domingo, 1 de julho de 2012

Nossa sombra também atende por Inveja

Era uma vez um homem que tinha muita inveja do vizinho.  Um dia ele teve a sorte de encontrar uma lâmpada mágica, e o gênio lhe disse que poderia pedir o que quisesse, mas avisou que a condição para que fosse atendido era que o vizinho ganhasse em dobro qualquer que fosse o seu pedido. Ele não precisou pensar muito para decidir-se:

-- Quero ficar cego de um olho.

Dia desses li a máxima que diz que não é difícil a gente se solidarizar com a tragédia alheia... difícil é ficarmos felizes com as vitórias alheias! É... tai uma alegria para poucos: de quanta força interior precisamos para isso?

Veja como foi ridicularizado o tal copeiro do Cervantes, apostador de longa data da Quina, e que deixou de ganhar mais de 600 mil justamente na semana em que preferiu economizar dez reais... e viu todos os colegas tornarem-se ricos da noite para o dia. Virou esparro dos sentimentos coletivos!

Lúcio Flávio Osório é o nome do rapaz, que teve grandeza de alma suficiente para não deixar-se abalar pela revolta, ainda que tivesse que amargar o arrependimento misturado à ridicularização a que foi exposto pela massa que, assim como ele, não ganhou nada na Quina. A diferença é que, tomado de inveja dos vencedores, o povão fez do copeiro um bom Judas pra malhar, ou uma boa Geni pra jogar pedras.

Lamentei por Lucio Flávio, mas o admirei pela humildade e aceitação. “Não era pra ser”, disse, mastigando a amargura num esforço extra pra agüentar sua condição de bode expiatório.

Enquanto isso, seu destino serviu de mote ao escárnio geral, de refrão ao regozijo da inveja, esta energia que também faz girar o mundo e descer cada vez mais baixo o ser-humano.



14 comentários:

  1. Os jornais (em especial, o Globo) deram a noticia e descobriram o copeiro sem sorte. Dai, como noticia ruim da ibope, deram continuidade ao assunto.
    Perdi parte do meu tempo lendo comentarios de leitores e deparei-me com um numero enorme de "opinioes" que demonstram o quanto o ser humano pode ser ridiculo, ruim, sadico.
    Lembra daquele motorista que mora em Teresopolis ou Friburgo? Que perdeu muitas coisas com aquela tempestade que quase destruiu as cidades? Aquele que achou uma sacola com uma boa quantia de dinheiro e se empenhou em descobrir o dono e devolveu? Pois eh: os "colegas" de trabalho passaram a trata-lo por OTARIO.
    Sao os valores. Cada individuo tem o seu.

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    1. Ariel, estou sempre dizendo: é só botar dinheiro na jogada que as pessoas mostram logo quem são.

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  2. Fernanda,

    Triste a inveja, se o ser humano avaliasse o que ela de mal faz a si proprio, parava de olhar a vida alheia .........

    Muito triste o caso do Lucio Flavio Osorio, que fez muito bem em aceitar o fato e dizer "nao era para ser"....

    Agora eu vou fazer um pedido ao Universo, sim, por que eu acredito que ele conspira sempre ao nosso favor, e esse pedido e que os ganhadores ou um dos ganhadores deste premio se comova com sua sorte e de um presente a ele ..... voce pode dizer: Nossa mais ela e muito sonhadora ??? sim, vou responder, e sabe por que: porque eu acredito em sonhos impossiveis .......

    Felicidade, Alegria e Sorte.

    Beijos

    Gilda Bose

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    1. Gilda, eu também acredito em sonhos impossíveis, mas desta vez tô achando que só um milagre!!!!!!!!

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  3. QueriDannemann...seu recado esta bem dadíssimo, "comme d'habitude". Para poupá-la das minhas digressões caudalosas rsrs...resolvi seguir minha intuição e dar um bis para esta pérola luftiana, julgando que esta trepadeira da Lia, tem algo ver com este xaxim da Carolina rsrs.
    Beijão
    Marcos Lúcio

    De Lya Luft:
    A sordidez humana

    "Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça
    alheia? Quem é esse em nós, que ri quando
    o outro cai na calçada?"

    Ando refletindo sobre nossa capacidade para o mal, a sordidez, a humilhação do outro. A tendência para a morte, não para a vida. Para a destruição, não para a criação. Para a mediocridade confortável, não para a audácia e o fervor que podem ser produtivos. Para a violência demente, não para a conciliação e a humanidade. E vi que isso daria livros e mais livros: se um santo filósofo disse que o ser humano é um anjo montado num porco, eu diria que o porco é desproporcionalmente grande para tal anjo.

    Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça alheia? Quem é esse em nós (eu não consigo fazer isso, mas nem por essa razão sou santa), que ri quando o outro cai na calçada? Quem é esse que aguarda a gafe alheia para se divertir? Ou se o outro é traído pela pessoa amada ainda aumenta o conto, exagera, e espalha isso aos quatro ventos – talvez correndo para consolar falsamente o atingido?


