terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Coisa de hermanos


Depois de pouco mais de dois anos sem vir a Buenos Aires, meu segundo lar no mundo, confesso que hoje levei um choque já no aeroporto, quando, no balcão de uma cafeteria, paguei  85 pesos por dois cafés, duas medialunas (um briochinho tão popular aqui quando o pão francês no Brasil) e uma garrafa de água. Mas gente, cinco anos atrás, 85 era grana suficiente pra pagar um jantar romântico pra dois! E na hora de pagar o táxi?  Outro choque: 280 pesos contra os 50 que eu costumava pagar nos tempos em que por aqui vivi, e que, convenhamos, não estão tão longe assim.
Tudo está caríssimo em Buenos Aires. Aquela nota de cem pesos, que antes era um bom tutu, agora mal paga um lanchinho básico para dois. Nas vitrines, os preços exorbitantes me fazem lembrar do Rio: 300 pesos um brinco; 900 uma bolsa... e meu médico milagreiro, aquele que me libertou de dores terríveis na coluna com o uso da medicina tibetana, inédita no Brasil? Agora o homem cobra em dólares...
Por falar nisso, alguns comerciantes oferecem 15% de desconto para pagamento em cash. Mas nós fizemos as contas e concluímos que o melhor é mesmo o velho cartão de crédito, apesar do IOF extorsivo.
O taxista se queixa de Cristina, a manda-chuva que ainda tem dois anos de Casa Rosada pela frente.  E em dado momento parece falar consigo mesmo:

-- O que será de nós?
E olha que o homem é peronista roxo... lá pelas tantas fica indignado quando lembra os momentos que a presidente tentou bancar a Evita, a heroína nacional, imitando-a em seus discursos com gestos e palavras. E prossegue:

-- Quando a Cristina ganhou as eleições, as mulheres argentinas ficaram orgulhosas, sentiram que a vitória era delas também. Agora, no meio do segundo mandato, as mulheres se sentem aviltadas!

E prossegue com os lamentos: a situação do país, os preços altos, a falta de empregos e a corrida geral para o trabalho informal.
Enquanto ele fala, vejo, pela janela do carro, as ruas sujas, as paredes pichadas, os mendigos dormindo nas calçadas. Pior ainda: vejo o povo muito sério caminhando pra lá e pra cá, e sem o glamour de alguns anos atrás.

O taxista se queixa que neste fim de ano mais de cem navios turísticos deixaram de incluir Buenos Aires em seus roteiros.
-- O turismo também está ruim por causa da crise econômica e da inflação de 30% ao mês, que o governo diz ser de 10%. Nossa esperança, a curto prazo, é a Copa do Mundo no Brasil, porque sabemos que a vida por lá também está caríssima, talvez pior que aqui, e esperamos que os brasileiros aproveitem pra vir para a Argentina.

Do outro lado da janela do carro, a cidade está mudada. Muitas lojas e restaurantes já não existem mais. Penso no quanto o tempo parece ainda mais veloz quando buscamos nossas referências de vida e não as encontramos. Dói.
Impossível não pensar na minha cidadezinha natal, lá em Minas, que de tão retalhada por decisões de prefeitos que diziam trabalhar em nome do progresso, acabou sem o casario antigo, sem as ruas de pedra, sem as árvores centenárias e sem identidade; e também penso no Rio de Janeiro, a cidade onde um tríplex em Ipanema chega a custar dezenas de milhões mesmo de frente para uma praia assolada por arrastões. Ai, ai, Rio de Janeiro, o herói mitológico que continua lindo apesar da epopeia por vezes trágica da má-administração.

A Buenos Aires de hoje nos faz lembrar do Brasil de vinte anos atrás; o dólar pode valer de seis a nove pesos, dependendo do risco que o turista se dispõe a correr quando entra em uma loja de câmbio. Por falar nisso, comprar no cartão de crédito está sendo uma roleta-russa para mim, porque não sei qual será o câmbio que a administradora irá cobrar no momento da conversão dos pesos.
Um cafezinho pode custar de 13 a 23 pesos, e até o Mc Donlad’s sofre variações médias de dez pesos entre uma lanchonete e outra! Nunca tinha visto isso!
Apesar disso tudo, o portenho não muda aquele velho “jeitinho argentino de ser”: uma vendedora quase deixou de me vender um brinco de cem dólares porque não permitiu que eu os experimentasse.

A economia pode estar no CTI que as lojas continuam se recusando a vender aquela peça que está exposta na vitrine, mas que é a última. Eles simplesmente não vendem e pronto! Preferem perder a venda a fazer qualquer concessão.
Enquanto isso, os cafés continuam fervilhando na cidade e o povo parece resignado. Igualzinho no Brasil. Coisa de hermanos... deve estar no DNA.

