sábado, 17 de setembro de 2011

Se somos tudo, também não somos nada!

No meu clubinho imaginário, onde Sócrates e Hobbes (não o filósofo Thomas, mas o Tigre amigo do Calvin) desfrutam de igualdade de condições, as conclusões de alguns chapas confundem meus sentimentos. E fico sem saber se nós, os Gremlins, não somos mesmo nada... ou será que somos tudo (e por isso estamos “prosa”?).

De Albert Einstein, que sacou tantos milagres do universo, a Fernando Pessoa, que captou os mais obscuros cantinhos da alma humana, onde é que está o valor do homem? Outro dia vi um filme que gostei muito, sobre a vida de Charles Darwin. Eu já o admirava muitíssimo pelas razões mais óbvias, mas passei a gostar dele como pessoa, ao saber dos seus conflitos entre a Ciência e Deus. E por concluir que, para ele, todas as criações divinas eram iguais, providas do mesmo valor, da mesma maravilhosa centelha, dos mesmos direitos à vida... e à liberdade, sua matéria-prima essencial.

Penso no quanto é tão grande a existência, o coração que trazemos e tudo o que cabe nele, de bom ou de ruim. Quando vi meu pai inconsciente sobre a cama, também vi, em sua inércia, a vastidão do existir: em seu corpo fragilizado, perfumado por sabonete pom-pom, pulsavam todas as felicidades e infortúnios que ele viveu, e que foram, em seu momento, a grande chama da vida. Então entendi que a força ainda estava lá, e que até a morte é a vida acontecendo.

Quanto valor, quanta potência pode caber na vontade? Quanto vale a vida de cada um de nós, e o que é, exatamente, que a faz valer? Qual a medida do homem, que pode ser tanto... e ao mesmo tempo tão pouco?

Então penso na rede interminável de sentimentos, querências e batalhas que nos compõem, que fazem de nós seres humanos. Em tudo o que estamos envolvidos, em todas as pessoas que fazem parte da nossa história, em todas as esperanças que regamos no jardim: isto é o que somos! Penso em cada artéria, em cada movimento das válvulas , cada batimento cardíaco, cada célula que nasce ou morre... em todos os milagres necessários para que possamos, simplesmente, respirar ou tomar um copo d´água. A vida é grande demais!

Mas então olho para o outro lado, e vejo as coisas por um ângulo distinto.

A nova perspectiva me mostra o quanto as nossas dores, naquela UTI, eram pequenas diante das dores terríveis do mundo. O quanto era quase ingênua, a minha tristeza, diante da carência absoluta dos que nunca tiveram um pai pra chamar de seu... e eu tenho. O quanto a morte de um homem não é nada diante de todos os outros que morrem, no mesmo instante. O quanto não somos nem mesmo poeira cósmica, neste universo infinito, ao passo que nosso egoísmo apequena o mundo e faz de nós gigantes distorcidos: somos gigantes diante da nossa própria mirada. O que pode haver de tão selvagem na natureza quanto acreditar-se mais merecedor que alguém?

Neste clubinho imaginário, onde, como enxergou Charles Darwin, somos todos iguais, penso no quanto Deus, lá de cima, deve mesmo ter pena de nós.

 
A morte do Quixote, pelas mãos do incrível desenhista argentino Miguel Rep, que captou como ninguém a transformação do cavaleiro e a tristeza do Sancho,  fiel escudeiro.

Leia também:
Não dê asas ao Gremlim que existe em você

15 comentários:

