sexta-feira, 10 de agosto de 2012

República Federativa das Minas Gerais


"Belzonte" pode ser a capital do estado... mas Ouro Preto é a capital das republiquetas estudantis mineiras... cujos nomes de batismo, por si só,  dão uma boa ideia a respeito do  clima dentro de casa... e dos moradores também.

Lá, tem república para todas as tribos, correntes políticas ou filosóficas e preferências pessoais.

Aqui, por exemplo, o povo gosta de tomar umas e outras...


Aqui menino não entra! (Será messsss?)


E por aí vai...


Muitas delas colocam um aviso pregado na porta, avisando que há vagas; mas isso é o retrato dos tempos: conversando um com ex-estudante, chegado do nordeste para o curso de Letras, e que nunca mais conseguiu sair de Minas, fiquei sabendo que nopassado as vagas eram disputadas a tapa.

O candidato, chamado de “bicho”, tinha que passar todo o primeiro período sendo achincalhado pelos colegas de moradia, e só seria definitivamente aceito se, ao final deste período, tivesse suportado as mais cruéis ou ridículas situações. Você aguentaria usar uma tampa de vaso sanitário pendurada no pescoço durante seis meses? Aguentaria ter que percorrer todas as repúblicas da cidadela para saber onde é que a sua mala estaria escondida? Suportaria passar por serviçal do “presidente” da dita república e ter que atender todas as solicitações feitas por ele? Ou ter que tomar um tremendo porre para depois bancar a Gisele Bundchen numa passarela em praça pública, enquanto todos se divertiriam à custa da sua bebedeira?

Não foram poucos os “bichos”  que desistiram da vaga e foram embora aos prantos, traumatizados. Minha fonte mesmo foi um deles, inclusive porque, segundo conta,  as repúblicas puxavam a sardinha para os estudantes de engenharia, em detrimento de todos os que fossem de Humanas. Meu co-piloto matou a charada na hora:

-- É que a turma da engenharia topa estas paradas todas... e ainda dá risada.

Como nem todos os estudantes do mundo são chegados a geometria, a era hard parece estar chegando ao fim: como conta meu “entrevistado”,  os estudantes mais abastados passaram a rejeitar a prova de fogo dos trotes e começaram a alugar apartamentos na cidade,  o que refletiu diretamente na economia das republiquetas. Agora a coisa está mais leve, parece, e a turma de Humanas finalmente vem conquistando seu lugar ao sol.

Espero que os novos tempos não acabem com esta parte tão tradicional quanto pitoresca de Ouro Preto, cujo charme definitivamente não se limita ao circuito das igrejas. Andar pela cidade e descobrir uma nova república a cada esquina é uma aventura que fica melhor ainda quando a gente olha para elas com os olhos do estudante que fomos... em busca daquela em que gostaríamos de viver.

3 comentários:

  1. Eu não conhecia esta tradição de Ouro Preto. Gostei!

    Duilio

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  2. Nossa, agora voce me remeteu ao tempo em que estudava no Colégio Sacre Coeur de Marie em Belo Horizonte. Colégio super tradicional, só para meninas. A nossa maior alegria eram as excursões que fazíamos, principalmente para Ouro Preto. Cidade das repúblicas e de alunos de engenharia, que achávamos lindos de morrer. Sempre acompanhadas pelas freiras rígidas do Colégio, flertávamos furtivamente e voltávamos para casa em estado de graça, só por termos "paquerado um pão".
    Ótimas lembranças de um tempo que não volta mais.
    Pena que essas emoções não puderam ser vividas por essa geração.
    um abraço,
    Mercedes

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    Respostas
    1. Cara Mercedes, eu tambem sempre tive uma queda especial pelos estudantes de engenharia... e casei com um, que alias tamb[em eh um "páo"de homem! Abraços!

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