Minha amiga Simone encheu-se de orgulho ao dizer estas palavras, imaginando que eu fosse quase bater palmas diante de tanta obstinação. Lamentavelmente, pra ela, fiquei em silêncio. Na verdade, fiquei impressionada com os dez anos que eles jogaram fora, em nome de comprar um apartamento que, logo depois de pago, foi onde o marido dela adoeceu e acabou morrendo.
E eles não tiveram mais como jantar fora, viajar ou mesmo comprar uma calcinha nova. História triste.
Por estas e outras, tomo muito cuidado com os planos. Os de curto prazo são os ideais, estão logo ali adiante. E gosto daqueles que a gente bola pra médio prazo, também, porque estão à vista: é quase como se pudéssemos tocá-los, no caso de estender a mão. Possíveis.
Já os planos pra longo prazo, no meu entender, podem ser perigosos: estão distantes demais, e se o nosso senso de realidade falha, acabamos botando no mesmo saco os planos possíveis e os sonhos impossíveis... é que a longo prazo, vale quase tudo. Ou então, fazer como a Simone e o marido, e viver exclusivamente para realizar a "tarefa", alcançar a meta. E esquecer do resto.
É bom fazer planos, eles são uma bússola que aponta o caminho; são também um elixir da persistência, quando a vontade é jogar tudo pro alto. Mas eles não podem ser uma venda nos olhos da gente, cegando-nos diante da paisagem do caminho... não podem fazer de nós miseráveis afetivos ou financeiros, personagens de uma história pobre com final incerto, como se só tivéssemos uma função: chegar “lá”... e todo o resto, portanto, perdesse a importância, pudesse ser deixado para depois.
E se não houver “depois”?
Os prazeres e alegrias são, fique sabendo, verdadeiras dádivas que você recebe: aceite-as. Com responsabilidade e pé no chão, é perfeitamente possível comprar o apartamento e jantar com seu amor numa viagenzinha a dois. (E com uma calcinha nova na mala). È possível, também, passar no vestibular ou no concurso público sem abdicar de uma manhã de sol na praia, de um cinema pra refrescar as idéias, de um domingo em família pra aquecer o coração.
Tudo na vida pode ser um plano a curto, médio ou longo prazo. Menos sentir alegria.
É, Fernanda, como cantou Raul Seixas, "quem não tem presente, se contenta com o futuro".
ResponderExcluirFernanda,vc sabe que para a grande maioria das pessoas,existem dois sonhos: Primeiro uma casa,depois um carro,e pra gente realizar esses sonhos,temos que abrir mão de alguns supérfluos,como salão de beleza academia e etc. Acredite,apesar de saber da importancia de uma academia na vida de qq pessoa,eu passei mais de dois anos,sem frequentar academias,para puder ter o meu carrinho. E cada sonho que realizamos,o nosso "ego" agradece! Bjs.
ResponderExcluirMonica.
A vida é um zig zag. Tratando-se de valores materiais, por vezes quem nada fez alcança o que não merece e quem merece, perde tudo. Outros valores não correm esse risco e uma vez alcançados dependem mais de uma morada do que exatamente daquele apartamento. Na morada que falo, tem que ter um fogão de lenha, café no bule, salsa e cebolinha plantadas na bacia velha e coisas pra consertar que ficam esperando enquanto o tempo, o tempo que é curto, precisa ser saboreado ao máximo - como está sendo agora, madrugada, ouvindo o tema de "Girassóis da Rússia" e escrevendo e, pensando. Gosto é disto.
ResponderExcluirImpossível discordar desta reflexão pra lá de exata, queriDannemann. Também sob este aspecto, da alegria já, aqui e agora, pois tudo envelhece rápido demais...(o ano já esta acabando, ou seja, TEMPUS FUGIT, CARPE DIEM é a questão central), jogamos no mesmo time.Sabemos, alguns de nós, que a vida é , e os clássicos comprovam: um mistério impenetrável e encantador, com suas luzes e sombras e etecéteras, além da complexidade da biodiversidade humana que não impede, contudo, algumas regras utilitaristas e facilitadoras da felicidade, para o possível convívio ecumênico na nossa casa comum, a nave mãe.
ResponderExcluirComece libertando seu coração do ódio, depois... das preocupações,(ocupe-se do bom, do bem e do belo), em seguida simplifique sua vida, também não se esqueça de dar mais (e esperar menos) e, finalmente, ame mais (não fique se nivelando por baixo ou competindo, ainda que inconscientemente, para ver quem é o pior...) e, como tudo é cíclico e ranovável, aceite tudo o que nao está ao seu alcance melhorar ou modificar (o que não significa gostar ou concordar ou querer), inclusive a terra que lhe jogam, pois ela pode servir, posteriormente, de adubo para soluções imprevistas...às vezes perdemos algo para ganhar mais ou melhor, ainda que em outra dimensão e a sabedoria popular sabe: o que não mata, fortalece, neste eterno "perdeganhaerracerta" existencial.