  1. ALVÍSSARAS!!! minha queriDannemann Fernanda... , com este texto iluminado(r) ou transformador de trevas em luz?, minha alma ficou pletora de contentamento, fundamentalmente por sentir que, conforme vaticinei abusadamente rsrs... suas inspiradas palavras sobreviveriam ao afogamento, aprenderiam a nadar (aqui elas batem record olímpico!!!) para singrar outros mares e voltariam a sobrevoar os píncaros, de onde, na verdade, não saíram...só deram um tempo..de mudança de penas."Resoperadoumo": faço minhas as suas benditas palavras, absolutamente. Ato contínuo, guardá-las-ei no meu cofre _especialíssimo_ de palavras preciosas. Como acredito em sincronia (salve Jung!), acordei pensando em remeter-he um texto do Nikos Kasantsakis, que foi um divisor de mares, ares e terras na minha vida_ nas definitivas palavras do Darwin _ "igual a todas as criações divinas , providas do mesmo valor, da mesma maravilhosa centelha, dos mesmos direitos à vida... e à liberdade, sua matéria-prima essencial", e fiquei pasmado ao ler seu post e concluir que a "mala" do Nikos, tem tudo a ver com a "cuia" da Fernanda. Com especial carinho, repasso este salmo existencial, estas veneráveis palavras , na minha modesta avaliação, para seu desfrute:"Viemos de um caos onipotente, de um denso e indissolúvel abismo de luz e trevas.E pelejamos todos_plantas, animais, homens, e idéias_ na brevíssima passagem de nossa vida individual, para ordenar o caos dentro de nós, para iluminar o abismo, para converter em luz, dentro de nossos corpos, toda treva possível". Ele conseguiu expressar e libertar este sentimento, até então indizível para minha limitação, transformando-a, nietzscheanamente, em vontade de potência.
    Estou feliz por você retornar em grande estilo.
    Carinhosa e afetuosamente.

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  2. CaríssiMarcos Lúcio... grata pelas alvíssaras! Mas meu retorno está sendo lento, não se anime demais, ando escrevendo muita baboseira também. Abraços!

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  3. Adorei o caríssiMarcos kkkkk , prezaDannemanníssima, e desculpe se exagerei na dose (devo ter algo a ver com os excessos dos talentosíssimos Cazuza ou Elza Soares kkk)...mas creia, prefiro pecar pelo excesso do que pela falta, afinal, não me considero pouca porcaria, sou pinico cheio mesmo kkkk.

    Na verdade, respeitosamente, sei que tudo é um processo, estamos no eterno devir (ser... completamente... é impossível, no máximo estaremos inteiros, jamais completos).Só quis dar um leve ou delicado (mas cheio de entusiasmo ou boa vontade) empurrãozinho para botar, "again", sua pipa no ar ou seu bloco na rua.Naturalmente, em hipótese alguma, acredito em queimar etapas ou pular degraus.Nosso lema, mineiramente é: devagar e sempre, afinal, tudo que vem fácil, fácil se (es)vai...Como boa mineira _ e não se deve negar o que se traz por dentro_ seu retorno é cauteloso, desconfiado... ainda bem...Só discordo (enfim! aconteceu uma demasiado humana discordância entre você e mim rsrs...) que anda escrevendo muita baboseira também...Por não detectá-las, (meu caso é mais grave rsrs...) e se elas existirem, faço-as igualmente minhas, e não por solidariedade, mas somente por reconhecer, minhas deficiências ou inconsistências.Abração, boas vibrações, santé e axé!!!

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  4. CaríssiMarcos Lúcio... é que as baboseiras eu não mostro pra ninguém!!!! (E tem mais: eu também não me considero pouca porcaria não...) E por falar em bloco, em breve o meu estará, sim, na rua, porque graças a Deus eu nasci pra ser feliz! Abraços!

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  5. Mauro Pires de Amorim.
    Muito belo e tocante seu texto, principalmente pela introspecção das questões, fazendo com que reflitamos sobre nosso modo de ser e existir, coisas que nem sempre nos tocamos e percebemos diante dos compromissos e afazeres diários da vida, que acabam na maioria dos momentos, nos fazendo agir e pensar de forma autômata e objetiva, quase que mecãnica. Aproveite seu atual momento de introspecção e não fique em casa. Faça como Darwin. Pegue seu marido e saia, vá para a rua observar a natureza e a vida fluindo, pois é sempre bom ter alguém que te entenda e ame para trocar idéia sobre suas observações e introspecções, principalmente no atual momento que você está vivendo. Acredito que isso te fará sentir melhor e depois, com as idéias e observações formuladas, escreva compartilhando conosco.
    Sinceros desejos de felicidades e boas energias.

