dava prazer,mesmo que nesse momento,não lhe dê prazer nem um,mas seja teimosa e vc vai ver,o tempo se encarregará de colocar tudo nos seus devidos lugares,inclusive esse vazio que eu conheço tão bem... Bjs. Monica.
ResponderExcluirQueridannemann Fernanda...farei dois posts pois tenho muitas palavras de carinho ou estímulo.Embora lamentando profunda e respeitosamente seu delicado momento, não posso e nem devo deixar de comentar que alguns de nós sabemos que a vida é para ser desbravada dia a dia, sem ensaio, sem receita, sem bússula , sem regua e compasso e, claro, sem bis, além de estarem, nela, sempre em jogo, inúmeras variáveis nem sempre controláveis; a morte _que entendo como transformação_ é somente uma delas. A sabedoria popular, inclusive, afirma, pletora de razão, que "a vida é combate que os fracos abate". Não custa lembrar que pesquisadores evolucionistas acreditam que herdamos a tendência de perceber o negativo de forma mais rápida ou intensa que o positivo (chance de sobrevivência, porque as mudanças constantes podiam sinalizar perigo). Ato contínuo, como nossos ancestrais distantes, temos cérebro programado _preferencial e naturalmente_ para perceber problemas ou desprezar experiências positivas e focalizar os aspectos mais desestabilizadores da vida. Isto não impede, entretanto, que nos aprimoremos ou refinemos para valorizar mais o que possuímos, ao invés de lamentarmos pelo que nos falta. Assim, mudamos nosso olhar ou sentir sobre a existência e seus inevitáveis dasafios e contratempos, para que possamos abandonar o ilusoriamente "confortável" papel de vítimas e assumir a responsabilidade como artífices do nosso destino_pelo menos da "parte que nos cabe neste latifúndio" do eterno viver.
ResponderExcluirO que fazer então pra lidar com as dores, sem ficar tão doído?
Podando a nossa plantação de vaidade e orgulho e cultivando mais a humildade. A humildade nos leva a sermos somente “seres humanos” que estão nesta vida pra amar, ganhar, perder, sofrer, crescer, cair, levantar, viver e morrer. A vida flui, pulsa, sobe e desce. Devemos entrar neste ritmo imutável e constante , e, pra cada dor e descompasso, nos curvarmos humildemente, percebendo que é mais uma lição que faz parte do nosso_ sem exceções_ processo evolutivo. A gente gostando ou não...
Quando a vida nos causa a inescapável dor, claro que deprimimos, angustiamos e brigamos com o real e com ela (que é real e de viés, salve Caê!). O que não podemos é ficar neste embate permanente com a vida, querendo vencê-la. Tolice nossa... Ela, além de ter vida própria,e à nossa revelia, é infinitamente mais poderosa, afinal, entre a caça e o caçador, vence a natureza, "bien sûr"!!!
Precisamos respeitar a vida e saber que realmente ós seres humanos, quando não aprendemos através da aceitação radical do que não depende exclusivamente de nós, a dor vem e nos dá uma lição. Assim, a dor (nossa e do outro) serve pra nos chacoalhar, nos cutucar e nos empurrar pra frente.Só chaleira fervendo é que levanta a tampa (Clarice). As pessoas que não fazem bom uso de sua dor ficam doídas e doidas, sim. Mas só por um tempo. Aos poucos elas passam a fazer bom uso dessa dor, criando, mudando, transformando, ajudando...E aí a dor, enfim, cumpriu sua função ou seu propósito cósmico Superior. Continua
Continuando...Todos nós, seres provisórios, imperfeitos, inconstantes e impermantes, temos, também e inexoravelmente, prazo de validade....Fé em Deus, que as coisas, todas, passam e melhoram...não há febre alta eterna e nem vela que não se apague...Pense de quantos problemas você já saiu, mais forte ou mais experiente... Como o Nandinho nem o Machadinho deram conta, vale tentar de novo e citarei o genial escritor Rainer M. Rilke: "Quem observa com seriedade descobre que, assim como para a morte, que é difícil, também para o difícil amor não se reconheceu ainda nenhum esclarecimento, nenhuma solução, nem aceno, nem