    O que é essa coisa em nós, que dá mais ouvidos ao comentário maligno do que ao elogio, que sofre com o sucesso alheio e corre para cortar a cabeça de qualquer um, sobretudo próximo, que se destacar um pouco que seja da mediocridade geral? Quem é essa criatura em nós que não tem partido nem conhece lealdade, que ri dos honrados, debocha dos fiéis, mente e inventa para manchar a honra de alguém que está trabalhando pelo bem? Desgostamos tanto do outro que não lhe admitimos a alegria, algum tipo de sucesso ou reconhecimento? Quantas vezes ouvimos comentários como: "Ah, sim, ele tem uma mulher carinhosa, mas eu já soube que ele continua muito galinha". Ou: "Ela conseguiu um bom emprego, deve estar saindo com o chefe ou um assessor dele". Mais ainda: "O filho deles passou de primeira no vestibular, mas parece que...". Outras pérolas: "Ela é bem bonita, mas quanto preenchimento, Botox e quanta lipo...".

    Detestamos o bem do outro. O porco em nós exulta e sufoca o anjo, quando conseguimos despertar sobre alguém suspeitas e desconfianças, lançar alguma calúnia ou requentar calúnias que já estavam esquecidas: mas como pode o outro se dar bem, ver seu trabalho reconhecido, ter admiração e aplauso, quando nos refocilamos na nossa nulidade? Nada disso! Queremos provocar sangue, cheirar fezes, causar medo, queremos a fogueira.

    Não todos nem sempre. Mas que em nós espreita esse monstro inimaginável e poderoso, ou simplesmente medíocre e covarde, como é a maioria de nós, ah!, espreita. Afia as unhas, palita os dentes, sacode o comprido rabo, ajeita os chifres, lustra os cascos e, quando pode, dá seu bote. Ainda que seja um comentário aparentemente simples e inócuo, uma pequena lembrança pérfida, como dizer "Ah! sim, ele é um médico brilhante, um advogado competente, um político honrado, uma empresária capaz, uma boa mulher, mas eu soube que...", e aí se lança o malcheiroso petardo.
    (...)

    A sordidez e a morte cochilam em nós, e nem todos conseguem domesticar isso. Ninguém me diga que o criminoso agiu apenas movido pelas circunstâncias, de resto é uma boa pessoa. Ninguém me diga que o caluniador é um bom pai, um filho amoroso, um profissional honesto, e apenas exala seu mortal veneno porque busca a verdade. Ninguém me diga que somos bonzinhos, e só por acaso lançamos o tiro fatal, feito de aço ou expresso em palavras. Ele nasce desse traço de perversão e sordidez que anima o porco, violento ou covarde, e faz chorar o anjo dentro de nós.

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    1. Corrija, a digitação falha, por gentileza : "a trepadeira da Lya tem algo a ver"...
      Beijãoooooooooo.
      EstiMarcos

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  4. Eu jogo na quina,há mais de 10 anos a mesma combinação,e pra não passar por essa infelicidade que o Lucio Flávio passou,eu jamais vou deixar de jogar um dia sequer...

    Monica.

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  5. O sistema de distribuição de renda da Finlândia (Creio eu)- É longe viu! Lá não existe possibilidade do sujeito ficar rico, porque a sobretaxação de lucros é calculada de modo que não é possível alguém obter lucros extraordinários. Na reportagem que acompanhei na época, os rapazes e moças, simplesmente não pleiteavam 'ficar rico'. O sentimento de utilidade da riqueza, se visto de dessa forma, seria inútil, ineficaz, impróprio e sem lugar. Creio que o modo regulador de uma sociedade contém em si a reposta ao rapaz da lanchonete - que não jogou.

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  6. Tem uma jornalista de nome Fernanda Dannemann que fez uma postagem uns tempos atras, intitulada - Aproveite o tempo que te resta. Se possível, deem uma lida.

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  7. Fernanda,

    Li a sugestao do Alfredo, e aproveito para destacar um trecho que eu achei barbaro:

    "A estrada a nossa frente nos leva onde nosso coracao determina; a paisagem e um reflexo de que trazemos dentro de nos. Podemos seguir mirando o horizonte ou de olhos postos no chao, o que seria um total desperdicio."

    Li os comentarios de desapontamento do Marcos Lucio, enviando energias positivas para voce, e do
    Alfredo, e concordando quando ele cita: "blog e como uma plantinha ..."

    A vida e assim: eu encontrei a Alma lavada no JB, depois perdi de vista (sim por que voce nao estava mais la), e depois de alguns meses de reencontrei de novo ....sorte a minha.

    Beijos

    Gilda Bose

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  8. Fernanda
    vejo o caso por outro ângulo. Não fosse o escarcéu da mídia , não teríamos tomado conhecimento da humildade e do bom caráter desse moço. Acho que valeu a pena.
    Paulo

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  9. Achei!
    O sistema político que não permite o acúmulo de fortunas é o da Islândia que assisti numa reportagem e não o da Finlândia que evidentemente não sei como funciona. Essa correção diz respeito ao meu comentário acima, sobre a matéria publicada.

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