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  6. Depois de ter ouvido, do Lúcio, em festa nesta madrugada, que eu teria de entrar na sua "casablog" para ler seu excepcional texto _e ele repetiu algumas vezes esta orientação_lembrei-me da sua dica para eu continuar roubando tempo dos outros afazeres e estou aqui, de corpo e alma, para parabenizá-la. Realmente é um texto para ser resguardado e faço minhas as palavras do meu amigo:seu post será colocado em cofre somente de palavras preciosas. O que mais adorei foi constatar que ele estava certíssimo quando me dizia , por sentir-se feliz apesar de tudo, que percebia em você, também, uma natural ou saudável vocação para a felicidade. Graças a Deus você tem esta consciência exposta nas suas palavras: "nasci para ser feliz". Faço parte desta tribo dos que buscam ou conseguem a felicidade, haja o que houver, e antes que seja tarde.... e meta ou objetivo maior, como realização existencial, desconheço.
    Torcendo para suas melhoras lentas e graduais, deixo meu carinho e o afeto.
    Danilo.

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  7. Danilo... me convida pra próxima festa!!! Abraços!

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  8. Considero este, um texto irretocável. Parabéns, Fernanda!!! Vou guardar, com certeza. Ótimo saber, de você, que é vocacionada para a felicidade.Nada melhor do que isto, além da fundamental saúde, é claro.Aliás, deve ser muiiiiiiiiiito difícil , quase impossível mesmo, estar doente e feliz.
    SAÚDE JÁ É FELICIDADE ou, no mínimo, a grande responsável por ela, dentre outros elementos dela constituidores.
    Abraço
    Eduardo

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  9. Eduardo... que bom que toquei seu coração! Abraços!

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  10. Melhor e mais charmosa blogueira que conheço: se não for somente uma brincadeirinha o " me convida pra próxima festa"... avise, então, quando o seu bloco estará, dionisiacamente, pronto para a fundamental festa da vida, que, tanto quanto o M.L., terei enorme prazer em convidá-la, para a próxima festa. Naturalmente o marido/companheiro/parceiro e mais o que couber como atributo, estará, igualmente, convidadíssimo.Já me considero, por compactuar com a sua sugestão,um "mal acostumado" rsrs...ladrão de tempo, porém, por motivos mais do que válidos, claro!
    Afetuosamente,
    Danilo

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  11. Danilo... pode deixar que eu te aviso mesmo! E ainda bem que a minha Cara-Metade foi convidada, porque somos inseparáveis, graças a Deus! Fico realmente muito contente por este espaço que você abriu para o Alma Lavada na sua agenda... Abraços!

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  12. Quem merece uma salva de palmas, em pé, é você Fernanda. Adooooooorei!!!Fiquei muito tocada e contente com este belíssimo texto seu e vou tratar logo de deixá-lo preservado na minha coleção dos imperdíveis.Além de Deus ter pena de nós, concrdando com você, acho que, inclusive, nas palavras do gênio Chico Buarque: "Deus é um cara gozador, adora brincadeira"...e vinho e festa, também, não só o Danilo e o Marcos Lúcio e, claro, me incluo nesta vocação festeira rsrs...
    Paz e luz e abraços.
    Juliana

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  13. Juliana... obrigadíssima! Fico contente demais quando minhas "mal traçadas linhas" mexem com as emoções alheias. Adoooooooorei saber disso também! Volte sempre e um abração!

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  14. Obrigada, Fernanda, por este belo, reflexivo
    e certeiro texto que, por sugestão (bem, na verdade, o M.L., por correio, disse: como boa escorpiana, você tem de ler o "tudo ou nada" da Fernanda,absolutamente imperdível). Acabei de lê-lo e não resisti à sincera vontade de elogiá-la.Bravo!!! Guardarei esta sua pérola talentosa e sensivelmente intelectiva _sou caçadora delas_ sem sombra de dúvidas.
    Abraços da Roseli

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  15. Roseli... estava agorinha respondendo ao seu comentário anterior! Que bom (bom demais!) que você se identificou com o texto! Agora estou mais confiante: acho que voltarei mesmo a te ver por aqui. Abraço!

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