-- Não é nada!
O poder incrível destas três palavrinhas, ditas por uma mulher desconhecida, num quarto de hospital, é inimaginável para quem não passou duas semanas temendo a morte próxima e o martírio da doença incurável.
Foi o que aconteceu com minha amiga Cida, que ainda grogue da anestesia exigida por um exame doloroso, viu-se liberta de um futuro tantas vezes imaginado e tantas vezes sofrido: cerca de 15 dias de angústia e horror, de pesadelos apesar da insônia, de medo da morte, enfim.
Quem não tem medo da morte? Quem, por mais espiritualizado que seja, ao menos não lamenta ter que morrer?
-- Ninguém quer morrer – diz meu amigo Fúlvio, médico experiente das emergências cariocas, e que já viu poucas e boas em seus plantões.
Mas o que é o sofrimento por antecipação? De certa forma, um pouco de morte em vida. A Cida, personagem principal desta história, perdeu duas semanas de vida para o desespero... e por nada. No fim das contas, não havia doença nenhuma, para seu alívio e renascimento. Muito bem: ela ficou aliviada e renasceu, mas e os dias que perdeu para a tal doença? E as noites que não dormiu? E todos os momentos de alegria e paz que poderia ter desfrutado... e que foram só de angústia? Todo este tempo foi pelo ralo e não será restituído. Tudo por pavor de um futuro incerto.
Eu mesma já recebi um laudo errado de um laboratório muito famoso e passei seis dias condenada. Estava numa viagem de trabalho, em meio a gente que não conhecia, e tive que lidar com aquele medão de ter as veias transformadas em pasto de agulhas, de ter que dizer adeus ao marido que amava e à vida que ainda pedia pra ser vivida. Que tristeza, que luto, que dor!
Minha angústia chegou a um ponto tal que, quando me vi sobre as areias que margeiam o rio São Francisco, próximo do seu encontro com o mar, não agüentei o desperdício: a tarde era linda demais e minha dor de moribunda não me deixava enxergar mais nada!
Chamei Nossa Senhora num canto daquela paisagem e pedi-Lhe que conversasse lá com Jesus Cristo: minha causa estava entregue, e se tivesse que ser... fazer o quê? Cultivar a paz de espírito.
Depois, aceitei uma água de côco do guia de turismo e fiz ali mesmo, sob um coqueiro, a entrevista sobre o lugar. E foi uma entrevista inesquecível simplesmente porque, naquele momento, deixei de me “ pré-ocupar” com a possível doença mortal. Consegui a graça da libertação. A graça de me concentrar no momento que vivia, e que era maravilhoso. A graça de não viver um futuro incerto, como se fosse certíssimo.
Tentei levar a vida assim, a partir de então, estando mais presente no agora e deixando o futuro pra amanhã. Isso às vezes é dificílimo, mas faz toda a diferença na qualidade de vida porque o futuro realmente não existe, já que ainda não estamos lá.
Entendi que sofrer por antecipação é a pior das mortes, é a morte definitiva da alma, que faz de nós verdadeiros zumbis.
O guia e eu, refletidos nas areias douradas do São Francisco
Pois é, queriFannemann...quase sempre as coisas não acontecem como planejamos e nunca exatamente igual aos planos...algo sempre escapa ou interfere ou surpreende, tanto para melhor quanto para o outro lado. Portanto, avaliar o nosso grau _real_de responsabiliade ou refletir se estamos superestimando algo, e mais: se podemos ou não modificar a ordem "natural" das coisas, é prova de maturidade. Nimguém impede uma tempestadde justamente na hora da festa ao ar livre, p.ex.Como não podemos controlar algumas situações, que pelo menos controlemos nossas reações perante elas, com a inteligente aceitação do que não está ao nosso alcnce modificar. Daí a inutilidade ou a improdutividade das preocupações, coisa de ansiosos. Ter cautela ou prudência, é outra história, é atitude de sábios.
ResponderExcluirComo está cientificamente comprovado que um pensamento positivo é centenas de vezes mais poderoso do que um negativo _ ainda bem_ podemos eliminar uma preocupação, colocando em seu lugar, um pensamento otimista, pelo menos concentrando no instante vivenciado e agradecendo por não estar acontecendo, concretamente, nada de desagradável (que existe somente ou ainda, na imaginação antecipadora). Reproduzirei parte de um poema que suponho bastante pertinente, a seguir.
Não apresse o rio... ele corre sozinho.
O rio corre sozinho, vai seguindo seu caminho.
Não necessita ser empurrado.
Pára um pouquinho no remanso.
Apressa-se nas cachoeiras.
Desliza de mansinho nas baixadas.
Precipita-se nas cascatas.
Mas, no meio de tudo isso vai seguindo seu caminho.
Sabe que há um ponto de chegada.
Sabe que seu destino é para a frente.
O rio não sabe recuar.
Seu caminho é seguir em frente.
É vitorioso, abraçando outros rios, vai chegando no mar.
O mar é sua realização.
É chegar ao ponto final.
É ter feito a caminhada.
É ter realizado totalmente seu destino.
A vida da gente deve ser levada do jeito do rio.
