segunda-feira, 7 de abril de 2014

O valor das férias

Não sei como é que pode, mas tem gente que aguenta, e mais: acha o máximo dos máximos viver sem tirar férias. Pois eu sou do contra. E tão do contra que ainda tiro férias no meio do ano letivo, no meio de um projeto do trabalho, no meio de qualquer coisa... desde que meu corpo ou minha alma peçam arrego. Não me sacrifico a ponto de virar escrava de nada. Corto as algemas e vou. Não é à toa que um dos meus filmes preferidos é o "Pão e Tulipas". Já viu? Se não viu vá ver. Trocando em miúdos, ela se enche e dá um tchau para a casa, os filhos, as plantas e o marido... e vai curtir Veneza em paz.

Já vi muitas, muitas histórias de gente dedicada ao extremo aos compromissos da vida, gente que prefere abdicar das férias pelo prazer macabro de martirizar-se no trabalho contínuo ano após ano, e protelando o descanso como se ele fosse uma miragem no Saara. Sabe como é? Coloca cada ano trabalhado em cima da estante da sala como se fosse um troféu da própria competência. E acreditando mesmo que não pode parar por uns dias porque pode ser que depois se arrependa. E se der problema na empresa? Se na volta a casa estiver uma bagunça total? Se os filhos estiverem anêmicos, mortos de fome, reprovados na escola? Se o marido não tiver nem uma camisa limpa pra vestir? Se o chefe tiver entrado em parafuso? Se os clientes... sei lá? Vai que o planeta pare de girar?

Será mesmo? Talvez, na pior das hipóteses, o medo seja de sair de férias e não conseguir relaxar. Ou de, lá no fundo, não fazer tanta falta assim para aqueles que ficarão...  pode ser o tal apego ao masoquismo da batalha interminável. Há heroísmo nisso, afinal. Um heroísmo idiota, mas fazer o quê?´

Eu, que nunca fui Mulher Maravilha e não nasci pra sofrer, largo (quase) tudo e vou. Na volta eu arrumo a casa, estudo em dobro, faço hora-extra no trabalho, corro atrás do prejuízo, se é que pode haver algum. Mas deixar de curtir a vida por causa de um "possível" arrependimento... isso sim é que é ter motivo pra se arrepender depois!

10 comentários:

  1. Ano passado eu tirei férias, mas elas foram piquenas.

    Zé Donalda

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  2. Acho que o correto eh "Trabalhar um pouco, entre uma ferias e outra"

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    1. Faltou incluir: Fereias eh como orgasmo. Necessitamos sempre!

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  3. Adorei seu texto! Prende a atenção é divertido e interessante... e ainda indica um filme! Vou asistir!

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  4. Fernanda,

    Concordo com voce, ferias, mudanca de ares e fundamental para o corpo, mente e espirito ......Mas tem muita gente que pensa diferente por exemplo:
    Tempo e dinheiro .... gastar dinheiro em viagens ...nem pensar... (para aqueles que tem dinheiro). Para aqueles que so pensam em trabalhar "os workaholic" lazer e perda de tempo total .... se voce quer saber eles nem sabem como se divertir .... o divertimento deles e trabalho e nada mais .....esta e minha opiniao ...

    A gente nasce o que e, as pessoas podem ate fazer a nossa cabeca ... mais um dia a "ficha cai" e ai a gente comeca a se conhecer, e ver o que a gente gosta e o que a gente nao gosta ..... eu por exemplo gosto da vida, gosto do tabalho, gosto do lazer, e procuro manter o equilibrio .....agora sei que muita gente gostaria de trabalhar e ter lazer ... mas a situacao financeira nao permite ...... mas conheco muita gente tambem que se acha indispensavel como voce tao bem descreve no seu post ..... que pena que elas pensam assim, quando ela morrer se ela pudesse ver o que esta acontecendo aqui ... a vida continua com ela ou sem ela ....... mas infelizmente elas pensam que sao eternas ... morte e para os outros .... vai fazer o que ... a pessoa e o que e, e nao adianta tentar mudar ou fazer a cabeca .....

