sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A vida sem propósito é uma causa perdida

Estava quase dormindo diante de mais um documentário televisivo sobre a Arca da Aliança, quando aqueles monges muito pobres, da Etiópia, entraram em cena. Magrinhos, humildemente vestidos, vivem em função de guardar um casebre onde, acreditam, repousam objetos que integravam a sala do Templo de Salomão, em Jerusalém, onde ficava a dita arca.

Não são muitos, e pelo que entendi, vivem em permanente rodízio de sentinelas, velhos rifles em punho, guardando o tesouro de sua fé.

O documentário seguiu e, mais adiante, conheci um templo, também na Etiópia, guardado por monges que jamais saem dos limites do prédio, porque ali dizem manter a própria Arca. A entrada é proibida até mesmo para o Papa, e ai de quem ousar teimar com eles...

E fiquei aqui pensando... imagine passar a vida assim, no claustro... sem conforto, sem liberdade pra nada, sem expectativas, planos ou sonhos, com um futuro feito de dias tão iguais...

Então entendi: é uma questão de propósito.

Quantas vezes já vi gente que tinha “tudo”: saúde, dinheiro, família, juventude, beleza, sucesso... e o último capítulo foi um suicídio. Outras histórias acabaram em tédio, amargura e solidão: sentimentos de quem deixou a vida passar lá fora, em vez de convidá-la a entrar em casa e ficar pra sempre. Em ambos os casos, talvez tenha faltado justamente o que sobra aos monges etíopes: um propósito de vida. Uma causa para abraçar. Uma verdade íntima, plena, uma batalha diária e individual.

E olha, não precisa ser nada sensacional, não, como ganhar o Nobel, matar o Golias ou remar contra a maré. Nem é preciso virar monge... seu propósito pode ser mais modesto, como simplesmente tornar-se uma pessoa melhor ou ser feliz com menos do que você imagina necessitar (ou merecer).

Há grandes propósitos na vida, que não raro nos passam desapercebidos porque a cultura narcisista em que vivemos vem tirando deles seu valor: o propósito de aprender; de desenvolver sua noção de respeito pelos outros e pelo planeta; de vivenciar sua espiritualidade; de amar melhor; de doar seu tempo; de ter um lar saudável; de cultivar a paz interior e o desapego; de ter filhos educados, de agir com integridade e de retribuir ao Criador ao menos um milésimo do que recebemos a todo instante.

Sem um propósito, a existência perde o sentido e tudo se resume à vaidade e ao egocentrismo. A insatisfação domina os sentidos e faz de nós robozinhos viciados em adrenalina e substâncias químicas.

Mas olha, um pouco de cuidado e atenção também é bom, porque reféns que somos da autocomiseração, muitas vezes fazemos da destruição de nós mesmos o nosso grande propósito, muito fácil de ser levado a cabo, aliás, mas tão difícil de aceitarmos quando já está consumado. Quanta gente já vi, amarga e arrependida por ter soltado as rédeas da própria existência, infeliz e frustrada por ter feito pouco caso de tudo o que tinha... e que acabou perdendo. E atente para o risco de acomodar-se ao vazio de um cotidiano sem propósitos, porque a preguiça também crava sobre nós as suas unhas, e pode parecer mais fácil relaxar. Mas a vida não aceita ingratidão...

Abra as gavetas da sua alma e passe em revista seus propósitos, dos mais antigos e esquecidos, lá atrás, àqueles que você mesmo ainda nem conhece. Cole-os nas janelas dos seus olhos e use o seu coração como a bússola que aponta para a felicidade. Agora ordene aos seus pés e à sua vontade que corram, depressa, para lá.

Com propósitos, a vida fica toda azul!!!!!!!!!

Mas pode ficar cor-de-rosa, se você preferir!

3 comentários:

  1. Mauro Pires de Amorim.
    Concordo plenamente com você e vivo para me aprimorar e evoluír em tudo que realizo, mesmo que seja na menor das tarefas. A pessoa tem que ter disciplina, perseverança e amor, caso contrário, perde o propósito da energia motriz da vida.
    Felicidades e boas energias.

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  2. Desconheço, queriDannemann, despropósito maior do que não parar, ao menos para refletir_ o que considero mais do que essencial_ se nossos sonhos ou metas são condicionados pelas expectativas sociais ou se nascem de nossos reais e personalíssimos desejos e necessidades. Parece que muita gente vive de muito reflexo e de pouca ou quase nenhuma reflexão (macaco de imitação, maria-vai-com-as-outras, etc).

    Sem o "conheça-te a ti mesmo", de Sócrates, que na minha modesta avaliação, é o propósito maior desta fugaz existência, todo o resto é , de certa forma, prejudicado ou, no mínimo, insatisfatório.Conhecendo a mim mesmo, com profundidade, para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo, consigo, finalmente, realizar o verdadeiro grande encontro...com a felicidade, que sedimenta e se alia ao maior propósito e, logicamente, sem prejudicar nada nem ninguém.

    Faço minhas as iluminadas palavras do genial Gaston Bachelard:
    "O universo tem, para além de todas as misérias, um destino de felicidade. O homem deve reencontrar o paraíso."
    .
    A vida é muito curta para gastarmos nos enganando, permanecendo deliberadamente cegos com relação à nossa realidade, sem sequer jamais nos questionarmos sobre o que REALMENTE, lá no âmago, nos faz ou nos faria felizes, de alma lavada mesmo... e passamos a vida fazendo opções convencionadas pela sociedade. Penso que não há nada pior do que viver alienado, conformado com uma vida que não traz felicidade, mas você não tem coragem para mudar.

    Não podemos ignorar o estranhamento que causaremos à maioria absoluta de cérebros condicionados de forma massificada, se nossas escolhas não forem convencionais , por supuesto. Porém, quanto menos convencionais _mas sensatas, ou com os pés no chão, devaneio, não!_ forem nossas escolhas e decisões e mais espantarem ou provocarem críticas, maior será o indicativo de que estejamos no caminho certo.Quando todo mundo está rumando para o Norte, já passou da hora de rumarmos para o Sul rsrs...e pensamento único é burrice, pois a vida é constituída somente de diversidade, pluralidade ou diferenças. Se você tiver a coragem para mudar_e tudo muda, pois o propósito maior e evidente da natureza é a impermanência_ o que está em dissincronicidade com sua alma, parabéns, e aí o caminho está aberto para a maturidade que permite observar a vida sem ilusões, aceitar as coisas_ principalmente as que não podemos modificar em hipótese alguma_ com muito menos sofrimento, entender com mais serenidade, querer com mais generosidade e altruísmo.

    Segundo Lya Luft, "a vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida". Faço meus, os propósitos dela: "eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir criar uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer. Mais senso da própria dignidade, não importando idade, dinheiro, cor, posição, crença".
    Grande e afetuoso abraço
    Marcos Lúcio

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  3. Repassando...Mais uma vez...obrigado, M.Lúcido, pelo propósito de sempre divulgar e compartilhar excelências, como este equilibrado e sensato texto, como sempre, da F. Dannemann, e como não poderiamos deixar de mencionar.... a sua intervenção "literária", através de um comentário participativo, na medida certa ...como sempre,(já repetido pela terceira vez ...risos) também...!!!
    Saudações,
    Eduardo

    15 de novembro de 201

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