quarta-feira, 4 de julho de 2012

Reprodução assistida, adoção e preconceito

Leio no jornal sobre o número incrível de crianças nascidas via reprodução assistida: cinco milhões! Quanto dinheiro gasto, quanta dor física e emocional vivida em função do desejo de ter um filho... mas não é só isso: de ter um filho que venha com o nariz da mãe ou com os olhos do pai; que consiga sorrir meio de lado, daquele jeito que só a família Xis sabe fazer... Ou que seja bom-caráter assim como todas as gerações da família Y...

“Adotar é muito perigoso. A gente não sabe de onde a criança vem, como é que são os pais dela”, me disse uma vez uma amiga, a quem perguntei:
--  E quem é que garante que o seu ou o meu filho vai ser gente boa?
Alguém realmente acredita que pais honestos e generosos geram somente bebês honestos e generosos? E ela insistiu:
-- Aaahh, mas os pais podem ser viciados em alguma droga, e aí a criança vem com problemas... ou pode herdar alguma doença...
E nós lá somos descendentes do povo de Cripton, por algum acaso? E temos uma super genética, livre de qualquer defeito?
Desconfio que a verdadeira resposta para estas questões seja a fantasia de que, se o defeito vier de um filho consanguíneo, fica mais fácil engolir a decepção. Todo mundo quer um filho perfeito (e de preferência louro e de olhos azuis, se for adotado). Se  vier com defeito de fabricação, mas for do mesmo sangue, é aceitável e o amor perdoa. Mas já pensou se não for? Ô arrependimento! 
Uma segunda amiga falou a repeito de uma terceira:
-- Fulana finalmente vai aprender a ser menos egoísta, agora que está grávida.
E desde quando maternidade ensina alguém a ser melhor pessoa? Quantos egocêntricos por aí creem que seus filhotes são mais valiosos que os alheios, e lhes dispensam tudo o que de melhor está ao seu alcance, motivados, lá no fundo, pela enorme vaidade disfarçada de amor!
São pais que, ao olhar os filhos, veem o reflexo de si mesmos, como um espelho, e não medem forças no velho discurso de “dar o que não tiveram" na tentativa de compensar suas próprias frustrações.
Ter um filho é muito mais que passar pela gestação, sofrer a dor do parto ou torcer na sala de espera para que o nascimento seja um sucesso. Muito mais também que ver seu rosto no rosto do bebê... sim, isso pode ser muito legal, mas está longe de ser o grande barato neste relacionamento. O desejo de encontrar seus genes ali naquela criança tem origem onde? Na mesma vaidade de sempre.
É triste, mas a grande maioria das pessoas torna-se pai ou mãe sem jamais ter se perguntado se tem realmente desejo, talento ou condições emocionais ou financeiras para isso:  e embarca nesta aventura sem pensar. O resultado são pais despreparados, muitas vezes até sem amor para doar aos filhos, sem paciência, sem amizade, sem tempo, sem vontade... e filhos que sofrem pela inconsequência de quem os colocou no mundo. 
Por outro lado, aqueles que realmente nasceram para amar uma criança, talvez pudessem ser pais ou mães daquelas que já estão no mundo, e num mundo de pobreza absoluta, de carências das mais básicas, de fome de tudo. Elas não terão o mesmo sorriso da família, os mesmos olhos do pai, o mesmo nariz da mãe. Mas bate dentro delas um coraçãozinho absolutamente cheio de amor para dar a quem precisa.

10 comentários:

  1. Fernanda,

    Assunto polemico .....complicado opinar, cada um tem os seus desejos, enfim ser mae e um deles, interessante que para mim esse desejo nunca foi muito forte .....

    Independente de ser reproducao assistida, concepcao natural ou adocao.

    Eu preferi a concepcao natural, nao foi possivel, nao tivemos filhos, simplesmente aceitei. Sempre achei que tudo na vida tem que vir naturalmente.(atencao - tambem nao e para ficar sentada esperando as coisas acontecerem .....)

    Lembro da minha mae me dizer:

    Voce so vai dar valor a sua mae, quando voce o for, Gracas a Deus dei valor sem o ser.

    O amor de mae para um filho e incondicional e assim o foi.

    A dor do parto e uma dor incrivel, mas quando o medico colocava o bebe no colo, a dor desaparece como um encanto ......

    Quando voce encontrar a pessoa certa, voce ira reconhecer, nao so o reconheci, como ela tambem, assim que o viu chorou dizendo: ele vai levar voce de mim ......

    Sendo assim agradeco todos os dias os pais que tive.

    Beijos

    Gilda Bose

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  2. Têm muitos assuntos dos quais não entendo nada, mas desse, assunto de adoção, também não entendo nada e o motivo, apesar de que uma das minhas filhas é adotada, é assunto esquecido para nós tendo em vista nossa parceria única, de um amor único, impossível de ser mais porque anda ligado no 'volume máximo'. Hoje em dia tenho certeza de que a adoção escolhe quem adota e isto não quer dizer que a adoção vai dar certo. O certo é a direção, estranha para muitos, dos rumos decididos na espiritualidade. Somos todos aqui, sobre isto, um caso de amor recíproco.

