Visita
(novembro 2006)
Às vezes, a falta da minha mãe dá de doer
e eu fico quieta
espero passar a dor
como se fosse visita que a gente recebe por educação.
É quando eu lembro do bordado inglês
na saia da Primeira Comunhão;
da missa, aos domingos do mês,
e da hóstia, que fazia de mim um parasita
em meio à bondade de Deus.
A minha mãe me ensinou a rezar muito cedo
(eu mal sabia pedir).
Depois, o alívio da confissão.
Foi isso que ficou dela:
a falta
a oração
uma cadeira vazia na sala de jantar
um Sagrado Coração para espantar o medo.
Quando a falta dela se senta à mesa
eu calo tudo
menos a reza.
E janto a tristeza.
(Fernanda Dannemann)
Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirImagino o quanto você deva estar triste pela partida recente de seu pai e isso deva evocar também saudades de sua mãe, de sua irmã e outros entes queridos que também partiram. Fico compadecido com sua situação, mas de coração te digo para levantar a moral e não se deixar tomar pela melancolia. Sei que não é fácil, mas é preciso, pois todas as pessoas que se importam com você, mesmo os que já partiram, desejam te ver bem, tenho certeza. Nada melhor do que um dia após o outro para curar a dor, mas é preciso também ter pensamentos e atitudes positivas, sob o aspecto de levantar a moral.
Sinceros desejos de muitos pensamentos positivos, felicidades e boas energias.
Meu caro Mauro... sim, estou triste. Mas não estou baixo-astral. Agradeço sua energia positiva e seu apoio. Isso vale muito pra mim. Abraços!
ResponderExcluirQueriDannemann Fernanda...continuando a corrente de solidariedade, pois o assunto continua este, como sói acontecer até que as coisas fiquem mais acomodadas ou menos incomodadas? Seu belo poema, é uma das formas dignas de saber ou tentar lidar com perdas, sem desistir jamais , uma vez que é possível aprender a caminhar mesmo sobre o leite derramado, pois a vida segue e não para que nos ajustemos a ela, não é mesmo? Portanto, impossível ganhar_de fato e espiritualmente_ sem saber perder; aprender a andar sem as inevitáveis quedas; acertar sem, antes, errar; viver sem aprender a reviver (e olha que muitos só existem, ainda não vivem...). Nossa glória e triunfo sobre as adversidades _principalmente aquelas que jogam com variáveis totalmente fora do nosso controle_ consiste em levantar todas as vezes em que for possível ou necessário não se deixar abater, muito menos ficar inerte ou acomodado ou acovardado. Bem aventurados aqueles que, com maturidade, experiência e sensatez, conseguem receber com naturalidade _que é absolutamente diferente de querer ou gostar_ o ganhar, o perder, o acerto, o erro, o sucesso e o fracasso, que são instâncias naturais para qualquer vivente. Provado está que, não aceitar o inevitável ou as imposições inegociáveis do destino, em nada modifica a desagradável realidade.Apesar de todos os pesares...vale a pena o atrevimento de sermos felizes, de sermos o que quisermos, de fazermos o que decidirmos (se pudermos...)e de viver intensamente cada minuto como sendo o último, e único, porque nada está garantido, ou se repete do mesmo jeito. E a vida? É tão frágil!, impermanente, circunstancial, imponderável, e às vezes absurda, que para morrer é bastante estar vivo.
ResponderExcluirO medo ou a não aceitação da inexorável finitude não impede, não posterga e nem evita que ela ocorra...portanto, só nos resta viver da melhor forma possível...pois não há ensaio, nem bis (lucidamente, ninguém se recorda de como ou onde já viveu... ou se reencarnou, e não estou negando esta possibilidade, sou um humilde aprendiz). Como não sei fazer poema ou canção, (sou cidadão simples, de poucos talentos...) dou voz ao rei das letras, sabedro de que você também dele é fã.
Medo da morte? - Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
Medo da morte?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se os átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?
Carinhoso abraço procê.
Linda poesia, Dannemann!
ResponderExcluirComo um terremoto, que muda tudo de lugar e faz surgir um novo terreno, entendo o difícil momento que você está atravessando. As coisas não serão mais como eram antes, mas acho que não serão piores, apenas diferentes. Que bom que você aproveitou o lado bom e as experiências riquíssimas tanto com seu pai como com sua mãe. Você é uma felizarda, por tê-los tido perto de ti!! A vida lhe deu esse presentaço e você pode se considerar uma privilegiada. Mas isso não atenua sua dor, eu sei... Lhe desejo neste momento de redescoberta muita força, saúde e energias positivas para você.
ResponderExcluirAbraços,
Jorge
Caro Jorge... obrigada, obrigadíssima pelas palavras! Sim, você alegrou meu coração com esta verdade: a consciência de tê-los tido por perto. Me deu até ideia para um post, logo nesta fase em que ando sem ter o que dizer. Um abraço e volte sempre!
ResponderExcluirAncilla... que bom que você gostou! Fico sem saber o que fazer com elas. De vez em quando vou postar alguma. Abraços!
ResponderExcluirPosta mesmo, Dannemann!, porque ler um belo e bem escrito poema, também é Lavar a Alma!
ResponderExcluirLindo!
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