Acredito que sua amiga levou a sério demais, ou não soube contextualizá-la?, esta frase do Ghandi: "a alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita", e, lamentavelmente, passou dez anos de miséria financeira e até afetiva, por tamanha limitação. Considero vitória vazia ou luta inglória, tudo o que se conquista_ havendo alternativas mais sensatas_ com sangue, suor , lágrimas e excesso de sacrifícios (basta o sofrimento de Cristo, ninguém precisa repeti-lo).Não vejo mérito em perder até a saúde para o desespero de “vencer” ou chegar “lá”, ao custo de renúncia, forçação de barra, de insônia,de enxaqueca, de aditivos e “tutti quanti”.Não forçar em nada a natureza, nos permite estabelecer metas mais modestas , realistas,e, consequentemente mais satisfatórias e exeqüíveis, além de maduras emocionalmente. Até mesmo entre ter razão e ser feliz, fico com a segunda e lúcida opção.O que falta, parece mesmo, é o entendimento profundo de que não viveremos para sempre, e que nossa frágil existência, está presa somente por um fio ao claricelispectoriano “instante-já , que de tão fugitivo não é mais, pois tornou-se um novo instante(...)e o próximo instante é desconhecido”. Camus bem entendeu a precariedade da condição neste “deserto” humano, posto que nascemos e morreremos sós, sem nada trazermos ou levarmos e de sermos sozinhos em nossas carapaças limitadas, quando afirmou:”O corpo ignora a esperança.Ele só conhece o pulsar do próprio sangue, mais nada.A eternidade lhe é indiferente”.Não fossem as religiões e suas equivocadas leituras sobre o prazer, a alegria, a festa, e a fruição, seríamos muito mais Homo Ludens, posto que nossa aptidão para o êxtase e para a embriaguez dos sentidos é notória, sendo nosso aparelho psíquico norteado, naturalmente, para esta direção (a criança livre é a prova concreta disto: quer brincar, quer prazer). Justamente por isto o prazer é divino e responsável pela nossa encarnação, a princípío orgasmática e luminosa...não podendo, jamais
ser obra do "Coiso" rsrs...Como o ontem é passado irrecuperável e o amanhã um futuro incertíssimo...só nos resta viver a eternidade somente do agora, com a alegria possível e apesar de. Não existe energia mais poderosa, essencial e lúdica do que a SANTA ALEGRIA GENUÍNA, responsável-mor pela renovação do nosso encantamento cotidiano e pelo fortalelcimento do caso amoroso que (se)temos com a vida.
Santé e axé, com abraço afetuoso do Marcos Lúcio
Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirConcordo com você, pois já fiz planos à longo prazo, que acabaram não se concretizando e desde esse período, aprendí a não contar tanto com planos de longo prazo, valorizando mais os de médio e curto prazos e consequentemente, os momentos futuros mais próximos do presente. No entanto, entendo e respeito as pessoas que fazem planos de longo prazo, bem como os sacrifícios para concretiza-los, pois penso que isso é uma questão íntima de cada um.
Felicidades e boas energias.
Jorge, adorei seu comentário... mas acabei perdendo-o na hora de aprovar! Manda de novo? Abraços!
ResponderExcluirFelicidade urgente!!!, sim, Fernanda, e farei minhas as palavras do brilhante filósofo Renato Janine: "ser feliz é, sem dúvida, uma arte:lutar pelo seu desejo e saber do que abrir mão no mesmo desejo. Sintonia fina". Mais uma prova definitiva de que nunca pode ser tudo, completo... ou de que qualquer escolha tem seu contraponto ou de que há sempre os dois lados da questão. Parabéns por mais este texto excelente e real, que ´so poderia, mesmo, ter sido digitado pela melhor blgueira que conheço.
ResponderExcluirAbraço e afeto do Danilo.
Fiz exatemente como o querido Marcos Lúcido "mandou" e ouvi primeiro o excepcional Charles Aznavour nesta música absolutamente maravilhosa e emocionante que você escolheu. É que Paris, embora eu não seja a talentosa M. Bethânia, que considera a cidade do seu delírio, também, tornou-se uma paixão eterna, desde a primeira visita.Estou mais para C.Lispector, quando disse;"Paris é imediatamente Paris" e, no meu caso, direto na veia. Só depoiss li, apaixonadamente, seu ótimo texto, como sempre e concordo: alegria é plano a curtíssimo prazo. Também concordei e adoooooorei tudo que o M.L.digitou, sempre com perspicácia e "savoir vivre".Obrigada pelos bons momentos.
ResponderExcluirBeijocasssssss da Juliana
Depois da leitura deste reflexivo post, realmente para agradar, agregar e até se guardar...além do comentário sempre Lúcido, do meu querido padrinho, que pratica o que diz e sempre que possível,não resisti à tentação de ireproduzir, justamente por isto, esta frase definitiva do idem Gandhi, na minha humilde avaliação: " A FELICIDADE É QUANDO O QUE VOCÊ PENSA, O QUE VOCÊ DIZ E O QUE VOCÊ FAZ, ESTÃO EM HARMONIA" .
ResponderExcluirBeijinhosssssssss da Verônica