caminho.....nunca se achará uma regra comum baseada em um acordo./ Precisamos aceitar a nossa existência em todo o seu alcance; tudo, mesmo o inaudito, tem de ser possível nela. No fundo é esta a única coragem q se exige de nós: sermos corajosos diante do q é mais estranho, mais maravilhoso e mais inexplicável entre tudo com q nos depararmos". Se não for demais, e sei que exorbitei e exorbito no palavrório rsrs... citarei, tb, meu adorado psicanalista Eduardo Mascarenhas: " Ao contrário do corpo, a alma pode sofrer as maiores violências e se recuperar...Podem sangrá-la, podem feri-la, podem deixá-la à míngua, q ela parece q morre, mas na realidade não morre nunca. Pior q rabo de lagartixa, nossa alegria de viver volta sempre a renascer.É isso q descobrem aqueles q não desistiram nunca....Ao descobrirem a ressurreição das almas, adquirem uma inquebrantável confiança"
ResponderExcluirSe tudo isto não servir de um pequeno alento, um empurraozinho sequer, ou uma leve brisa que, por intantes... permita uma sensação de alívio no sufocante deserto das emoções, agora em desalinho, resta a receita, que usei em várias circunstâncias e ainda uso e usarei, que julgo infalível (embora "cada caso seja um acaso"). Ainda com mais convicção... sabedor de que outro, com mais idade e experiência, usou e teve bons resultados. Melhor, ainda, é que a reconheci em um blog de uma talentosa e gladiadora jornalista/escritora , por quem eu nutro uma profunda admiração, ainda que à distãncia... física, não do coração. Divido ou compartilho e aconselho você mesma a segui-la, ao pé da letra,ok?
"Meu pai me inspira a vontade e a garra de viver porque é um lutador acima de tudo, um sobrevivente que jamais teve pena de si mesmo. Um combatente incansável diante das lutas que travou em seus 78 anos. Um vencedor pelo simples fato de não entregar os pontos nem mesmo diante das maiores dores e decepções. Um batalhador que viveu em busca da alegria de ser grande dentro de suas possibilidades. Um verdadeiro gladiador diante das adversidades".
Também aqui, vejo seu promissor processo: "fico contente ao ver os botões prestes a nascer: é tão difícil manter as violetas em flor! Mas eu consigo"..e vai conseguir reflorescer sua vida violeta... mais e infinitas vezes, se Deus quiser.
CQD (ah! os teoremas)...esteja certa: a alegria está prontinha, bela e perfumada para, mais à frente, reencontrá-la, diamantinamente, como você merece. Continuo na torcida vigorosa e sincera, pelo seu restabelecimento, desejando saúde, paciência, aceitação radical, serenidade, muita sorte, fé, e muita luz.
Marcos Lucio... nem sei como agradecer por tudo o que você disse, pelo tempo que dedicou a escrever-me, pelo esforço em me prestar este auxílio, tão valioso, e pra sempre inesquecível. Fique tranquilo: eu sofro, eu sinto, eu fico triste, mas não tenho pena de mim mesma. E agradeço a Deus por tudo o que meu pai teve, inclusive uma boa passagem; por ter vivido tão intensamente. E por eu me sentir em paz, e por saber que isso passa. Eu não entrego os pontos não. E saiba, serei eternamente grata por este apoio todo que tem vindo de você. Um beijo e a amizade da Queridannemann!
ResponderExcluirFernanda,a vida que se acaba é a vida encarnada.
ResponderExcluirE o espirito humano após se libertar vai habitar outros mundos, de acordo com a evolução de cada um. Ore pelo seu pai. Nesses dias tenho lembrado do nome dele em minhas orações matinais.
Leia: VIOLETAS NA JANELA. Da menina patrícia que desencarnou com 19 anos de um aneurisma,você sentira a esperança que ela nos dá. Eu fiz o download deste livro em pdf no site: www.aeradoespirito.net. Prá finalizar a menina patricia também era mineira.
Sergio.
Sergio... agradeço tremendamente pelas suas orações, com certeza elas o ajudam, onde estiver. Sim, vou ler este livro, há anos que me falam dele. Abraço afetuoso!
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