segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

É mais fácil encontrar um marido do que uma empregada doméstica

Ao ver ‘Histórias cruzadas”, que fala da vida dura das empregadas domésticas negras em pleno Mississipi nos anos 60, lembrei de quando a Isabel, que passava roupas aqui em casa, contou sobre a ex-patroa que lhe mandava tirar dois bifes para o almoço: um para ela mesma e outro para o filho. E a Isabel almoçava só quando chegava em casa, lá pela hora do jantar.

Cansadas de serem tratadas como escravas por patroas egoístas e sem-educação (e cada vez mais dependentes dos seus serviços, porque não sabem lavar um banheiro e muito menos fritar um ovo), as empregadas domésticas estão indo pelo mesmo caminho do mico-leão-dourado e entrando em extinção.

Até minhas amigas solteiras concordam comigo e dizem que, hoje em dia, é mais fácil achar um bom casamento do que arranjar uma boa empregada. E olha que, pelo que andam me dizendo, até namorado mequetrefe virou artigo de luxo: quem tem, aposta todas as fichas pra não perder, e quem não tem já está rezando de vela acesa pra ver se o milagre acontece.

Procure alguém para trabalhar na sua casa, mesmo com a carteira assinada, e entenderá o que digo. Vai aparecer todo tipo de gente para um “teste”, como dizem as candidatas, mas dificilmente entrará pela porta alguém que você queira que volte no dia seguinte.

Dia desses, finalmente me apareceu uma, a quem propus salário acima de média e com carteira assinada, férias, décimo terceiro e uma carga horária tão leve que eu mesma pensei em aceitar o emprego.

-- Tem almoço?
-- Tem.
-- Fim de semana livre?
-- Sim.
-- Não preciso passar roupa nem cozinhar?
-- Não.
-- Nem lavar as janelas?
-- Não.
-- Tem TV na cozinha?
-- Tem.
-- Sem criança e sem cachorro?
-- Ok.
-- A senhora paga a passagem?
-- Pago.
-- Se eu precisar faltar a senhora entende?
-- Entendo.
-- A senhora ajuda com o meu plano de saúde?
-- Posso pagar metade.
-- Tá certo. Então eu vou pensar e ligo pra senhora na semana que vem.

Neste ponto, nem eu, que sou uma santa, resisti:

-- Mas você toca piano?

E dei o golpe fatal:

-- É que, pra trabalhar aqui em casa, eu só aceito quem sabe tocar piano.

7 comentários:

  1. Como quase tudo está mais complicado... esta questão das ajudantes é antiga e tudo que é bom é mais raro, cada vez mais.Enquanto eu lia ou saboreava? suas bem traçadas linhas, como sempre, ficou o tempo todo na minha cabeça, esta música gaiata ou debochada, ou irreverente, que foi paixão à primeira audição, com a ovelha nigérrima, a talentosa artista mineira...e mais uma injustiçada, neste Patropi.

    Cozinheira Granfina

    Do repertório de Carmem Miranda, gravada em 1939 e de autoria do cearense Sá Roriz.

    Maria Alcina_ a própria encarnação da tropicália_ e o cantor e violinista brasileiro Daltony Nóbrega gravaram esta faixa especialmente para fazer parte do CD "Carmen Miranda - 100 Anos Duetos e Outras Carmens". Certamente é a melhor interpretação, com a pegada mais mirandiana, nesta excelente e justa homenagem, pela gravadora Sony Music, dentro das celebrações do centenário de nascimento da artista em 2009.

    Aliás, a maior e melhor ovelha negra das cantoras brasileiras, a que fez a maiorrrrrrrr diferença, em todos os tempos, foi a Pequena Notável, peculiaríssima, inclusive entre as internacionais...na minha
    modesta avaliação de apaixonado pela música brasileira de excelência. Como disse Caê: "Nos olhos de C.Miranda, moviam-se discos voadores fantásticos".Vamos à sensacional letra, que faz referência, inclusive, a saber tocar piano rsrs...


    M - Faça o favor de me dizer
    se foi aqui que anunciaram precisar
    de uma empregada como eu?

    H - Foi! Foi aqui mesmo que se anunciou
    precisar de cozinheira de forno e fogão...
    Que entenda de fato do seu "métier"
    Que saiba fazer com perfeição...

    M - O quê?

    H - ... croquetes, empadas, cozido, ensopado
    peru recheado, tutu de feijão
    Que acorde bem cedo e durma no aluguel
    Que seja asseada e que seja fiel
    Para evitar depois complicações
    eu quero saber já as suas condições

    M - As minhas condições agora eu vou dizer
    Primeiramente aviso não quero saber
    de lavar panelas e varrer cozinha
    Não sou uma qualquer e guardo certa linha
    E louca por cinema eu sou de natureza
    E gosto de um moreno que é um colosso
    Adoto o sistema da semana inglesa
    Aos sábados eu saio depois do almoço
    Sou empregada sindicalizada
    e quero férias, quero os meus papéis
    Não sou nada exigente, trezentos mil réis
    vou querer de ordenado, pago adiantado

    H - E... não sei ainda como é que se chama...
    E será que a madama sabe fazer sala?

    M - Pois decerto "sêo" moço, isso nem se fala...