Deixar que corra como deve correr.
Sem apressar e sem represar.
Sem ter medo da calmaria e sem evitar as cachoeiras.
Correr do jeito do rio, na liberdade do leito da vida, sabendo que há um ponto de chegada.
A vida é como o rio.
Por que apressar?
Por que correr se não há necessidade?
Por que empurrar a vida?
Por que chegar antes de se partir?
Toda natureza não tem pressa.
Vai seguindo seu caminho.
Assim também é a árvore, assim são os animais.
Tudo o que é apressado perde o gosto e o sentido.
A fruta forçada a amadurecer antes do tempo perde o gosto.
Tudo tem seu ritmo.
Tudo tem seu tempo.
E então, por que apressar a vida da gente?
Desejo ser um rio.
Livre dos empurrões dos outros e dos meus próprios.
Livre da poluição alheia e das minhas.
Rio original, limpo e livre.
Rio que escolheu seu próprio caminho.
Rio que sabe que tem um ponto de chegada.
Sabe que o tempo não interessa.
Não interessa ter nascido a mil ou a um quilômetro do mar.
Importante é chegar ao mar.
Importante é dizer "cheguei".
E porque cheguei, estou realizado.
A gente deveria dizer: não apresse o rio, ele anda sozinho.
Assim deve-se dizer a si mesmo e aos outros: não apresse a vida, ela anda sozinha.
Deixe-a seguir seu caminho normal.
Interessa saber que há um ponto de chegada e saber que se vai chegar lá.
É bom viver do jeito do rio!
(Autor desconhecido)
Abraço afetuoso
Marcos Lúcio
Por que um indivíduo espiritualizado deveria ter menos medo da morte? Um filme bíblico que vi uma vez, desses de semana santa, Jesus foi buscar sua mãe Maria, momentos antes da sua morte e disse a ela que não tivesse medo e que logo ela estaria junto dele. Depois disto, fiquei pensando sobre o privilégio de ser a mãe de Jesus. Eu, por exemplo, me sinto também um privilegiado. Sou na vida exatamente o que desejei ser - nem muito, nem tão pouco - Um observador da vida, catalogando dados para trocar as peças em determinados momentos de modo a ver porque alguma coisa aconteceu daquela maneira. (Mais ou menos isto). Isto não é pouca coisa para mim. Significa que venci na vida, que Deus me deu exatamente a vida que desejei e que posso enxergar em vida, o que desejei da vida. Desligar minha vida vai dar medo sim, um medo de instantes, horas, dias, maior do que o medo de uma agulha com anestésico de cirurgia que promete em seguida, corte na carne, mas, tudo passa e por esta razão Fernanda, costumo pensar que na hora certa espero saber estar desligando minhas chaves - dos tipos elétricas de um padrão de força - para entregar ao outro lado o que restar...Desconhecido! Voltando: Analisando a desumanidade humana - guerras, fome, egoísmo, penso que ao morrer, estaremos mesmo duvidando da vida após a morte e, das conseqüências de termos vivido de modo , no mínimo, egoísta. Tal dúvida faz parte da vida, do condicionamento da vida na terra, para justamente, o homem poder escolher por si só, se será do bem o do mau. Por isto, entendo que a minha espiritualização, funciona em fleches, em que me vejo jogando barro numa parede muito grande e, com dias em que vejo o barro caindo porque fiz um barro com milhares de dúvidas, diferente do que vi um pastor contar na TV, que seu avião estava caindo e ele se sentia tranqüilo... Acho que o avião acabou não caindo. Sei lá!. Vai ser tranqüilo assim lá longe... Na Conchinchina, pois lá, é noite enquanto aqui é dia. Somos assim, todos nós, meio barro, meio tijolo. Nunca seremos uma coisa só, uniforme – para o Maravilhoso Mundo Novo e,... Ainda bem que somos assim! Repare que a minha fé é uma salada de frutas, mas, tem dias em que ela, minha fé em Deus, na vida, se apodera de mim, me lambuza e me deixa untado – para enfrentar, acho eu, a próxima crise.
ResponderExcluirOi Fernanda,passei só para manter o vício,mas não vou falar nada. Pois tenho muito medo da morte... Bjs.
ResponderExcluirMonica.
Mauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirA ansiedade e a expectativa levam a esse estado de sofrimento antecipado. Sei que em certas situações é difícil manter o controle, a serenidade, pois consequentemente somos impulsionados a pensamentos especulativos e esses é que nos causam os sofrimentos antecipados.
Particularmente não tenho medo da morte, pois tenho consciência de ela é a companheira invisível de todo ser vivente, que invariavelmente, um dia irá morrer. Nem por isso vou deixar de me cuidar, precaver, ser negligente e relapso com minha vida e existência. Escolhi me aprimorar, me tornar melhor e uso toda e qualquer oportunidade ou situação que apareça na minha vida para exercitar meu aprimoramento fazendo meu melhor. Essa é minha religião e meu templo, sem hierarquia, ritualística ou espaço físico específico para seu exercício. Acredito que com isso, vivo meu quotidiano rotineiro e ao mesmo tempo pratico minha fé baseada na existência.
Felicidades e boas energias.