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  5. Faço minhas todas as suas bem colocadíssimas e certeiras palavras. Como sou exceção das exceções, confesso que poderia ter passado a minha vida sem trabalhar remuneradamente, se não fosse necessariamente depender de outro (s)...e foi somente por isto que trabalhei: pela independência financeira que considero fundamental, assim como a liberdade e a saúde.Ocupações existem inúmeras além de servir ou ajudar.
    Como considero que a etimologia das palavras diz (quase) tudo , vejamos:

    Férias (período de descanso, em geral de um mês) e feriado (dia de descanso). Todas essas palavras provêm do latim "feriae", que quer dizer "repouso em louvor dos deuses". Ou seja, um feriado é um dia sagrado, pois, antigamente, a única razão para cessar o trabalho super explorado/(quase) escravo era de natureza religiosa (os direitos trabalhistas surgiram bem depois).

    Trabalho veio do latim tripalium , tripálio, uma técnica de sofrimento obtida com três paus fincados no chão, aos quais era afixado o condenado, quando não empalado num deles até morrer.Literalmente um instrumento de tortura.

    O TRABALHO COMO FUGA é o que mais acontece, na minha desimportante conceituação.Alguns de nós - os observadores mais conscientes - sabemos que trabalhar “como louco” nem sempre é sinal de virtude. Muitas vezes é uma necessidade, quando o patrão é quase um capataz explorador. Mas na maioria das vezes não passa de uma fuga: para não enfrentar problemas alheios ao trabalho, para não enfrentar problemas familiares, para não enfrentar problemas pessoais/sexuais sérios, para ter uma terapia ocupacional(uma falta de imaginação total), para não enfrentar o possível ou evidente vazio da vida.

    O máximo de lazer e o mínimo (ou nenhum rs) de labor é o que considero ideal, pois sempre tenho mais coisas prazerosas a fazer do que tempo suficiente de realizá-las.Se a vida - principalmente com saúde e contas pagas - é boa,a boa vida é melhor ainda. né?
    Santé e axé!

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  6. O TRABALHADOR MANÍACO
    Outro tipo se evade (desta vida) lançando-se ao trabalho como um louco, quase com fúria. Parece que o estão perseguindo. E é verdade: persegue-o o espectro de sua personalidade vazia. Deposita em seu êxito profissional todas as suas esperanças. Tem pavor de fracassar por inteiro. O triunfo externo é o que valoriza sua raquítica personalidade interior. Por isso foge de si mesmo e se evade no trabalho.
    É interessante observar a atitude por vezes ridícula desses seríssimos homens e mulheres de negócios a quem sobram tantos milhões e a quem falta tanta paz. Não podem descansar. Precisam ganhar mais dinheiro. Ter mais brilho. Subir mais alto. Para que? Para poder usar um carro mais luxuoso ou comprar um helicóptero? Pode ser. Mas se buscássemos mais no fundo encontraríamos outra razão: estão absolutizando o seu êxito porque inconscientemente fogem do vazio das suas vidas.
    Se são subalternos, perdem a saúde até que cheguem a ser chefes; e que quando isto acontece não dormem até que possam sentar-se na cadeira de Presidente-Geral; esses homens e mulheres que trabalham até se matar para satisfazer a vaidade do outro cônjuge com uma casa mais vistosa, ou o orgulho de um filho com um automóvel último modelo; esses homens que para se auto-afirmar perdem a serenidade só porque um empregado não se dobra ante seus caprichos ou se encolerizam porque a mulher não lhes prepara a comida que lhes apetece ou se enfadam porque seu nome não saiu no jornal como esperavam; (…) se apavoram quando vêm num pequeno quisto a suspeita de um câncer, ou, num feriado, começam a sentir uma depressão inexplicável…Todos que parecem auto-suficientes e poderosos, no fundo são extremamente fracos, dependentes, frágeis, vulneráveis e carentes. Para eles essas irritações, esses pavores e depressões são como a vibração de um radar interior que assinala a presença do vazio, e lhes adverte, com um aviso de emergência, que, apesar de seus êxitos, a sua vida não tem sentido (…) que o seu trabalho as suas atividades sociais e diversões não passam de uma fuga…
    Para certos indivíduos o ócio, o desemprego, a aposentadoria são verdadeiramente mortais porque arrancam a máscara da sua laboriosa atividade, para revelar o esqueleto da sua raquítica intimidade (…). Por isso, o que se vem chamando de “neurose dominical” e de “neurose de desocupação”, na maioria dos casos melhor se poderia denominar “(neurose da ausência de sentido da vida), neurose da ausência de Deus” (Rafael Llano Cifuentes, Deus e o sentido da vida).
    Santé e axé!

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