Fui visitar minha chapa Magali, que insistiu em me apresentar o namorado.
Confesso que cheguei lá de má-vontade, porque já sabia, pelas histórias dela, que o tipo era um machista inveterado. Quanto sacrifício a gente não faz pelas amizades... sorri para a figura que nem se deu ao trabalho de vestir a camisa quando entrei e dei dois beijinhos nas bochechas suadas.
Copo de cerveja numa mão, cigarro na outra e olho grudado no programa sensacionalista da TV, ele puxou assunto falando alto, como se eu fosse repórter policial e ele fosse o entrevistado. Desandou a criticar a violência do Rio, a superlotação dos presídios e a suposta amizade entre bandido, polícia e imprensa.
-- Tem que dar pau nessa gentalha!
Suspirei, dei um sorrisinho amarelo e decidi não surfar na onda dele, que, mais desagradável impossível, entrou de sola.
-- Tudo drogado! Só gente safada! Gente do capeta, que puxa fumo!
Incrédula, caí na armadilha e comecei uma frase incendiária, mas fui interrompida pela Magali, que me conhece muito bem e tentou entrar na roda, enquanto servia um prato de salgadinho.
-- Eu acho...
-- Você não acha nada! – cuspiu o brutamontes, e ela se calou com um meio-sorriso de compreensão, como se ele fosse uma criança birrenta que a mãe atura por falta de opção melhor. E ele ordenou: – Esquenta o salgadinho.
-- Não liga não, Fernanda, ele está de mau-humor porque não gostou da minha roupa.
-- Este vestido é de vagabunda! – rosnou o neanderthal. – E pra quê esse esmalte vermelho? –
-- Pra te agradar – foi minha vez de rosnar.
-- Ô Magali! Você arranjou advogada! E como é sua amiga nem vai te cobrar – ironizou o coisa horrorosa.
Guardei a educação na bolsa, pus o dedo na cara dele e achei que fosse apanhar. Soube depois, que meu interlocutor levou um susto e pensou que eu fosse bater nele. Nem me lembro como acabou a visita, só sei que o curupira botou o galho dentro e pude sair de lá com dignidade.
-- Mas Magali! Como é que você se envolve com um homem desses?! – perguntei, no dia seguinte.
-- Ah, Fernanda, coitado! Ele é assim mas é gente fina, e me adora! Além do mais, vem de uma família horrível, ninguém liga pra ele. Tenho pena de terminar...
Calei a boca. Olhei pra ela e fiquei triste, porque ainda ia sofrer muito nas mãos daquele poço de estupidez “gente fina” que a tratava sem respeito nenhum. E dei razão ao meu pai, que costumava dizer que assombração sabe pra quem aparece... E não é que sabe mesmo?
Tem lugares em que sair sem apanhar é um triunfo.
ResponderExcluirSua amiga Magali, do dedinho podre, ainda tem muita sorte, pois neste mundo, conheceu você e, quem sabe um dia lhe cai a ficha.
Querido Alfredo, depois que li suas palavras, a segunda-feira sorriu pra mim. Abraços!
ResponderExcluirMauro Pires de Amorim.
ResponderExcluirConcordo com você genericamente, que assombração sabe para quem aparece.
Portanto, em condições aceitáveis e esporádicas dessas aparições, tudo bem. Nessas ocasiões, opto pela retirada estratégica e preferencialmente, a manutenção de distanciamento de tais pessoas, tal qual você realizou e relata no texto.
O conflito e a busca pelo conflito, numa acepção ideológica em nada me adiciona, pelo contrário, pois percebo tendência obtusa e obsessiva nessa inclinação, num nítido mau logro de tempo e energia.
No entanto, para mim, tais "aparições" tornam-se demasiadamente frequentes, quase que num padrão persecutório perceptível, embora realizem-se por diferentes personagens aparitivos.
Tenho nítida consciência do atual estado decomposicional e involutivo de nossa sociedade. Percebo igualmente, por meio dos conceitos e consciências externadas pelas pessoas que nela habitam, do patológico prazer que sentem em dominarem os outros e imporem sua tirânica forma existencial. Numa postura de recalque, frustração, rancor e ódio gratúito contra os outros. Ainda que os atingidos por tal manifestação sociopata, não sejam responsáveis, tenham dado causa ou sejam culpados por tal motivação que os domina. Servindo unicamente, como descarrego, lixão, "pára-raio de maluco", onde despejam suas porcarias interiores que insistem em cultivar.
Prosseguindo e expandindo-se tal estado de involução e sociopatia, daquí um tempo futuro não muito distante, acabaremos como nossos acencestrais símios e trocaremos os condomínios imobiliários por árvores e cavernas condominiais ou grupais.
Felicidades e boas energias.
Se a Magali,acha esse machão mal resolvido,"gente fina," na cabeça dela o que é um CASCA GROSSA?...
ResponderExcluirMonica.
Fernanda,
ResponderExcluirConhece aquele velho ditado: "antes so, do que mal acompanhada" ....por incrivel que pareca, tem gente que prefere estar em ma companhia do que so .....
ainda tenho a esperanca que um dia sua amiga ira enterder que a felicidade nao depende de ninguem a nao ser de nos mesmas.
Felicidades,
Gilda Bose
Imaginei, queriDanneman, que esta figura estúpida e asquerosa até fedia e você omitiu o pormenor rsrs...
ResponderExcluirApesar de não ser o filho , como na ótima melô do Caê...e muito menos "a filha da Chiquita Bacana (...)não caio em armadilha, nem distribuo banana para os animais". Com a idade avançada em que estou, mas ainda lépido e fagueiro kkkk, ajo da mesma forma: não aceito provocação ou não discuto ou compito para ver quem é pior ou saio à francesa. Até porque, tipinhos como este, provocam-me náuseas e entojos. De mais a mais, machões e machistas sofríveis assim, quase sempre, são frágeis e covardes e carentes e deles sempre mantenho a prudente quilométrica distância.
Coitada sa sua amiga, ela ainda não entendeu que cesteiro que faz um cesto faz um cento e, pior, com o passar do tempo, os cestos vão ficando de pior aspecto. Para ela, certamente, dias piores virão e que Deus a proteja.
Abração, santé e axé!!!
Marcos Lúcio
Definitivamente essa mulher gosta de sofrer! Sinceramente, demonstrar sentimento de pena é legal e tudo o mais, mas é péssimo se isso acaba nos colocando em lugar ruim. Ou nesse caso, com uma pessoa ruim.
ResponderExcluirSe eu fosse ela, deixaria a pena de lado e partiria pra algo melhor. Porque com certeza ela merece alguém beeeem melhor!