    H - E vai ver que a "princesa" toca o seu piano

    M - E arranho o francês e o italiano

    H - Então eu lhe faço uma contraproposta
    M - Pois seja, "sêo" moço, mas não tou disposta
    a aceitar coisa que não satisfaça

    H - É mais negócio eu me casar consigo
    que a senhora trabalha para mim de graça

    M - Ah! é?

    Beijão procê!!!
    Marcos Lúcio

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  2. EstiMarcos... adorei!!!! Só você pra me sair com esta! Beijão e bom carná!!!

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  3. O negócio é arrumar um marido que lave os pratos e ainda toque piano. Aí é que eu quero ver...

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  4. Fernanda,eu tenho uma pessoa maravilhosa que trabalha na minha casa a oito anos. E eu não quero sequer pensar que um dia,ela resolva se demitir.
    Concordo com as suas amigas,apesar da dificuldade,ainda é mais fácil conseguir um bom namorado,do que uma boa empregada doméstica. Bjs.

    Monica.

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  5. A industria se expandiu com a robotização... Aqueles braços que soldam, arrumam as peças e tal. A industria mudou o conceito da relação homem e montagem. No caso dos afazeres domésticos, não houve evolução nenhuma e as pias de cozinha por exemplo, continuam as mesmas e as vassouras, sequer melhoraram os pelos e as máquinas de lavar dependem de atos e mais atos, para funcionarem. O piso de um apartamento, no mínimo, devia contar com "sugadores de pó", estrategicamente espalhados pelo ambiente, o que evitaria inclusive disseminação de males, tendo em vista que tudo seria mais limpo... Com menos poeira. O fato é que ainda não aconteceu a casa funcional com um custo beneficio ao alcance de uma maioria. As pessoas vivem num ambiente "decorado" para guardar sujeira e por esta razão dependem de uma ajuda cada vez menos possível, tendo em vista que cada vez mais, todos procuram melhores oportunidades. Para a construção civil, a aceitação de um apartamento sem "dotes de limpeza" é cômodo de certa forma, diminuindo custos e, tais dotes não são cobrados por serem desconhecidos, mas que precisam ser descobertos. Lavar panelas e pratos, poderia ser mais prático com uma lavadora de alta pressão dimensionada para isto e neste caso, as pessoas estariam mais animadas a fazer 'boa comida'. Tais inovações na vida doméstica que não acontecem, me parecem um pouco, certa vingança do machismo ofendido pela libertação feminina, mas isto, já é outra história.

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  6. Tenho amigos que comentam ser mais fácil arranjar uma boa empregada do que bom casamento, afinal, as mulheres estão cada vez mais interesseiras e exigentes e, pior, sem oferecerem a contrapardida. Enfim, querem que alguém faça por elas o que nem elas mesmas fizeram...hum. Acredito na máxima popular: tem sempre um pé torto para um chinelo velho...ou um pé "certim" pra um chinelo novo, "como le gusta".

    Sobre a questão das empregadas (tal empregada, tal patroa, quase sempre, e aqui no meu "cafofo", como são bem pagas e respeitadas, como qualquer ser humano merece, não tive problemas, ainda.)

    Nos filmes em cartaz que tratam de questões ligadas a este universo, como “Histórias Cruzadas” , regressamos no tempo, para acompanhar a história das empregadas domésticas negras no sul dos Estados Unidos que eram maltratadas e humilhadas por suas patroas (e patroas alheias), o diretor optou por criar caricaturas em vez de personagens e açucarar até deixar tudo melado demais. Já neste recomendado “As Mulheres do 6º Andar” a história é semelhante: regressamos no tempo e acompanhamos a jornada de empregadas domésticas espanholas em pleno regime ditatorial de Franco, que vão para a França em busca de novas oportunidades e reconstruir ou reiniciar uma nova vida. A grande diferença reside na forma encontrada pelo diretor em conduzir a história: sem histerismo, sem caricaturas, sem apelação. Ele trocou tudo isso por sutileza, um romance palpável, honestidade e personagens com veracidade (tipicamente cinema francês...).


    O filme "As mulheres do sexto andar se passa na charmosa e deslumbrante Paris dos anos 60. Jean-Louis Joubert (Fabrice Luchini) é um corretor da bolsa que leva uma vida burguesa ao lado da insossa esposa Suzanne. Quando a sua empregada doméstica, há 20 anos, decide ir embora, sua pacata rotina é transformada pela chegada de Maria (Natalia Verbeke), empregada espanhola que mora com a tia e outras conterrâneas nos pequenos alojamentos para empregados do sexto andar do prédio. Motivado pela simpatia de Maria, Jean-Louis começa a se aproximar dessas mulheres que, apesar dos dissabores da vida dura que levam, são alegres e bem dispostas. Tocado por estes seres femininos cheios de vida, ele começa a descobrir um novo universo, vivendo com emoção os prazeres mais sutis, em um ambiente completamente diferente aos modos burgueses e austeros em que estava acostumado. Diversão com inteligência, ânima e charme, no mínimo.
    Abraço afetuoso
    Danilo

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  7. Danilo, irei ver este filme depois do carnaval, e aí te conto o que achei. Quanto à queixa dos seus amigos... sabe que tenho vários amigos que têm queixa igual? Beijão e boa folia!

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