Caminhei pelas ruazinhas falando assim com meu co-piloto:
(Entra agora o sotaque lusitano).
-- Aaaaai que vontade de conhecer Portugaaaal, ô gajo! Quero passear por Lisboa, pelo Porto, por Algaaaaarve, ô pá!!!!!!!
Voltemos a Minas.
A beleza estonteante da viagem começa já na estrada secundária que liga Tirandentes ao destino final. É perigosa, vou logo avisando: nunca vi uma estradinha tão cheia de cruzes ao longo de suas curvas. Mas nos reserva imagens maravilhosas:
É uma delícia dirigir por aqueles caminhos! Eu me fiz de desentendida e fui a 60 por hora, nem aí para os motoristas estressadinhos que me pressionavam com seus faróis de milha, sobretudo os 4X4 que eu, sinceramente, não sei como se viram pelas ruelas ouropretenses, que vão aos poucos se afunilando até virarem bequinhos, e que muitas vezes revelam-se mesmo becos sem saída!
-- Fecha o vidro que lá vem fumaaaaaça!
Ouro Preto é uma cidade mesmo "do mundo", porque o mundo inteiro está lá: chinês, japonês, europeu, americano, brasileiro... e ali também temos que pagar para entrar nas igrejas, que reinam absolutas na montanha ou se misturam, inesperadamente, ao casario. Olha esta, que beleza!
Mas a cobrança de ingressos realmente torna o passeio muitas vezes impossível... de 5 a 8 reais por pessoa para cada igreja... não dá! Sabe lá quantas igrejas há para se ver em Ouro Preto?! Eu, que já falei que não pago para entrar na casa de Deus, só entrei naquelas em que tive a sorte de chegar na hora da missa. Como me avisou o bilheteiro de uma delas:
E eu não aguentei:
-- Pudera... Jesus desceria em pessoa para dar um chilique igualzinho àquele que Ele deu lá no templo de Jerusalém, transformado em shopping center.
As lojas de pedras vendem bijouterias lindas a preços para todos os bolsos, os restaurantes e pousadas também estão ali para todo tipo de cliente, mas as ladeiras... estas são apenas para quem tem joelhos bons ou sabe dominar muito perfeitamente um carro. Todo cuidado é pouco na hora de desbravar a cidade.
Ouro Preto tem outra coisa especial: o clima de alegria e esperança, tão típico da juventude estudantil. Ali estão estudantes chegados de todo o Brasil e até do exterior, que à noite enchem as ruas e os barezinhos, enfeitando tudo com seu alto astral. Muita música, muito bate-papo, muita alegria e clima de romance no ar. E a cidade dorme tarde em meio a tudo isso, para acordar de um sono feliz às seis da manhã, quando os sinos das sei lá quantas igrejas centenárias começam a badalar: que bom! Nasceu o dia! É hora de passear!
Fernanda,
ResponderExcluirLinda reportagem e suas fotos ....
Tive a oportunidade de conhecer Ouro Preto quando era jovem, mas deixei passar ..... e ate hoje nao conheco ....
Conclusao: aprendi que, se eu tenho oportunidade de fazer algo ou conhecer, eu nao deixo mais passar ........ a hora e agora, o amanha so a Deus pertence.
Felicidades,
Beijos
Gilda Bose
Essa de cobrar ingresso em igreja é de doer. Nem na casa de Deus se pode entrar mais...
ResponderExcluirOuro Preto, de fato, é uma bela cidade. Lá, não vou, há pelo menos, vinte anos. Frequentei-a, muito, à época de universitário, não perdendo os festivais de inverno.
ResponderExcluirMeu pai, morto em 2001, era mineiro de Mariana, outra linda cidade, na qual, tenho três irmãs de seu(dele) primeiro casamento, a mais velha delas, com idade prá ser minha mãe, também morta em abril próximo passado.
Voltando à Ouro Preto, Nas férias de meio de ano, eu ia prá Brasília, onde meu pai radicou-se em 1959, antes da inauguração, portanto, lá permacendo até sua morte. DE brasília, íamos de carro guiado pelo motorista do velho, para Marianae logo, o motorista levava-me para Ouro Preto, onde curtia as maravilhosas e plurais atrações do festival. Não posso afirmar, mas na época, creio que não eram cobrados ingressos para visitar igrejas. Mesmo sendo agnóstico, sempre encantei-me com as igrejas De Mariana, Ouro Preto, Salvador, Brasilia, e algumas de nosso Rio de Janeiro, claro, mesmo não entrando em uma, há mais de vinte anos.Curtir Ouro Preto, hoje, seria difícil, pois sequela de acidente automobilístico, permitem-me, fletir, apena, 13 graus no joelho esquerdo, e só subiria as ladeiras da cidade por milagre, que julgo já ter recebido, quando sobrevivi ao citado acidente, após 23 dias em coma, dele saindo, sem qualquer sequela neurológica, a despeito de ter sofrido TCE.
