terça-feira, 1 de outubro de 2013

Bibi Ferreira, Edith Piaf e eu




Eu era adolescente quando a atriz Bibi Ferreira estava em cartaz, no Rio, com o musical sobre a cantora francesa Edith Piaf, de quem aprendi a gostar na infância, quando "La vie en rose" tocava lá em casa junto com outras, como "A quoi a ça  sert l'amour" e "Sur le ciel de Paris" .

À época do show, fiz aquilo que os muito jovens fazem: deixei pra outro dia... e tanto adiei que a temporada acabou. Depois de todo este tempo de arrependimento e frustração, tive nova chance, pois eis que Bibi, aos 91 anos, resolveu cantar Piaf novamente.

Valeu a pena esperar; fiquei emocionada ao ver uma verdadeira força da natureza no palco, usando um vestido preto decotado e sem mangas, com sua voz enchendo os espaços vazios do teatro e uma beleza especialíssima, a da mulher de 91 anos que não se deixou vencer pelo tempo nem pelos estereótipos.

Com suas risadas sonoras, mãos em movimento quase constante, maquiagem teatral e um jeito muito displicente de jogar a capa de tule no chão, Bibi cantou duas músicas do show que vai estrear ano que vem, cujo repertório será Frank Sinatra. E disse que em breve estará em Nova Iorque, com "Piaf".

Saí do teatro inspirada... subitamente a vida se alongou à minha frente naqueles minutos valiosos em que a performance de uma mulher quase mítica foi de revelação. O tempo é uma questão de ponto de vista, a juventude é uma atitude, o dom é uma benção, viver é uma arte. Mais uma vez entendi que tudo tem mesmo o seu tempo certo sob o céu, como diz o Eclesiastes. Precisei envelhecer quase trinta anos para entender tudo o que Bibi Ferreira tinha para me dizer, e rejuvenescer junto com ela.



4 comentários:

  1. Irretocável seu post . Sentir-se rejuvenescida com(o) uma mulher especial e nonagenária é mais uma prova de que o Picasso estava certo: "Leva-se muito tempo para ser jovem" .
    Bibi é pioneira em musicais no Brasil, com acessórios a mais, que fazem imensa diferença e não há quem se lhe compare.Além de ser poliglota, transmite uma credibilidade que vem de sua ampla cultura, e faz isto com charme imbatível. De temperamento forte e decidido, dedicou-se integralmente ao teatro e ignorou propostas para trabalhar na TV. "Nunca aceitei fazer novela porque sempre estava no teatro."

    É a nossa maior e melhor e mais completa atriz de todos os tempos.Em 1975 recebe o Prêmio Molière pela personagem Joana, de Gota D’Água, (tive o privilégio de assistir e continuo até hoje prestigiando-a)de Paulo Pontes e Chico Buarque, adaptação da tragédia Medéia, de Eurípedes, para os morros cariocas. Em cena, despojada, sem maquiagem, como uma moradora da comunidade, causa impacto na plateia acostumada a vê-la bem produzida em musicais. As músicas de Chico e Dori Caymmi, o brilhante texto escrito em versos por Pontes e mais o elenco afiado, enriquecem seu comovente , inesquecível e imbatível desempenho.

    Em 1983, após cinco anos ausente do palco, volta em Piaf – A Vida de uma Estrela, (que tive a honra de assistir, embasbacado rsrs, várias vezes)em que vive a cantora francesa Piaf. Sua performance elaborada chega a ser “mediúnica”, tal a sutileza na encarnação da anima/persona da cantora: a semelhança da voz, do frágil aspecto físico, do temperamento quente, e com a pronúncia impecável, bien sûr! E voz magistral (até hoje). Com isso, abiscoita diversos prêmios: Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello.

    Da classe artística não desfruta com ninguém de convívio mais íntimo, apesar de ser bastante querida pelos colegas. Reservada, e com inteligência luminosa, além de cultíssima , vive em seu apartamento no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e raramente é vista em estreias e acontecimentos sociais. Mas está sempre pronta para qualquer novo projeto.

    Como diva absoluta e incomparável que é, está acima do bem e do mal, com temperamento, verve e humor sempre renovados a cada nova aparição para o seu imenso público.

    Ela afirma que simplesmente não sente o peso do tempo. “Acontece que você não sente a idade desde que tenha saúde, pode ter 30, 40, 50 ou quase 92. Eu sou muito feliz porque posso comer e beber tudo o que quiser. Isso é uma maravilha".

    Na chique e culta França, foi reconhecida pelo governo , sendo condecorada duas vezes (1985 e 2009) com a Comenda das Artes e das Letras da República Francesa.Para o ano que vem, ela prometeu novidades: será a primeira mulher a cantar Frank Sinatra .Pérola raríssima...ou única?
    Santé e axé!!!
    Marcos Lúcio

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  2. Certamente hoje vc entendeu melhor o. ShoW

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  3. Fernanda,

    Eu tive a sorte de ter assistido Bibi Ferreira ha vinte poucos anos atras, quando ela esteve em Santos ...... eu me emocionei tanto, que quase esqueci que estava na plateia e fui ao palco cantar junto com ela ....rsrsrsrsrs......mais me contive ...e claro .....

    Marcos Lucio, nao e uma bencao ter 91 anos de idade e poder comer de tudo e ainda por cima trabalhar no que gosta .....

    Felicidades,

    Gilda Bose

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    Respostas
    1. Certamente ... a estimadíssima diretora do C.P.F.A.S.S está pletora de razão. A vida é uma questão de boa saúde, principalmente.
      Abraço forte + santé e axé!!!
      M.L.

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