quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Papo popular

Entrei no ônibus e peguei a conversa pelo meio: não faltava assunto ao motorista, um negão cariocão fortão, e a trocadora, loura artificial que pintava as unhas de azul ali mesmo na roleta.

Era ela quem tinha a palavra:

-- ... ele morreu no dia 4 e quando a viúva foi receber o salário dele, o dinheiro já tinha sumido...

-- vão ter que devolver...

-- O salário do mês virou pensão.

-- Mas isso não tá certo. Ela trabalhou? Quem tem direito a pensão é o trabalhador! Viúva ficar com pensão? Só no Brasil que isso acontece!

-- Ah, então dona de casa não aposenta?!

-- Dona de casa que não trabalha não tinha que ficar com o salário do morto! Quer aposentar? Então paga hoje pra receber amanhã, como lá nos Estados Unidos, né? Por isso é que a Previdência tá falida!

-- E filha de militar?

-- Ah, essas levam o que sobra. E o trabalhador ó...

Silêncio por alguns segundos, e ele volta à carga:

-- Vê se esse negócio de mensalão acontece lá nos Estados Unidos, ainda mais em pleno ano eleitoral... vai ferrar um monte de oportunista!

A trocadora acompanha a mudança de assunto e responde, cheia de razão:

-- Vai nada! Já viu político levar a pior?

-- O Jader Barbalho se ferrou! E o Cachoeira vai se ferrar também, cê vai ver!

-- Vai não, o Cachoeira tem muito mais dinheiro que Jader Barbalho...

-- Mas o Maluf não se elege mais!

Eu já me preparava para descer no próximo ponto quando a conversa tomou um rumo inesperado:

-- Vai lá no churrasco?

-- Tô dobrando hoje.

-- Tá vendo como o trabalhador leva sempre a pior?

-- O problema do Brasil é esse...

-- É o que eu tô dizendo...

2 comentários:

  1. Tenho n motivos para não ter os americanos_ citados pela unha azul rs_ como modelo.Com a divisão do mundo entre duas grandes potências após o final da Segunda Guerra Mundial, inaugurava-se uma nova forma de imperialismo, não mais caracterizada por uma agressiva ocupação física das nações derrotadas pelas vitoriosas e, sim, por uma ocupação de influência – menos onerosa e muito mais eficaz e duradoura .

    Nesse contexto, a cultura norte-americana – disseminada ao redor do mundo através do american way of life – seria “uma arma tão poderosa como fora, nos meses de combate, seu exército e as duas bombas atômicas lançadas contra Hiroshima e Nagasaki” (LERNER). Dessa forma, o cinema foi apontado como um mecanismo apropriado para transmitir mundialmente os valores dos Estados Unidos.

    T. Adorno, crítico contundente dos meios de comunicação de massa, percebe, nos seus anos de exílio nos Estados Unidos, serem eles peças essenciais da engrenagem que alicerça a indústria cultural, moldando a mentalidade e coração dos que a ela aderem inconscientemente, semeando o conformismo e a resignação na população que se encontra inerte diante de um sistema implacável que desfigura a essência do ser.

    Trabalhando na Universidade de Princeton, sua impressão sobre este país não foi das melhores. Sofisticado intelectual europeu, incomodou-o profundamente o ar de uniformização presente em tudo, a despeito dos conceitos norte-americanos de individualidade e do cultivo das diferenças.

    Este universo regido pelos interesses, pelo lucro, pela excessiva competição, pelo moralismo e pelo pragmatismo o levou a uma reflexão mais atenta sobre a massificação da cultura. Inclinado a compreender esse paradoxo americano, descobre sob a aparente liberdade apregoada , uma ideologia padronizada que a tudo perpassa, com a intenção de sujeitar a massa apática, induzindo-a ao consumismo e à submissão ao sistema.

    O Valor Econômico publicou artigo com Raghuram Rajan, ex-economista chefe do FMI e professor de Finanças na Universidade de Chicago, abordando as causas e as conseqüências do recrudescimento da desigualdade social nos Estados Unidos onde, na última década, o 1% mais rico da população enriqueceu muito velozmente, enquanto os 99% menos ricos ou mais pobres enriqueceram de forma bastante singela ou perderam renda.

    Um aspecto que chama a atenção no artigo são os princípios, amplamente liberais, que formam a espinha dorsal da argumentação de Rajan. Não é mais democracia, é BANCOCRACIA.

    Para ele, é fundamental educação de excelência para todos, para terem condições similares de competição, para gerar impacto positivo na redução da pobreza. É criminosos apostar em soluções mágicas e engananadoras da enorme parcela da população que acredita nelas e acaba arcando com o prejuízo ou com a frustração que elas deixam como rastro.

    Como qualquer um mais atento que tenha viajado pelo país (N.Y. é exceção), por conversar com os norte-americanos sabe que eles , quase sempre, não são só mal informados; são doloramente ignorantes sobre praticamente todas as coisas que afetam a vida.O fato é que a maioria absoluta dos americanos come mal e em excesso, vive com a B*NDA sentada no sofa da sala ou dentro do carro: não andam, não se exercitam, praticam pouco sexo, se matam de trabalhar, raramente saem de férias , são cafonas e vivem grudados na internet e em seus malditos i-phones.Cruzes!

    Não é preciso grande esforço mental para perceber que não há forças políticas ativas nem em Washington nem nas pequenas comunidades, nem em lugar algum, capazes de corrigir as ilusões em que os EUA afundam-se... de que seriam os guardiães do mundo. Qualquer ideia de boa solução que surja, sempre será avaliada pelos lucros que traga a um ou outro grupo de interesses e bombardeada, se não trouxer os lucros imediatos com que contam e dizem merecer. Para eles vale a máxima: LUCRO, LOGO EXISTO.
    Santé e axé!
    M.Lúcio

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  2. Reguladora. A sabedoria popular trabalha feito formiga,... Provocante, extenuante até, em busca de fatores tais como: dar respostas imediatas (as melhores) e outras cumprindo os rituais da agucidade cultural vigente. O resultado proeminente é esta notável salada de frutas tropical de lágrimas, suor e glória à que estamos acostumados. Nossa terra, nossa gente. OBS: Se eu errei, foi sem querer.

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