Pretendo voltar a Mariana, quando uma de minhas irmãs vier visitar-me, o que fazem , frequentemente, sempre tentando levar-me prá lá. Estando em Mariana, certamente, darei um giro de carro por Ouro Preto.
Abraço,
Antonio Carlos
De Minas Gerais,eu só conheço BH e Montes Claros.
ResponderExcluirSempre tive vontade de conhecer Ouro Preto,justamente para visitar as igrejas,mas com essa moda de pagar ingresso,eu desisto.
Monica.
QueriDannemann...fiquei muito feliz e emocionado com este belo post. Motivos óbvios não faltam, inclusive porque esta linda cidade é digna e chique, com simplicidade. Daí lembrei-me desta preciosidade do Fernando Sabino, e tomei a respeitosa liberdade de mutilar... para caber.
ResponderExcluirUm beijo e um queijo do Marcos Lúcio.
Minas Enigma
Se sou mineiro? Bem, é conforme, dona. (Sei lá por que ela está perguntando?) Sou de Belzonte, uai.
Tudo é conforme. Basta nascer em Minas para ser mineiro? Que diabo é ser mineiro, afinal? (...) em suma: ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão em cumbuca. Não dar passo maior que as pernas. Não amarrar cachorro com lingüiça.
Porque mineiro não prega prego sem estopa. Mineiro não dá ponto sem nó. Mineiro não perde trem.
Mas compra bonde.
Compra. E vende pra paulista.
Evém mineiro. Ele não olha: espia. Não presta atenção: vigia só. Não conversa: confabula. Não combina: conspira. Não se vinga: espera. Faz parte do decálogo, que alguém já elaborou. E não enlouquece: piora. Ou declara, conforme manda a delicadeza. No mais, é confiar desconfiando. Dois é bom, três é comício. Devagar que eu tenho pressa.
Apólogo mineiro: o boi velho e o boi jovem, no alto do morro — lá embaixo uma porção de vacas pastando. O boizinho, incontido:
— Vamos descer correndo, correndo e pegar umas dez?
E o boizão, tranqüilamente:
— Não: vamos descer devagar, e pegar todas.
Mais vale um pássaro na mão. A Academia Mineira, há tempos, pagava um jeton ridículo: duzentos cruzeiros — antigos, é lógico. Um dos imortais, indignado, discursava o seu protesto:
— Precisamos dar um jeito nisso! Duzentos cruzeiros é uma vergonha! Ou quinhentos cruzeiros, ou nada!
Ao que um colega prudentemente aparteou:
— Pera lá: ou quinhentos cruzeiros, ou duzentos mesmo.
(...)
Um Estado de nariz imenso, um estado de espírito: um jeito de ser. Manhoso, ladino, cauteloso, desconfiado — prudência e capitalização.
O guarda-chuva da proteção financeira, não como lema do Banco do Magalhães mais o Zé Luís, e sim como regra de conduta:
— Meu filho, ouça bem o seu pai: se sair à rua, leve o guarda-chuva, mas não leve dinheiro. Se levar, não entre em lugar nenhum. Se entrar, não faça despesas. Se fizer, não puxe a carteira. Se puxar, não pague. Se pagar, pague somente a sua.
Mas todos os princípios se desmoronam diante de um lombo de porco com rodelas de limão, tutu de feijão com torresmos, lingüiça frita com farofa. De sobremesa, goiabada cascão com queijo palmira. Depois, cafezinho requentado com requeijão. Aceita um pão de queijo? biscoito polvilho? brevidade? ou quem sabe uma broinha de fubá? Não, dona, obrigado. As quitandas me apertencem, mas prefiro bolinho de januária, e pronto: estou sastifeito...
É a hora e a vez de Guimarães Rosa sorrir e dizer pra cumpadre meu Quelemén: perigoso nada, mira e veja, nas Gerais, essas coisas...
Falar de Minas, trem danado, sô. É falar no mundo misterioso de Lúcio Cardoso, Cornélio Pena ou Rosário Fusco, no mundo irônico, esquivo ou pitoresco de Cyro dos Anjos, Oswaldo Alves, Mário Palmério, seus romancistas. E num mundo de gente, seus personagens, que vão de Antônio Carlos a Milton Campos, de Bernardes a Juscelino — vasto mundo! ah, se eu me chamasse Raimundo. Dentro de mim uma corrente de nomes e evocações antigas, fluindo como o Rio das Velhas no seu leito de pedras, entre cidades imemoriais. Leopoldina, doce de manga, terra de meus pais... Prefiro estancá-las no tempo, a exaurir-me em impressões arrancadas aos pedaços, e que aos poucos descobririam o que resta de precioso em mim — o mistério da minha terra, desafiando-me como a esfinge com o seu enigma: decifra-me , ou devoro-te.
Prefiro ser devorado.
A minha esperiencia mineira resume-se a alguns (bons) torresmos e algumas (boas) "branquinhas marvadas" que tive o prazer de compartilhar com o meu cunhado, na cidade onde ele nasceu: Campanha (Campanha da Princesa).
ResponderExcluirUma cidade bonita, cheia de historia. Boas lembrancas, so!