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  3. É isso aí, Fernanda, tudo depende da criação e do amor que se dá à criança. Acredito plenamente que todo mundo nasce bom, independente de genética.

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  4. Tenho poucos grandes amigos: quatro para ser exato.
    Um deles, depois de andar pela politica no RJ (e se desiludir...) hoje eh conselheiro de um tribunal de contas em outro estado onde vive com a esposa e uma filha maravilhosa de, creio, 10 anos.
    Foi dificil para eles essa filha mas um belo dia, a esposa engravidou e o resultado eh essa menina maravilhosa.
    Faz menos de dois anos, eles decidiram por outro filho e... Entraram na lista para a adocao e com um detalhe: nao importa o sexo ou a raca. Sera um filho/a deles! Foram aprovados e estao na "fase final" ou seja, breve a casa do meu amigo abrigara uma nova vida. Muito bonito.
    Fiquei orgulhoso ao saber da decisao deles. Fiquei mais orgulhoso ainda de ter como amigo uma pessoa que pensa e age dessa maneira.

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  5. E embora vivam convosco, não vos pertencem.

    Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
    Porque eles têm seus próprios pensamentos.
    Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,
    Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
    Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
    Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós... "

    É um pensamento de Khalil Gibran, que você bem conhece, né queriDannemann?

    Impressionante a sua capacidade, melhor ainda, o destemor em colocar os pingos nos is e nos jotas. Com esta mania neoliberal de relativizar tudo, quase ninguém expõe, com clareza, seus pontos de vista e, menos ainda, seus conceitos. Irretocável. Parabéns!.

    Considero um despropósito estes tratamentos . O importante é não forçar em nada a natureza, com seus propósitos insondáveis. Já está sobrando, em demasia, gente desprovida. A adoção seria muito mais sensato.

    Pior do que isto, só mesmo a reprodução
    irresponsável, sem preparo ou por vaidade. A quantidade absurda de gente infeliz, resultante desta insânia, é só um dos inúmeros reflexos.

    A estupidez ou perversidade das religiões que são contrárias a métodos contraceptivos: camisinha, nem pensar, gera mais reprodução irrespónsável e mais pobreza, e pior: doenças sexualmente transmissíveis.

    Logicamente que sexo, com responsabilidade, limites e assumindo financeiramente suas consequências, deve ser praticado... é saudável e prazeroso.

    Lamentável, mas o que mais cresce é o número de pessoas sem as condições dignas e/ou financeiras de vida. Resta a elas frequentarem escolas de péssima qualidade com professores de aviltantes salários e mal formados (coitados, aprenderam errado, é crônico), hospitais aos "pandarecos", etc.

    É impossível erradicar a miséria com todo este incentivo e permissividade, que muito ou completamente contribui para a proliferação dos pobres. Acontece através da tv "GROBOBO", e outras_ em que pese a minha ojeriza por telê, e total falta de tempo para ela_, e das "músicas?!" horrorosas de axé, funk, pagode e quejandos, que só apelam para sexo, bobagens e molecagens (claro, onde falta poesia , inspiração e talento...sobra porcaria).

    Os pobres são , ignorantemente, os reais fornecedores da mão de obra barata, quase escrava para o capitalismo predador/explorador. O pior é que este mesmo neoliberalismo de rapina, substitui homens por máquinas e os excedentes que se danem.


    Ricos só têm no máximo 2 filhos...quando os possuem. Também por isto preservam e aumentam seu capital e o filho fica como herdeiro. O pobre reproduz a pobreza em progressão geométrica e os filhos só vão ficar com o "merdeiro", com todo o respeito e consideração a este contingente explorado e discriminado socialmente.

    Quem vai fechar esta torneira??? com um urgente e completo controle de natalidade. Não adianta só tentar enxugar a água.

    Tenho consciência de que não sou pobre ou miserável por mero acaso_e ninguém escolheria sê-lo. Possuo uma indignação crônica quanto à esta situação indesejável e injusta pra qualquer mortal.
    Beijão
    Marcos Lúcio

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  6. Desculpe...mas ao cortar parte do texto do brilhante escritor, a respeito de filhos, percebi que, além de injusto, ficou capenga. O correto é:

    "Vossos filhos não são vossos filhos.
    São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
    Vêm através de vós, mas não de vós.
    E embora vivam convosco, não vos pertencem.
    Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
    Porque eles têm seus próprios pensamentos.
    Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
    Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
    Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
    Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
    Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
    Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
    O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
    Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
    Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
    Pois assim como ele ama a flecha que voa,
    Ama também o arco que permanece estável.
    ( Gibran Khalil Gibran )
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  7. Fernanda,

    Lindo o pensamento de Khalil Gibran, citato pelo estimado presidente Marcos Lucio.