 
 

 
 

4 comentários:

  1. Informar-se sobre política com taxista nunca foi boa coisa. Basta lembrar que em Sp todos eles amam o Paulo Maluf...

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  2. Mauro Pires de Amorim.
    Realmente, tirando a vaga noção de preços que vem a memória, referentes ao ano de 2009, quando estive em Buenos Aires, esses preços estão exorbitantes até para nós brasileiros e nossa mais valorizada moeda.
    Bem, confesso que de brincos e bolsas, acessórios femininos, nada entendo, mas dos preços de alimentação em lanchonetes e restaurantes me lembro bem e nessa época um jantar para 2 num médio para bom restaurante ficava em torno de uns 100/110 pesos, com a "propina", conforme eles chamam a gorjeta lá e bebida incluídos e isso se comendo carnes, pois ir a Argentina e não comer carne é um desperdício. Ressalvo ainda, que por ser brasileiro e como costume, calculava a gorjeta em 10% do valor final da conta, já que, naquela época, o sistema de pagamento de gorjetas em restaurantes na Argentina era subjetivo e livre, a critério do cliente e sua satisfação com o serviço. De repente, até isso mudou em tempos de dificuldades econômicas.
    Quanto ao McDonald's, não faço a menor ideia dos preços, já que nem no Brasil tenho costume de frequentar, mas sei que por ser uma cadeia de lanchonetes, embora a grande maioria de suas lojas sejam franquias, mas que, ainda assim, possuem o mesmo preço final de seus produtos para o consumidor. Será que lá em Buenos Aires até nisso o conceito de franquia do McDonald's está diferenciado e flexibilizado em função da situação econômica?
    Me lembro igualmente, que desembarquei no Aeroporto de Ezeiza, município vizinho a Buenos Aires e naquela época, acertei com um taxista do aeroporto, corrida a Buenos Aires, até o Gran Hotel Buenos Aires, na Calle Marcelo T Alvear, no trecho que fica a um quarteirão da Plaza San Martín e ele me pediu 90 pesos. Acabei pagando 100, deixando 10 pesos de gorjeta pela simpatia do taxista. No retorno ao Rio de Janeiro, paguei cerca da mesma quantia até Ezeiza, em corrida no taxímetro no Radio Taxi de Buenos Aires, fazendo o arredondamento para 100 pesos como gorjeta. Assim, devo supor que esses 280 pesos que você pagou tenham sido em corrida de taxi advinda ou para Ezeiza, pois se for para o Aeroparque, a coisa realmente está muito feia por lá.
    Felicidades e boas energias.

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  3. No Globo.com, G1 Turismo e Viagem de 02/12/13, foram listadas as 18 cidades mais caras da América Latina, onde Buenos Aires aparece na sexta colocação. O Rio, na segunda. Caracas é a mais cara.


    Total (hotel + táxi + comida + bebida)

    Caracas


    Venezuela


    R$ 554,76

    Rio de Janeiro


    Brasil


    R$ 517,75

    Bogotá


    Colômbia


    R$ 316,44

    Cidade do Panamá


    Panamá


    R$ 310,74

    Santo Domingo


    República Dominicana


    R$ 305,00

    Buenos Aires


    Argentina


    R$ 295,80

    Santé e axé!

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  4. Aproveite ao máximo - apesar do preços desagradáveis rs - sua estadia...com saúde e alegria.

    No site Pé na estrada, li o seguinte, em post de 29 de novembro de 2013

    Rio, o principal destino turístico da América do Sul em 2013 é também um dos mais caros do mundo. Esse é o resultado da comparação feita pelo TripAdvisor levando em consideração estadia para duas pessoas em um hotel quatro estrelas, dois dry martinis, um jantar com garrafa de vinho e duas corridas de táxi de três quilômetros usando a bandeira mais cara. A pesquisa foi realizada entre 1º de junho e 31 de agosto 2013 em diversos países.

    Na capital carioca, o preço médio dos hotéis é de R$ 632,72, já as despesas de táxi ficam em R$ 17,56. O jantar para dois custa cerca de R$ 145,33 e o valor dos drinques é de R$ 59,33. O gasto total de apenas um dia no Rio de Janeiro é de R$ 854,94.

    Buenos Aires também na lista, mas como uma das mais baratas. O preço médio para estadia em um hotel quatro estrelas por lá é de R$ 319,16, enquanto as despesas de táxi custam R$ 8,54. Na capital portenha, o valor do jantar para dois fica em R$ 90,56 e o os drinques custam R$ 40,11. Assim, o total de despesas em Buenos Aires é de R$ 458,37. Isso faz dela o destino mais barato entre todas as 49 cidades pesquisadas no continente americano.

    Olha o que descobri: São Paulo é a cidade mais cara das Américas para estrangeiros, apesar de ter caído no ranking elaborado pela empresa de consultoria econômica Mercer.

    A lista compara preços de mais de 200 produtos e serviços, incluindo alimentação, transporte, moradia, entretenimento, roupas e itens de necessidade doméstica em 214 cidades em cinco continentes.
    A pesquisa, de acordo com a Mercer, é feita considerando os gastos potenciais de executivos que estão trocando de país.
    M.L.

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