domingo, 11 de dezembro de 2011

Robozinhos feitos em série também sofrem

Começo este post parafraseando o antigo comediante: “quando eu era criança pequena lá em Barbacena”... digo, em Minas Gerais, sempre acontecia de ter a má sorte de encontrar uma outra criança (chata) que saía logo com a pergunta:

-- Mas por que é que você é diferente?

É, a palavrinha desagradável vinha assim mesmo, em itálico, o que lhe dava um tom pejorativo que, aos meus ouvidos infantis e ávidos por aceitação, provocava as mais diversas dores, da rejeição à otite aguda.

Para uma criança, ser diferente dói, e embora eu não conheça Freud de perto, imagino que ele deva ter falado alguma coisa sobre isso. Uma vez, lá pelos meus oito anos, cheguei da escola chorando por causa das minhas botas de plástico amarelas, ridicularizadas naquela tarde de calor, e minha irmã Teresa me contou uma história, passada em alguma cidade do Oriente, onde todo mundo se vestia de azul. Lembro dos desenhos, maravilhosos, das roupas esvoaçantes, em mil tons... de uma mesma cor. Faltava um roxo-batata ali, um vermelhão, um verde-bandeira... pra deixar tudo mais bonito.

-- Tá vendo? Tudo o que esse povo queria era uma bota amarela igual a sua, pra ir pra escola.

E eu lembro do meu coração ficando leve dentro do peito, enquanto a gente ria da situação.

Como não há mal que sempre dure, felizmente a gente cresce e tem a chance de aprender o valor maravilhoso das diferenças. Tenho um amigo, por exemplo, que adora viajar pra lugares inóspitos: a-do-rou dar a volta ao redor de uma montanha no interior da França, num lugar onde não há nada além do pequeno hotelzinho onde se hospedou, só com meia-dúzia de quartos. Um outro, jura que não sai mais dos limites do Rio de Janeiro... e tem ainda um doido que sonha com uma viagem à lua (ele não sabe, mas acho que veio de lá).

Esse negócio de todo mundo igual chega a ser assutador: me dei conta disso vendo um documentário sobre a Alemanha de Hitler... e então pensei na “igualdade” que se vive em lugares como a Cuba de Fidel e o Iraque de Sadam, onde o diferente paga com a vida por sua falta de enquadramento.

Costumo dizer que aqui, nesse país tão cheio de problemas, a gente pode fugir, se for o caso: esta é a maravilha da democracia, e de poder ser o que a gente é de verdade, sem encenação, sem o desejo terrível de identificação, sem precisar ser um robô recém-saído da fábrica, igualzinho a todos os outros... e justamente por isso aceito na tribo. Esta necessidade infantil de aceitação transforma a vida adulta num inferno, numa eterna maratona a ser vencida, mas cujo pódio fica lá onde o arco-íris finca sua raiz.

Incrivelmente, a maioria, em vez de fazer uso de sua liberdade, faz um esforço danado para ser toda loura de cabelo liso, e ter carrões 4X4 brancos, que é a cor da moda; e usar aquelas roupas iguais, e votar no mesmo candidato, e ver os mesmos filmes e ler os mesmos jornais... e seguir o mesmo caminho, que é ter um emprego estável, casar e ter dois filhos... desfrutar das mesmas férias que os robôs amigos, e gastar os tubos no cartão, sem esquecer de comprar aquela bolsa famosa e aquela lingerie de renda, que vem na sacolinha rosa-choque. E ser da mesma patota, e ter a mesma opinião, a mesma vida, o mesmo futuro e os mesmos dramas... quem sabe até morrer da mesma doença e se tratar com o mesmo médico antes de ir para o mesmo cemitério, depois de passar pelo mesmíssimo hospital.

Se você vive como se tivesse saído de uma linha de montagem, talvez seja hora de olhar-se no espelho e perguntar-se:

-- Mas por que você é igual?

Já pensou se a pêra e o jambo fossem iguais? Ai, pobreza de mundo!

7 comentários:

  1. A última vez que comi um jambo eu tinha 5 anos!!
    Onde você conseguiu esse????

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  2. Anônimo... foi meu assessor para assuntos diversos que encontrou. E olha que eu nunca tinha visto um jambo de perto.

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  3. Fernanda e o Anônimo,vcs dois sabem que tem tambem o jambo branco? Pois é,taí outra diferença,só que o vermelho é mais saboroso. Bjs.

    Monica.

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  4. Só mesmo os incautos, incultos, distraídos, nefelibatas, ingênuos, ignorantes,imaturos, fantasiosos, românticos ( esses acreditam até, pasme!, em alma gêmea ), nazistas, fascistas, comunistas, neoliberais de pensamento e eoconomia únicos, enfim, uma camabada (olha o mineirês aí, gente!) de tontos teleguiados, massificados ou automatizados _certamente a maioria absoluta dos viventes_ pode acreditar que somos iguais. A natureza dá provas inconsteste de que tudo e todos constituem-se, só e exclusivamente de diferenças e/ou diversidades.`É normal e saudável ser diferente, não obstante fazermos, todos e todas, parte de um todo orgânico e estarmos conectados a tudo. O pólen não é mais importante que a abelha e, menos ainda, que o mel, e vice-versa, pra ficar em um exemplo único. Mas isto não impede que sejamos muito parecidos nos medos, dores, fracassos, egoísmo, exploração, doenças, perdas, paixões, inseguranças, etc., e, principalmente, na única e maior igualdade , exemplo máximo de democracia: a morte, pois inexoravelmente morreremos e nada levaremos, a curto, médio ou longo prazo.

    Seus post é irrepreensível e sagacíssimo, queriDannema, e aproveito para fazer minhas, as palavras a seguir:

    "Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é, e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo. Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se esse canto desaparecer. Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa . É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário, e basta. Na natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual da vida.” (Alexandre Rangel – O que podemos aprender com os gansos. Ed. Original).
    Abraço forte e energias benfazejas.
    Marcos Lúcio

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  5. Esqueci de um pormenor: adooooooooooooro jambo.Havia, no quintal de casa...no interiorrrrrr de Minas, um frondoso jambeiro (também manga, jabuticaba, carambola, mamão, goiaba, etc.), Sempre fui apaixonado pela sua floração e, claro, pelos deliciosos e belos frutos...O jambo , cujo nome é tão lindo, que dá até vontade de dançar um mambo...ou sambo?! rsrs...possui a minha cor predileta. Considero esta fruta , com seu peculiar e tão delicioso sabor a ponto de fazer-me salivar... onde posso comprá-lo, aqui no Rio?_ a minha madaleine proustiana. A foto ficou incrível , sensorial, tesuda e emblemática.Parabéns pela feliz escolha!!!
    Beijão.
    Marcos Lúcio

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  6. Monica... jambo branco?! Pois eu não sabia nem que existia o vermelho... pela sonoridade do nome, imaginava alguma coisa amarela. Valeu a informação. EstiMarcos... este aí da foto não foi comprado, foi encontrado embaixo de um jambeiro, lá na Gávea! É mole?!

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  7. Não posso deixar de corrigir erros de (pressa , preguiça de colocar óculos ?!rsrs...) digitação, fundamentalmente porque o sobrenonome da talentosa blogueira foi adulturado...uma imperdoável infâmia ou despautério!!! rsrs.... Na sequência, como convém, fica assim, então:
    ECONOMIA, CAMBADA, INCONTESTES e _"pardon ma cherry" _ DANNEMANN "et voilá!".
    Abraço forte!

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