    Beijos

    Gilda Bose

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  8. O problema nem é tanto a reprodução assistida, que tem acontecido principalmente nos EUA, Japão e países ricos da Europa, mas a falta da responsabilidade que é colocar mais uma pessoa neste mundo, principalmente nos países podres, porque muitas dessas pessoas jamais se perguntaram a que elas próprias vieram ao mundo. Para isso só tem uma solução: educação para que a pessoa possa ao menos refletir sobre si própria e sobre as conseqüências de suas escolhas.
    Escolher ter ou não ter filhos é uma abstração, o futuro é uma abstração, e quanto menor ou mais superficial a educação menor a capacidade de abstrair, este sim talvez seja o "xis" do problema: usar o bom senso.
    Dou graças a Deus de ter tido apenas dois filhos e não há receita mágica: a cada fase são novos desafios e novas recompensas e sempre uma fonte de questionamentos: eu era assim? estou sendo um bom pai?

    No meu caso foi a melhor coisa que "fiz" na vida e que dão mais sentido a ela.

    André - Rio

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  9. Somente compartilhando com a minha blogueira predileta, pois neste seu texto _"superbe!" e na justa medida_ não há o que acrescentar nem excluir, repasso outro que considero pertinente.

    Antes, porém, recordo, que a amor dos pais é incondicional quase sempre, exceto quando percebem que seus filhos não são heteronormativos. Para o prestigiado terapeuta Flávio Gikovate, em seu livro seminal, HOMEM: O SEXO FRÁGIL?, com a melhor abordagem psicológica do homem por inteiro, de que tenho notícia, ele, com extremo realismo, afirma: "dentre outros pânicos, o maior, por exemplo, é o pavor que temos de que nosso filho evolua na direção homossexual... disto, ainda estamos longe de nos livrar". E ele bate nesta tecla várias vezes, com toda razão. Uma equação insolúvel para o filho que sofre, injustaamente, por não corresponder à esta (falsa) expectativa paterna e sem a menor possibilidade de rabiscar o que Deus riscou. Não há milagre que transforme o imperativo biológico da heteroafetividade em homoafetividade e vice-versa. A gente é para o que nasce.

    Afetuosamente,

    Danilo

    Filhos são como navios…

    Ao olhar um navio no porto, imaginamos que ele esteja em seu lugar mais seguro, protegido por uma forte âncora.

    Mal sabemos que ali está em preparação, abastecimento e provisão para se lançar ao mar, ao destino para o qual foi criado, indo ao encontro das próprias aventuras e riscos.

    Dependendo do que a natureza lhes reserva, poderá ter que desviar da rota, traçar outros caminhos ou procurar outros portos.

    Certamente retornará fortalecido pelo aprendizado adquirido, mais enriquecido pelas diferentes culturas percorridas. E haverá muita gente no porto feliz à sua espera.

    Assim são os FILHOS. Estes tem nos PAIS o seu porto seguro até que se tornem independentes.

    Por mais segurança, sentimentos de preservação e manutenção que possam sentir junto aos seus pais, eles nasceram para singrar os mares da vida, correr seus próprios riscos e viver suas próprias aventuras.

    Certo que levarão consigo os exemplos dos pais, o que eles aprenderam e os conhecimentos da escola, mas a principal provisão, além das materiais, estará no interior de cada um:

    Sabemos, no entanto, que não existe felicidade pronta, algo que se guarda num esconderijo para ser doada, transmitida a alguém.

    O lugar mais seguro que o navio pode estar é o porto. Mas ele não foi feito para permanecer ali.

    Os pais também pensam que sejam o porto seguro dos filhos, mas não podem se esquecer do dever de prepará-los para navegar mar a dentro e encontrar o seu próprio lugar, onde se sintam seguros, certos de que deverão ser, em outro tempo, este porto para outros seres.

    Ninguém pode traçar o destino dos filhos, mas deve estar consciente de que na bagagem devem levar VALORES herdados como:

    HUMILDADE, HUMANIDADE, HONESTIDADE, DISCIPLINA, GRATIDÃO E GENEROSIDADE.

    Filhos nascem dos pais, mas devem se tornar CIDADÃOS DO MUNDO. Os pais podem querer o sorriso dos filhos, mas não podem sorrir por eles. Podem desejar e contribuir para a felicidade dos filhos, mas não podem ser felizes por eles.

    A FELICIDADE CONSISTE EM TER UM IDEAL PRA BUSCAR E TER A CERTEZA DE ESTAR DANDO PASSOS FIRMES NO CAMINHO DA BUSCA.

    Os pais não devem seguir os passos dos filhos e nem devem estes descansar nos que os pais conquistaram. Devem os filhos seguir de onde os pais chegaram, de seu porto, e, como navios, partirem para as próprias conquistas e aventuras.

    Mas, para isso, precisam ser preparados e amados, na certeza de que:

    QUEM AMA EDUCA!
    “COMO É DIFÍCIL SOLTAR AS AMARRAS!
    Autor: Içami Tiba

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  10. Uma das minhas irmãs,foi mãe de uma menina,e queria muito ter um menino,mas o médico a desaconselhou outra gestação.Aí ela resolveu,adotar um menino,hoje esta criança está com 14 anos,e acredite,ele é um amor de criança!
    Eu acho Fernanda,que o segredo está em nunca esconder daquele filho,que ele é adotado... Bjs.

    Monica.

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