Creio que a gente é o que é: a mesma pessoa do princípio ao fim, ainda que consigamos domar nossos defeitos de fabricação. Então concordo com Machado de Assis, quando ele diz que “a ocasião não faz o ladrão; o ladrão nasce feito”.
O que eu lamento muito é que a maioria de nós, em algum momento, perde a pureza. Sabe aquela luz que trazemos na infância? E o curioso é que esta luz, não raro, reacende quando estamos já sofridos... acho que é porque a pureza não combina com a arrogância típica dos que não são crianças (e não viram nada) nem velhos (e já viram tudo).
Ontem, bem tarde da noite, a pureza apareceu pra mim.
Em meio a todo o apocalipse da invasão alemã na Bélgica, na França e na Holanda, durante a Segunda Guerra, o povo deixava tudo pra trás, numa fuga desesperançada a Paris. Morte e destruição por todos os lados, cadáveres pela rua, cidades arrasadas, estupros, medo, fome, horror. As imagens do documentário são reais... e se sucedem numa inacreditável amostra da guerra que imaginamos, mas cuja imensidão não podemos alcançar.
No meio de tudo isso, a câmera flagra um menino ferido, e eu, que já quase dormia, acordei de imediato. Nos dois ou três segundos em que mirou o cinegrafista, ele transcendeu. Esqueceu-se da guerra, da cabeça machucada, de tudo o que tinha visto e temido, de tudo o que ainda havia para temer.
Naqueles tão valiosos segundos, a pureza surgiu de relance, mesmo ali, naquele inferno, quando o menino voltou a ser um menino... e sorriu.
Nem Hitler conseguiu acabar com esta luz!
Nada, absolutamente nada neste mundo, me comove mais do que a pureza de uma criança. O mundo só terá jeito se tratarmos as crianças com carinho e respeito. Assim, teremos adultos de bom coração no futuro.
ResponderExcluirAo citar Machado (uma paixão literária)sobre o que trazemos, ou das nossas "constituições", já de berço, a ponto dos antigos (sou desta época kkkk) dizerem: pau que nasce torto não indireita...não pude esquecer da fenomenal Capitu para comprovar esta predestinação: " (...) se te lembras bem da Capitu menina, hás de
ResponderExcluirreconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.
(...)
Capitu, como lhe chamavam em família – traz o engano e a perfídia nos olhos cheios de sedução e de graça. Dissimulada por índole, a insídia é nela, por assim dizer, instintiva e talvez inconsciente” ( p. 238).
Assim como Gilda, no cinema, nunca houve uma personagem como Capitu, na literatura, pois nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada, como ela.
Qunto à pureza ou ao sorriso do garoto, naquelas inviáveis condições, é mais uma prova da luz no fim do túnel, da força de Eros-pulsão de vida, vencendo Thanatos-pulsão de morte.Parafraseando Chico Buarque, seria como "uma flor brotando do impossível chão".
O inesquecível e brilhante Eduardo Mascarenhas vaticicou: " Ao contrário do corpo, a alma pode sofrer as maiores violências e se recuperar...Podem sangrá-la, podem feri-la, podem deixá-la à míngua, q ela parece q morre, mas na realidade não morre nunca. Pior q rabo de lagartixa, nossa alegria de viver volta sempre a renascer.É isso q descobrem aqueles q não desistiram nunca....Ao descobrirem a ressurreição das almas, adquirem uma inquebrantável confiança".
Santé e axé
Marcos Lúcio
Por gentileza, quediDannemannm corrija: E. Mascarenhas VATICINOU, ok?
ExcluirMerci e abraços
Marcos Lúcio