segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A sua alma tem penas?


Meu marido sempre defende o ser humano, quando digo que ele é mesmo um pobre coitado. Mas não tem jeito: para onde quer que eu olhe, com minha super lente observator feelings, que ganhei do presente dos meus amigos Calvin & Hobbes, pesco um sentimento, aqui e ali, que me remete a um Oceano Pacífico em cada coração.

Estou ficando tão “fera” neste exercício, que às vezes nem preciso do observator feelings: a olho nu mesmo, basta um pouquinho mais de atenção sobre quem quer que seja e pronto! A água salgada do marzão começa a subir, como maré a duras penas contida.

E por falar em penas, era delas mesmo que eu queria falar. Com tanta água represada no peito, correndo nas veias junto com o sangue, com tanta água de choros que tivemos que engolir, que beber forçosamente, que esperar evaporar, que torcer para que fosse absorvida pelo pó essencial que nos compõe, com tanta água onde por tantas vezes já nos afogamos, talvez o mais difícil de tudo seja podar as peninhas que vão nascendo naturalmente, silenciosas, sobre as escamas da nossa alma.

Não, não se surpreenda: a alma tem escamas, porque aprendeu a nadar.

Não ter pena de si mesmo: a dignidade está aí, tanto quanto no entendimento de que a dor humana é igual em todos, e o dente que dói em mim dói em você também, e o luto que escurece a minha casa escurece a sua. No entanto, ficar triste é uma arte que não dispensa a alegria momentânea, a alegria da fé no futuro, na convicção de que a vida é linda mesmo quando o pai da gente morre. O que pode haver de mais bonito que este amor que não se rompe, nem mesmo sob a força das águas de um Oceano Pacífico inteiro de susto e solidão?

Quando a tristeza vier, não finja que não tem ninguém em casa. Melhor a minha velha receita do café com bolo, do bate-papo na varanda. E mesmo que ela seja daquelas visitas chatas que tardam a ir embora, e nos esgotam, tenha gentileza com ela e consigo mesmo, porque até pra sofrer a gente precisa da gentileza... caso contrário a dor vira mutilação. E o primeiro braço a ser mutilado, tenha certeza, será o da esperança.

2 comentários:

  1. Lindo texto. Você mesmo sempre diz que quem tem pena é galinha...

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  2. Como sempre, minha queridannemann Fernanda, você tocou no ponto nevràlgico e assino embaixo suas _ ainda que sofridas_ palavras. Não por acaso, (um dos?) o maior escritor do mundo disse:
    "O mais importante não é o amor. O mais importante é a gentileza."
    (Dostoiévski)
    Lembrando de que o último profeta que conheci chamava-se, justamente, Gentileza, reproduzo texto que indaga se quem é mais forte; a gentileza ou o poder da fúria/força...de quem desconheço a autoria.

    O sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte.
    O vento disse:
    - Provarei que sou o mais forte.
    Vê aquela mulher que vem lá embaixo com um lenço azul no pescoço?
    Aposto como posso fazer com que ela tire o lenço mais depressa do que você.
    O sol aceitou a aposta e recolheu-se, humildemnte_ e só o Astro Rei para tanto_ atrás de uma nuvem.
    O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas quanto mais ele soprava,
    mais a mulher segurava o lenço junto a si.
    Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar.
    Logo após, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher.
    Imediatamente ela esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço.
    O sol disse, então, ao vento:
    - Lembre-se disso:
    A gentileza , a humildade e a amizade abrem até portas de castelos e, se bobear, entram até na caverna do Ali Babá e, claro,são sempre mais fortes e de melhores resultados que a fúria, a raiva, e a mágoa.
    Quanto à alma ter escamas, sem dúvidas.A frase divertida e lapidar da Frida Kahlo (se não me engano...) ou seria da Billie Holliday? corrobora: bebo para afogar as mágoas...Mas as danadas aprenderam a nadar.
    A fragilidade, a impermanência, o imponderável, o mistério, o sagrado e até mesmo a absurdidade da existência, fizeram Clarice refletir;"o que nos espera é exatemente o inesperado", ou, G. Rosa:
    "O correr da vida embrulha tudo.
    A vida é assim: esquenta e esfria,
    aperta e daí afrouxa,
    sossega e depois desinquieta.
    O que ela quer da gente é coragem".Mas isto não é impedimento para, haja o que houver, "viver e não ter a vergonha de ser feliz e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz". Beijão procê.

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