É chato, eu sei, algumas vezes a gente chora no
final ou mesmo no meio da história, quando se dá conta de que o
inevitável já segue seu curso e as coisas todas da vida vão tomando seus
lugares no dia a dia da gente, até que finalmente... não temos mais tempo, ou
vontade, ou seja lá o que for, para parar o longa-metragem da nossa existência
e dar lugar àquele velho outro... pra que ele entre de novo pela porta da nossa manhã
e se instale confortavelmente na melhor poltrona do nosso tempo, cotidiano ou coração.
Mas é aí que
está: o outro já não é mais aquele de certa vez, a vida já não é
mais aquela, as importâncias de tudo mudaram tanto... e nem mesmo nós próprios temos importância diante disso,
ou nossa nostalgia.
É triste pensar que é assim mesmo, que as
pessoas mudam, as circunstâncias, as prioridades... e tudo muda para todos nós,
mesmo nós que fizemos juras de amor eterno ou de amizade além de qualquer
situação, que acreditamos que o tempo passa, mas os sentimentos permanecem.
Que tínhamos tantas certezas absolutas e sonhos imutáveis, uma certeza de sangue a respeito da cumplicidade e do amor supremo, da valentia da amizade frente a qualquer adversidade ou mudança. Sim, tudo muda, inclusive a gente.
As distâncias vão se formando, as ausências, as faltas, os silêncios e os “nãos” que nunca pensamos ouvir ou pronunciar.
E de repente, quando paramos para olhar pra trás, a
velha intimidade já desceu do trem há tanto tempo que não temos nem mais o mapa
do caminho pra voltar. A gente se distraiu olhando pela janela e a viagem passou depressa demais; "cuidado" é uma palavra que deveria ser inesquecível, mas não é: ela fenece depressa enquanto nós, tão humanos quanto iludidos, vivemos de certezas para sempre juvenis. É uma pena, eu sei. Mas a culpa não é sua nem minha, a
culpa não é de ninguém, ela é humana como nós. Só a tristeza por tudo isso é que eu sei que nos
pertence, aos dois: a tristeza pelo que fomos e que, irremediavelmente, não seremos
nunca mais.
É por isso que temos que ser felizes hoje. Nem ontem, nem amanhã, hoje!
ResponderExcluirMais um belíssimo texto seu, queriDannemann.Supimpa!!!
ResponderExcluirPara não perder o antigo hábito, darei meu pitaco, mas, agora, abrindo os trabalhos com o auxílio luxuoso do meu namorado ou parceiro ou amante literário atual.
''Talvez o amor não passe de uma deliciosa ilusão que se realiza em momentos sagrados, raros. Quando ele acontece é aquela felicidade imensa, aquela certeza de eternidade. Ah! Como os apaixonados desejam sinceramente que aquela felicidade não tenha fim! mas o amor, pássaro, de repente bate as asas e voa...''
"E, no entanto, é isso que nós somos, sem que tenhamos coragem para dizê-lo: um adeus. É por isso que precisamos dos poetas. Pois eles são aqueles que tecem as suas palavras em volta do frágil fio que nos amarra sobre o abismo. Eles sabem que em nosso corpo mora um adeus. De repente, sem nenhum anúncio".Rubem Alves
Viver é perder, seja qual for a perda, boa ou má, estamos constantemente nos desligando das coisas, das pessoas, assim como um dia também nos perderemos de nós mesmos, seja através da loucura da rotina, ou mesmo através da nossa finitude, como sói acontecer a qualquer mortal. Perder é a estrutura real da vida.Aliás ganhamos a vida também para perdê-la. “Não encha teus olhos de orgulho ao dizer que ganhou algo, antes disso, aprende a dizer que um dia vai perder esse algo. Só assim podemos nos confortar, porque o mal está sempre em acreditar que tudo foi feito para que nós pudéssemos usar. Aprende a perder pra aprender a viver, e deixa de lado o futuro que sempre será incerto…”
O medo se apaga quando percebemos e aprendemos a perder as coisas, a solidão se dilui aos poucos, porque perder é antes de tudo aprender a viver…
Santé e axé!
Marcos Lúcio
Lindo texto, alias um poema, valeu à pena passar aqui hoje.
ResponderExcluirSergio.